segunda-feira, 2 de março de 2009

Dicionário do Folclore (Letra B)


BABA-DE-MOÇA. Doce antigo e popular no Brasil, feito com polpa de coco verde, açúcar, gemas de ovo. Sobremesa leve, servida em qualquer ocasião. Gilberto Freyre sempre ofereceu essa iguaria aos hóspedes de sua casa. Também é feito com o leite de coco e com açúcar, da maneira como são feitos todos os doces.
BABALAÔ. Sacerdote dos cultos afro-brasileiros, também chamado de babalorixá mestre, pai-de-santo, jeje-nagôs, babá, piji-gan (dono do altar). Para ser um babalaô a pessoa tem que ter devoção, direitos e deveres, jurisdição e misteres da religião africana. Veja PAI-DE-SANTO.
BABALORIXÁ. É o pai-de-santo, zelador, pai-de-terreiro, o mestre, o guia terreno, governador espiritual e administrador do candomblé. O feminino de babalorixá é alourixá, mãe-de-santo. A diferença entre babalorixá e babalaô é que o babalorixá fica sempre ligado ao culto através dos orixás, enquanto que babalaô diz o futuro consultado pelo Ifá, Opelê, Eluô, são videntes. São bastante confundidos, mas o babalaô é superior ao babalorixá. O babalorixá é conhecido fora da religião africana como feiticeiro, macumbeiro, bruxo das artes negras e assombrosas. Veja BABALAÔ.
BABAU. É o nome popular do mamulengo, fantoche, brincadeira popular nas festas dos engenhos e das cidades do interior. O babau não tem nada a ver com o bumba-meu-boi. É irmão gêmeo do cavalo-marinho. São personagens do babau ou mamulengo o Cabo 70, o Preto Benedito, Zé Rasgado, Simão e Etelvina.
BABOSA. A babosa é uma planta originária do sul e do leste da África e está aclimatada nas regiões tropicais de todos os continentes. Seu nome botânico é aloe e é encontrada no nordeste e centro-oeste brasileiros. Seu uso na medicina popular é muito grande. Como supositório é usada na cura de hemorróidas e oxiuros. bem como nas inflamações vaginais e prisão de ventre. As mulheres usam a babosa para combater a caspa e afinar os cabelos. Para curar as queimaduras, nada como colocar um pedaço de babosa na área atingida. O órgão que controla a venda de remédios nos Estados Unidos (FDA) já aprovou o uso da planta para testes de pacientes com AIDS. Mas a babosa está sendo muito usada entre pessoas portadoras de tumores malignos da próstata e no combate ao câncer. No último caso, é feita uma mistura de babosa, mel de abelha e cachaça ou uísque, remédio que tem obtido resultados positivos. O remédio já está sendo industrializado e vendido nas farmácias.
BACALHAU-DO-BATATA. Troça de carnaval que, desde 1965, se exibe na Quarta-Feira de Cinzas na cidade de Olinda, PE, composta de garçons, motoristas, vigilantes e enfermeiros que não brincaram o carnaval por estarem trabalhando. Foi fundada pelo garçon Isaias Ferreira da Silva, já falecido, com a participação de seus amigos Lima, Toinho e Isaque. Saía da rua das Bertiogas.
BACO-BACO. Como o povo chama aos caminhões que queimam gás óleo. A origem é onomatopaica, isto é, do barulho que o motor do caminhão faz quando está trabalhando.
BACURAU. Pássaro noturno, de plumagem sedosa, que se alimenta de insetos. As penas das asas do bacurau curam dor de dentes quando esfregadas neles. Diz-se das pessoas, dos boêmios que saem à noite à procura de aventuras amorosas. No Recife, existia uma feira-do-bacurau, que começava de noite e ia até o dia amanhecer.
BAIANA. É a roupa vestida pela negra, pela mestiça de Salvador. As baianas usam uma saia rodada de várias cores, anágua (saia de baixo, engomada), uma bata (blusa branca comprida e solta). Um pano da costa (comprido manto de algodão listrado), um torso ou turbante de algodão ou seda à volta da cabeça, calçam chinelos de salto baixo, e se enfeitam com colares, brincos, braceletes e balangandãs. Carmen Miranda universalizou a baiana em Holywood, vestindo-se como verdadeira baiana, e cantando "O que é que a baiana tem?".
BAIÃO. É uma dança popular do Nordeste, o mesmo que rojão, baiano. Quem divulgou o baião foi o sanfoneiro pernambucano Luís Gonzaga, apresentando-o, com muito sucesso, nas estações de rádio e televisão de todo o país, gravando muitos discos, razão pela qual ficou conhecido como o "Rei do Baião".
BAIÃO-DE-DOIS. Comida típica, popular do Ceará, feita com arroz e feijão cozinhados juntos, para se comer na hora do almoço.
BAILE. Dança. Na linguagem popular significa descompostura, agressão verbal pública: "Alice deu um baile em Clara".
BAILE-DA-SAUDADE. O Baile-da-Saudade apareceu em 1973, como uma prévia do carnaval do Recife. Duranteobaile, muito concorrido principalmente por saudosistas, a orquestra só toca músicas do passado, como Aurora, Um pierot apaixonado, É de amargar, Jardineira,etc., que, na realidade, continuam animando os carnavais nos bailes dos clubes.
BAILE-DOS-ARTISTAS. Prévia do carnaval recifense que reúne artistas e intelectuais de todas as áreas e que foi realizado, pela primeira vez, em 1979 pelo teatrólogo Marcus Siqueira. Cada ano, um escritor ou um artista é homenageado.
BAILE MUNICIPAL. Baile promovido pela Prefeitura da Cidade do Recife, desde 1965, como abertura oficial do carnaval recifense, ultimamente no Clube Português.
BAIO. 1. Dança popular no Piauí. Assemelha-se ao miudinho, do sul do país. Ritmo vivo, parecido com a arcaica chula, onde os pares fazem piruetas no meio da roda, e os dançadores se movimentam com rapidez, com sapateados difíceis e elegantes; 2. Diz-se do cavalo castanho.
BALA. É o projétil de arma de fogo que significa, também, na linguagem popular, rapidez, como na expressão: "Foi e voltou como uma bala!" Na culinária, é o ponto em que a calda do açúcar refinado com a essência de uma fruta atinge o ponto certo para a fabricação de balas, bolas, rebuçados. No Nordeste, a bala é mais conhecida como bombom.
BALADEIRA. Veja ATIRADEIRA.
BALANGANDÃS. É a coleção de ornamentos que as crioulas trazem pendentes na cintura nos dias de festa, principalmente na do Senhor do Bonfim. O vocábulo erradicou-se na Bahia, "quem não tem balangandãs, não vai ao Bonfim!", diz a cantiga. Também podem ser usados no pescoço. Quando uma pessoa está muito enfeitada diz-se que está cheia de balangandãs. Também é um conjunto de miniaturas em prata, ouro ou qualquer outro material, em forma de figas, corações, dentes, chaves, cadeados, placas, frutos, sapatinhos, bonecas, tesouras, chifres, conchas e outras peças.
BALÊ. Nos xangôs pernambucanos balê é um quartinho fora do barracão das festas, destinado a hospedar o espírito dos mortos antes da viagem para o outro mundo. É a casa dos mortos.
BAL-MASQUÉ. Luxuosa prévia carnavalesca realizada, desde 1948, com o comparecimento de foliões, vestindo ricas fantasias, realizada no Clube Internacional do Recife.
BAMBELÔ. É samba, coco-de-roda, dança em círculo acompanhada por instrumentos de percussão, tendo, no centro do círculo, um ou dois dançarinos.
BANANEIRA. Árvore de fruta tropical que tem variadas espécies: anã, maçã, prata, comprida, etc. É um vegetal que tem suas origens na criação do mundo. A bananeira tem suas estórias e mistérios. Na noite de São João, à meia-noite, a moça que enfiar uma faca virgem no tronco de uma bananeira verá o nome do futuro noivo escrito na lâmina da faca. Quando a bananeira vai dar cacho, ela geme como a mulher nas dores do parto. A banana está presente na culinária brasileira. Mingaus, bolos, tortas, saladas, farinhas, doces (inclusive o nego-bom), são feitos com a banana. As folhas da bananeira servem para envolver peixes, assados, pratos afro-brasileiros e outras guloseimas.
BANDEIRA. Além de ser o símbolo de uma nação, a bandeira também tem sua significação religiosa. A bandeira de São João dá início às festividades juninas quando içada nos mastros antes ou depois da novena do santo, entre música e salva de foguetes. Terminada a novena, uma pessoa será escolhida ou sorteada pelos presentes para guardar a bandeira até o ano seguinte, o que lhe trará sorte e felicidade. Nas festas de São Gonçalo, do Divino, e de São João, as bandeiras saem da casa onde ficaram guardadas durante o ano que passou e, em procissão, vão até o local onde se encontram os mastros em que serão içadas.
BANGUELO. Pessoa sem dentes. Entre 6 a 7 anos a criança perde os dentes-de-leite ficando banguela. Antigamente os banguelos eram escravos que vinham de Angola com os dentes limados, por motivos estéticos ou religiosos.
BANHO-DE-CHEIRO. É um banho aromático preparado com ervas, cascas de plantas, flores, essências e resinas, que tem o poder de conservar a felicidade, afastar o caiporismo e readquirir os favores da sorte. O banho-de-cheiro nordestino é feito com sete plantas: arruda, alecrim, manjericão, malva-rosa, malva-branca, manjerona e vassourinha. Antes do banho, fricciona-se o corpo com cachaça. O banho-de-cheiro é muito usado nas religiões afro-brasileiras. É bom lembrar que nos banhos de cheiro não se usa sabonete nem toalha. Os melhores dias para tomar banho-de-cheiro são os seguintes: dia de Ano-Novo, no Sábado de Aleluia, no dia de São João, no dia de Natal e antes de casar. É bom tomar um banho-de-cheiro para acabar com o mau-olhado.
BANHO-DE-MAR-À-FANTASIA. Juntando o carnaval à praia, os cariocas promovem o banho-de-mar-à-fantasia, que começou, numa promoção do jornal A Noite, em 1935, no Posto 4, em Copacabana.
BANHO-DE-SARGENTO. É lavar o rosto e os braços. É uma meia-sola, como se diz em São Paulo.
BANHO-DE-TARTARUGA. É o banho em banheira. A água pode ser fria ou morna, de acordo com a vontade da pessoa. É bom para relaxar, quando a água está morna.
BARBA. A barba antigamente dava ao homem o tom de seriedade, de poder. Os condes, os barões, os nobres, de maneira geral, usavam barba crescida até os começos do século. Os rapazes, quando iam fazer a barba pela primeira vez, tinham que pedir licença ao pai. Não é bom barbear-se nas terças-feiras, dia em que o diabo anda solto, nem às sextas-feiras, porque nesse dia os judeus fizeram a barba de Nosso Senhor. Antigamente, um fio de barba valia até mesmo como garantia da palavra dada.
BARRIGA VERDE. Nome dado às pessoas nascidas no Estado de Santa Catarina, por causa do colete verde usado pelos soldados de um batalhão de fuzileiros formado por Silva Paes.
BATALHA-DE-CONFETE. Promovida pelo jornal A Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, no carnaval de 1907, a batalha-de-confete consistia no arremesso, entre os foliões, nos bailes, de confete.
BATE-BATE. Bebida feita com cachaça, açúcar e limão, ou maracujá, abacaxi ou outra fruta qualquer. É consumida nos carnavais do Nordeste. No Sul, esta bebida tem o nome de batida, feita, quase sempre, com limão.
BATE-CHINELA. Veja ARRASTA-PÉ.
BATERIA. Conjunto de instrumentos de percussão muito usado em espetáculos e shows, tocados por uma só pessoa. Também é uma coleção de bebidas ou de panelas de cozinha.
BATIDA. Veja BATE-BATE.
BATUCADA. 1. Conjunto de três ou quatro ritmistas batucando seus instrumentos de percussão e que sai às ruas, no Rio de Janeiro, nos dias de carnaval; 2. Estilo de música, com ritmo bem marcado, herdado do batuque angolano. Duas batucadas fizeram bastante sucesso nos carnavais cariocas do passado: General da Banda (de Sátiro Melo, J. Alcides e Tancredo Silva), em 1949 e Nega do Cabelo Duro (de Rubens Soares e David Nasser), em 1942.
BATUQUE. Dança acompanhada de sapateado, palmas e tambor, quando de negros. No batuque de branco, o pandeiro e a viola são tocados. Batuque é o nome que se dá, geralmente, a todas as danças de negros vindos da África.
BEBER-ÁGUA-DE-CHOCALHO. Quando as crianças estão demorando a falar, as mães nordestinas enchem um chocalho com água e, depois de meia hora, dão ao filho para beber, para falar logo. Quando uma pessoa fala muito, demais, o povo diz que ela bebeu água de chocalho quando criança.
BEBER-FUMO. Era o nome que se dava ao ato de fumar, logo que o fumo apareceu. Na linguagem popular, beber fumo, agora, é fumar maconha.
BEDEGUEBA. Na linguagem popular nordestina bedegueba significa o chefe, o patrão, o homem autoritário, o mandão, o manda-chuva local. Também é o homem desprezível, inferior: "Ele é um bedegueba. Um qualquer". No pastoril, é o velho que dirige a brincadeira, que faz papel de palhaço, conta anedotas, canta, pinta o sete.
BEIJA-FLOR. É um passarinho de bico bem fininho que se alimenta do mel que têm as flores. O beija-flor anuncia visitas. Quando entra numa casa e não sabe sair, significa que vai haver briga do casal. Para os indígenas, o beija-flor é o mensageiro de outro mundo. Diz o povo que ele passa seis meses dormindo e seis meses acordado. Também é conhecido em outras regiões brasileiras como pica-flor, chupa-mel.
BEIJU. Feito com a massa da mandioca na zona rural, nas casas de farinha, com coco ralado e um pouco de sal, na época das farinhadas. Comido ainda quentinho, com manteiga-de-garrafa, é uma delícia.
BELISCÃO-DE-FRADE. Beliscão dado com os nós do dedo médio e indicador, ou seja o maior-de-todos e o fura-bolo. Também pode ser chamado beliscão-de-beata.
BEM-CASADOS. 1. Planta que veio de Madagascar, na África, para o Brasil, com duas pequenas flores de vermelho muito brilhante e que ficou conhecida, entre nós, como dois-amigos, dois-irmãos, bem-casados, coroa-de-cristo. 2. Biscoito de goma, redondo, uma parte maior sobre uma parte menor. A parte maior representando o homem e a parte menor, a mulher. Também é conhecido nas festas de aniversários como um tipo de brigadeiro, feito com leite condensado, uma parte é branca e a outra preta, com chocolate.
BEM-TE-VI. É um pássaro cujo canto é como se ele estivesse dizendo seu próprio nome, avisando que alguém dele se aproxima. O bem-te-vi anuncia visitas. Quando uma pessoa morre o bem-te-vi cantando, costuma perguntar: - "Quem tu viste, bem-te-vi? Homem ou mulher?". Se o passarinho cantar logo depois da pergunta, a visita é de homem; mas se demorar a cantar, a visita é de mulher.
BENDITOS. 1. Canto religioso entoado pelas pessoas que acompanham as procissões: - "Bendito, louvado seja, o Santíssimo Sacramento". 2. Orações cantadas pedindo uma graça a Deus e aos santos. No sertão, quando está demorando muito a chover com o povo morrendo de fome e o gado já não tendo mais pasto, as famílias se reúnem para cantar o bendito da seca: - "Meu pai, meu Senhor,/ De nós tenhais dó,/ Que a seca está grande,/ Está tudo em pó". E muitos versos se seguem, mostrando a devoção do povo e pedindo chuva.
BERIMBAU. Instrumento sonoro feito de ferro ou de aço. São dois espaços que se ligam arqueando-se com uma lingueta no meio. Toca-se o berimbau levando-se à boca, prendendo-o nos dentes e fazendo a lingüeta vibrar, puxando-a com o dedo indicador. O berimbau traduz um som parecido com um zumbido. O berimbau foi trazido pelos portugueses.
BERIMBAU-DE-BARRIGA. Trazido pelos escravos africanos, o berimbau-de-barriga é um instrumento musical composto pela metade de um cabaço presa a um arco formado por uma varinha curva com um fio de latão, sobre o qual se bate ligeiramente. Algumas varetas têm um cabaço bem pequeno, cheio de sementes, fazendo, assim um minúsculo maracá.
BICHO. Diz-se que bicho é pessoa muito feia, de gênio mau, parecida com animal selvagem, monstro. Também é alma de outro mundo. Quando as babás querem amedrontar as crianças costumam dizer: - "Olhe o bicho", "Não faça isso que o bicho te pega". Também dizem bicho-papão. Quando uma pessoa toma uma bebida pela manhã diz-se que está matando-o-bicho, o gênio mau.
BLOCO. É um grupo de pessoas, homens e mulheres, vestindo a mesma fantasia, cantando seu hino, desfilando pelas ruas da cidade durante os dias de Carnaval. O bloco é acompanhado por uma banda de música e quase sempre seus componentes fazem crítica ou sátira social ou política. Atualmente o bloco mais em evidência na cidade do Recife é o Galo da Madrugada que, pela quantidade enorme de acompanhantes, já entrou no Livro dos Recordes Mundiais, o Guines Book, como o maior bloco do mundo. Em Olinda, os blocos mais famosos são a Pitombeira dos Quatro Cantos, Elefante e o Bloco da Saudade, além de muitos outros que desfilam pelas ruas da cidade.
BLOCO-EU-SOZINHO. Original bloco de carnaval composto de apenas uma pessoa, sendo seu fundador Júlio Silva, pernambucano, em 1919. Ele mesmo, vestido com uma camisa listrada e uma calça de cetim, conduzia seu micro-estandarte. Faleceu em 1979, sem deixar continuador de sua original idéia.
BOA-HORA. Deseja-se que a mulher grávida tenha uma boa-hora, isso é, que tenha um parto normal, sem complicações.
BOA-MÃO. Há pessoas que têm uma boa-mão para tudo quando fazem. Boa-mão para botar ovos para galinha chocar, para bater bolo, para plantar, e tudo que elas fazem dá certo. Há, também, pessoas que têm boa-mão para certas coisas e mão-má para outras.
BOBÓ. O bobó é uma comida africana muito popular na Bahia. O bobó é feito de feijão-mendubi (também conhecido como feijão-mulatinho) bem cozido com pouca água, sal a gosto, batata-da-terra, quase madura. Depois que o feijão é reduzido a uma massa pouco consistente, junta-se bastante azeite-de-dendé e farinha de mandioca. Também usam fazer o bobó com inhame. Bobó, na linguagem popular, significa bofe, pulmão.
BODE. é o marido enganado, a refeição que os operários levam para o lugar de trabalho, o protestante que canta muito nos seus cultos. Bode é o conquistador.
BODOQUE ou BADOQUE. Veja ATIRADEIRA.
BOI. O boi se faz presente no folclore, nas cantigas de ninar ("Boi, boi, boi!/Boi da cara preta,/Pega este menino/Que tem medo de careta"), nas vaquejadas, nos folhetos de feira, no bumba-meu-boi e em muitas outras manifestações o boi sempre dá o ar de sua graça. Dizem que do boi nada se perde, a não ser seu mugido. De seu couro são feitos sapatos, cinturões, sandálias. De seus ossos são feitos botões, pentes, etc. Da vaca, temos o leite com que se fazem a manteiga, o queijo, a coalhada, etc.
BÓIA. Comida, refeição, alimento preparado na cadeia, no quartel ou rancho. Bóia-de-governo é almoço e jantar servidos em serviço social. O nome bóia surgiu, no quartel ou cadeia e vem de feijão mal cozido ou podres que fica boiando. Nas universidades, os estudantes chamam de chepa. Em Portugal, bóia-de-salvação é um barril de cortiça fechado, lançado a quem ameaçado de afogamento. Não-ver-bóia é estar sem esperança de êxito. No campo há os bóias-frias, que são trabalhadores rurais que viajam de caminhão e executam serviços de agricultura nas fazendas durante a safra.
BOI-BUMBÁ. É o nome que se dá ao bumba-meu-boi no Pará e no Amazonas e que se exibe nos festejos juninos. O boi-bumbá quando sai de sua sede visita a casa das pessoas do lugar.
BOI CALEMBA. Veja BUMBA-MEU-BOI.
BOI-DE-FITA. Dos bois que vão correr durante sua exibição nas vaquejadas, o mais bonito, o maior, o mais gordo não se derruba pela cauda. Na ponta dos chifres são amarradas duas fitas de cores diferentes. A brincadeira consiste em o vaqueiro tirar o laço de fita do lado onde ele está correndo. O vaqueiro que não conseguir tirar o laço de fita dos chifres do boi é vaiado. Quando consegue tirar o laço, é aclamado como ganhador e oferece o laço ao prefeito, ao vigário, à namorada, noiva ou mulher.
BOI-DE-MAMÃO. É o nome que se dá ao bumba-meu-boi em Santa Catarina. Veja BUMBA-MEU-BOI.
BOI-DE-REIS. Veja BUMBA-MEU-BOI.
BOI-SANTO. Movimento supersticioso ocorrido no Ceará (1918-1920), com repercussão no Nordeste. Foi chamado Boi Santo, porque o padre Cícero ganhou um zebu de presente e mandou seu administrador levar o animal até sua fazenda, no município do Crato. O administrador, que se chamava José Lourenço, não conhecendo aquela raça, ficou impressionado com o porte do animal e começou a fazer promessas e orações. O boi tinha o nome de Mansinho. José Lourenço dedicou ao animal inteira devoção. Foi o primeiro devoto do boi-santo. E depois sua fama de milagreiro espalhou-se em toda a região. Mansinho virou boi Ápis.
BOIÚNA. No folclore amazonense, boiúna é uma cobra escura, a mãe-d’água que, para enganar as pessoas, se transforma em canoas, vapores, navios. A boiúna engole uma pessoa. Quando ela anda no rio faz o barulho de um navio. Quando bota a cabeça fora da água, seus olhos parecem dois archotes que, de tão fortes, fazem com que os navegantes fiquem desnorteados. O número de estórias da boiúna, contadas pelo povo, é enorme.
BOI-VAQUIM. O boi vaquim é um boi místico, do Rio Grande do Sul, com asas e guampas de ouro. Mete medo aos camponeses porque faísca fogo das pontas das guampas e tem olhos de diamante. É preciso ser muito bom, muito forte e muito corajoso para laçá-lo e estar montado num cavalo bom de patas e de rédeas. Guampas são vasilhas, feitas de chifres.
BONECAS DE PANO ou BRUXAS. São, como o próprio nome está dizendo, bonecas feitas com retalhos ou sobras de fazenda para a alegria das meninas pobres cujos pais não têm dinheiro suficiente para comprar bonitas e maiores bonecas de louça ou de plástico, com vestidos bem feitos, que choram, fazem xixi e chamam mamãe. As bonequeiras ainda existem nas cidades do interior nordestino e são representantes da nossa arte popular. Há pessoas adultas que possuem coleções com centenas de bonecas de pano.
BORBOLETA. Diz o povo que a borboleta é mensageira, que uma borboleta de cores claras traz felicidade, alegria e fortuna. Já a borboleta negra é o contrário da borboleta de cores claras. A borboleta negra é aliada da morte, avisando que alguém vai morrer. Na Europa, ela é o espírito de uma criança que morreu sem ser batizada; é a encarnação das bruxas. De qualquer maneira a borboleta é uma festa para os olhos. O povo acredita que quem pegar uma borboleta e passar as mãos nos olhos, fica cega, por causa de seu pelo.
BORÉ. É um instrumento de sopro feito de bambu, usado pelos indígenas.
BOTADA. É o começo da moagem da cana nos engenhos do Nordeste. O ato é solene. O padre dá a bênção e é servido um jantar aos senhores de engenho da vizinhança, amigos e convidados. Se a botada não receber a bênção do padre pode acontecer, como castigo, alguma desgraça de sérias conseqüências. Alguns senhores de engenho mandam, logo cedo, antes da botada, rezar uma missa, assistida por todos os que trabalham no engenho, bem como seus familiares.
BOTIJA. 1. As botijas de barro vidrado que vinham da Holanda e da Bélgica, cheias de genebra, eram, depois de bebido seu conteúdo, transformadas em instrumentos musicais. Segurando-se a asa da botija e atritando-se com qualquer objeto metálico ao longo do seu pescoço, ouvia-se um som alegre vivo, servindo para dar ritmo ao samba e embolada. 2. Como antigamente não havia bancos nas cidades do interior, as pessoas colocavam suas economias (moedas de prata e ouro), dentro de uma panela de barro devidamente fechada e que era enterrada num dos quartos da casa ou debaixo de uma árvore. Se a pessoa morresse e deixasse suas economias numa botija enterrada, sua alma ficaria penando. E a pessoa morta aparecia aos vivos mostrando onde é que estava enterrada sua botija. A pessoa tinha que ir sozinha. Se fosse com outra pessoa, a botija desaparecia ou virava carvão. Quando a alma do falecido aparecia a uma pessoa, pedia que a botija fosse desenterrada e que parte do dinheiro fosse gasto celebrando missas para sua alma.
BOTO. É o golfinho do Rio Amazonas. Existe o boto vermelho, o boto branco, o piraia-guará, ou pira-iauara, peixe-cachorro. O boto no Rio Amazonas é tão conhecido que virou lenda no Pará. O boto seduz todas as moças que vão lavar roupa ou se banhar no Rio Amazonas. À noite, transforma-se num bonito rapaz, alto, branco, forte, caçador, bêbado. Freqüenta os bailes, namora, conversa e aparece fielmente aos encontros femininos. Antes da madrugada pula na água do rio e volta a ser boto novamente. Engravida as moças e torna-se o pai desconhecido. O boto protege as canoas em época de temporais, enxota os cardumes para as margens. O boto leva sempre a culpa, mesmo não praticando o ato e é sempre o culpado de adultérios e defloramentos. Também é chamado genericamente de tucuxi e possui faro mais aguçado do que o de cachorro. O boto vermelho é o mais perseguido pelos caboclos. A crendice pertence aos mestiços e não aos nativos da selva e se espalhou com a presença do nordestino na região do Pará e Amazonas.
BRÁULIO DO NASCIMENTO nasceu no dia 22 de março de 1924, na cidade de João Pessoa, PB. Diplomado em Letras, professor, crítico literário, jornalista, folclorista, Braúlio do Nascimento exerceu diversas funções públicas entre as quais a de diretor do Instituto Brasileiro de Folclore, tempo em que o folclore brasileiro foi mais estudado, mais divulgado, através de inúmeros livros e revistas publicados, muitos CDs, cursos, seminários, congressos, encontros, etc. Quase todos os dias o folclore brasileiro estava presente na imprensa, na televisão, radiodifusão brasileira, razão pela qual o folclore muito deve ao folclorista Bráulio do Nascimento quando foi diretor do Instituto Brasileiro de Folclore. De sua autoria foram publicados Processo de avaliação do romance (1964), Literatura popular em verso (1965), As sequências temáticas no romance tradicional (1966), Bibliografia do folclore brasileiro (1971), Pesquisa do romanceiro tradicional do Brasil, Eufemismo e criação poética no romanceiro tradicional (1972), Um século de pesquisas do romance tradicional do Brasil (1973), Literatura oral – um século de pesquisas no Brasil (1973), O romance tradicional do Brasil (1973), O ciclo boi na poesia popular (1973), Romanceiro tradicional (1974), Arquétipo e versão na literatura de cordel (1977), Um romance tradicional entre índios do Amazonas no século XIX (1979).
BREVE. É um saquinho feito de pano ou de couro, contendo uma oração destinada a proteger as pessoas que o trazem pendurado ao pescoço.
BRINCANTE. É como se auto denomina o artista popular.
BROTE. O brote é uma bolacha vendida no Nordeste e quando é feito em tamanho pequeno recebe o nome de brotinho. É uma das poucas palavras deixadas pelos holandeses em nossa linguagem popular. A palavra brote vem de broot (pão), como se escrevia no século XVII. E brotinho também é a denominação de adolescentes, meninas jovens.
BUCHADA. A buchada é um dos pratos mais tradicionais do Nordeste; consumida sempre num almoço para se comemorar um acontecimento, como casamento, batizado, etc. A maneira de se preparar a buchada varia de Estado para Estado. Na Bahia, por exemplo, as pessoas costumam colocar a cabeça do carneiro ou do cabrito dentro do fato, saco do estômago do animal onde também são colocados, em pedaços, o sangue coalhado e as vísceras. A buchada é considerada uma comida pesada, muito gorda, razão pela qual é bom tomar um cálice de cachaça para cortar seus efeitos. Não é bom dormir depois de comer buchada: a pessoa pode ter uma congestão e morrer.
BUMBA-MEU-BOI. Também conhecido como Boi-Calemba, Bumba (Recife), Boi-de-Reis, Boi-Bumbá (Maranhão, Pará e Amazonas), Três-Pedaços (Porto de Pedras, Alagoas), Folguedo-do-Boi (Cabo Frio, Estado do Rio), Boi-de-Mamão (Santa Catarina), é um dos folguedos brasileiros mais importantes. O Bumba-Meu-Boi tem uma duração enorme; começa às 8 ou 9 horas da noite e vai até o dia amanhecer. O Bumba-Meu-Boi tem início com a apresentação do Cavalo Marinho, que é o dono do boi. Em seguida, vem o boi que dá marradas e corre atrás de Mateus e Birico, que são uma espécie de palhaços. Um deles dá uma cacetada no boi e o boi morre. O Cavalo Marinho manda chamar o Doutor. Vem o padre para confessar o boi ou o Mateus e algumas vezes para celebrar o casamento de Catirina com Bastião. O Doutor chega e receita um clister. Um dos vaqueiros corre atrás dos meninos que estão assistindo ao folguedo e, pega um deles que funcionará como seringa e mete o menino pela traseira do boi que, em seguida, ressuscita. Em continuação, tem lugar a dança da Burrinha, as loas dos Galantes e Damas ao Menino Jesus. O folguedo do Bumba-Meu-Boi termina com a retirada do Cavalo Marinho.
BUNDA-CANASTRA. É a brincadeira que consiste em apoiar a cabeça no chão e, com as pernas, tomar um impulso para cair sentado. Canastra é o nome que o povo dá às costas, espáduas. Também é um jogo de cartas.
BUSCA-PÉ. Fogo de artifício muito usado nas cidades do interior nordestino por ocasião da noite de São João e Santo Antônio. Trata-se de um mosquito medindo trinta centímetros, feito com pedaços de bambu, de pequeno diâmetro e que, depois de aceso, corre atrás das pessoas e termina com a explosão de uma bomba. É muito perigoso.

Fontes:
LÓSSIO, Rúbia. Dicionário de Folclore para Estudantes. Ed. Fundação Joaquim Nabuco
Imagem = http://www.terracapixaba.com.br

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