sábado, 10 de novembro de 2018

Zeferino Brazil (Poemas Recolhidos)


ASPIRAÇÃO

Ser pedra! não sofrer nem amar, ó que ventura!
Excelsa aspiração que merece um poema!
Ser pedra e ter da pedra a consistência dura
Que resiste do tempo à corrupção extrema.

Alma! sopro de luz que me anima e depura,
Antes tu fosses pedra: um diamante, uma gema
Não te seria a vida esta insana loucura
Do eterno aspirar à perfeição suprema!

Homem, não mudarás! És homem, serás homem;
Lama vil animada, onde vive e onde medra
A venenosa flor das mágoas que consomem.

Homem sempre serás, imperfeito e corruto...
E melhor é ser pedra e viver como pedra
Que ser homem assim e viver como um bruto!..

DE LEVE BEIJO AS SUAS MÃOS PEQUENAS

De leve, beijo as suas mãos pequenas, 
Alvas, de neve, e, logo, um doce, um breve, 
Fino rubor lhe tinge a face, apenas
De leve beijo as suas mãos de neve.

Ela vive entre lírios e açucenas, 
E o vento a beija, e, corno o vento, deve 
Ser o meu beijo em suas mãos serenas, 
— Tão leve o beijo, como o vento é leve.. . 

Que essa divina flor, que é tão suave, 
Ama o que é leve, como um leve adejo 
De vento ou como um garganteio de ave, 

E já me basta, para meu tormento, 
Saber que o vento a beija, e que o meu beijo 
Nunca será tão leve como o vento.. .

ZELOS

De leve, beijo as suas mãos pequenas,
alvas, de neve, e, logo, um doce, um breve,
fino rubor lhe tinge a face, apenas
de leve beijo as suas mãos de neve.

Ela vive entre lírios e açucenas,
e o vento a beija, e, corno o vento, deve
ser o meu beijo em suas mãos serenas,
— Tão leve o beijo, como o vento é leve.. .

Que essa divina flor, que é tão suave,
ama o que é leve, como um leve adejo
de vento ou como um garganteio de ave,

e já me basta, para meu tormento,
saber que o vento a beija, e que o meu beijo
nunca será tão leve como o vento.. .

FORMOSURA IDEAL

Esta visão que em sonhos me aparece,
e que, mesmo sonhando, me resiste,
por que foge, por que desaparece,
mal eu desperto, apaixonado e triste?

Por que, branca e formosa resplandece
como uma estrela, e a torturar-me insiste,
se é certo, - oh! dor cruel que me enlouquece!...
que ela somente no meu sonho existe?

Cheia de luz e de pureza e graça,
- alma de flor e coração de estrela -
ela, sorrindo, nos meus sonhos passa...

E sempre a mesma angústia dolorida:
branca e formosa dentro d´alma tê-la,
sem poder dar-lhe forma e dar-lhe vida!

NA ALCOVA

Formosa e diáfana visão de lenda,
Elsa, subindo o leito de escarlata,
o cortinado cerra, e a rir, desvenda
a alva nudez escultural e exata.

Antes que o fino laço se desprenda,
a loura coma em ondas se desata,
e a moça esconde em flóculos de renda
o régio corpo modelado em prata.

Doce perfume o colo lhe embalsama...
Abrindo as asas de rubi e lhama,
olha-a, entre flores, um cupido louro...

Cerra, afinal, as pálpebras de neve,
e o sonho desce, e estende, leve, leve,
sobre o leito o estrelado manto de ouro...

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