segunda-feira, 3 de junho de 2024

Flávio Madalosso (Perfis da Cidade)

Na amplidão do céu, algumas poucas nuvens formam uma tênue barreira entre o amanhecer e a noite que já se vai pelos caminhos do outono neste antepenúltimo dia de maio, tentando, em vão, esconder o Sol que surgirá radioso um pouco mais tarde. Por isso, os nossos passos nesta manhã gelada nos levam por ruas frias e tristes, no roteiro de mais um dia. Pessoas apressadas traduzem o descontentamento de estarem caminhando no desprotegido cenário urbano em busca da sobrevivência, ao invés de estarem confortavelmente instalados sob os cobertores e o teto de um lar aconchegante, e cruzam conosco nas mesmas veredas.

É interessante observar a contrariedade que os dias frios causam na população, em todos nós. Sabemos que as variações do clima são necessárias, o frio é indispensável e, principalmente, é natural e acontece sempre nesta época, e esquecemos que nos dias tórridos de alto verão de janeiros de calor intenso rogamos por uma chuva refrescante, lembramos com saudades do friozinho de junhos e de julhos. No entanto, bastam alguns dias de frio no maio e começamos a deitar queixas, a ouvir lamentos, e se chover, então, as lamúrias se tornam quase insuportáveis, e o clima passa a ser o grande culpado de todas as adversidades que nos acontecem no dia a dia.

Somos mesmo incontentáveis. Quando o Sol e o calor se intensificarem, ouviremos reclamações, e até podemos antecipá-las: “saímos de casa agasalhados e agora estamos morrendo de calor.” E os resmungos começam e não param mais.

Assim é o espírito humano, sempre desejando um pouco de chuva no calor, um Sol generoso e radiante no dia de chuva, um friozinho no verão, um calorzinho no inverno, flores no outono, vento na primavera. Assim é o espírito humano. Sempre desejando o que não possui e sempre pondo a felicidade onde não se encontra, pondo a vida em planos que não pode atingir e vibrando em anseios que ainda não pode conquistar.

E por isso, a felicidade quase sempre está separada de nós apenas por um tênue véu, como a neblina matinal que nos distancia do Sol brilhante lá de cima, que continua aquecendo e iluminando o nosso mundo com seus raios cálidos e desejados. Uma simples brisa que varra as nuvens e ele estará conosco, assim também a felicidade estará junto de nós tão logo aprendamos afastar de nosso caminho as nuvens da incompreensão, da ambição desmedida, do orgulho vaidoso. Uma simples aragem de entendimento, de equilíbrio e de bom senso nos dará esse estado d'alma que chamamos de felicidade e que almejamos desesperadamente, mas que ainda não aprendemos a conquistar. No entanto, ela está bem ali, bem pertinho, tal como o Sol que a neblina teima em esconder nas primeiras horas de mais um belo dia de outono nas paragens da Princesa dos Campos Gerais.

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