A PETRÓPOLIS
És minha! Com tuas manhãs muito frias,
com montes e céu, confundindo-se além.
És minha nas mais infantis alegria
se és minha na lágrima triste que vem...
És minha! com toda a balbúrdia dos dias
e com toda a calma das noites também.
Às vezes te encontro nas minhas poesias
e às vezes em sonhos que os outros não têm...
És minha, quando eu te contemplo e, sozinha,
escrevo o que sinto. Que felicidade
olhar-te e dizer o que mais ninguém diz!
Mas nesta alegria de ter-te tão minha,
ocorre-me às vezes (estranho em verdade)
que eu tenho vergonha... de ser tão feliz!
CANTA!
Para Oswaldo Montenegro
Canta para mim! Canta a tristeza,
canta a solidão e canta o mar!
Quero acompanhar-te no teu canto...
... mas eu não sei cantar...
Toca o violão, toca bem alto
para que não me ouçam soluçar.
Amo o violão contra o teu peito...
... mas eu não sei tocar...
Canta para mim, enquanto escrevo
versos que, talvez, ninguém vá ler.
Ouço-te cantar e escrevo versos:
é só o que sei fazer...
Canta para mim! Grita Poesia!
Canta pela boca, as mãos, o olhar!
Vou cantar também, cantar contigo...
... mas eu só sei chorar...
CONVITE PARA O CAFÉ
Observo a mesa posta. Com cuidado
coloco cada coisa em seu lugar:
a xícara mais bela deste lado
e logo poderemos nos sentar.
O pão quentinho (o aroma paira no ar...)
o guardanapo limpo, bem dobrado.
Colho um botão de rosa; meu olhar
se alegra ao ver chegar o convidado.
Esta manhã de inverno, um pouco fria,
parece que aumentou minha alegria
e me aqueceu enquanto eu esperei.
O filho chega - alegre e desatento -
(não vê que eu esperava este momento)
e apenas diz:"Café? Eu já tomei...”
DEIXA-ME RIR
RIR, como se fosse eterna a primavera...
... como se eu pudesse adormecer
entre flores
RIR, como se eu não te amasse...
... como se não houvesse adeus
e eu fosse livre
qual na planície uma rajada de vento...
RIR, embriagada pelo amor
até me tornar uma nuvem branca
solta no espaço contra o azul do céu
... como se o rugido da tempestade
me perseguisse
sem me alcançar
RIR, como se o clamor pela paz fosse ouvido...
... como se a vida fosse um poema
RIR, louca, desvairadamente,
e viver num riso interminável
... como se Poesia não fosse dor…
D O R
Não me verão, no dia que amanhece,
a voz que treme, o passo que vacila
e nem, na face, a lágrima que desce:
sorrindo chegarei, quase tranquila...
Conseguirei, no rosto que padece,
a máscara moldar, qual fosse argila.
A boca esconde a dor: até parece
não a sentir... ou finge não senti-la...
Não me ouvirão palavras de revolta,
o grito angustiado não se solta,
a estranha solidão não se revela.
Da dor, nasce a poesia quase feita:
- a rima bela, a métrica perfeita! -
Amas a dor, poeta! Vives dela...
LIVRE
Julguei que eu fosse livre:
livre como uma nuvem é livre
como uma borboleta é livre
como é livre o vento...
Julguei-me bela:
bela como uma flor é bela
como o crepúsculo é belo
e como é belo o luar...
Pensei ter encontrado o amor:
aquele amor que é sempre amor
que é ternura e afago
aquele que não existe...
(De repente quero ficar só:
preciso chorar um pouquinho...)
MINHA CASA
Conheço-te tão bem! A sala, o quarto,
a vista da janela escancarada!
Na mesa da cozinha, o almoço farto,
o som de cada porta ao ser fechada...
Conheço-te demais! No entanto, parto...
De tudo o que era meu, não fica nada:
na sala, nada... e nada no meu quarto,
só o vento na varanda ensolarada...
E deixo a antiga casa na ladeira:
risadas quantas! quanta brincadeira!
Mas parto... e minha casa deixo aqui.
Horrível ver-te assim: fria e despida...
Nem fecho a porta: saio pela vida,
avaliando o quanto empobreci!
SER SÍLABA
Não me ouvirás queixume nem lamento
(só o frio da manhã me reanima...)
e mesmo estando triste de momento,
não me ouvirás chorar, pois choro em rima.
Não me verás a dor, pois mostro apenas
a mão que apara os golpes mais adversos.
Um lânguido sorriso esconde as penas:
não me verás chorar, pois choro em versos.
Ser frágil como pétala intocada
e ainda assim ser símbolo da paz;
ser luz... ser sombra... e se não for mais nada,
ser sílaba, que em versos se desfaz…
Fontes:
Facebook e Blog da poetisa
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