segunda-feira, 9 de abril de 2012

Caldeirão Poético da Bahia I


A. J. CARDIAIS
(Salvador / BA)
Cadeia alimentar


O mundo animal
apesar de parecer violento
é mais natural
do que o do ser humano...

Nenhum animal
mata por prazer
ou por engano...
Mata para se defender
ou para se alimentar.

A cadeia alimentar
não é para aprisionar...
É para manter o equilíbrio.

Desequilibrados, os humanos
quebram esta cadeia
aprisionando-nos neste inferno
que se tornou o Mundo.
...
Mundo mundo vasto mundo... (Carlos Drummond)

ALBÉRICO SILVA DE CARVALHO
( Salvador / BA)
Ser(tão)


Barro duro, rachado, roto, solo ingrato
No chão e nas paredes das casas.
Barro estéril, torrado e mato seco,
Pedem água!
Na terra, gretas secas, fendas apartadas,
Parecem bocas secas esmolando água!
As casas toscas, secas, enfeitam o cenário
E também sentem sede!

Homens, braços esquálidos
Vestes rotas, pela seca, pés rachados
Também pedem água!
Mais parecem gravetos estéreis,
Que também sentem sede!
Árvores secas com pouco verde
Retorcidas e, com braços esquálidos
Também pedem água!

E o gado, protegendo o osso
Mal se apruma de teimoso igual seu dono
Também sente sede!
Mulheres secas com barrigas grávidas
Também pedem água!
E os braços também esquálidos,
Equilibram outros galhos secos
Cujo choro também pede água.
E o cachorro cria da casa,
Também sente sede!

EDILSON NASCIMENTO LEÃO
(Urandi / BA)
O sol na mente


Cachoeira, água leite
Do leito do rio caudaloso
Escaldante, escaldado...
Corredeiras espumosas
Cor de algodão
Escorrendo pelo chão.
Sobe e desce, bailando numa canção.
Águas gélidas, falantes, calientes
Com o sol nascente.
Cenário abrangente
Água e sol na mente.

JERRE ADRIANO FERREIRA SANTOS
(Cândido Sales / BA)
Sobrevivente da desigualdade


Não posso viver assim!
Ver a vida lutar com a morte
E contar com a sorte pra sobreviver.
Viver e ver, a dor e a fome
Consumir crianças, mulheres e homens.
É triste!
Mas é a pura verdade;
Quem vive aqui padece calado.
A incerteza e a miséria
Predominam essas cidades.
Não sei se vale a pena deixar o nada
E viver outra realidade,
Deixar o sofrimento e viver a saudade,
Ir para bem longe;
E viver nas periferias das grandes cidades.
Viver de ilusão e de incerteza;
Mas sempre com a esperança de um dia voltar,
Para acabar com a fome e a miséria;
Que destrói a vida do povo
Que sobrevive nesse lugar.

JOSE IGNACIO SOLIS
(Salvador / BA)
Por que parei aqui


Por que parei aqui
não sei. Por que não
continuei pra outro lado
de arado em punho é um mistério
suponho. Um ponto avulso no sonho
dos oceanos pernambucanos.
Um caboclo romano à deriva
pelos sertões americanos
com a língua ferida de sal.
Ando descalço à míngua destes anos
sem saber o que semeio
por estas terras do Senhor.
Em meu peito desperto
o seu amor,
em seu seio meu deserto
mastigando o cal
da sua voz acima.
Um carcará Rocinante
por amplia cajuína.
Uma arara azul que berra
ao acaso da sina, do fim
de sua vida errante no Raso
da Catarina.

MARINA MORENO LEITE GENTILE
(Salvador / BA)
Declaração de amor


Recordações das brincadeiras,
Da juventude,
Tempos de sonhos,
Fracassos, sucessos,
Tudo ficou para trás,
Menos nosso amor e união.

Tento harmonizar uma poesia pra ele,
Busco as palavras, digito, digito,
Insisto um pouco mais, e mais,
As palavras ideais não vêm, desisto!
Uma canção do Roberto Carlos resume tudo
- Como é grande o meu amor por você...

(Ao meu irmão Noel Moreno Leite)

VALMARI SANTOS NOGUEIRA
(Salvador / BA)
"PÃE", com muito orgulho!


Com um sopro divino eles rebentam barulhentos
E passam a compor galhos da grande árvore
(humana)
Que através dos tempos, emana:
Contratempos,
Amor
E alegria!
Logo, crescem...
Dizem uns: - o trabalho será dobrado!
- Não, se houver pais dedicados...!
Dizem outros.
Mas, a sociedade industrial, óbices impõe
E a mãe é tragada pela lida
O pai, então, assume a criação...
Esforça-se...
Bem ou mal dá conta do recado.
Ainda que, no futuro, reconhecimento não ganhe
Nada lhe tira a condição de PÃE
(pai e mãe)
Nas suas horas vagas.
E assim, nessa marcha existencial, percebemos
a dinâmica da genealogia transformando a vida
em sublime poesia!

Fontes:
Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - Vol. 80
Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - Vol. 79

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