domingo, 22 de junho de 2008

Música e literatura unidas pela mesma causa (Entrevista com Thedy Correa)

Nos mais de 20 anos de carreira, 12 CDs foram lançados e cerca de 150 músicas foram compostas pelos porto-alegrenses do Nenhum de Nós. A sintonia no palco continua a mesma de 1986, quando os caras se reuniram pra montar a banda.

Convidado especial do evento Arte e Som, realizado na semana passada pelos acadêmicos de Relações Públicas da UCS, o vocalista Thedy Corrêa esteve em Caxias pra conversar com os alunos de comunicação e falar de algumas experiências vivenciadas durantes todos esses anos no mundo musical.

Antes de subir ao palco do UCS Teatro, Thedy bateu um papo descontraído com o Kzuka. Sentado ao lado do exemplar de Bruto, seu livro lançado em 2006, o músico contou sobre a transição de leitor pra escritor e de como os universos da música e da literatura se encontram.

Confira abaixo alguns trechos da conversa:

Kzuka - Tu começaste com a música há muito tempo e agora está transitando no universo da literatura. Tu achas que essas duas artes se encontram e tem a ver uma com a outra?

Thedy - Eu comecei primeiro na música. Já lancei mais de 10 discos, e esse tá sendo meu primeiro livro. Mas a literatura começou na minha vida antes da música. Eu sempre fui um leitor ávido. E sempre usei muito a literatura como instrumento pra tocar minha vida adiante. Tem livros que foram determinantes pra eu ser o que sou e pensar da forma que penso. Então, daí pra frente, sempre pensei que um dia eu poderia fazer um livro. E o Bruto foi o primeiro de uma série que eu espero que sejam muitos.

Kzuka - Tu lembras quais são os livros que mais te marcaram nessa tua formação?

Thedy - Eu lembro do On The Road (Pé na Estrada) do Jack Keroauc. Esse foi um livro que “abriu minha cabeça”, realmente. Eu nunca esqueci o primeiro livro que li, As Aventuras de Tibicuera, do Erico Verissimo. E outro livro importante pra mim foi Pergunte ao Pó, do John Fante. Tem outros, claro. Morangos Mofados, do Caio Fernando Abreu, por exemplo. A lista é grande.

Kzuka - Como foi dar esse salto de leitor pra escritor?

Thedy - Eu sempre escrevi bastante pro Nenhum de Nós. E muito disso vai sendo guardado e chega uma hora que tu pensa “pô, vai deixar guardado pra sempre? Ou vai fazer alguma coisa com isso?”. Resolvi pegar essas coisa que eu tinha guardado e transformar em um livro. Foi um processo natural. São poemas que seriam cantados e agora vão ser lidos. De repente até podem ser transformados em letras de música.

Kzuka - Então, é um universo parecido entre a música e a literatura, não?

Thedy - Gostaria que fosse mais parecido. Queria que as pessoas que gostam e ouvem música lessem também. No Brasil isso é complicado, né. O público de literatura não é muito forte. Eu acho que quem lê gosta de música, mas nem todo mundo que gosta de música, gosta de ler.

Kzuka - Tanto a música quanto a literatura tem a ver com comunicação. Tu te comunicas utilizando essas artes?

Thedy - Eu acho que sim. É uma ferramenta que uso pra me comunicar. Um instrumento que uso pra ajudar as outras pessoas a se comunicar. Acho que a música tem essa capacidade. Por isso que acho tão importante o papel de um músico e de uma banda.

Kzuka - A música influencia as pessoas...

Thedy - Eu tenho certeza que isso acontece. O que escrevemos é ouvido por muitas pessoas que assimilam tudo. Aliás, essa é a idéia. A música passa a fazer sentido pras pessoas de uma maneira que elas colocam em prática na vida. Não tenho dúvida de que a música é um instrumento de comunicação.

Kzuka - E qual a música do Nenhum de Nós que ainda te arrepia, faz tu obteres uma comunicação contigo mesmo?

Thedy - Você Vai Lembrar de Mim, é uma das campeãs da história do Nenhum. Foi uma música que passou por um momento de inspiração. Imaginei uma situação que acontece com algumas pessoas e a partir disso escrevi a letra. Eu achava que a música nem iria ter o sucesso que teve. Compus e quando fomos lançar um dos discos eu nem tinha mostrado ainda pra banda e depois apresentei ela: "olha, tenho uma música aqui, não sei se vocês vão gostar". Aí toquei ela pros guris e eles falaram: "tu tá louco? Essa música já está incluída no disco”.

Kzuka -Vocês estão há muitos anos na estrada, sempre com a mesma formação e sintonia, né. Qual o segredo?

Thedy - Eu costumo dizer que isso é a fé no que a gente faz. Acreditamos que estamos produzindo boa música. E cada vez que subimos no palco temos a energia renovada. Se a gente fizesse como se fosse um trabalho qualquer não existiria motivação pra continuar. Música tem que ter um componente emotivo pra ser transmitido no palco.

Kzuka - Qual o maior amadurecimento da banda ao longo de todos esses anos?

Thedy - Acho que é musical e pessoal. Nosso amadurecimento como artista é muito grande. Estamos cantando melhor, compondo melhor.

Kzuka - Daqui pra frente, o que esperar do Nenhum de Nós?

Thedy - A idéia é continuar escrevendo boas canções.

Fontes:
artigo de Marcelo Andrighetti. Publicado em Caxias 06/04/2008
http://www.clicrbs.com.br/kzuka/jsp/home.jsp?secao=detalhe&localizador=Kzuka/kzuka/Caxias%20do%20Sul/Kzuka+vai+Fundo/12771§ion=Reportagens
Foto: Daniela Xu
Montagem da foto: José Feldman

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