(Depois de percorrer o Brasil nos últimos anos realizando oficinas para professores(as), tentando (e, às vezes, até conseguindo) fazer com que se mudasse o tratamento do assunto poesia em salas de aula, o poeta Ulisses Tavares resolveu resumir sua experiência em forma de poesia auto-ajuda. Acompanhe estes lances da saga do poeta.Como o nome de sua oficina é Poesia Nota Dez! ele manteve os 10 tópicos/dicas/toques para professores(as) e, por que não?, para alunos passarem a seus mestres.)
1: Nem pense em dar nota!
Gentil professorinha, digno professor,
Nem pense em dar nota ao seu aluno
Candidato à poeta, a escritor.
Isso é impossível, até risível,
E a seu aluno só vai causar dor.
Toda poesia é boa,
Até aquela atoa,
Importante é que haja a próxima,
Que vai ser muito melhor.
Incentive, finja, faça cara de satisfeito,
Um dia afinal seu aluno vai acabar
Escrevendo direito.
2. Pelo amordedeus, chega de rap!
Rap, tcháu e benção!
Já valeu, esgotou a cota.
Fazer rap qualquer um faz,
E bem e certinho.
Tão certinho que deixa de ser poesia
Passa a ser água fria.
Existem mais de 368 ritmos musicais
Tantos, que ai meus sais! Nem agüento ouvir.
Professora empenhada mesmo
Apresenta a seus alunos o ermo:
Catira, catiretê, desafio, candango.
Original é inovar, mudar, surpreender,
O resto é ver pra crer, lugar comum avalizar,
E isso não é ensinar.
3: Sociedade dos poetas vivos!
Drummonds, Vinicius, Cecílias,
Tudo bem, nada mal,
Apenas que a poesia do Brasil
Este país de poetas, varonil,
Vai muito além disso.
Poetas, aqui, não se contam apenas
Entre os oficiais, os consagrados,
Livres de suas cadenas,
Os poetas não estudados ainda,
Pedem seu olhar, sua atenção,
Um olhar liberto, atento,
De cabeça e coração.
4: Competição, só de criatividade!
Parece muito bacana,
Mas é uma tremenda armadilha.
Me refiro a campeonatos,
Concursos de poesia, minha filha.
O mundo já é hostil e competitivo
O suficiente
O que resulta nesta sociedade indecente.
Promova exposições, recitais, leituras,
E premie a todos, na cara dura.
Todo poeta se aprimora
Com o tempo, desde cedo
Ninguém vai fazer poesia boa
Para competir, com medo.
5: Moderno é ser antigo, bem antigo.
Viaje com seus alunos
Pela máquina do tempo da poesia.
Leia os romanos, os gregos,
Suas grandes biografias.
Eles vão adorar saber, e repetir,
O que os loucos poetas da antiguidade
Já fizeram por séculos:
Encenar poesias com máscaras,
Se fingir de cegos,
Dramatizar com bocas e caras,
Imitar animais
Guerras e misturar poemas e cantos
Em animados jograis.
6: Poeta tira poesia até de jornais!
O Mário Quintana já dizia
Num toque de sabedoria:
Poeta deve ler jornais e revistas.
Onde se lê notícias, veja-se poesia!
Crianças e jovens,
Curiosos que são,
Adoram, se bem conduzidos,
Transformar a notícia do dia
Em pura, instantânea poesia!
Pode até se transformar num hábito
Uma molecagem do dia a dia:
Um Jornal do Poeta
Colado na parede da sala de aula
Renovado por todos,
Onde o coração fala
Caudaloso, a rodo.
7: Palimpsesto, uau!
Os egípcios que inventaram
O tal do palimpsesto:
Não passa de apagar o escrito
E nele escrever outro texto!
Sabe aqueles poemas
Que você encontra em qualquer
Livro didático?
Pegue um deles, seja prático,
E proponha aos alunos
Que o reescrevam de seu jeito.
Não vai sair perfeito, garanto,
Mas é um estímulo e tanto.
8: Antes era Zeus, depois foi Deus, hoje sou Eus!
O título aí de cima é um poeminha
Do anarquista Roberto Freire
Meu guru, meu amigo,
Que resume bem essa onda juvenil
De só se interessar pelo próprio umbigo!
Comece por aí, se quiser,
Que muito bem irás a poesia
Encontrar do jeito que vier e der.
Acrósticos são poemas feitos
A partir das letras do próprio nome,
Do ego aplaca a fome,
E a partir do nome de cada um
Pode-se exercitar palavras, poesia,
O que se encontra em Carfanaum?
Car…ro, fan…ho, um…ído?
Nossa!, a lista é infindável
Se encontra de zona à escapulário.
E assim se aprende o fazer poético
O qual não se faz sem um grande vocabulário!
9: A poesia é igual a pamonha de Piracicaba!
Poesia, neste mundo da matéria,
De tênis de marca, drogas e miséria,
Fica sempre parecendo assunto
Estapafúrdio, escalafobético, fora do mundo.
Nada disso, não é não, nadinha:
Poesia é coisa também fresquinha
Saída agora para consumo imediato,
Deliciando a alma,
Com pressa ou com calma.
Que tal, por exemplo, propor
Para tirar a classe do estupor
Que cada um escreva, já, agora,
O que gostaria de dizer
Para sua paquera, para sua família,
Em uma frase?
Daí pegar aquela frase e reescrever
Em forma de poesia?
É pagar pra ver como aquilo
Que era imediatista vira o que se sonha.
Teremos poesia, não papo de pamonha.
10: Real e aspiracional.Uma experiência animal!
A gente já sabe,
Quem ensina mais ainda:
Há uma grande dificuldade
Do pré-primário à faculdade,
Do aluno sair de si mesmo
De voar para o desconhecido, o ermo.
Conte pra ele, então,
Que todo mundo é…dois!
O que se é no real, e no aspiracional depois.
O careca se imagina cabeludo,
A gorda, magra,
O rejeitado, amado em tudo,
E por aí vai a saga humana,
Sempre um degrau a mais de seu real.
Pois a verdade é que só a poesia
Pode expressar e dizer
O meu verdadeiro aspiracional!
11: Não force a barra, só incentive.
De fato algumas pessoas,
Talvez a maioria,
Nunca vai gostar de poesia.
Aceite o fato, a vida é assim.
É como tocar música clássica
Para alguém que só ouviu pagodeiros
A vida inteira, na bobeira.
Tenha uma postura elástica:
Vá mostrando diferentes tipos de poetas
Diferentes tipos de poesia
Seja abundante, pródiga, escorreita.
De repente, seu aluno se identifica
Com alguma poesia, algum poeta, uma via,
E nela ou nela gruda, fica.
12: Não despreze a Internet, a poesia foi pra lá!
Tudo bem que a classe,
Sem classe como é,
Foi pra internet ver mulher pelada.
Deixa, isso é quase nada.
Mas tem outras coisas lá
Também bem interessantes.
Que tal criar um blog de poesias
De seus alunos?
Eles podem interferir,
E até mudar o papo de rumo.
O que não pode acontecer
É professor(a) descuidado
Que nem sabe nada de computador
E de seus alunos fica desplugado!
A internet é cruel e simples:
Ou você entra já ou é deletado.
Fonte:
Edição do Ano I - Número 5. http://www.ulissestavares.com.br
1: Nem pense em dar nota!
Gentil professorinha, digno professor,
Nem pense em dar nota ao seu aluno
Candidato à poeta, a escritor.
Isso é impossível, até risível,
E a seu aluno só vai causar dor.
Toda poesia é boa,
Até aquela atoa,
Importante é que haja a próxima,
Que vai ser muito melhor.
Incentive, finja, faça cara de satisfeito,
Um dia afinal seu aluno vai acabar
Escrevendo direito.
2. Pelo amordedeus, chega de rap!
Rap, tcháu e benção!
Já valeu, esgotou a cota.
Fazer rap qualquer um faz,
E bem e certinho.
Tão certinho que deixa de ser poesia
Passa a ser água fria.
Existem mais de 368 ritmos musicais
Tantos, que ai meus sais! Nem agüento ouvir.
Professora empenhada mesmo
Apresenta a seus alunos o ermo:
Catira, catiretê, desafio, candango.
Original é inovar, mudar, surpreender,
O resto é ver pra crer, lugar comum avalizar,
E isso não é ensinar.
3: Sociedade dos poetas vivos!
Drummonds, Vinicius, Cecílias,
Tudo bem, nada mal,
Apenas que a poesia do Brasil
Este país de poetas, varonil,
Vai muito além disso.
Poetas, aqui, não se contam apenas
Entre os oficiais, os consagrados,
Livres de suas cadenas,
Os poetas não estudados ainda,
Pedem seu olhar, sua atenção,
Um olhar liberto, atento,
De cabeça e coração.
4: Competição, só de criatividade!
Parece muito bacana,
Mas é uma tremenda armadilha.
Me refiro a campeonatos,
Concursos de poesia, minha filha.
O mundo já é hostil e competitivo
O suficiente
O que resulta nesta sociedade indecente.
Promova exposições, recitais, leituras,
E premie a todos, na cara dura.
Todo poeta se aprimora
Com o tempo, desde cedo
Ninguém vai fazer poesia boa
Para competir, com medo.
5: Moderno é ser antigo, bem antigo.
Viaje com seus alunos
Pela máquina do tempo da poesia.
Leia os romanos, os gregos,
Suas grandes biografias.
Eles vão adorar saber, e repetir,
O que os loucos poetas da antiguidade
Já fizeram por séculos:
Encenar poesias com máscaras,
Se fingir de cegos,
Dramatizar com bocas e caras,
Imitar animais
Guerras e misturar poemas e cantos
Em animados jograis.
6: Poeta tira poesia até de jornais!
O Mário Quintana já dizia
Num toque de sabedoria:
Poeta deve ler jornais e revistas.
Onde se lê notícias, veja-se poesia!
Crianças e jovens,
Curiosos que são,
Adoram, se bem conduzidos,
Transformar a notícia do dia
Em pura, instantânea poesia!
Pode até se transformar num hábito
Uma molecagem do dia a dia:
Um Jornal do Poeta
Colado na parede da sala de aula
Renovado por todos,
Onde o coração fala
Caudaloso, a rodo.
7: Palimpsesto, uau!
Os egípcios que inventaram
O tal do palimpsesto:
Não passa de apagar o escrito
E nele escrever outro texto!
Sabe aqueles poemas
Que você encontra em qualquer
Livro didático?
Pegue um deles, seja prático,
E proponha aos alunos
Que o reescrevam de seu jeito.
Não vai sair perfeito, garanto,
Mas é um estímulo e tanto.
8: Antes era Zeus, depois foi Deus, hoje sou Eus!
O título aí de cima é um poeminha
Do anarquista Roberto Freire
Meu guru, meu amigo,
Que resume bem essa onda juvenil
De só se interessar pelo próprio umbigo!
Comece por aí, se quiser,
Que muito bem irás a poesia
Encontrar do jeito que vier e der.
Acrósticos são poemas feitos
A partir das letras do próprio nome,
Do ego aplaca a fome,
E a partir do nome de cada um
Pode-se exercitar palavras, poesia,
O que se encontra em Carfanaum?
Car…ro, fan…ho, um…ído?
Nossa!, a lista é infindável
Se encontra de zona à escapulário.
E assim se aprende o fazer poético
O qual não se faz sem um grande vocabulário!
9: A poesia é igual a pamonha de Piracicaba!
Poesia, neste mundo da matéria,
De tênis de marca, drogas e miséria,
Fica sempre parecendo assunto
Estapafúrdio, escalafobético, fora do mundo.
Nada disso, não é não, nadinha:
Poesia é coisa também fresquinha
Saída agora para consumo imediato,
Deliciando a alma,
Com pressa ou com calma.
Que tal, por exemplo, propor
Para tirar a classe do estupor
Que cada um escreva, já, agora,
O que gostaria de dizer
Para sua paquera, para sua família,
Em uma frase?
Daí pegar aquela frase e reescrever
Em forma de poesia?
É pagar pra ver como aquilo
Que era imediatista vira o que se sonha.
Teremos poesia, não papo de pamonha.
10: Real e aspiracional.Uma experiência animal!
A gente já sabe,
Quem ensina mais ainda:
Há uma grande dificuldade
Do pré-primário à faculdade,
Do aluno sair de si mesmo
De voar para o desconhecido, o ermo.
Conte pra ele, então,
Que todo mundo é…dois!
O que se é no real, e no aspiracional depois.
O careca se imagina cabeludo,
A gorda, magra,
O rejeitado, amado em tudo,
E por aí vai a saga humana,
Sempre um degrau a mais de seu real.
Pois a verdade é que só a poesia
Pode expressar e dizer
O meu verdadeiro aspiracional!
11: Não force a barra, só incentive.
De fato algumas pessoas,
Talvez a maioria,
Nunca vai gostar de poesia.
Aceite o fato, a vida é assim.
É como tocar música clássica
Para alguém que só ouviu pagodeiros
A vida inteira, na bobeira.
Tenha uma postura elástica:
Vá mostrando diferentes tipos de poetas
Diferentes tipos de poesia
Seja abundante, pródiga, escorreita.
De repente, seu aluno se identifica
Com alguma poesia, algum poeta, uma via,
E nela ou nela gruda, fica.
12: Não despreze a Internet, a poesia foi pra lá!
Tudo bem que a classe,
Sem classe como é,
Foi pra internet ver mulher pelada.
Deixa, isso é quase nada.
Mas tem outras coisas lá
Também bem interessantes.
Que tal criar um blog de poesias
De seus alunos?
Eles podem interferir,
E até mudar o papo de rumo.
O que não pode acontecer
É professor(a) descuidado
Que nem sabe nada de computador
E de seus alunos fica desplugado!
A internet é cruel e simples:
Ou você entra já ou é deletado.
Fonte:
Edição do Ano I - Número 5. http://www.ulissestavares.com.br
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