terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Janske Niemann (Poemas Escolhidos)



A PETRÓPOLIS

És minha! Com tuas manhãs muito frias,
com montes e céu, confundindo-se além.
És minha nas mais infantis alegria
se és minha na lágrima triste que vem...

És minha! com toda a balbúrdia dos dias
e com toda a calma das noites também.
Às vezes te encontro nas minhas poesias
e às vezes em sonhos que os outros não têm...

És minha, quando eu te contemplo e, sozinha,
escrevo o que sinto. Que felicidade
olhar-te e dizer o que mais ninguém diz!

Mas nesta alegria de ter-te tão minha,
ocorre-me às vezes (estranho em verdade)
que eu tenho vergonha... de ser tão feliz!

CANTA! 
Para Oswaldo Montenegro

Canta para mim! Canta a tristeza,
canta a solidão e canta o mar!
Quero acompanhar-te no teu canto...
... mas eu não sei cantar...

Toca o violão, toca bem alto
para que não me ouçam soluçar.
Amo o violão contra o teu peito...
... mas eu não sei tocar...

Canta para mim, enquanto escrevo
versos que, talvez, ninguém vá ler.
Ouço-te cantar e escrevo versos:
é só o que sei fazer...

Canta para mim! Grita Poesia!
Canta pela boca, as mãos, o olhar!
Vou cantar também, cantar contigo...
... mas eu só sei chorar...

CONVITE PARA O CAFÉ

Observo a mesa posta. Com cuidado
coloco cada coisa em seu lugar:
a xícara mais bela deste lado
e logo poderemos nos sentar.

O pão quentinho (o aroma paira no ar...)
o guardanapo limpo, bem dobrado.
Colho um botão de rosa; meu olhar
se alegra ao ver chegar o convidado.

Esta manhã de inverno, um pouco fria,
parece que aumentou minha alegria
e me aqueceu enquanto eu esperei.

O filho chega - alegre e desatento -
(não vê que eu esperava este momento)
e apenas diz:"Café? Eu já tomei...”

DEIXA-ME RIR

RIR, como se fosse eterna a primavera...
... como se eu pudesse adormecer
entre flores

RIR, como se eu não te amasse...
... como se não houvesse adeus
e eu fosse livre
qual na planície uma rajada de vento...

RIR, embriagada pelo amor
até me tornar uma nuvem branca 
solta no espaço contra o azul do céu

... como se o rugido da tempestade
me perseguisse
sem me alcançar

RIR, como se o clamor pela paz fosse ouvido...
... como se a vida fosse um poema

RIR, louca, desvairadamente,
e viver num riso interminável
... como se Poesia não fosse dor…

D O R

Não me verão, no dia que amanhece,
a voz que treme, o passo que vacila
e nem, na face, a lágrima que desce:
sorrindo chegarei, quase tranquila...

Conseguirei, no rosto que padece,
a máscara moldar, qual fosse argila.
A boca esconde a dor: até parece
não a sentir... ou finge não senti-la...

Não me ouvirão palavras de revolta,
o grito angustiado não se solta,
a estranha solidão não se revela.

Da dor, nasce a poesia quase feita:
- a rima bela, a métrica perfeita! -
Amas a dor, poeta! Vives dela...

LIVRE

Julguei que eu fosse livre:
livre como uma nuvem é livre
como uma borboleta é livre
como é livre o vento...

Julguei-me bela:
bela como uma flor é bela
como o crepúsculo é belo
e como é belo o luar...

Pensei ter encontrado o amor:
aquele amor que é sempre amor
que é ternura e afago
aquele que não existe...

(De repente quero ficar só:
preciso chorar um pouquinho...)

MINHA CASA

Conheço-te tão bem! A sala, o quarto,
a vista da janela escancarada!
Na mesa da cozinha, o almoço farto,
o som de cada porta ao ser fechada...

Conheço-te demais! No entanto, parto...
De tudo o que era meu, não fica nada:
na sala, nada... e nada no meu quarto,
só o vento na varanda ensolarada...

E deixo a antiga casa na ladeira:
risadas quantas! quanta brincadeira!
Mas parto... e minha casa deixo aqui.

Horrível ver-te assim: fria e despida...
Nem fecho a porta: saio pela vida,
avaliando o quanto empobreci!

SER SÍLABA

Não me ouvirás queixume nem lamento
(só o frio da manhã me reanima...)
e mesmo estando triste de momento,
não me ouvirás chorar, pois choro em rima.

Não me verás a dor, pois mostro apenas
a mão que apara os golpes mais adversos.
Um lânguido sorriso esconde as penas:
não me verás chorar, pois choro em versos.

Ser frágil como pétala intocada
e ainda assim ser símbolo da paz;
ser luz... ser sombra... e se não for mais nada,
ser sílaba, que em versos se desfaz…

Fontes:
Facebook e Blog da poetisa

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