Entrou em casa, resolvera verificar pessoalmente. Uma vontade de desmascarar as fuxiqueiras do bairro. “Desocupadas! Mal-amadas! Sim, mal-amadas!”
Abriu a porta da frente, e correu os olhos pela sala. Tudo no seu lugar: a poltrona recém-comprada, em doze prestações; a cristaleira ainda do casamento, presente da madrinha Maria das Neves; o tapete ao centro, e o televisor, onde ela assistia aos amores das oito. “Uma romântica!”
Mais alguns passos, o corredor que levava aos quartos. Apenas o silêncio. Àquela hora, sabia-a na casa da mãe. Todas as manhãs, pontualmente, às nove, lá estava. Muitas vezes ficava para o almoço. Odiava a solidão, dizia-lhe.
Quando abriu a porta do quarto de casal, um aperto no coração. A cama bem arrumada, os lençóis vermelhos, e o bicho de pelúcia junto aos travesseiros. “Uma romântica!”
Sentou-se no banquinho junto ao espelho, deu por uns olhos fundos a espiá-lo. “Sou eu!?...” A cabeça tomada pelos comentários da rua. “Abra o olho, seu Domingos! Abra o olho, homem!...”
Deitou-se na cama. De repente, as lágrimas, num choro convulso, enorme. Ao cheirar-lhe o baby-doll, o desabafo, em desespero:
– Uma safada! Uma safada!...
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Sobre o Autor
Antonio Clauder Alves Arcanjo (Clauder Arcanjo) é cronista semanal, resenhista literário – sob o heterônimo Carlos Meireles – e colaborador de sites, revistas e jornais de várias partes do País.
Fonte:
Literatura - Revista do Escritor Brasileiro n° 35 - Ano XVII, setembro de 2008
http://literaturarevistadoescritor.blogspot.com/
Abriu a porta da frente, e correu os olhos pela sala. Tudo no seu lugar: a poltrona recém-comprada, em doze prestações; a cristaleira ainda do casamento, presente da madrinha Maria das Neves; o tapete ao centro, e o televisor, onde ela assistia aos amores das oito. “Uma romântica!”
Mais alguns passos, o corredor que levava aos quartos. Apenas o silêncio. Àquela hora, sabia-a na casa da mãe. Todas as manhãs, pontualmente, às nove, lá estava. Muitas vezes ficava para o almoço. Odiava a solidão, dizia-lhe.
Quando abriu a porta do quarto de casal, um aperto no coração. A cama bem arrumada, os lençóis vermelhos, e o bicho de pelúcia junto aos travesseiros. “Uma romântica!”
Sentou-se no banquinho junto ao espelho, deu por uns olhos fundos a espiá-lo. “Sou eu!?...” A cabeça tomada pelos comentários da rua. “Abra o olho, seu Domingos! Abra o olho, homem!...”
Deitou-se na cama. De repente, as lágrimas, num choro convulso, enorme. Ao cheirar-lhe o baby-doll, o desabafo, em desespero:
– Uma safada! Uma safada!...
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Sobre o Autor
Antonio Clauder Alves Arcanjo (Clauder Arcanjo) é cronista semanal, resenhista literário – sob o heterônimo Carlos Meireles – e colaborador de sites, revistas e jornais de várias partes do País.
Fonte:
Literatura - Revista do Escritor Brasileiro n° 35 - Ano XVII, setembro de 2008
http://literaturarevistadoescritor.blogspot.com/
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