Natália Alves Drummond
(Itabira/MG)
O CORAÇÃO FALA AO POETA
Montanhas de ferro, baixada da serra,
jabuticaba, manguito, banana da terra.
O tempo quer ser cavalo manso, sussurra o coração ao menino Drummond,
quer ser bodoque, bola de meia, gangorra de vaivéns,
andar no chão de pedra brilhante, brincar na Fazenda dos Doze Vinténs.
Fogem-se as horas, tem pressa o tempo, já não se deixa arrear,
acabou a brincadeira, faz pirraça, não quer esperar.
Passa, perpassa, ameaça:
chegou a hora, Drummondzinho, de se agigantar.
Drummond, Drummond...
Bate e repica o seu coração.
Drummond, Drummond...
O destino faz a rota, aponta a mira,
leve em tuas mãos as bênçãos de Itabira.
Saudade é lembrança, é memória, impregna, ninguém tira.
Drummond, Drummond...
Esse é o som que cutuca o seu peito, acorda o seu dom.
Liberte as palavras, sem altivez,
viaje no improvável, marque o tom, desfaça a sensatez.
Denuncie o mundo, ria, sopre a ferida, fale da vida.
O homem Drummond e o seu coração,
às vezes se entendem, às vezes não.
Mas intrépidos seguem a procurar
as palavras certas para contar
o que vem de fora para dentro e de dentro para qualquer lugar.
Só Deus sabe as voltas que essa vida pode dar,
e a Minas de tropeiros, oratórios e belos horizontes,
dá as mãos à terra do Santo Guerreiro, salve Rio de Janeiro!
Drummond pausa a cidade: boa prosa, tarde inteira,
Mário e Oswald de Andrade, Vinícius de Morais e Manoel Bandeira.
(A poesia a lhe elevar).
José! Amar!
No meio do caminho...
(A poesia a lhe eternizar).
Calmaria de alma inquieta.
Rosto de fácil desenho, singularidade.
Olhar saudoso, sorriso de lado, coração poeta,
Para sempre, Carlos Drummond de Andrade.
Conceição Ribeiro de Araújo
UM BRINDE, POETA!
Poeta,
Vem brindar conosco tua eternidade!
A infância emoldurada no tempo onde passeiam sonhos
renascem pessoas, causos, contos, cacos,
hiatos.
Vem percorrer teu vasto mundo
em cuja memória habitam histórias,
o ranger de portas e porteiras
que guardam as lembranças mais profundas
de um tempo onde pairam as fazendas,
bois, carrapatos e contendas.
O estalar dos chicotes,
o mugido do garrote, e o cheiro bom do café
preto como a preta velha a embalar gerações.
Vem!
Ainda tocam os sinos
é hora de acordar.
Ouve, então, as badaladas
esse sonoro cantar das notas mais afinadas
que conduzem os fiéis
até mesmo os infiéis
para as graças do Senhor
ou para um Anjo encontrar.
Então, toma as mãos do Anjo
visita, também, os arcanjos
não apenas os mais puros que tocam os seus flautins.
Mas, aquele em cujas asas a luz do sol se furtou.
Porque as palavras guardadas anunciadas estão.
Escuta o som das trombetas
é hora do anúncio, afinal.
Carlos, o gauche no tempo
atravessa gerações
que mostram as sete faces
e a fragmentação.
Ah, poeta...
Que linguagem perspicaz!
E isto é modernidade que consagrada estará.
E dizem que morto estás.
Como pode-se acreditar?
Seus versos mais que perfeitos
comovem, instigam, enfurecem,
outros com eles adormecem
porque se de fel se enchem
de mel também se preenchem.
Cabem todos no espaço de um branco ou manchado papel
vão delineando vidas, pedras no meio do caminho,
confidências, esperanças, rosas que brotam no asfalto,
apitos dos guardas ou trens, as flores mais belas de maio,
e do nascer ou morrer
o ensaio.
Cabem as paixões humanas que permanecem no tempo
os encantos do cinema e as belezas de Ipanema.
Cabe o grito mais profundo que dita a norma perene
do sentimento do mundo.
Levantemos, então, a taça
brindemos o infindável
que retrata os teus dizeres:
“E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno”
Sílvia Tatiana Miranda
CARTA AO POETA
A sua ausência ainda é saudade
É falta instalada no silêncio da máquina de escrever,
É Memória na coluna do Jornal, por suas crônicas da vida.
O poema declamado no noticiário ainda ecoa...
“E agora José”? Mas você, você nunca morreu.
Dos poemas mais famosos aos livros póstumos;
Seu mundo infantil,
Povoado por paquidermes em histórias de circo;
As entrevistas, fotos pessoais;
Tudo é ouro da herança que nos deixaste.
A imprensa faz notícia em cima de seus versos.
Críticos Literários publicam pesquisas.
São inúmeras Discussões: Drummond x Sua pedra no caminho.
Correspondências com outros escritores,
Memórias da Infância,
Tudo veio à superfície pública.
As suas palavras ressaltam
Os poemas viram Música, Teatro e Cinema.
Copacabana tem hoje uma réplica, de sua presença na praia.
Belo Horizonte fechou um quarteirão,
Para celebrar seu encontro com Pedro Nava.
Itabira é ainda pequena, mas, existem os “Caminhos Drummondianos”.
No Teatro com Paulo Autran,
Perguntei sobre Carlos, o amigo que ele relembrava.
E me emocionei ao ouvir histórias do amigo,
Que te conheceu de perto,
Dizendo sobre suas sinceras manifestações
Confirmando sua timidez.
E eu continuo a procurar respostas
Para as perguntas que você fazia ao José;
Ao mundo que os ombros suportam;
A Itabira de ferro, aos burocratas, a culpa de Deus.
Mas minhas indagações não cabem aqui,
Pois você Drummond,
Você é um poeta insondável.
É um poema de infinitas respostas.
Também não cabe na classificação de Modernista ou Cronista
Um observador do cotidiano simples;
Da vida que passa, para virar poesia.
Mesmo sem encontrar todas as suas respostas,
É maravilhoso deparar com as marcas Drummondianas,
Que deixastes nos versos desta vida.
Obrigada,
Carlos Drummond de Andrade
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