Após o término da aula de Evangelização Infantil, no Centro Espírita, Raquel, uma das meninas conversa com sua coleguinha Márcia, que se encontra algo triste:
— Marcinha... Está havendo algum problema com você?
— Não... Por que você está me perguntando isso?
— Porque hoje, na classe, achei que você estava um pouco triste...
— É... Ando um pouco chateada. São os meus pais, sabe?
— Que é que têm os seus pais?
— Sei lá... às vezes fico pensando que eles gostam mais da televisão do que de mim.
— Que é isso? Mas que bobagem!
— Bobagem? Olha: quando a minha mãe está vendo a novela eu não posso dar um pio. Não permite
que eu abra a boca! Isso é vida?
— Mas, Raquel... Não pense que a minha mãe seja muito diferente. É claro que às vezes, durante o intervalo, por exemplo, me ajuda em alguma dúvida nas lições da escola.
— Ah, então sua mãe é um pouco mais legal que a minha. E o seu pai?
— Bem... aí a coisa fica um pouco mais difícil. Mesmo assim, uma vez ou outra ele me dá um pouco de atenção enquanto está assistindo ao futebol.
— Pois com meu pai a coisa já complica.
— É mesmo? Como, assim?
— Ah... ele chega em casa, joga a pasta e o paletó numa cadeira e nem sequer me dá um beijo. Liga a televisão no futebol ou no noticiário e não quer nem saber de nada. Só me dá algum atenção nos intervalos, e mesmo assim, ó... bem rapidinho, sabe?
— Eu entendo, Marcinha... Mas, quantas vezes a D.ª Izabel, nossa Evangelizadora, não nos disse para termos paciência com nossos pais? Às vezes sua mãe pode estar cansada, e...
— Cansada? Cansada disso tudo ando eu, Raquel!
— Calma, amiguinha... Calma... Vamos devagar, porque...
— E se a televisão queima... Ah... não dá outra: Eles correm como uns loucos e mandam consertá-la num instantinho. Não conseguem passar nem um dia sem ela!
— E quem é que passa sem televisão? O conserto tem que ser rápido, mesmo!
— Só que lá em casa, o conserto da TV é “vapt-vupt”! Mas quando é para me comprar um vestido novo... Chiii... Aquilo demora séculos!
— Mas, isso são provas que temos de sofrer nesta encarnação, conforme ouvi numa palestra.
— Eu sei disso, Raquel. Eu também aprendi numa palestra que a gente pode escolher o tipo de vida que deseja ter na outra encarnação. Só assim é que eu vou conseguir acabar com essa falta de atenção do meu pai e da minha mãe.
— Já sei. Você vai pedir para nascer em outro lar, como filha de outros pais, que sejam mais
compreensivos. É isso?
— Não, Raquel! Não é, não... Eu gosto muito deles dois. Vou pedir para tornar a nascer na mesma casa, no mesmo lar.
— Espere um pouco, Marcinha! Não entendi Desse jeito os seus problemas vão continuar.
— Não vão, não, Raquel. Já pensei em tudo, amiguinha! Nessa nova casa meus pais de hoje vão me adorar!
— Mas, de que forma você vai conseguir isso?
— Eu vou pedir para ser a televisão!
Fonte:
Nenhum comentário:
Postar um comentário