quinta-feira, 5 de março de 2009

Fagundes Varela (1841 - 1875)


Fagundes Varela (Luís Nicolau F.V.), poeta, nasceu em Rio Claro, RJ, em 18 de agosto de 1841, e faleceu em Niterói, RJ, em 17 de fevereiro de 1875. É o patrono da Cadeira nº 11, por escolha do fundador Lúcio de Mendonça.

Era filho do Dr. Emiliano Fagundes Varela e de Emília de Andrade, ambos de famílias fluminenses bem situadas. Passou a infância na fazenda natal e na vila de S. João Marcos, de que o pai era juiz. Depois, residiu em vários locais. Primeiro em Catalão (Goiás), para onde o magistrado fora transferido em 1851 e onde Fagundes Varela teria conhecido o juiz municipal Bernardo Guimarães. De volta à terra natal, residiu em Angra dos Reis e Petrópolis, onde fez os estudos do primário e secundário. Em 1859, foi terminar os preparatórios em São Paulo. Só em 1862 matricula-se na Faculdade de Direito, que nunca terminou, preferindo a literatura e dissipando-se na boêmia. Em 1861, publicara o primeiro livro de poesias, Noturnas.

O ano era de 1841, em 17 de agosto nasce Luiz Nicolau Fagundes Varela, na cidade de Rio Claro, Rio de Janeiro. Família de boa posição era essa que recebia o futuro poeta romântico, Dona Emília de Andrade e Senhor Emiliano Fagundes Varela, este, juiz da Vila de São Marcos, onde Fagundes Varela passou a maior parte da infância.

Fagundes Varela viveu em várias cidades do Rio de Janeiro, consta que passou por Angra dos Reis e Niterói. Mas foi só em 1859 que veio para São Paulo, quando iniciou a Faculdade de Direito.

Iniciou, mas não concluiu. Como era de se esperar, mais inclinado estava para a produção literária, era criador de versos por excelência, e também muito propenso - a verdade aqui deve ser dita - à vida boêmia dos artistas da época. Na Faculdade de Direito, reunia-se a outros estudantes - de mesmo pendor - em cemitérios, como o da Consolação, para noitadas literárias e etílicas. A vida do jovem poeta havia se tornado outra, muito mais agitada e emocionante do que a antiga, que levava no interior do Rio de Janeiro.

Em meio a um desatino e outro, Fagundes Varela conheceu famosa e elegante prostituta, a Ritinha Sorocabana. Viveu com ela grandes e enlouquecidas histórias, que o levaram para ainda mais distante da faculdade (e mais perto do alcoolismo, da falta de dinheiro e da literatura).

O poeta era mesmo muito bonito e encantador, com cabelos longos e olhar voltado à vida mundana, entregara-se às experiências que o tornara, aos olhos da população puritana da época, um grande irresponsável. Em contrapartida, aos olhos dos colegas de faculdade e dos artistas em geral, um sonhador, naturalmente romântico e indiscutível poeta exemplar daqueles tempos.
Sorocaba de fato estava marcada para fazer história em Fagundes Varela, e não ficou apenas por conta do apelido da meretriz.

A cidade representava para a época espaço de curiosidades. Por volta de 1860, havia em Sorocaba a feira de muares. Não é novidade que a feira era bastante conhecida. Por aqui passavam todos os que queriam seguir para o interior e também os que desceriam, em sentido contrário, para São Paulo e para o Sul.

A feira de muares de Sorocaba contava com diversas espécies de animais à venda, comércio de jóias e artesanatos, redes e arreamentos, comidas típicas, como cuscuz de guaru, bolinhos de peixe do rio Sorocaba e doces caseiros. A cidade, durante os meses da feira, transformava-se num grande mercado de variedades e atrações.

Sorocaba tinha também forte influência circense. Era este lugar, para os visitantes, prato cheio de diversões. Sim, pois, como a freqüência de pessoas era intensa, também as distrações deveriam satisfazer aos visitantes.

Um dos circos mais conhecidos da época era o da família Luande, “Circo Eqüestre e Ginástico Cia Luande ”, do artista circense Alexandre Luande. Foi este circo que chegou em São Paulo no ano de 1861, onde a amazona Alice Guilhermina Luande, filha do dono do circo, encantou por completo o coração do poeta Varela com seus números eqüestres apresentado no Teatro São José.

Juntaram-se então as duas histórias, a feira ao circo.

No ano seguinte, Fagundes Varela veio a Sorocaba em época da feira de muares, para encontrar Guilhermina, ela então ainda menor de idade, ele não menos jovem, aos vinte e um anos.

A feira, que reservava um clima agradável e pitoresco, envolveu ainda mais os enamorados. Isto fez com que Fagundes Varela voltasse a São Paulo decidido a casar-se com Guilhermina.

Foi então que começaram os inúmeros problemas com a família do poeta. Já insatisfeito com o rendimento do filho nos estudos, Emiliano Varela foi insistentemente contrário ao casamento do rapaz, o sonhado futuro e bem sucedido advogado da família, com uma artista de espetáculos eqüestre num circo em Sorocaba. Parecia inacreditável demais para o juiz aceitar ver o filho nessas condições. Não sabia ele que o filho era poeta romântico. Se fora capaz de mil e uma loucuras por bebidas, prostitutas e poesias, seria capaz de pelo menos o dobro (senão mais) por um grande amor.

Para conseguir que seu pai autorizasse o casamento, Varela cavalgou de Sorocaba a São Paulo e de lá seguiu até o Rio de Janeiro (desta vez de vapor) para tentar uma conversa séria e sincera com o pai a respeito de suas intenções com Alice Guilhermina. Sobre isto conta o biógrafo Edgard Cavalheiro, segundo Sérgio Coelho de Oliveira , que Fagundes Varela pensou, balbuciou, mas não tomou coragem e nada disse ao pai. A coragem mesmo ficou só por conta do ímpeto de seguir viagem ao Rio de Janeiro, deixando em seu quarto alugado em São Paulo o cavalo que comprara em Sorocaba (é mais do que lógico: o cavalo foi encontrado morto, dias depois pelo dono da pensão, enquanto o poeta tentava algum discurso para convencer o pai do casamento).

De volta a São Paulo, ainda infeliz por nada ter conseguido, recebeu autorização do pai para o casamento. Devia de estar o juiz um pouco mais conformado com o fato de ter um filho poeta e romântico.

O casamento aconteceu no dia 28 de maio de 1862 numa residência, às 18h. O registro consta no Livro de Casamentos da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba, arquivado na Cúria Diocesana e disponível no Museu Histórico Sorocabano, no parque zoológico “Quinzinho de Barros”.

Fagundes Varela e Alice Guilhermina Luande viveram em Sorocaba por alguns anos. O poeta estava mesmo abandonando o futuro no Direito para acompanhar o circo em suas apresentações. Escrevia com freqüência ao Correio Paulistano e contava e declamava suas poesias aos quatro ventos do interior paulista.

Embora apaixonado pela artista amazona, Varela era um boêmio incontrolável. Estava novamente ele envolvido com a vida universitária, com a bebida e com os versos sempre aplaudidos pelos que tomavam contato com ele.

A situação poderia melhorar com a chegada do filho, trazer-lhe mais responsabilidade, talvez. Mas o fato é que piorou.

Nasceu em 4 de setembro de 1863, Emiliano, nome do avô, pai de Varela, e veio a falecer em 11 de dezembro do mesmo ano, com pouco mais de três meses de vida. Foi então que a vida do poeta decaiu o quanto pôde. Escreveu em homenagem ao filho morto o seu poema unanimemente tido como o mais belo e triste de sua obra poética “Cântico do Calvário”.

Sempre maltrapilho, infeliz, sem esperanças, entregou-se por completo à bebida. Nessa época, segundo artigo de Sérgio Coelho de Oliveira , o poeta Fagundes Varela estreitou relações amigáveis com tropeiros, que lhes cediam lugar para dormir e dividiam com ele a comida. É possível inclusive ler em alguns de seus versos essa experiência ao pé da fogueira e ao som da viola tropeira. Eram nesses momentos que a amargura tomava conta do poeta e o levava ainda mais distante da vida antes sonhada pelo juiz, seu pai, e tão mais longe ainda da que ele próprio sonhara no dia de seu casamento.

Numa nova tentativa de organizar sua vida, Fagundes Varela voltou a São Paulo para concluir o curso de Direito e dar novo rumo a sua vida. Isto, porém, levou-o novamente ao encontro das alucinadas e infelizes festas universitárias.

Há, inclusive, uma história muito comentada – e um tanto absurda – na qual nosso poeta teve participação efetiva.

Costumavam, os estudantes da São Francisco, organizar saraus em cemitérios. Este sarau, porém, teve final mais trágico do que o comum. Houve, certa vez, que uma idéia abrilhantou as cabeças alucinadas dos românticos: a coroação de uma musa para a cerimônia no cemitério da Consolação.

A então denominada Rainha dos Mortos, foi escolhida pelos estudantes: uma garota com deficiência mental chamada Eufrásia. Trataram os estudantes de arrumar um caixão, colocaram-na dentro e seguiram caminho ao cemitério, recitando poemas de Byron e bebendo o quanto fosse possível.

O absurdo só foi tomado a sério quando um dos estudantes percebeu que estava a garota Eufrásia morta de fato, não apenas desmaiada de susto como esperavam.

A polícia esteve à procura dos envolvidos com a morte da garota, mas pouco tempo depois o caso fora abafado por completo. Tratava-se, pois, de um grupo de jovens estudantes filhos de pessoas renomadas no Brasil, era esse o caso de Varela, filho de juiz de direito.

O que aconteceu ao poeta foi ter de seguir viagem, quase como que numa fuga, e tentar terminar seus estudos no Recife.

Mas para quem pensa que a vida de um artista romântico tem limite de desgraça, assustar-se-á neste momento da história. Em 1865 , enquanto estava no Recife para finalmente concluir seus estudos, morre Alice Guilhermina Luande, em Rio Claro, cidade natal de Varela. Ela havia sido levada por ele até sua família antes de sua partida para o Recife.

O que restava ao poeta era a poesia, esta que sempre esteve em primeiro lugar em sua vida.

Ele voltou a São Paulo, matriculando-se em 1867 no 4º ano do curso de Direito. Abandonou de vez o curso e recolheu-se à casa paterna, na fazenda onde nascera, em Rio Claro, onde permanece até 1870, poetando e vagando pelos campos. Deixou-se sempre ficar na vida indefinível de boêmio, sem rumo, sem destino determinado. Casou-se pela segunda vez com a prima Maria Belisária de Brito Lambert, com quem teve duas filhas e um filho, este também falecido prematuramente. Em 1870, mudou-se com o pai para Niterói, onde viveu até o fim da vida, com largas estadas nas fazendas dos parentes e certa freqüência nas rodas da boêmia intelectual do Rio.

Vivendo na última fase do Romantismo, a sua poesia revela um hábil poeta do verso. Em "Arquétipo", um dos primeiros poemas, faz profissão de fé de tédio romântico, em versos brancos. Embora o preponderante em sua poesia seja a angústia e o sofrimento, evidenciam-se outros aspectos importantes: o patriótico, em O estandarte auriverde (1863) e Vozes da América (1864); o amoroso, na fase lírica, dos poemas ligados à natureza, e, por fim, o místico e religioso. O poeta não deixa de lado, também, os problemas sociais, como o abolicionismo.

Sempre inquieto e torturado, conseguia refúgio somente junto à Natureza, sua velha conhecida. Por esta razão, sua poesia - com fortes características românticas - expõe, em contraste, a contemplação da vida no campo e a vida na cidade, com seus vícios e, conseqüentemente, o aumento do sofrimento. Revela ainda uma fase de forte espírito religioso. Sua obra inclui: "Cantos Meridionais" (1869), "Cantos do Ermo e da Cidade" (1869), "Anchieta ou Evangelho na Selva" (1875), "Cantos Religiosos" (1878) e "Diário do Lázaro" (1880).

Importa dizer que, além de patrono da cadeira número 11 da Academia Brasileira de Letras, além de legar sua obra poética, deixou seu nome inscrito numa rua em Sorocaba, logo atrás da atual rodoviária. A rua Fagundes Varela, ali, aonde hoje, mais de 140 anos depois, tantos outros viajantes ainda chegam para encantarem-se com a cidade, para encantarem-se com suas histórias e amores. Ali, na mesma rodoviária, aonde tantos outros sorocabanos também vão, a passeio, a estudo ou a ganhar outras ruas mais distantes, carregando a terra rasgada em histórias das mais diversas (felizes ou infelizes), mas histórias de Sorocaba.

OBRAS: Noturnas (1861); Vozes da América (1864); Cantos e fantasias (1865); Cantos meridionais e os Cantos do ermo e da cidade (1869). Deixou inédito o Anchieta ou Evangelho na selva (1875), O diário de Lázaro (1880) e outras poesias. Otaviano Hudson, amigo fiel, reuniu os Cantos religiosos (1878), com o fim de auxiliar a viúva e filhos do poeta. As Poesias completas, org. de Frederico José da Silva Ramos, saíram em 1956.

Fontes:
http://www.casadobruxo.com.br/poesia/f/fagundesbio.htm
http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u599.jhtm
http://www.sorocaba.com.br/enciclopediasorocabana/

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