segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Luiz Damo (Poemas Escolhidos) I


TROPEADAS

Se o gaúcho tem carências,
das tradições não carece,
cavalgando nas querências
reponta  paz sem estresse.
No lombo das tardes frias
pela invernada troteia,
do cosmo às Três-marias
lhe vem a luz que o norteia,
na relva espalha alegrias
ecos, espelhos dos dias,
onde às gerações semeia.

Poncho, capa e barbicacho,
de bombachas, bota, espora,
lenço escarlate, num facho,
se aquece no campo afora.
Laço pronto pra laçada,
lança a ponta em direção
da lembrança desgarrada
perdida na imensidão.
Retoma com seu troféu,
ora agradecendo ao céu
numa campeira oração.


MINUANO

Chora triste o minuano
como se fosse seu fim,
rasga o solo pampeano
no lombo da noite vagueia,
estrelada ou lua cheia
tal um potro sem a cilha,
faz tremer toma a coxilha
sem cabresto, sem selim.

Forte arauto das coxilhas
não tem rumo, nem destino,
imbatível dançarino
quando não corre, vagueia,
desenleia sua presilha,
anda solto na colina,
pé no estribo galopeia,
vendo tudo lá de cima
sente o quanto a terra brilha.

Dança lento sobre o feno,
some o eco na vacuidade,
rompe fronteiras, mananciais,
amargos passos, cruciais,
sulca a alma campesina
fere o coração pequeno
soprando com lealdade.

Cansado da cavalgada,
que longas horas durou
deixa a bota, o barbicacho
e a velha capa rasgada
rente o cedro no riacho,
pobre herança que restou
nas barrancas da ousadia,
dorme nos braços do dia
no berço da liberdade.

GAÚCHO

Sou gaúcho e sinto o brilho
do Rio Grande em ação,
tenho orgulho de ser filho
deste pedaço de chão.
Ao Brasil, de pé agradeço,
pela evolução notória,
a ele o meu braço ofereço
para escrever sua história.
Conclamo os concidadãos
que também doem as mãos
pra cantar grande vitória.

Ninguém, sem um paradigma,
consegue os passos seguir,
inerte estagna e no estigma
falta um sonho a perseguir.
Não chore a chance perdida,
outras hão de aparecer,
fosse a morte o fim da vida,
não vale a pena viver…
Desperte e mude o cenário,
desentranhe o relicário
dos valores sem temer.

Fonte:
Luiz Damo. Pétalas do Quotidiano.
Caxias do SUL/RS: Lorigraf, 2012.

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