quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Luiz Poeta (Poemas Escolhidos) 3


DIAS DISTRAÍDOS DE SAUDADE

Todos os dias tu te moves no meu sonho;
Sempre te ponho na redoma do que eu sinta
Mesmo que eu minta a dor, meu verso mais tristonho
Dilui, no sonho, a solidão de cada tinta.

Todos os dias, alimento um conteúdo
Que não diz tudo, tu és parte celular
Do meu olhar no teu olhar, se fico mudo, 
Grito, contudo, o que só eu posso escutar.

Todos os dias tu me vens tão verdadeira,
Na derradeira vez que amei-te de verdade,
Deixei meu barco de papel na corredeira
E afoguei meu coração numa saudade.

Todos os dias, tu te tornas tão real,
Mas te dissolves…afinal, meu coração
Te reconstrói na solidão que nem faz mal ,
Quando percebo que te amei… por distração.

ESPORAS

Sob as esporas do desejo, o tempo corre...
O tempo escorre como grãos por entre os dedos,
O sal da lágrima... de mel... nos lábios morre,
numa saudade que eterniza alguns segredos.

Nas asas leves do sonho, uma ansiedade,
que não invade, apenas acaricia
a fantasia de se amar em liberdade,
numa vontade que embevece e extasia.

Do vendaval mais sedutor, ninguém recua
e a pele nua sempre pede algum afeto,
o dialeto sensual deixa que flua
a emoção feliz de um sonho predileto.

Sob a carícia do amor, o enlevo voa, 
a alma boa é uma pétala no ar... 
a voz macia se dilui... jamais ecoa
e a luz melhor sempre ilumina um doce olhar.

Quem tem o dom de transformar as cicatrizes
na experiência, observa mais que fala, 
cura as tristezas com sorrisos mais felizes
e deixa livre a esperança que o embala.

Da calmaria, resta alguma correnteza.
Por natureza, só quem consegue sonhar, 
sabe que amar, bem mais que um gesto de nobreza, 
é a certeza de poder se libertar.

EU SOU TÃO POUCO MEU IRMÃO...

Eu sou tão pouco, meu irmão... Deus é imenso
O amor despreza toda essa arquitetura
Que faz de nós um óleo fora da moldura,
Quando é na alma que ele é sempre mais intenso.

O criador não reinventa a criatura,
O cidadão é um produto inacabado,
Que Deus criou, e é nesse ser fragilizado 
Que estão guardados os momentos de ternura.

Sou de uma raça que aprendeu com passarinhos
O doce ofício de voar sobre os abismos,
Seres humanos grandes são pequenininhos,
Quando se entregam a estranhos pessimismos.

E nesse pouco, eu sou tanto, quando Deus
Me dá amigos e irmãos especiais
E sentimentos que são meus e que são teus,
Quando buscamos... com ternura... a mesma paz

RESSURREIÇÃO

Todos os dias alguém vem e te assassina...
Tu não te importas, pois és tão superior,
Que basta apenas uma fé bem pequenina,
Que ressuscitas e dás vida ao nosso amor.

Morres na mão que se estende e ninguém nota,
Morres no dedo que comprime algum gatilho,
Morres no pai cuja opção é sempre a rota
De abandonar à solidão, o próprio filho.

Morres naquele que renega quem o ama,
Morres na trama que acusa um inocente,
No miserável que faz de um jornal a cama,
No preconceito que despreza um indigente.

Tu observas cada tolo transgressor
Que se desvia do caminho que ensinaste,
Mas que se volta, quando sente alguma dor,
Como uma flor, que com amor, tu semeaste.

E logo estendes tuas mãos iluminadas
A cada um que necessita de carinho
Ou que se perde na penumbra das calçadas,
Por se sentir amargurado e tão sozinho.

Estás tão próximo de cada um de nós
E és tão humano, generoso e complacente,
Que mesmo quando não ouvimos tua voz,
Cuidas de nós com teu amor onisciente.

Todos os dias, quem te ama te resgata,
Em comunhão com cada irmão, pregando a paz,
E é assim que cada dor mais insensata
De quem te mata, pouco a pouco se desfaz.

REPINT...ÂNSIAS 

Não sei cantar a morte... me perdoa...
Se voa, toda alma é passarinho;
O ninho do amor é o que ele doa
Para quem necessita de carinho.

Só sei falar da vida: Vem comigo !
O abrigo do poeta é o que ele sente ;
Se mente, é porque vê, no seu amigo
Ausente... o que ele deixa de presente.

Não fujo do real, apenas minto
E invento, nesta dor que às vezes sinto,
A minha mais perfeita companhia

E mesmo que acabe o vinho tinto,
E a tela se desfaça, eu repinto
A vida, outra vez, de fantasia.

Fonte:
Facebook do poeta

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