APELO
Eu venho da lição dos tempos idos
e vejo a guerra no horizonte armada.
Será que os homens bons não fazem nada?
Será que não me prestarão ouvidos?
Eu vejo a Humanidade manejada
em prol dos interesses corrompidos.
É mister acabar com esta espada
suspensa sobre os lares oprimidos!
É preciso ganhar maturidade
no fomento da paz e da verdade,
na supressão do mal e da loucura...
Que a estrutura econômica da guerra
se faça em pó! E que reinem sobre a terra
os frutos do trabalho e da fartura!
O NASCIMENTO DO SONETO
Há pouco tive um pensamento estranho:
"Que tal se hoje eu fizesse algum soneto?"
Estou até de veia... Eis que o tamanho
da inspiração já deu para um quarteto!
Bobagem continuar, porém. Que ganho?
Caiu-me o lápis. Já apontei. É preto.
E como faz calor! — Me espera um banho
gelado assim termine este soneto.
Estou também com sono. Que preguiça!
Mas, amanhã é domingo. Irei à missa?!
Não sei. Depois, decidirei se vou.
Ai, ai... Vou terminar logo em seguida
com isto. Estou com sede. Puxa vida!
— E o parto do soneto terminou!
SONETO VAZIO
Se este é o primeiro verso de um soneto,
eis o segundo do soneto acima.
Terceiro verso: Santo Deus, que meto
agora aqui no quarto? Desanima!
E, lido o quinto verso, lhes prometo
um sexto! E atenção, que já termina!
No sétimo, reparo que o quarteto
acaba neste oitavo. E tome a rima!
E aqui, meu nono verso, meus senhores,
no décimo, sugiro-lhes paciência,
do undécimo habilmente me descarto!
Duodécimo: E que tal falar de amores?
Mas... Décimo-terceiro! A penitência
tem chave de ouro, enfim: décimo-quarto!
GAMA
Eu quero ser poesia. Eu quero ser
a simples voz das coisas, o acalanto
da luz tremeluzindo ao claro encanto
dos namorados ébrios de prazer...
Eu quero aquele mágico poder
da música em surdina, ser quebranto
de lágrimas nos olhos que amo tanto,
ser quase um objetivo de viver...
Eu quero ser o sonho cristalino
do absorto pensamento do menino
olhando para as nuvens do sol-pôr...
Eu quero ser a voz azul dos passos
que os pássaros escrevem nos espaços,
eu quero ser poesia. Eu quero amor.
PSI
Nem sabes, filho meu, quanto prazer
me causas, quando observo que desponta
em ti uma juventude alegre e pronta
à nítida conquista de viver!
Já fui exuberante assim, um ser
risonho, todo envolto em faz-de-conta
— e às vezes minha mãe surgia, tonta
das traquinagens feitas sem querer...
Revivo os tempos do meu tempo, e sei
definitivamente o que é ser rei
singrando os mares do sentir risonho...
És meu caminho de ontem, eu-menino,
e quero apenas, filho, que o destino
te faça tudo aquilo que eu te sonho!
ÔMEGA
Se podes namorar? Querida filha,
quem sou, para dizer? — Quando o botão
de rosa espia o mundo, ansioso, não
o impedirei de abrir-se em maravilha!
És juventude, e seguirás a trilha
do teu destino. E desabrocharão
teus dias, tua vida, do clarão
da aurora que hoje inicialmente brilha...
O ciclo do lirismo se completa
e em ti revivo anseios de um poeta
que muito ardeu de amor e muito quis...
Adivinhando as nuvens do teu sonho,
querida filha, em tuas mãos deponho
o meu consentimento. Sê feliz!
EPÍLOGO
As flores, esmagadas pelo duro
caminho em nossos passos, tão floridos,
deixaram seus perfumes coloridos
em tudo o que procuras e procuro.
Felicidade é um fruto já maduro,
e a vida nos encontra já sofridos...
Os filhos, tão sonhados e vividos,
já podem caminhar pelo futuro!
Agora, ao som do tilintar das taças
felizes, neste festival de graças
que nosso lar recebe do Senhor,
só peço a Deus que afaste a nuvem triste,
conserve em nós a luz que em nós existe,
e seja amor, completamente amor!
SAUDADE
Mas que saudade, que saudade a minha,
saudade imensa de sentir poesia,
poesia em tudo, assim como eu sentia
enquanto eu tinha o coração que eu tinha...
Porque já tive um coração um dia,
que disparava, ou quase se detinha
se ela aos meus braços palpitante vinha,
e que ternuras doidas consumia...
Vivia então constantemente imerso
na mágica do sonho, no universo
do amor ao ser que eu pressupunha meu...
Não vivo mais. Vegeto, na esperança
de achá-la ainda — à ladra que, tão mansa,
levou meu coração... Não devolveu...
DESEJOS DE RETORNO
Eu quero pôr de novo as calças rotas,
sair na chuva, andar pela calçada,
juntar-me à garrulice alvoroçada
dos bandos de garotos e garotas!
Sentir de novo as arrepiantes gotas
no rosto, os pés metidos na enxurrada,
o espírito zanzando, sem mais nada,
sem mais me preocuparem coisas doutas...
Não posso trabalhar... Nesta vidraça
que o meu suspiro de saudade embaça,
escorrem cristalizações de sonho...
Ah, Fausto, eu te compreendo! Se o demônio
surgisse agora, eu tinha a alma danada
em troca de zanzar pela enxurrada!
Eu venho da lição dos tempos idos
e vejo a guerra no horizonte armada.
Será que os homens bons não fazem nada?
Será que não me prestarão ouvidos?
Eu vejo a Humanidade manejada
em prol dos interesses corrompidos.
É mister acabar com esta espada
suspensa sobre os lares oprimidos!
É preciso ganhar maturidade
no fomento da paz e da verdade,
na supressão do mal e da loucura...
Que a estrutura econômica da guerra
se faça em pó! E que reinem sobre a terra
os frutos do trabalho e da fartura!
O NASCIMENTO DO SONETO
Há pouco tive um pensamento estranho:
"Que tal se hoje eu fizesse algum soneto?"
Estou até de veia... Eis que o tamanho
da inspiração já deu para um quarteto!
Bobagem continuar, porém. Que ganho?
Caiu-me o lápis. Já apontei. É preto.
E como faz calor! — Me espera um banho
gelado assim termine este soneto.
Estou também com sono. Que preguiça!
Mas, amanhã é domingo. Irei à missa?!
Não sei. Depois, decidirei se vou.
Ai, ai... Vou terminar logo em seguida
com isto. Estou com sede. Puxa vida!
— E o parto do soneto terminou!
SONETO VAZIO
Se este é o primeiro verso de um soneto,
eis o segundo do soneto acima.
Terceiro verso: Santo Deus, que meto
agora aqui no quarto? Desanima!
E, lido o quinto verso, lhes prometo
um sexto! E atenção, que já termina!
No sétimo, reparo que o quarteto
acaba neste oitavo. E tome a rima!
E aqui, meu nono verso, meus senhores,
no décimo, sugiro-lhes paciência,
do undécimo habilmente me descarto!
Duodécimo: E que tal falar de amores?
Mas... Décimo-terceiro! A penitência
tem chave de ouro, enfim: décimo-quarto!
GAMA
Eu quero ser poesia. Eu quero ser
a simples voz das coisas, o acalanto
da luz tremeluzindo ao claro encanto
dos namorados ébrios de prazer...
Eu quero aquele mágico poder
da música em surdina, ser quebranto
de lágrimas nos olhos que amo tanto,
ser quase um objetivo de viver...
Eu quero ser o sonho cristalino
do absorto pensamento do menino
olhando para as nuvens do sol-pôr...
Eu quero ser a voz azul dos passos
que os pássaros escrevem nos espaços,
eu quero ser poesia. Eu quero amor.
PSI
Nem sabes, filho meu, quanto prazer
me causas, quando observo que desponta
em ti uma juventude alegre e pronta
à nítida conquista de viver!
Já fui exuberante assim, um ser
risonho, todo envolto em faz-de-conta
— e às vezes minha mãe surgia, tonta
das traquinagens feitas sem querer...
Revivo os tempos do meu tempo, e sei
definitivamente o que é ser rei
singrando os mares do sentir risonho...
És meu caminho de ontem, eu-menino,
e quero apenas, filho, que o destino
te faça tudo aquilo que eu te sonho!
ÔMEGA
Se podes namorar? Querida filha,
quem sou, para dizer? — Quando o botão
de rosa espia o mundo, ansioso, não
o impedirei de abrir-se em maravilha!
És juventude, e seguirás a trilha
do teu destino. E desabrocharão
teus dias, tua vida, do clarão
da aurora que hoje inicialmente brilha...
O ciclo do lirismo se completa
e em ti revivo anseios de um poeta
que muito ardeu de amor e muito quis...
Adivinhando as nuvens do teu sonho,
querida filha, em tuas mãos deponho
o meu consentimento. Sê feliz!
EPÍLOGO
As flores, esmagadas pelo duro
caminho em nossos passos, tão floridos,
deixaram seus perfumes coloridos
em tudo o que procuras e procuro.
Felicidade é um fruto já maduro,
e a vida nos encontra já sofridos...
Os filhos, tão sonhados e vividos,
já podem caminhar pelo futuro!
Agora, ao som do tilintar das taças
felizes, neste festival de graças
que nosso lar recebe do Senhor,
só peço a Deus que afaste a nuvem triste,
conserve em nós a luz que em nós existe,
e seja amor, completamente amor!
SAUDADE
Mas que saudade, que saudade a minha,
saudade imensa de sentir poesia,
poesia em tudo, assim como eu sentia
enquanto eu tinha o coração que eu tinha...
Porque já tive um coração um dia,
que disparava, ou quase se detinha
se ela aos meus braços palpitante vinha,
e que ternuras doidas consumia...
Vivia então constantemente imerso
na mágica do sonho, no universo
do amor ao ser que eu pressupunha meu...
Não vivo mais. Vegeto, na esperança
de achá-la ainda — à ladra que, tão mansa,
levou meu coração... Não devolveu...
DESEJOS DE RETORNO
Eu quero pôr de novo as calças rotas,
sair na chuva, andar pela calçada,
juntar-me à garrulice alvoroçada
dos bandos de garotos e garotas!
Sentir de novo as arrepiantes gotas
no rosto, os pés metidos na enxurrada,
o espírito zanzando, sem mais nada,
sem mais me preocuparem coisas doutas...
Não posso trabalhar... Nesta vidraça
que o meu suspiro de saudade embaça,
escorrem cristalizações de sonho...
Ah, Fausto, eu te compreendo! Se o demônio
surgisse agora, eu tinha a alma danada
em troca de zanzar pela enxurrada!
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Fonte:http://paginas.terra.com.br/arte/PopBox/sonetario/wanke.htm
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