TROVAS
A continuar isto assim,
eu penso, só Deus prevê...
Não sei que será de mim
nem que há de ser de você.
A estima quando floresce
e se transforma em amor,
tem a força de uma prece,
ouvida pelo Senhor!
À minha amada eu escrevo,
se faltar tinta e papel,
em uma folha de trevo
e a pena molhada em mel.
A razão da minha mágoa,
motivo do meu sofrer,
põe meus olhos rasos d’água
por ser tolo em te querer.
A saudade é sempre grata
ao meu, ao teu coração,
porque nos lembra e retrata
horas de satisfação.
Cartilha de sensações
na linguagem de quem ama...
Rejubila os corações
e põe as almas em chama!
Cativa-me o beijo quente
dos lábios da minha amada,
como a papoula atraente
fascina a abelha dourada.
Como a terra se contrai
sob a geada nos caminhos,
definha o amor e se esvai
quando há falta de carinhos.
Confesso, é no teu perfume
e no sabor do teu beijo,
que para mim se resume
a volúpia do desejo.
Contei o tempo que falta
para ter você ao meu lado,
tremi de conta tão alta,
descrente e desconsolado.
Coração sossega e canta,
não busque na dor guarida,
pois é no canto que encanta
que está o encanto da vida.
Cruzamo-nos no caminho
por mero acaso. Confesso
que orei, embora sozinho,
novo encontro no regresso.
Denotam tuas atitudes
e norma de vida calma
a nobreza e as virtudes
que ornamentam a tua alma.
Difícil é compreender
a extravagância do amor,
que quanto mais faz sofrer,
mais se lhe quer o sabor.
Disseste que eras só minha,
que outro olhar não se lhe dava,
mas outro olhar te entretinha
sempre que o meu se afastava.
Do coração, igualmente,
há mister sentir o ardor,
pois ele é quem faz a gente
cair nos braços do amor.
Espero-te, amor, contente,
cantarolando a vibrar,
porque faz tão bem à gente
cantando o amor esperar.
Esses cabelos cor de ouro
a moldurar tua beleza,
são o fúlgido tesouro
que te deu a natureza.
Eu juro por qualquer santo
que já não creio em você...
No fingimento, entretanto,
eu creio...Não sei porque.
Felicidade? Quem dera!...
Ela é rara e fugidia...
Quem a espera desespera
por esperar noite e dia.
Grande enigma é o saber
o que deseja a mulher...
Pensa que sabe querer
mas nunca sabe o que quer.
Meu amor e teu amor
são afins conforme os vejo,
tal qual o perfume e a flor,
a insinuação e o desejo.
Meu coração bate tanto
quando longe do meu bem,
que parece estar em pranto
por afagos que não tem.
Meu coração, leal amigo,
que faz loucuras por mim,
me acautela que é perigo,
querer e amar tanto assim
Não há um instante somente,
nem um minuto sequer,
que me não baile na mente
o teu perfil de mulher.
Não julgues que a simpatia
seja fugaz, passageira...
É imutável, contagia
se espontânea e verdadeira.
Naquele instante do adeus
do nosso encontro fortuito,
teus olhos e os olhos meus,
discretos, disseram muito.
Nesta vida o teu caminho
para onde quer que tu fores,
será um relvado de arminho
coberto inteiro de flores.
O céu de estrelas constela
o infinito azul de Deus
mas nenhum dos astros vela
o fulgor dos olhos teus.
O teu sorriso me estende
as malhas da sedução,
e delas não se defende
meu valente coração.
Pensar em ti como eu penso
e muito tenho pensado,
diz, a rir, o meu bom senso,
que é o meu divino pecado.
Procurei a cartomante
que previu lendo-me a sorte:
-Um amor assim constante,
só se acaba com a morte.
Proponho com devoção:
Permutemos os presentes...
Eu te dou meu coração,
tu me dás mil beijos quentes.
Quando chegaste, a alegria
inundou meu coração;
quando partiste, partia
contigo a minha ilusão.
Quando longe de você
mais sinto quanto lhe quero...
A ausência, como se vê,
não me abate porque espero.
Quando te vi, que surpresa!
Bem rara é beleza assim.
Vieste ao mundo, com certeza
para encantares a mim...
Revelo, com embaraço,
a supor que ninguém crê,
que já outra coisa não faço
do que pensar em você.
Se a saudade que me empolga
teimar em me perseguir
sem me dar nenhuma folga,
acabo por sucumbir.
Se há excesso de fantasia
nos temas que aqui deponho,
perdoa, é o sol da alegria
glorificando o meu sonho!...
Se me houvesses revelado
não ter amor por ninguém,
não ficaria ao teu lado
a te chamar de meu bem.
Suponho serem só minhas
as mágoas do coração,
pelo que externam as linhas
da palma da minha mão.
Tenho ciúme até das rosas
abertas no teu jardim,
pois, sei que ao vê-las, formosas,
te esqueces logo de mim.
Teus olhos azuis de santa,
de blandícia na expressão,
a quem os fita acalanta
no ritual da sedução.
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Heitor Stockler de França nasceu em Palmeira/PR, em 5 de novembro de 1888. Marcou sua passagem como cidadão pioneiro e empreendedor do Paraná. Foi um dos cinco homens fundadores da Confederação Nacional da Indústria – CNI; Fundador da Federação das Indústrias do Estado do Paraná – FIEP, seu primeiro presidente e por catorze anos consecutivos; Fundador e diretor do Serviço Social da Indústria –SESI/PR; fundador e presidente da União Brasileira de Trovadores – UBT Seção de Curitiba e Paraná; Fundador e presidente do Centro de Letras do Paraná e Presidente do Clube Atlético Paranaense.
Foi advogado, jornalista, industrial, comerciante, pecuarista, poeta, escritor, cronista, trovador, contista, historiador, teatrólogo, novelista e pesquisador devotado.
Esteve sempre presente nos mais relevantes marcos da história contemporânea do Paraná. Autor de vários livros. Deixou entre centenas de poemas e trovas, quase duas mil crônicas publicadas em jornais.
Faleceu em Curitiba, em 11 de janeiro de 1975, aos 86 anos.
Fonte:
União Brasileira de Trovadores de Porto Alegre. Coleção Terra e Céu vol. XLI. Trovas de Apollo Taborda de França e Heitor Stockler França. Cachoeirinha/RS: Texto Certo, 2017.
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