Escolas usam revistas para apresentar as primeiras letras às crianças de 3 a 5 anos
Para ler gibis não é preciso saber ler. Aliás, os quadrinhos parecem mesmo feitos sob encomenda para apresentar as primeiras letras. Eles são coloridos, têm textos curtos e são velhos conhecidos da garotada, que costuma ter contato com eles quando ainda usa fraldas. "Os desenhos conseguem comunicar algo para a criançada", assegura Fernanda Flores, orientadora pedagógica do Colégio Fernando Pessoa.
Balõezinhos apagados
No Fernando Pessoa onde as fotos desta reportagem foram feitas , tirinhas simples são projetadas na parede e lidas para os alunos, que têm entre 3 e 5 anos de idade. A professora aponta com o dedo o trecho que está lendo e ajuda as crianças a compreender o enredo e a decifrar as expressões dos personagens.
Na fase de alfabetização, algumas escolas propõem como exercício apagar as falas dos balõezinhos dos personagens e pedir às crianças que interpretem a seqüência de desenhos e criem sua própria história. Algo parecido com o que faz a arte-educadora Cecifrance Aquino, da The Global School, de Salvador, capital da Bahia. Ela recorta uma historinha, separa os quadrinhos um a um e monta um quebra-cabeça. Embaralhado, ele pode ser reorganizado pela criançada em uma nova seqüência. "Um ótimo estímulo à criatividade", diz ela.
Uma leitura dividida que une a turma
Ao lerem a mesma história em voz alta, alunos de 1ª série avançam na alfabetização
A leitura dos gibis permite, a partir da 1a série, identificar elementos constitutivos do texto. "Pode-se explicar o que é um título e que ele sintetiza o enredo da história", explica Paula Stella, do Colégio Fernando Pessoa.
Outro bom exercício para os recém-alfabetizados é a leitura compartilhada de gibis. Cada um recebe um exemplar da mesma revista. A professora escolhe um episódio e começa a lê-lo em voz alta. Em determinado ponto, pára e pede que um aluno continue a leitura. A tarefa é passada para a próxima criança, até que todos tenham lido. A leitura em comum acaba uniformizando o desempenho da turma.
Exercício para `amiorá´ a ortografia
O linguajar caipira de Chico Bento vira lição na classe de 2ª série
Expressões regionais tiradas de gibi vão para o quadro-negro: grafia corrigida
As caipirices do personagem Chico Bento, criado por Mauricio de Sousa, fascinam alunos e professores. Os alunos acham o personagem simpático e se identificam com os apertos que ele passa em sala de aula. Já os professores gostam do Chico Bento, por mais curioso que seja, porque ele fala "errado". Os ocê, bão, num, lasquera, sem-vregonhera e aminhã que ele usa em suas histórias são motivo para divertidos exercícios de ortografia nas turmas de 2ª série. De quebra, a leitura crítica das aventuras rurais do Chico Bento servem para debates sobre regionalismos e o uso da linguagem falada nos registros culto e familiar.
No Fernando Pessoa, a professora entrega aos alunos cópias xerocadas de uma história do personagem e pede que eles, em duplas, discutam e marquem as palavras escritas erradas.
Palavras corrigidas
Ao final da atividade, as palavras marcadas pelas crianças são reproduzidas no quadro-negro e, ao seu lado, anotada a ortografia correta. A professora debate com a turma em que situações pode-se usar expressões mais familiares e em que momentos o recomendável é expressar-se obedecendo à norma culta.
RODA DE BIBLIOTECA
A idéia é simples: aumentar o acervo de gibis à disposição dos alunos e permitir que eles mesmos escolham e recomendem as melhores HQs uns aos outros. Trata-se da Roda de Biblioteca. Nela, os alunos levam exemplares de gibis e os apresentam para o resto da turma. Depois, cada criança escolhe um título e o leva para casa. Em outro dia, a roda se reúne novamente. É quando cada estudante conta e comenta o que leu.
Ninguém é obrigado a ler nem a professora cobra a leitura.
Revistas já foram jogadas na fogueira
As HQs nunca foram tão bem-vistas nos seus 103 anos de existência como agora. Elas são consideradas uma eficaz ferramenta pedagógica por muitas escolas e as famílias permitem que entrem em suas casas. Mas nem sempre foi assim. Rotulados de subliteratura, os gibis já foram acusados de serem a causa principal da delinqüência entre os jovens americanos dos anos 50. Nesse período, marcado pela intolerância ideológica, era comum a queima, em praça pública, das revistas consideradas inadequadas.
É fácil ter uma gibiteca na escola
Acusadas de má influência sobre a juventude, elas foram vítimas de uma caça às bruxas
Existem no país centenas de gibitecas públicas e particulares. Muitas delas estão instaladas em escolas do ensino fundamental. Se a sua escola não tem ainda uma gibiteca, não perca tempo. É fácil e barato organizar um variado acervo de gibis. Comece escolhendo um espaço adequado para o tamanho da sua coleção. Prefira um local seco e instale estantes resistentes. Papel costuma pesar bastante e pode até quebrar prateleiras de má qualidade. Veja, ao lado, mais dicas para organizar sua gibiteca.
1- Prepare pastas especiais para guardar os gibis mais finos e de capa mole, que não se sustentam em pé. Cole etiquetas na lombada das pastas e identifique seu conteúdo
2 - Ao catalogar os gibis, use a mesma metodologia adotada para os periódicos da biblioteca. Os álbuns e livros em quadrinhos obedecem à norma fixada para os livros
3 - Organize as prateleiras segundo um desses critérios: título, gênero (infantil, super-heróis, humor, ficção etc), autor ou formato
4 - Faça fichas de empréstimo e estabeleça prazos para devolução. As regras têm de ser claras. Os atrasos devem acarretar multas, mesmo simbólicas
5 - O estado de conservação dos exemplares depende dos alunos. Não os deixe esquecer disso. Se houver disponibilidade, organize escalas periódicas para as crianças cuidarem da gibiteca
Elas ensinam até a evitar enchentes
HQs já foram usadas para denunciar ações da CIA e prevenir catástrofes naturais
Os gibis vêm sendo usados com sucesso como instrumento de disseminação de idéias e de utilidade pública. Há dez anos, nos Estados Unidos, o Christic Institute, uma entidade de defesa dos direitos humanos, escolheu um gibi como veículo ideal para denunciar as ações ilegais da CIA o serviço de inteligência do governo americano. O gibi causou a indignação do eleitorado daquele país. O fato pesou no fracasso do então presidente George Bush em tentar sua reeleição. Bons exemplos de gibis educativos são Os Três "Mosquiteiros", da década de 60, e Chega de Enchente, lançado em 1990. A primeira, desenhada por Carlos Estevão, apresenta o Elefantinho antiga mascote da companhia de petróleo Shell dando dicas a um garoto sobre como evitar a disseminação de mosquitos e pernilongos. A segunda, assinada por Ziraldo, traz o Saci Pererê e sua turma explicando a moradores das favelas cariocas como poderiam ser evitados as enchentes e os deslizamentos de terra.
Fontes:
Revista Nova Escola. abril de 1998. Reportagem de Capa. edição 111
Imagem = https://lx1.letti.com.br/planetagibi.com/compramos.php
Para ler gibis não é preciso saber ler. Aliás, os quadrinhos parecem mesmo feitos sob encomenda para apresentar as primeiras letras. Eles são coloridos, têm textos curtos e são velhos conhecidos da garotada, que costuma ter contato com eles quando ainda usa fraldas. "Os desenhos conseguem comunicar algo para a criançada", assegura Fernanda Flores, orientadora pedagógica do Colégio Fernando Pessoa.
Balõezinhos apagados
No Fernando Pessoa onde as fotos desta reportagem foram feitas , tirinhas simples são projetadas na parede e lidas para os alunos, que têm entre 3 e 5 anos de idade. A professora aponta com o dedo o trecho que está lendo e ajuda as crianças a compreender o enredo e a decifrar as expressões dos personagens.
Na fase de alfabetização, algumas escolas propõem como exercício apagar as falas dos balõezinhos dos personagens e pedir às crianças que interpretem a seqüência de desenhos e criem sua própria história. Algo parecido com o que faz a arte-educadora Cecifrance Aquino, da The Global School, de Salvador, capital da Bahia. Ela recorta uma historinha, separa os quadrinhos um a um e monta um quebra-cabeça. Embaralhado, ele pode ser reorganizado pela criançada em uma nova seqüência. "Um ótimo estímulo à criatividade", diz ela.
Uma leitura dividida que une a turma
Ao lerem a mesma história em voz alta, alunos de 1ª série avançam na alfabetização
A leitura dos gibis permite, a partir da 1a série, identificar elementos constitutivos do texto. "Pode-se explicar o que é um título e que ele sintetiza o enredo da história", explica Paula Stella, do Colégio Fernando Pessoa.
Outro bom exercício para os recém-alfabetizados é a leitura compartilhada de gibis. Cada um recebe um exemplar da mesma revista. A professora escolhe um episódio e começa a lê-lo em voz alta. Em determinado ponto, pára e pede que um aluno continue a leitura. A tarefa é passada para a próxima criança, até que todos tenham lido. A leitura em comum acaba uniformizando o desempenho da turma.
Exercício para `amiorá´ a ortografia
O linguajar caipira de Chico Bento vira lição na classe de 2ª série
Expressões regionais tiradas de gibi vão para o quadro-negro: grafia corrigida
As caipirices do personagem Chico Bento, criado por Mauricio de Sousa, fascinam alunos e professores. Os alunos acham o personagem simpático e se identificam com os apertos que ele passa em sala de aula. Já os professores gostam do Chico Bento, por mais curioso que seja, porque ele fala "errado". Os ocê, bão, num, lasquera, sem-vregonhera e aminhã que ele usa em suas histórias são motivo para divertidos exercícios de ortografia nas turmas de 2ª série. De quebra, a leitura crítica das aventuras rurais do Chico Bento servem para debates sobre regionalismos e o uso da linguagem falada nos registros culto e familiar.
No Fernando Pessoa, a professora entrega aos alunos cópias xerocadas de uma história do personagem e pede que eles, em duplas, discutam e marquem as palavras escritas erradas.
Palavras corrigidas
Ao final da atividade, as palavras marcadas pelas crianças são reproduzidas no quadro-negro e, ao seu lado, anotada a ortografia correta. A professora debate com a turma em que situações pode-se usar expressões mais familiares e em que momentos o recomendável é expressar-se obedecendo à norma culta.
RODA DE BIBLIOTECA
A idéia é simples: aumentar o acervo de gibis à disposição dos alunos e permitir que eles mesmos escolham e recomendem as melhores HQs uns aos outros. Trata-se da Roda de Biblioteca. Nela, os alunos levam exemplares de gibis e os apresentam para o resto da turma. Depois, cada criança escolhe um título e o leva para casa. Em outro dia, a roda se reúne novamente. É quando cada estudante conta e comenta o que leu.
Ninguém é obrigado a ler nem a professora cobra a leitura.
Revistas já foram jogadas na fogueira
As HQs nunca foram tão bem-vistas nos seus 103 anos de existência como agora. Elas são consideradas uma eficaz ferramenta pedagógica por muitas escolas e as famílias permitem que entrem em suas casas. Mas nem sempre foi assim. Rotulados de subliteratura, os gibis já foram acusados de serem a causa principal da delinqüência entre os jovens americanos dos anos 50. Nesse período, marcado pela intolerância ideológica, era comum a queima, em praça pública, das revistas consideradas inadequadas.
É fácil ter uma gibiteca na escola
Acusadas de má influência sobre a juventude, elas foram vítimas de uma caça às bruxas
Existem no país centenas de gibitecas públicas e particulares. Muitas delas estão instaladas em escolas do ensino fundamental. Se a sua escola não tem ainda uma gibiteca, não perca tempo. É fácil e barato organizar um variado acervo de gibis. Comece escolhendo um espaço adequado para o tamanho da sua coleção. Prefira um local seco e instale estantes resistentes. Papel costuma pesar bastante e pode até quebrar prateleiras de má qualidade. Veja, ao lado, mais dicas para organizar sua gibiteca.
1- Prepare pastas especiais para guardar os gibis mais finos e de capa mole, que não se sustentam em pé. Cole etiquetas na lombada das pastas e identifique seu conteúdo
2 - Ao catalogar os gibis, use a mesma metodologia adotada para os periódicos da biblioteca. Os álbuns e livros em quadrinhos obedecem à norma fixada para os livros
3 - Organize as prateleiras segundo um desses critérios: título, gênero (infantil, super-heróis, humor, ficção etc), autor ou formato
4 - Faça fichas de empréstimo e estabeleça prazos para devolução. As regras têm de ser claras. Os atrasos devem acarretar multas, mesmo simbólicas
5 - O estado de conservação dos exemplares depende dos alunos. Não os deixe esquecer disso. Se houver disponibilidade, organize escalas periódicas para as crianças cuidarem da gibiteca
Elas ensinam até a evitar enchentes
HQs já foram usadas para denunciar ações da CIA e prevenir catástrofes naturais
Os gibis vêm sendo usados com sucesso como instrumento de disseminação de idéias e de utilidade pública. Há dez anos, nos Estados Unidos, o Christic Institute, uma entidade de defesa dos direitos humanos, escolheu um gibi como veículo ideal para denunciar as ações ilegais da CIA o serviço de inteligência do governo americano. O gibi causou a indignação do eleitorado daquele país. O fato pesou no fracasso do então presidente George Bush em tentar sua reeleição. Bons exemplos de gibis educativos são Os Três "Mosquiteiros", da década de 60, e Chega de Enchente, lançado em 1990. A primeira, desenhada por Carlos Estevão, apresenta o Elefantinho antiga mascote da companhia de petróleo Shell dando dicas a um garoto sobre como evitar a disseminação de mosquitos e pernilongos. A segunda, assinada por Ziraldo, traz o Saci Pererê e sua turma explicando a moradores das favelas cariocas como poderiam ser evitados as enchentes e os deslizamentos de terra.
Fontes:
Revista Nova Escola. abril de 1998. Reportagem de Capa. edição 111
Imagem = https://lx1.letti.com.br/planetagibi.com/compramos.php
Nenhum comentário:
Postar um comentário