10 de dezembro de 2018.
Hoje, pela manhã, o Google me lembrou que, se Clarice Lispector estivesse viva, estaria completando noventa e oito anos de idade. Clarice, essa ucraniana radicada no Brasil, é uma das maiores escritoras da Língua Portuguesa de todos os tempos. Tempo. Talvez, o tempo tenha sido o maior mote da obra de Clarice, que buscava em suas personagens a face perdida de si mesma. Lembrou-se do famoso verso de Cecília Meireles?! Pois é, onde anda a nossa face?
A face de Clarice se metamorfoseou em cada uma das mulheres às quais deu vida e trouxe à luz. Eu, que sou homem, me identifico muitas vezes com Macabéa, sua famosa personagem de A hora da estrela, cujo destino, assim como a sua vida, foi trocado no embaralhar de cartas de uma cartomante que mal sabia de si mesma. A cartomante da história também era Clarice. Clarice, aliás, era muitas, era todas, não cabia em si de tantas que foi, era e ainda é.
Macabéa, com seu nada de existência, carregava tanto significado em suas costas, no seu quartinho dividido com outras, tão pobres e tão ricas de sentido quanto ela, que me comove saber que ainda existem Macabéas por aí, sem eira e nem beira, à espera de sua hora da estrela de cinema. Também espero a minha. Tenho muito de Macabéa. Sua ingenuidade, sua crença no outro, sua trégua com a maldade e sua obtusa configuração de tempo e espaço, tão singela!
Clarice, você que renasce a cada vez que um texto seu é lindamente dito por Beth Goulart, Maria Bethânia, Aracy Balabanian e tantas outras intérpretes brasileiras, você, Clarice, eu convidaria para um chá com meus fantasmas, que Quintana me ensinou a preparar. Você, Clarice, eu gostaria de encontrar num café celestial, onde os anjos param toda tarde a fim de dar descanso às grandes asas que o deus fizera. Também invento Deus, Clarice. E a mim.
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