quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

José Feldman* (Companheiros de Infortúnio)

Era uma fria manhã de dezembro quando o Professor Bruno, um ex-professor universitário de filosofia, acordou em um canto da calçada na cidade de Fênix, interior do Paraná, que antes considerava seu lar. O sol mal havia surgido, e a brisa gelada cortava o ar, lembrando-o de mais um dia de luta. Ao seu lado, um filhote de cachorro, que ele carinhosamente nomeara de Akira, se espreguiçava e se aconchegava em seu casaco velho. Akira não era um cão de raça pura; seu pai era um vira-lata cruzou com uma akita, e o resultado era um adorável, mas pouco convencional, companheiro.

A história de Bruno era uma das muitas tristes histórias que a cidade escondia sob sua fachada vibrante. Ele havia investido todas as suas economias em uma escola que prometia revolucionar a educação da região. Infelizmente, a escola faliu, levando consigo não apenas o sonho dele, mas também a sua família. Sua esposa, sem conseguir suportar a pressão financeira, e seus dois filhos, que cresceram em meio a dificuldades, decidiram deixá-lo. Bruno ficou sem nada, apenas com suas memórias e um sentimento profundo de perda.

Os anos passaram e, enquanto a cidade se enchia de luzes e decorações natalinas, Bruno e Akira sobreviviam nas ruas, buscando restos de comida nos restaurantes e se aquecendo juntos sob cobertores velhos. Ele mantinha sua dignidade; ele nunca pediu dinheiro. Em vez disso, usava seu tempo para observar as pessoas, refletindo sobre a vida e as escolhas que o levaram àquela situação. Akira, com seu olhar inocente e leal, era seu único conforto.

Na véspera de Natal, enquanto Bruno e Akira se aqueciam com o pouco que tinham, um jornalista chamado Lídio passava pela rua. Ele estava em busca de histórias humanas para compartilhar em uma reportagem especial sobre o espírito natalino. Ao ver a cena do professor idoso com seu cachorro, se aproximou, sentindo uma mistura de compaixão e curiosidade.

— Olá, senhor! — disse Lídio, oferecendo um sanduíche que havia comprado. — Quer comer algo?

Bruno, com um sorriso gentil, agradeceu e, em um gesto inesperado, pediu licença para dar o conteúdo do sanduíche a Akira, ficando apenas com o pão.

— Por que você faz isso? — indagou Lídio, intrigado.

— Akira é meu guarda-costas — respondeu Bruno, com um brilho nos olhos. — Quando me deito para dormir, preciso que ele esteja bem alimentado e alerta. Ele me protege enquanto eu descanso. 

Lídio ficou impressionado com a resposta. Ali estava um homem que, mesmo em meio ao sofrimento, ainda encontrava formas de cuidar e valorizar a amizade que tinha com seu cachorro. Bruno começou a contar sua história: suas esperanças, seus sonhos, e a dolorosa queda que o levou àquela vida. O jornalista, emocionado, escutava atentamente, sentindo que havia mais naquele homem do que as circunstâncias da vida haviam deixado à vista.

Movido pela história do professor e a pureza do amor entre ele e Akira, decidiu levá-los para passar o Natal em sua casa. 

Quando chegaram, a casa estava cheia de amigos jornalistas, todos prontos para celebrar. Lídio apresentou Bruno e Akira e, ao contar a história deles, a sala se encheu de emoção. As pessoas estavam tocadas, e as câmeras começaram a registrar aquele encontro inusitado.

A reportagem que Lídio criou trouxe a história de Bruno e Akira para a televisão. À medida que a história se espalhava, algo maravilhoso aconteceu. O espírito natalino despertou nos corações das pessoas. Doações começaram a chegar de toda a cidade. As pessoas se uniram, não apenas para oferecer dinheiro, mas também carinho e apoio. O prefeito, sensibilizado pela história, fez questão de oferecer uma casa para eles.

Na manhã de Natal, Bruno acordou em um lar, rodeado por amigos e pessoas que se importavam com ele. A felicidade não estava apenas nas doações, mas na conexão humana que se formou ao redor de sua história. Ele percebeu que, apesar de todas as dificuldades e das perdas, ainda havia amor e solidariedade no mundo.

Enquanto Akira corria pelo quintal, ele refletiu sobre a nova vida que começava. Ele se sentiu grato não apenas pelas doações, mas pela empatia que havia encontrado nas pessoas. O Natal não era apenas uma data; era uma oportunidade de recomeçar e de lembrar que, mesmo nas piores situações, a bondade humana pode brilhar intensamente.

Após o Natal, a vida de Bruno e Akira começou a se transformar de maneira surpreendente. Com o apoio da comunidade e a nova casa que o prefeito havia oferecido, Bruno sentiu que estava finalmente recuperando um pouco da dignidade que havia perdido. Mas, no fundo de seu coração, havia uma dor persistente: a saudade de sua família.

Um dia, enquanto passeava com Akira pelo parque próximo à nova casa, viu um grupo de crianças brincando e rindo. Aquelas risadas o lembraram de seus filhos, de como suas vidas haviam mudado e do quanto ele sentia falta deles. 

Decidido a tentar, começou a escrever cartas. Ele escreveu para cada um deles, expressando seu amor, sua dor e o desejo de se reconectar, mesmo que houvesse passado tanto tempo.

Com a ajuda de Lídio, o jornalista que se tornara seu amigo, enviou as cartas. Lídio ajudou a encontrá-los, e, após semanas de espera, uma resposta finalmente chegou. Sua esposa, Bianca, escreveu que, embora a dor da separação ainda fosse grande, ela nunca deixou de pensar nele. As cartas dele tocaram seu coração e despertaram uma vontade de recomeçar.

Bianca e os filhos concordaram em se encontrar com Bruno. 

O reencontro aconteceu em um dia ensolarado de primavera, no mesmo parque onde ele costumava passear com Akira. Bruno estava nervoso, mas também esperançoso. Quando viu Bianca e as crianças se aproximando, seu coração disparou. Os olhos dela brilharam ao reconhecer o homem que ainda amava, e ele sentiu que, apesar dos anos, o amor ainda estava presente.

As crianças, agora um pouco mais velhas, foram até ele, hesitantes, mas curiosas. Ele se ajoelhou para abraçá-las e, naquele momento, as lágrimas rolaram por seu rosto. Akira, percebendo a emoção, se aproximou, abanando o rabo e buscando carinho.

— Eu sinto tanto a falta de vocês — disse com a voz embargada. — Nunca deixei de amar vocês.

Bianca, emocionada, respondeu: — Nós também sentimos sua falta. A vida não foi fácil, mas suas cartas nos mostraram que ainda existe esperança.

A conversa fluiu, repleta de histórias e risadas, e os ressentimentos começaram a se dissipar. Ele compartilhou como havia mudado, como o amor de Akira o ajudou a encontrar força e dignidade novamente. As crianças estavam fascinadas pelo cachorro, e ele foi cercado por elas, recebendo carinho e atenção.

Com o passar do tempo, o reencontro se transformou em um recomeço. Eles começaram a reconstruir a confiança e a amizade, enquanto as crianças se acostumavam a ter o pai de volta em suas vidas.

O Natal daquele ano foi especial de uma forma que Bruno nunca imaginou. Ele não apenas reconquistou um lar, mas também a possibilidade de um futuro juntos. A empatia e a solidariedade que haviam florescido em sua vida agora se estendiam a sua família, mostrando que, mesmo após as maiores adversidades, o amor pode sempre encontrar um caminho de volta.

E assim, Bruno, Bianca, os filhos e Akira celebraram o Natal juntos, cercados por amor e gratidão, prontos para enfrentar o futuro como uma família unida novamente.

A história de Bruno é um testemunho poderoso da resiliência humana e da capacidade de recomeçar. Ele nos ensina que, mesmo diante das adversidades, o amor e a empatia podem nos guiar de volta à esperança. A conexão que ele reconstrói com sua família, junto ao carinho incondicional de Akira, demonstra que os laços familiares e a solidariedade têm o poder de curar feridas profundas. É uma lembrança de que nunca estamos sozinhos e que sempre há espaço para a renovação e o perdão. Essa jornada nos inspira a valorizar as relações e a buscar a luz mesmo nos momentos mais sombrios.
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Fonte:s 
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul 
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Antonio Juraci Siqueira*(Meu rio)


Quando ilhado entre alfarrábios,
sinto saudades de ti,
teu nome sai dos meus lábios
numa oração: CAJARI!

À primeira vista pode parecer um rio comum, um rio como outro qualquer. Mas não é. Esse é um rio especial: é o rio Cajari, o meu rio. Ele nasce no vale da minha infância e desemboca sereno e caudaloso dentro de mim, dentro de minha memória, lavando minha alma, fertilizando meu coração, devolvendo a minha infância. E não há decretos, leis, mandados nem resoluções que possam tirá-lo de mim. Ele está de tal maneira diluído em minhas veias que nenhuma força do mundo poderá secá-lo nem alterar seu curso. Você pode admirá-lo, banhar-se em suas águas mas não poderá apossar-se dele! Ele me viu nascer, banhou meu corpo, matou minha sede e me deixou brincar de canoeiro em suas águas plácidas tangendo meus barquinhos que hoje navegam na minha imaginação. Ele é a rua onírica onde o poeta perambula à cata de inspiração, onde o Boto mandingueiro vagueia nas noites enluaradas mundiando as cunhãs. Portanto, tratem-no bem, pois o mal que a ele fizerem é a mim que farão, posto que somos um deste o início dos tempos.
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* Antônio Juraci Almeida Siqueira, nasceu em Afuá, no Pará, em 1948). Escreveu diversas obras literárias, entre elas merecem destaque, O Chapéu do Boto (2003), Paca, Tatu; Cutia não! (2008), e Aumentei, Mas Não Menti (2016). Seus poemas, contos e trovas são principalmente inspirados no folclore, nas crenças e saberes populares e pela natureza amazônica. Popularmente ele é conhecido como "o boto" ou o poeta "filho do boto". Em 1978, e foi morar em Belém. cursou Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal do Pará, atua como instrutor de oficinas literárias, artista performista, contador de histórias, e leciona filosofia na rede pública de educação paraense. É considerado um dos poetas mais prolíferos da região Norte do Brasil. Seus trabalhos variam entre publicações de livros de literatura infantojuvenil, literatura de cordel, livros de poesias, contos, crônicas e textos humorísticos. Todo esse trabalho rendeu-lhe cerca de 200 premiações em concursos literários de diversos gêneros, tanto no âmbito nacional, quanto no estadual.

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Silmar Bohrer* (Croniquinha) 125


Música da calha. 

Quem nunca ouviu a música da calha? 

Quem nunca dormiu, sonhou, acordou com o som mavioso da chuva madrugada a dentro?  Quem nunca ouviu o pinga pingar dos pingos, o ressumar calha abaixo, acordando os pensamentos nebulosos em meio ao chuvejar?

A  música da calha é a música da vida.

A música dos dias, das horas, dos segundos. Leva, enleva, conduz o gotejar do certo e do incerto, do bate lá e bate cá, vida a fora, nos rumos do insondável fim dos dias e no inacreditável final da calha .

Tantas noites, tantas chuvas, tantas águas-pingos que descambam por caminhos irremediáveis que nem sempre sabemos onde vão dar - refrigérios e magias, ou asperezas e dificuldades pondo a vida a ressonar. 

Sonoras calhas da vida!
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*Silmar Bohrer nasceu em Canela/RS em 1950, com sete anos foi para em Porto União-SC, com vinte anos, fixou-se em Caçador/SC. Aposentado da Caixa Econômica Federal há quinze anos, segue a missão do seu escrever, incentivando a leitura e a escrita em escolas, como também palestras em locais com envolvimento cultural. Criou o MAC - Movimento de Ação Cultural no oeste catarinense, movimentando autores de várias cidades como palestrantes e outras atividades culturais. Fundou a ACLA-Academia Caçadorense de Letras e Artes. Membro da Confraria dos Escritores de Joinville e Confraria Brasileira de Letras. Editou os livros: Vitrais Interiores  (1999); Gamela de Versos (2004); Lampejos (2004); Mais Lampejos (2011); Sonetos (2006) e Trovas (2007).

Fonte: Texto enviado pelo autor. 
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Célio Simões* (O nosso português de cada dia) “Pé-de-meia”


Em novembro de 2023 o Governo Federal, através da Secretaria de Educação Básica do MEC, lançou um programa de incentivo financeiro-educacional na forma de poupança, destinado a promover a permanência dos estudantes carentes do ensino médio nas escolas públicas, intitulado de “PÉ-DE-MEIA”. 

Esse auxílio financeiro tem como objetivo viabilizar o acesso à escola e minimizar a desigualdade social entre a nossa juventude, com vistas à inclusão social através da educação, tendo como parceiros estratégicos o Ministério da Fazenda, o Ministério do Desenvolvimento Social, a CEF e algumas destacadas universidades federais. 

A conhecida expressão popular já inspirara Rita Lee, nossa saudosa “Rainha do Rock” falecida em 2023 (que vendeu nada menos que 55 milhões de discos ao longo da vida), a compor uma música de muito sucesso, também denominada “PÉ-DE-MEIA”, no sentido de reserva monetária, conforme se vê na primeira estrofe da dita composição: 

“Preparar esse pé-de-meia
pra enfrentar a velhice
e se leva a vida inteira
pra saber que é uma boboquice
preparar esse pé-de-meia
pra esconder a idade
a desculpa é costumeira
tem que ter personalidade (...)”

Mas aí vem a pergunta: De onde surgiu essa corriqueira expressão? 

A quase unanimidade das fontes informa que ela tem suas origens nos países da Europa, pelo costume que as pessoas tinham de usar um lado da meia, cujo outro já fora descartado, para guardar suas economias. Nossos avoengos copiaram essa prática trazida pelos portugueses e passaram a dissimular o local onde guardavam suas reservas, utilizando as meias que caíam em desuso, escondendo-as com seus tesouros em armários e baús que existiam nos casarões de então, à míngua da existência dos bancos, que só na segunda metade do Século XX ganharam impulso, disseminando agências nas capitais e no interior, trazendo com elas as bem-amadas cadernetas de poupança, reserva de emergência sob a forma de investimento, que se tornou a preferida dos brasileiros, apesar do diminuto rendimento que atualmente oferece.

O certo é que a expressão chegou para ficar e a exemplo do programa do Governo Federal ou da música de Rita Lee, todo mundo a ela recorre quando deseja apregoar que financeiramente já assegurou seu próprio futuro ou dos filhos, que já está “com o burro amarrado na sombra”, ou que o vidão folgado que leva se tornou “mais manso que jumento de verdureiro”... 

Vou fazer meu “PÉ-DE-MEIA” ou estou fazendo o meu “PÉ-DE-MEIA” ouvimos frequentemente dos recém-saídos das universidades, que ainda não se estabilizaram economicamente na vida. Esse “PÉ-DE-MEIA”, escrito com hífen, diz respeito à suada grana que guardamos para uma situação de emergência, para reforçar a aposentadoria ou realizar aquela sonhada viagem, dando-lhe uma conotação exclusiva de reserva pecuniária. Tanto que um espirituoso sujeito metido a filósofo, famoso pela irreverência, costumava dizer:

- Parente, a gente tem que arranjar um jeito de ganhar dinheiro pra fazer o “PÉ-DE-MEIA”. Nem que seja honestamente... 

Se, entretanto, essa mesma expressão for escrita sem o uso do hífen, não significa que ela está incorreta e sim, que a pessoa está fazendo alusão somente à parte da meia que envolve o pé, sem conotação com a reserva de dinheiro ou com o “porquinho” onde as moedas são guardadas. Regra geral, são essas - e apenas essas - as duas maneiras de grafar tal expressão, assim como literalmente são seus dois únicos significados, acima informados. 

Como toda regra tem exceção, que eu saiba existe um terceiro significado, mas esse era utilizado somente pelo vaqueiro “Raimundão Pureza”, um sujeito rude, de pouca conversa, invocado, festeiro e mulherengo, que errava pelas fazendas do Trombetas, facão embainhado balançando na cintura, ganhando a vida como amansador de cavalos para os fazendeiros da região. 

Assustador em sua estatura solar, avesso aos costumes civilizados, não usava sapatos, desprezava sabonete, loção e creme de barbear, cortava o cabelo sozinho para o barbeiro não passar a mão na cara dele, reclamava que quando vestia cueca não acertava a dançar e só dormia depois calçar seus meiões de jogador de futebol, que ele chamava de “MEUS PÉS DE MEIA”, ritual nunca esquecido para que não perfurasse a rede com as unhas dos pés, que ele jamais cortava e nem deixava ninguém cortar!... 
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(*) Célio Simões de Souza é paraense, advogado, pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho, escritor, professor, palestrante, poeta e memorialista. Membro da Academia Paraense de Letras, membro e ex-presidente da Academia Paraense de Letras Jurídicas, fundador e ex-vice-presidente da Academia Paraense de Jornalismo, fundador e ex-presidente da Academia Artística e Literária de Óbidos, membro da Academia Paraense Literária Interiorana e da Confraria Brasileira de Letras em Maringá (PR). Foi juiz do TRE-PA, é sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, fundador e membro da União dos Juristas Católicos de Belém e membro titular do Instituto dos Advogados do Pará. Tem seis livros publicados e recebeu três prêmios literários.

Fonte: Texto enviado pelo autor. 
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segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Jerson Brito (Asas da poesia) 04

 

José Feldman* (Os Ratinhos da Sala 006)

Numa Universidade, a sala de aula 006 tinha uma fama peculiar. Não era pela dificuldade das matérias, nem pelos professores excêntricos. Era pelo ar-condicionado, que, ao invés de refrescar, se tornou o centro das atenções. 

No alto, junto ao teto, morava um casal de ratos, que decidiu fazer do ventilador seu lar.

Era uma manhã ensolarada, e a turma de Introdução à Teoria do Caos se preparava para mais uma aula com a Professora Rivalda, uma mulher de cabelo desgrenhado e uma paixão inabalável por teorias bizarras. Assim que os alunos se acomodaram, notaram algo incomum: os rabos dos ratos balançavam suavemente para frente e para trás, como se estivessem dançando ao som de uma música invisível.

— Olhem! — exclamou Ana, a aluna mais observadora da turma. — Tem ratos no ar-condicionado!

A sala toda virou os olhos para o teto. Os rabos dos ratos pareciam ter vida própria, e a atenção dos alunos se desviou completamente da palestra sobre o caos. A professora, sem perceber, continuou sua explicação sobre como o caos pode ser encontrado até nas coisas mais cotidianas.

— E como a teoria do caos nos ensina que pequenas mudanças podem ter grandes consequências… — ela disse, mas a turma só conseguia pensar nos ratos.

— Olha como eles se movem! — sussurrou João, o engraçadinho da turma. — Parece que estão fazendo uma coreografia!

Os alunos começaram a imitar os movimentos dos rabos com suas próprias mãos, enquanto a professora, sem entender o que estava acontecendo, continuava a falar sobre o efeito borboleta. 

— Se uma borboleta bate suas asas na China… — começou, mas foi interrompida por um grito de Maria, que estava na janela.

— Eles estão se aproximando!

Na verdade, os ratos estavam apenas se espreguiçando, mas a turma entrou em pânico. Alguns alunos começaram a fazer piadas, enquanto outros tiravam fotos dos rabos balançantes. A sala virou um verdadeiro pandemônio.

— E se eles caírem? — perguntou Lúcia, com uma expressão de preocupação. — E se forem gigantescos?

— São apenas ratos comuns! — respondeu João, rindo. — Mas se eles caírem, pelo menos teremos um espetáculo ao vivo!

A professora finalmente percebeu a distração da turma e olhou para o teto. Com um olhar confuso, ela disse:

— O que vocês estão olhando? Isso não faz parte da aula!

Mas, ao olhar para os rabos balançando, ela também não pôde deixar de rir. O ar-condicionado tinha se tornado um cenário mais interessante do que sua aula sobre caos e desordem.

— Muito bem, vamos aproveitar a situação! — disse ela, com um brilho nos olhos. — Que tal uma discussão sobre o que o comportamento dos ratos pode nos ensinar sobre a ordem e o caos?

Os alunos começaram a debater animadamente, enquanto os ratos, sem saber que eram estrelas, continuavam sua dança acrobática. Um deles, que parecia mais ousado, desceu um pouco mais perto da borda do ar-condicionado, como se estivesse pronto para um salto.

— E se ele pular? — perguntou Ana, cheia de expectativa.

— Vai ser a primeira apresentação de ratos da história da universidade! — brincou João, fazendo todos rirem.

Finalmente, o ousado rato decidiu descer, mas, ao chegar na borda, hesitou. O silêncio na sala era palpável, todos segurando a respiração. Com um movimento súbito, ele pulou, mas, em vez de cair no chão, foi direto para o colo de um estudante que estava distraído mexendo no celular.

O grito do estudante ecoou pela sala, fazendo a professora quase perder o equilíbrio. O rato, assustado, correu de volta para o ar-condicionado, enquanto a turma explodia em risadas.

— Isso é caos! — gritou a professora, agora realmente empolgada. — Esse é o verdadeiro efeito borboleta!

A aula, que deveria ser sobre teoria, se transformou em um festival de risadas e histórias absurdas sobre ratos e suas aventuras. No final, todos concordaram que a sala 006 tinha se tornado um lugar mágico, onde até os ratos tinham o poder de transformar o tédio em diversão.

E assim, a fama dos ratos se espalhou pela universidade, fazendo com que todo semestre novos alunos se inscrevessem apenas para ver o espetáculo dos rabos balançantes. E quem diria que um ar-condicionado poderia ser o ponto de partida para tantas risadas e aprendizados sobre a vida?

E assim, entre risos e rabos balançantes, a aula sobre o caos se tornou um clássico da Universidade, eternizando os ratinhos da sala 006 na memória de todos.
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JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Formado em técnico de patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais; membro da Casa do Poeta “Lampião de Gás”. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, e outros. Casado com a escritora, poetisa, tradutora e atualmente professora pós-doutorada da UEM, mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, morando atualmente em Maringá/PR em 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Academia de Letras de Teófilo Otoni, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia Virtual Brasileira de Trovadores, etc, possui o blog Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria. Assina seus escritos por Floresta/PR. Publicou mais de 500 e-books. Premiações em poesias no Brasil e exterior.

Fontes 
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul 
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Sammis Reachers* (Seu Onório – E o peixe que faz piscar o Universo)


Todos os dias, com sábados e domingos neles, ele aguarda as 17h e sai do Bairro Antonina, no município fluminense de São Gonçalo, numa viagem de dois ônibus até a praia de Gragoatá, em Niterói. Escolhe uma posição aleatória no grande calçadão que separa as praias de Boa Viagem e Gragoatá, sempre o ponto mais vazio da noite. Em seguida, lança sua linha de mão – pois jamais gostou de varas de pesca – e aguarda acontecer.

Nunca entendeu o motivo de tal extravagância do Universo, mas, que importa?

Na primeira vez foi assustador, e ele se acreditou morto. Era a terceira ida até o calçadão do Gragoatá, depois de anos pescando apenas na gonçalense Praia da Luz, local que se tornara inviável pela violência. A pesca de linha era sua forma de descontrair as noites, de embriagar – ele que nunca bebia – e engabelar sua solidão. O filho se fora para Anápolis, trabalhar no agro, mas isso era da vida e para tal fora criado. Mas ela... Ela a partida, ela a finada, ela era a sua dor.

Ia pras 20h quando a linha acusou retorno, rompendo a sonolenta divagação do velho solitário.

Ele puxou, e a dádiva do mar e da noite foi uma bela e inesperada raia viola. Susto imediato, pescar uma raia ali na costa, na potência da simples linha!

Ao apanhar o peixe, com cuidado pois jamais manuseara um daqueles, o velho Onório surpreendeu-se sorrindo – sim, sorrindo depois de três anos de um luto travestido de eternidade. 

Ao abrir cerimoniosamente a boca do peixe para remover o anzol, aconteceu.

Sua visão pareceu escurecer, como sucede quando se está prestes a um desmaio, mas logo foi inundada por um clarão oceânico. Três ou quatro segundos foram necessários para ele voltar a abrir os olhos, e agora já não havia noite nem mar.

Sentado num banco da praça Carlos Gianelli, no concorrido bairro de Alcântara, em São Gonçalo, sua primeira sensação foi daquela mão macia e aquecida segurando a sua. Olhou para o lado, e era ela, Amária. Não era possível! Antes que pudesse falar alguma coisa, ela se antecipou:

– Fique calmo, Onório. Eu estou aqui, eu estou aqui. – Ela disse, deitando a cabeça em seus ombros. Ele respondeu reclinando sua cabeça de encontro a dela, apertando ainda mais aquela mão, e só então fixando o olhar na paisagem, banhada pelo mais aconchegante dos sóis. 

Um Fiat Tempra, retinindo de novo, cruzava a rua. Na outra mão, um ônibus da empresa Santa Isabel parava para o embarque de passageiros. Ele trabalhara naquela empresa que já não era, desfeita que fora em 2006. Só então ele deu-se conta: Aquela praça também já não existia; dera lugar a um obtuso shopping. Amária estava bem mais jovem do que quando partira, e isso tinha motivo, legível na paisagem e nas memórias: ele voltara até os anos 1990.

– Eu te amo tanto, Onório. Essa dor, ela é tanta, mas pra que isso? A vida acontece, e morrer foi da vida. Você precisa ser forte, precisa continuar.

– Eu sei. Eu sei! Mas não consigo, não consigo... De dia fico enfurnado naquela casa, ainda ouço a Rádio Tupi, só pra lembrar de quando ficávamos ouvindo as notícias e causos, eu consertando televisores, você na costura... Mas quando a tarde vai caindo eu não aguento, e preciso esquecer. Saio para pescar, e tentar esquecer você, mas não funciona muito bem. Por tantas vezes pensei em me jogar no mar!

– Nem tem pra que disso, Onório! Te conheci macho, macho te escolhi, então honre o que você foi e é. Tenha brios, homem!

– Ô minha fortuna... Só de estar aqui e falar com você, meu Deus, nunca tive um sonho tão doce, e tão real. Cê voltou dos mortos pra estar comigo!

– Ninguém volta dos mortos, meu carneirinho... E nem tem outra vida além dessa que vivi, que você vive. E sonho não tem cheiro. Sente esse cheirinho de angu à baiana, vindo daquela barraca? Aqui não é sonho nem realidade, é uma outra coisa, não tem nome pra isso. Seu amor que fez esse milagre, Onório.

– Mas é lindo, Amária, é lindo. E como você está linda. Esse vestido azul, nem me lembrava.

– Está na hora de você voltar, meu amor.

– Não, não! Que é isso meu doce, aqui é meu lugar, que voltar o quê!

– Aqui nem é lugar, nem é nosso, Onório. Mas aqui estamos, isso foi uma piscadela do Universo, uma graça de Deus. Mas o Universo já está abrindo os olhos.

– Não, não, meu amor, eu te imploro!

– Vai. Amanhã o Universo vai piscar de novo. 

Outro clarão acometeu aos olhos do viúvo, seguido por um escuro manso – processo do início da visão, mas ao revés.

Onório ainda estava com a raia nas mãos – peixe raro, de estranho nome científico, Zapteryx brevirostris, tão ameaçado de extinção quanto o amor. Nativo da Baía de Guanabara, sua pesca era proibida. O velho o lançou de volta ao mar.

E todos os dias, com sábados e domingos e tempestades neles, religiosamente o velho sai de seu agora já não tão mal cuidado casebre, situado numa travessa sem saída no Bairro Antonina, e vai até aquele calçadão niteroiense para pescar a mesma raia, em cuja boca o Universo pisca – ressuscitando, noite após noite, o moribundo Onório e seu amor.
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* Sammis Reachers Cristence Silva nasceu em 1978, em Niterói/RJ, mas desde sempre morador de São Gonçalo/RJ, ambos municípios fluminenses. Sammis é poeta, escritor, antologista e editor. Licenciado em Geografia atua em redes públicas de ensino de municípios fluminenses. É autor de dez livros de poesia, três de contos/crônicas e um romance, e organizador de mais de cinquenta antologias.  Aos 16 anos inicia seus escritos e logo edita fanzines, participando do assim chamado circuito alternativo da poesia brasileira, com presença em jornais e informativos culturais. Possui contos e poemas premiados em concursos do Brasil, bem como textos publicados em antologias e renomadas revistas de literatura.

Fontes:  Sammis Reachers. Fabulário Índigo. São Gonçalo/RJ: Ed. do Autor, 2024. Enviado pelo autor.
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Humberto de Campos* (A Pérola)


(APÓLOGO PERSA)
Em que se demonstra que a fraqueza humilde é mais proveitosa do que a grandeza arrogante.

Rugiam, lá em cima, os ventos tempestuosos do inverno, quando a gota d'água, trêmula e pura, se sentiu, de repente, sozinha no espaço, desgarrada, por um sopro mais forte, da nuvem em que se formara. Medrosa, humilde, pequenina, voava a mísera arrebatada pelas doidas ondas aéreas, quando viu, de súbito, precipitando-se na mesma direção, mugindo, rolando, redemoinhando, uma enorme tromba marinha, que abalava o céu com a fúria da sua carreira. Ao perceber a límpida gota assustada, a tromba monstruosa, - equóreo (relativo ao mar alto) traço de união colocado entre o mar e as nuvens, - parou, de repente, rodando, sobre si mesma, e indagou, irônica:

- Aonde vais tu, miserável poeira da chuva? Que fazes por estes caminhos perigosos do espaço, arrastada, como entidade invisível, pelo mínimo sopro dos ventos?

Trêmula, encolhida, assaltada por diferentes ondas de ventania, a gota límpida não pôde, sequer, responder, e a tromba continuou, zombeteira:

- Já pensaste, acaso, no destino que te espera? O vento que nos conduz a ambas, arrasta-nos, furioso, para o oceano largo, que reboa, lá em baixo, clamando por nós. Ouves?

A gota d'água prestou atenção, e percebeu. Para além da neblina que cobria a terra, embaixo reboavam, apavorantes, os grandes soluços do mar. Como um bando de tigres enfurecidos, as ondas uivavam, despedaçando-se umas de encontro às outras, ao mesmo tempo que a água, revolvida pelos braços da tempestade, chorava, gemia, guaiava (sofria lamentos), num tumulto de vozes desesperadas.

Percebendo o susto da gota humilde, a tromba insistiu:

- Lá em baixo, estão o meu túmulo e o teu. A mim, porém, me espera um destino que é, por si mesmo, a minha glória. Tombando no oceano, eu constituirei uma parte dele mesmo, tendo, como ele, as minhas ondas, os meus vagalhões, as minhas espumas. Serão necessários dias talvez uma semana, para que as minhas águas sejam absorvidas pelo mar. E tu, que te aguarda? Mal tombes em um cabeço (cume) de vaga, em um simples floco de espuma, desaparecerás, anônima, para sempre, sem que fique, na terra ou no céu, a sombra do teu vulto ou da tua memória!

- Meu Deus!... gemeu a gota d'água. apavorada, pálida, trêmula, no horror daquele extermínio próximo.

Nesse instante, um trovão contínuo, forte, soturno, anunciou a vizinhança do oceano. Rajadas formidáveis abraçaram a tromba d'água, arrebatando-a, abalando-a, desconjuntando-a. Outras rajadas, precipitando-se em sentido contrário, tomaram com o seu hálito a gota humilde, a mísera poeira de chuva, e, horas depois, serenada a tempestade, aparecia de novo, ao sol, a face tranquila do mar.

Dias passaram-se, porém. E uma tarde, quando da tromba marinha já não existia, sequer, na memória do oceano, um pescador do mar Índico encontrou na praia, dentro de uma concha, uma gota petrificada e brilhante. Era a gota d'água do céu, que Deus, ouvindo a prece da humildade, salvara das águas…
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* Humberto de Campos Veras nasceu em Miritiba (hoje, Humberto de Campos), no Maranhão, em 1886. Ficou órfão de pai com sete anos de idade. Mudou-se com a família para São Luís, onde se empregou no comércio. Com 17 anos passou a residir no Pará, onde conseguiu um lugar de colaborador e redator na Folha do Norte e depois na Província do Pará. Em 1910 publicou seu primeiro livro, uma coletânea de versos, intitulado “Poeira”. Em 1912 mudou-se para o Rio de Janeiro empregou-se no jornal “O Imparcial”, e começou a se destacar no meio literário. Em 1919 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Deputado federal pelo Maranhão, inspetor de ensino e Diretor interino da Fundação Casa de Rui Barbosa. Em 1933, com a saúde já abalada, publicou o livro que se tornou o mais importante de sua carreira, “Memórias”, no qual reúne suas lembranças dos tempos da infância e juventude. Escreveu poesias, contos, ensaios, crônicas e anedotas. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1934.

Fontes: Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925. Disponível em Domínio Público.  
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Célio Simões* (O nosso português de cada dia) “Em banho-maria”


Na culinária, o BANHO-MARIA é um método onde a comida não entra em contato direto com o fogo, experimentando um cozimento mais lento. Seja salgado ou doce, o alimento fica em um recipiente, que é colocado dentro de outro maior, onde já existe água fervendo ou prestes a ferver. Trata-se, portanto, de um preparo realizado pelo calor de forma indireta, de modo lento, progressivo e uniforme. 

Nos laboratórios químicos e na indústria de transformação, o Banho Maria ganha status de método científico, utilizado para o aquecimento gradual de qualquer substância líquida ou sólida, sempre com o uso de dois recipientes. 

E qual a razão do tal banho ter o nome de Maria e não o de outra mulher, entre as centenas de belos nomes femininos que existem? Seria uma homenagem especial àquela que os católicos e a própria Igreja reverenciam como a Abençoada Virgem Maria, aquela que é considerada a “Rainha do Céu e da Terra”, a venerada “Nossa Senhora – a Mãe de Deus”, assim chamada desde o período medieval e como tal reconhecida desde o Concílio de Éfeso, no remoto ano de 431? Desta vez não. 

Reza a lenda que se trata de uma alusão à alquimista Maria conhecida como Maria Hebraica, Maria Judia ou Maria Profetisa, que seria inclusive irmã de Moisés. Foi ela quem inventou o processo de cozinhar lentamente, mergulhando um recipiente na água fervente contida em outro maior. Concebeu também várias bases teóricas para a alquimia, que mais tarde evoluiu triunfalmente para a química. 

Em Portugal, “em Banho Maria” é igualmente uma expressão popular e se refere às toalhas de praia que nossos patrícios utilizam, tendo como significado esperar numa boa, ficar flutuando no tempo, de vez que atualmente, as idas ao mar fazem parte indissociável do verão dos portugueses. Trata-se de um singelo ritual do bom tempo, aonde alguém vai à praia, estende uma toalha, dá um mergulho e volta para se enxugar. Uma rotina que é praticada com frequência e que permite “ficar em Banho Maria”, derreado na toalha de praia, até que o corpo ganhe um perfeito bronzeado de verão. 

Por outro lado, devido ao Banho Maria ser um processo lento, a expressão “deixar em Banho Maria” ou “levar em Banho Maria” com o tempo também passou a ser usada para indicar que alguém está enrolando, procrastinando, engazopando ou embromando outra pessoa ou em uma situação em que ela vai permitindo indevidamente que algo aconteça, vai incorrendo em erro, vai sendo enganado, iludido ou logrado em sua boa-fé, sem qualquer reação. 

Costuma ser usada nos relacionamentos amorosos, quando um pretendente não quer nada de sério com uma mulher, mas não a dispensa, deixando-a como opção, à qual pode recorrer sempre que quiser. É muito comum, na linguagem coloquial, ouvir que “alguém ainda não decidiu se vai levar adiante aquele projeto ou vai deixá-lo cozinhando em Banho Maria”. Ou, ainda, no escrutínio dos bisbilhoteiros: “…todo mundo vê que fulano está levando sicrana em Banho Maria, pois até agora, nada de casamento…”. 

A música e a literatura não deixaram de se valer dessa curiosa expressão, incluindo-a em textos e canções, como fez Joyce Moreno na música intitulada “Banho Maria”, cuja letra é significativa: “só sei, quando a gente se abraça // a paixão se ameaça // fica sempre a ferida // eu sei que o seu medo da morte // não é assim tão forte // como o medo da vida // se é cedo o café bem quente // o abraço morno, banho de água fria // se é tarde, a amarga dose, a canção // o prato em Banho Maria”. 

O escritor Ildefonso Guimarães, que na juventude morou em Portugal e abrilhantou a Cadeira n.º 5 da Academia Paraense de Letras, um dos maiores ficcionistas que o Pará já teve, em seu excelente romance “Os Dias Recurvos”, narra a impaciência do delegado de polícia obidense Tenente Fontelles, no ingente esforço de convencer o telegrafista Zé Cosme, ambos maçons convictos, a passar uma mensagem urgente ao interventor Magalhães Barata, avisando-lhe que os sargentos do 4.º Grupo de Artilharia de Costa do Exército, sob a liderança de um certo Coronel Pompa, haviam se sublevado, aprisionado toda a oficialidade e incondicionalmente aderido à Revolução Constitucionalista de 1932 de São Paulo. 

Eis o diálogo, na página 112 da magnífica obra: – “Não se trata disso, seu Cosme; não ponha a Ordem nessa questão, porque acima de tudo está o seu dever de cidadão brasileiro e esse é também um princípio maçônico: o dever para com a Pátria” (o tempo voa, este sacana está querendo me cozinhar em Banho Maria). O senhor vai passar já e já esta mensagem, ou eu não me chamo Fontelles”. 

Na política, é trivial candidatos eleitos ficarem “cozinhando o galo”, “empurrando com a barriga”, embromando, retardando providências, demorando a fazer algo que poderiam ter feito e simplesmente não fazem, sendo acusados de estarem levando a administração em “Banho Maria”. 

Finalmente, existe o “Banho Maria Invertido”, utilizado para o resfriamento rápido de alimentos, trocando-se a água fervente por água com gelo ou muito gelada. O apreciado “molho holandês”, que consiste em uma mistura de manteiga e gema de ovos com um toque cítrico, de textura leve e muito saboroso, é conseguido com esse método.
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(*) Célio Simões de Souza é paraense, advogado, pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho, escritor, professor, palestrante, poeta e memorialista. Membro da Academia Paraense de Letras, membro e ex-presidente da Academia Paraense de Letras Jurídicas, fundador e ex-vice-presidente da Academia Paraense de Jornalismo, fundador e ex-presidente da Academia Artística e Literária de Óbidos, membro da Academia Paraense Literária Interiorana e da Confraria Brasileira de Letras em Maringá (PR). Foi juiz do TRE-PA, é sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, fundador e membro da União dos Juristas Católicos de Belém e membro titular do Instituto dos Advogados do Pará. Tem seis livros publicados e recebeu três prêmios literários.

Fonte: Uruá Tapera. 04 junho 2024
https://uruatapera.com/em-banho-maria/
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domingo, 15 de dezembro de 2024

Luiz Poeta (Nuvens de Sonhos) 04

 

José Feldman* (Pafúncio e o Festival de Música)


Em uma cidade onde a música ecoava em cada esquina, o jornalista Pafúncio, conhecido por suas habilidades em transformar qualquer evento em um caos, estava a caminho do Festival de Música “Sons e Sorrisos”, um evento que prometia ser o maior do ano e que reuniria artistas de todos os gêneros, desde pop até pagode.

Ao chegar ao festival, Pafúncio se deparou com uma multidão vibrante, repleta de fãs de todas as idades. Ele estava vestido de maneira peculiar: uma camiseta de uma banda de rock dos anos 80, calças largas e um chapéu colorido que parecia ter saído de um desfile de carnaval. Com seu bloco de notas em mãos e uma caneta que parecia mais uma espada, ele estava pronto para capturar as melhores histórias.

O festival começou com uma apresentação de uma banda de rock local chamada “Os Gritadores”. 

Pafúncio, que nunca tinha entendido o apelo do rock pesado, decidiu que era a oportunidade perfeita para fazer uma pergunta inusitada. Após o show, ele se aproximou do vocalista e disparou: “Se a sua música fosse um lanche, qual seria e por quê?” 

O vocalista, pego de surpresa, pensou por um momento e respondeu: “Um hambúrguer gigante, porque é cheio de camadas e é saboroso!”

Pafúncio, com um sorriso no rosto, anotou a resposta e a transformou em uma manchete: “Os Gritadores Revelam: Música é como Hambúrguer – Saborosa e Indigesta!” O jornalista seguiu seu caminho, rindo da sua própria criatividade.

A próxima atração era um famoso DJ chamado “DJ Tico-Tico”, conhecido por suas mixes eletrônicas e por fazer as pessoas dançarem até o amanhecer. 

Pafúncio, sempre em busca de uma boa história, decidiu que precisava saber o que havia por trás de suas batidas contagiantes.

“DJ Tico-Tico, se você tivesse que escolher entre tocar em um festival ou fazer um show para um grupo de gansos, o que você escolheria?” 

O DJ, sem perder o ritmo, respondeu: “Gansos! Eles têm um ótimo senso de tempo!”

A cada apresentação, Pafúncio se tornava mais ousado. Ele decidiu que iria entrevistar os fãs, perguntando: “Qual é a música que faz você dançar como se ninguém estivesse olhando?” 

Uma jovem respondeu: “Aquela que toca no rádio, mas que eu nunca sei o nome!” 

Pafúncio, sem perder tempo, escreveu: “Fã Confessa: Música que não se lembra é a melhor para dançar!”

Enquanto o dia avançava, Pafúncio encontrou um estande de comida que vendia os mais variados petiscos, desde hambúrgueres até churros. Ele, sempre com fome, decidiu experimentar um churro gigante com recheio de nutella. Enquanto mordia o churro, um pedaço escorregou e acertou o nariz de um famoso cantor que estava passando por ali. 

O artista, surpreso, olhou para Pafúncio e disse: “Isso é uma nova forma de me fazer sentir doce?”

Pafúncio, em sua típica falta de jeito, respondeu: “Claro! Aqui no festival, a comida e a música estão sempre se misturando!” 

A plateia, que já estava atenta, caiu na risada, e Pafúncio, sentindo-se o centro das atenções, decidiu que sua próxima missão seria entrevistar o cantor.

Após algumas tentativas hilárias, Pafúncio finalmente conseguiu se aproximar do cantor. Ele fez a pergunta que estava martelando em sua cabeça: “Se você pudesse criar uma nova dança para a sua música, como ela se chamaria?” 

O cantor, com um sorriso maroto, respondeu: “A dança do churro! Porque quem não ama um petisco enquanto se diverte?”

No final do festival, Pafúncio tinha tantas histórias que poderia escrever um livro. Ele voltou para a redação com um sorriso no rosto e uma barriga cheia de churros, pronto para transformar suas experiências em uma matéria que deixaria todos rindo. 

E assim, o jornalista continuou sua jornada, sempre em busca da próxima fofoca e da próxima risada.

Fontes 
José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul
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Lígia Messina* (Almas errantes)

Aldo, pai de Georgina, gostava de contar histórias fantásticas. Nos serões, depois do jantar, ele se empolgava em narrar fatos intrigantes de amor e almas do outro mundo. Uma dessas histórias ela jamais esqueceu: de Ana Helena e o mestiço José Maria.

Vivia em São Luiz Gonzaga um rico fazendeiro que tinha uma filha em idade de casar. Ana Helena era uma guria bonita de cabelos vermelhos como o céu no entardecer, olhos esmeralda como a campina, pele branca quase translúcida e faces rosadas. José Maria (era assim chamado pelos padres, pois não sabiam quem eram seus pais, então era filho de José e de Maria), meio índio meio branco, forte como o corcel negro que cavalgava em pelo e livre como o vento do Rio Grande.

O pai de Ana resolve que ela vai se casar com o filho mais velho de seu amigo de infância, que vive lá em São Miguel. Naqueles tempos, tudo se arranjava, principalmente casamentos. Na época aprazada, Ana Helena e sua mãe seguem para São Miguel acompanhadas por muita bagagem e duas mucamas.

Luiz, o noivo, espera ansioso para comprovar a beleza da futura esposa, tão decantada por seu pai. José Maria, atrás do patrão, aguarda para carregar as malas.

Ao descer da carroça, os olhos de Ana são atraídos para o belo mestiço, e ambos mergulham no verde olhar da moça e nos olhos negros do rapaz. Apaixonam-se. Amor à primeira vista.

Não demorou muito para conseguirem escapulir e se encontrar na velha Igreja dos Jesuítas. Trocam juras de amor eterno, pensam em fuga, querem ir para bem longe. Mas são descobertos.

Luiz manda o capataz amarrar o mestiço pelos pés no seu próprio corcel, que dizem ter vindo lá das arábias (Há... vai saber). Começam a açoitar o cavalo, José Maria então brada angustiado:

- Vai, meu velho, corre! Foge do açoite!

O cavalo obedece ao comando do dono, deixando cair grossas lágrimas de pavor de seus olhos negros e redondos. O corpo do rapaz foi jogado no Rio Jacuí e suas águas o envolveram em carinhoso abraço. O cavalo nunca mais foi visto.

Ana Helena, enlouquecida, sobe na mais alta torre da Igreja e se joga para a morte. Este foi o fim trágico dos dois amantes.

No entanto, conta a lenda que, quando o sol se põe e o vento assovia nas ruínas da igreja, veem uma moça vestida de branco, tendo sob o vestido saias multicoloridas. Dá a impressão de que desliza sobre o arco-íris. E um rapaz de pele trigueira desmonta do corcel negro, a encontra, e juntos, de mãos dadas, chegam ao pé do altar. Ali realizam na morte o sonho que não concretizaram em vida.
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* Lígia Messina nasceu em 1946, em Porto Alegre/RS. Formou-se professora normalista em julho de 1968. Casou-se com um médico militar pernambucano em janeiro de 1972, que havia conhecido por correspondência. Após o casamento, foi morar em Recife. Depois foi para o Rio de Janeiro, pela necessidade de trabalho do marido. Foi morar em Belém/PA, onde ficou por quase 20 anos. Formou-se em Pedagogia, com duas habilitações (supervisão e administração escolar) em 1982. Pedagoga com mais de dez publicações em poesia e prosa.

Fontes: Alda Paulina Borges et al. Contos contemporâneos. (Oficina de Criação Literária Alcy Cheuiche). Porto Alegre/RS: AGE, 2016.
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Vereda da Poesia = Padre Celso de Carvalho



José Luiz Boromelo* (Cafezinho)


O dia prometia. Sol de verão derretendo o asfalto, o trânsito a passo de tartaruga, as vagas engolidas pela imensidão de para-brisas, a cabeça latejando pela noite mal dormida, a preocupação com as contas vencidas. Mas ele precisava dar um jeito. O dinheiro já havia acabado e o mês ainda estava pela metade. Pensava na viagem prometida à esposa e nos livros caros dos filhos. O bolso estufado de boletos indicava que os compromissos assumidos esperavam por uma resolução. Para ontem, aliás. Depois de algumas voltas pelo quarteirão conseguiu, com muito custo, enfiar o veículo num espaço apertado. Saiu rapidamente sem colocar o cartão do estacionamento, que naquele momento pouco importava. Caminhou apressado, pensando numa maneira de convencer o gerente da agência bancária a lhe conceder um empréstimo de emergência, mesmo com o saldo da conta corrente no vermelho há muito.

 Acompanhou pacientemente o ponteiro do relógio em sua volta completa para finalmente ser atendido. Fez cara de tristeza, exibiu uma aparência preocupada, prometeu restringir o uso do cartão de crédito, aceitou prontamente o seguro de vida “oferecido” pelo banco para finalmente ouvir a boa notícia: seu pedido fora autorizado. Nem quis saber das taxas de juros estratosféricas ou da longevidade das parcelas. O que ele queria mesmo era pagar as contas atrasadas.

Agora o homem já se sentia mais aliviado, momentaneamente sem o peso da angústia nos ombros. O estômago vazio roncava pedindo atenção, pois fora colocado obrigatoriamente em segundo plano. A preocupação voltou-se para o carro deixado na rua. De longe avistou um policial de trânsito com seu bloco de multa nas mãos. Pensou em passar ao largo, dar um tempo e ignorar a situação, mas tinha outros compromissos. Disfarçou o quanto pôde fingindo falar ao celular enquanto se aproximava do veículo. Tremeu ao ouvir uma voz questionando a propriedade do automóvel, apontado com o dedo em riste. Hesitou por alguns instantes, tempo necessário para tentar alguma saída honrosa.

 Sentiu um aroma agradável de café fresco que vinha da panificadora em frente e logo colocou em prática sua desenvoltura argumentativa, sem deixar de repetir a cena representada ao gerente do banco. Cabisbaixo, desfiou uma por uma suas dificuldades, acrescentando exageradamente detalhes com o intuito de comover a autoridade ali presente. Certo de que seu teatro fora convincente o suficiente, cometeu o último erro quando inadvertidamente convidou o policial a tomar um cafezinho. Quase acabou preso, o carro levou uma multa por estacionamento irregular e ouviu poucas e boas por sua petulância. Irritou-se com o controle remoto do alarme que não funcionava mais. Nem poderia, pois estacionara seu veículo do outro lado da avenida. Resolveu então experimentar o bendito cafezinho sem pressa, devidamente acompanhado por um merecido sanduíche natural. Dinheiro na conta, carro sem multa e barriga cheia. Sorriu ao lembrar que apesar de tudo, o dia não havia sido tão ruim assim.
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* José Luiz Boromelo, é de Marialva/PR, policial rodoviário aposentado, escritor, cronista e agricultor, colaborador da Orquestra Municipal Raiz Sertaneja.

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Estante de Livros (Resumos de 10 contos de O. Henry*)


1. O presente de Natal
Um conto comovente que narra a história de Jim e Della, um jovem casal pobre que deseja dar presentes especiais um ao outro no Natal. Della decide vender seus longos cabelos para comprar uma corrente de relógio para o relógio de Jim. Enquanto isso, Jim vende seu relógio para comprar um conjunto de pentes para os cabelos de Della. Quando se encontram para trocar os presentes, percebem a ironia de suas ações, revelando o amor sacrificado que têm um pelo outro.

2. A história do homem que não tinha nada
Este conto foca em um homem chamado John, que vive uma vida humilde e sem posses. Em sua jornada, ele se depara com diversas situações que o testam. Através de seus encontros, John descobre que a verdadeira riqueza não está nas posses materiais, mas nas experiências e nas relações humanas. O final surpreendente revela que, apesar de sua pobreza, ele possui um tesouro emocional que o torna mais rico do que muitos.

3. A última folha
No enredo, duas jovens artistas, Sue e Johnsy, vivem juntas em Greenwich Village. Johnsy contrai pneumonia e perde a vontade de viver, acreditando que vai morrer quando a última folha de uma parreira do lado de fora de sua janela cair. Um velho pintor, Behrman, decide ajudá-la. Ele pinta uma folha falsa na parreira, que a faz acreditar que ainda há esperança. No entanto, ele acaba pegando pneumonia e morre, revelando o sacrifício que fez para dar à jovem a vontade de viver.

4. A rosa da Pérsia
Neste conto, um jovem chamado Ali, que se disfarça de príncipe persa, visita uma loja de flores em Nova York. Ele se apaixona por uma bela florista chamada Rose. Para impressioná-la, ele inventa uma história sobre sua riqueza e posição social. No entanto, quando a verdade vem à tona, Rose revela que não se importa com o status e também nutre sentimentos por Ali. O conto explora a ideia de que o amor verdadeiro transcende as aparências e as posses.

5. Um amor de estudante
Este conto narra a história de um jovem estudante que se apaixona perdidamente por uma colega de classe. Ele descobre que ela é uma talentosa pianista, mas que vive em dificuldades financeiras. O estudante decide fazer sacrifícios para ajudá-la, mesmo que isso signifique comprometer seus próprios sonhos. O conto enfatiza a beleza do amor altruísta e os desafios que os jovens enfrentam em busca de seus objetivos, mostrando como o amor pode inspirar grandes gestos de generosidade.

6. A loteria da Babilônia
Neste conto, O. Henry apresenta uma visão fantástica de uma cidade onde tudo é regido por uma loteria. Os cidadãos são constantemente surpreendidos por sorteios que determinam eventos em suas vidas, desde o que comer até quando morrer. A história explora a ideia de destino e sorte, refletindo sobre a aleatoriedade da vida. O final, inesperado e irônico, revela que a verdadeira sorte pode ser uma questão de perspectiva.

7. A casa do juiz
O conto gira em torno de um juiz aposentado que vive em uma casa cheia de recordações de sua carreira. Um jovem advogado visita o juiz para pedir conselhos sobre um caso. Durante a conversa, o juiz compartilha histórias de seus anos no tribunal, revelando as nuances da justiça e da moralidade. Através de suas memórias, o contador de histórias reflete sobre as falhas do sistema legal e a complexidade do caráter humano, levando o leitor a questionar o que realmente define a justiça.

8. As aventuras de um fotógrafo
Neste conto, um fotógrafo de rua se vê em situações inusitadas enquanto tenta capturar a essência da vida urbana. Ele encontra personagens excêntricos e momentos engraçados, sempre com sua câmera em mãos. Através de suas interações, o fotógrafo descobre que cada pessoa tem uma história única e que a beleza da vida está nas pequenas coisas. O final do conto destaca a importância de valorizar as experiências cotidianas e as conexões humanas.

9. O advogado do diabo
Um advogado ambicioso se vê em um dilema moral quando é chamado para defender um homem acusado de um crime hediondo. À medida que investiga o caso, ele descobre que seu cliente é, na verdade, um homem bom que cometeu o crime em um momento de desespero. O advogado deve decidir entre sua carreira e sua consciência. O conto explora a ética na profissão e as complexidades da natureza humana, culminando em uma reviravolta que desafia as expectativas do leitor.

10. O homem que sabia demais
Neste conto, um homem comum se vê no meio de uma conspiração internacional. Ele descobre informações confidenciais que podem ter sérias consequências. À medida que tenta desvendar a trama, ele se depara com perigos e dilemas morais. O conto examina a ideia de conhecimento e responsabilidade, mostrando como a vida pode mudar drasticamente quando se tem informações que podem afetar outros. O final surpreendente deixa o leitor refletindo sobre as implicações do que sabemos e do que escolhemos ignorar.

Esses resumos oferecem uma visão geral das histórias, seus temas e personagens, destacando a genialidade de O. Henry em capturar a complexidade da vida humana com humor e ironia.
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**O. Henry, pseudônimo de William Sydney Porter, nasceu em 11 de setembro de 1862, em Greensboro, Carolina do Norte/EUA. Ele teve uma infância marcada por várias mudanças, já que seu pai era um médico e sua mãe morreu quando ele era jovem. Em sua juventude, trabalhou em diversas funções, incluindo como balconista e farmacêutico. Em 1896, após ser acusado de desvio de fundos em seu trabalho como caixa em um banco, ele se mudou para a América do Sul, onde começou a escrever. Ao retornar aos Estados Unidos, ele adotou o pseudônimo O. Henry e começou a publicar contos em revistas, ganhando fama por suas narrativas envolventes e reviravoltas surpreendentes. O. Henry teve uma vida pessoal tumultuada, marcada por problemas financeiros e saúde. Ele faleceu em 5 de junho de 1910, em Nova York, mas deixou um legado duradouro na literatura com suas histórias que capturam a essência da vida urbana e a natureza humana.
Obras Relevantes: Heart of the West, 1907; The Caballero's Way, 1907; The Gift of the Magi, 1905; Four Million, 1906; The Last Leaf, 1907.
O. Henry é lembrado por seu estilo ágil e por suas histórias que frequentemente apresentam finais inesperados, tornando-o um dos mestres do conto curto na literatura americana.

Fonte: José Feldman (org.). Estante de livros. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.