quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Carlos de Oliveira (1921 – 1981)


Carlos Alberto Serras de Oliveira (Belém do Pará, 10 de Agosto de 1921 — Lisboa, 1 de Julho de 1981) .

Em Belém do Pará se encontravam seus pais, portugueses cumprindo o fado (curto) da emigração. Longe da tranquilidade que só uma adaptação conseguida transporta, regressam a Portugal em 1923, fixando-se primeiro na Camarneira, onde vivia um seu avô, e quatro anos mais tarde em Febres para onde o pai, o saudoso Dr. Américo de Oliveira, virá exercer medicina depois de ter sido designado médico municipal. Aqui, Carlos frequenta a Escola Primária, onde foi discípulo da Professora Maria dos Prazeres Barbosa Baptista.

É pois aqui, em plena Gândara, que o "Carlitos", como era conhecido, passará a infância e a juventude, mantendo sempre ao longo da sua vida e na sua obra uma forte ligação a esta região.

"Meu pai era médico de aldeia, uma aldeia pobríssima: Nossa Senhora das Febres. Lagoas pantanosas, desolação, calcário, areia. Cresci cercado pela grande pobreza dos camponeses, por uma mortalidade infantil enorme, uma emigração espantosa. Natural portanto que tudo isso me tenha tocado (melhor, tatuado). O lado social e o outro, porque há outro também, das minhas narrativas ou poemas publicados (...) nasceu desse ambiente quase lunar habitado por homens(...)[O Aprendiz de Feiticeiro, p. 204].“Trago a janela de muito longe, da casa de meu avô”(idem, p. 173).

Durante dois anos (1931-33) frequenta o ensino secundário em Cantanhede, vila que inspirará a "Corgos" dos seus romances. Vai depois para Coimbra (1933), onde frequenta o Liceu D. João III, cidade onde permanecerá até 1948. Aí estuda e acabará por formar-se em Histórico-Filosóficas. Convive com grandes figuras da Cultura Portuguesa, consagrados já uns, outros, como ele, sedentos de conhecer: Afonso Duarte, João José Cochofel, Joaquim Namorado, Fernando Namora são alguns íntimos seus.

Durante este "período coimbrão" da sua vida publica o seu primeiro livro de poemas, Turismo (1942), com ilustrações de Fernando Namora. Publica depois o seu primeiro romance, Casa na Duna (1943) logo seguido de Alcateia (1944), livro que virá a ser apreendido pela PIDE, a polícia política de Salazar.

Visita Febres nas férias, sempre que pode, fazendo-se acompanhar, por vezes, de Fernando Namora com quem jogava a malha no Largo em convívio com populares.

Em 1945 publica um novo livro de poesias, Mãe Pobre. Os anos 1945 e seguintes serão, para Carlos de Oliveira, bem profícuos quanto à integração e afirmação no grupo que veicula e auspera por um “novo humanismo”, com a participação nas revistas Seara Nova e Vértice e a colaboração no livro de Fernando Lopes Graça Marchas, Danças e Canções – coletânea de poesias de vários poetas, musicadas por aquele, canções que vieram a ser conhecidas por “heróicas”.

Termina em 1947 a sua Licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, e no ano seguinte instala-se definitivamente em Lisboa, não deixando, contudo, de se deslocar periodicamente a Coimbra e à Gândara.

Um ano mais tarde casa com Ângela, uma jovem madeirense que conhecera em Coimbra enquanto estudante e que será a sua companheira de todas as horas. A ela dedica o escritor alguns dos seus livros (o romance Finisterra), poemas como "Carta a Ângela" e "Ilha" de Terra de Harmonia e ainda alguns excertos, como é o caso do seguinte em que surge referida anagramaticamente como Gelnaa:

"Ainda jovem quando a conheci, os olhos mais claros do que hoje (a vida escureceu-lhos bastante), o cabelo solto num halo de bruma e brisa, que faz pensar nos amanheceres da sua ilha (...)"(O Aprendiz de Feiticeiro)

Em 1953 publica Uma Abelha na Chuva, o seu quarto romance e, unanimemente reconhecido como uma das mais importantes obras da literatura portuguesa, estando integrado nos conteúdos programáticos da disciplina de português no ensino secundário.

Em 1957 organiza, com José Gomes Ferreira, numa abordagem do imaginário popular os dois volumes de Contos Tradicionais Portugueses, alguns deles posteriormente adaptados ao cinema por João César Monteiro.

Em 1968 publica dois novos livros de poesia, Sobre o Lado Esquerdo e Micropaisagem e colabora com Fernando Lopes no filme por este realizado e terminado em 1971, Uma Abelha na Chuva, a partir da obra homônima. Publica em 1971 O Aprendiz de Feiticeiro, coletânea de crônicas e artigos, e Entre Duas Memórias, livro de poemas, pelo qual lhe é atribuído no ano seguinte o Prêmio de Imprensa. Em 1976 reúne toda a sua poesia em Trabalho Poético, dois volumes, apresentando os livros anteriores, revistos, e os poemas inéditos de Pastoral, livro que será publicado autonomamente no ano seguinte. Publica em 1978 o seu último romance Finisterra, paisagem povoada de inspiração gandaresa, obra que lhe proporciona a atribuição do Prêmio Cidade de Lisboa, no ano seguinte.

Morre na sua casa em Lisboa a 1 de Julho de 1981.
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É um dos grandes poetas deste século, combinando a preocupação de intervenção social (neo-realismo) com a reflexão sobre a escrita no próprio processo da sua produção, o que cnfere à sua obra grande densidade e agudeza nos efeitos diversificados da sua leitura (Mãe Pobre, 1945, Entre Duas Memórias, 1971).

O mesmo se pode dizer em relação aos seus romances, nos quais se detecta uma evolução da problemática neo-realista mais pura (Casa na Duna, 1943) até à sua elaboração através da sobriedade do sentimento e do protesto (Uma Abelha na Chuva, 1953), culminando na complexidade de Finisterra (1978), composto a partir de mecanismos de repetição ficcional e de decalque temático e descritivo, que emerge na fronteira da oscilação da modernidade na nossa história literária.

Poesia
* Turismo (1942);
* Mãe Pobre (1945);
* Colheita Perdida (1948);
* Descida aos Infernos (1949);
* Terra de Harmonia (1950);
* Cantata (1960);
* Micropaisagem (1968, 1969);
* Sobre o Lado Esquerdo, o Lado do Coração (1968, 1969);
* Entre Duas Memórias (1971);
* Pastoral (1977).

Romance
* Casa na Duna (1943; 2000);
* Alcateia (1944; 1945);
* Pequenos Burgueses (1948; 2000);
* Uma Abelha na Chuva (1953; 2003);
* Finisterra: paisagem e povoamento (1978; 2003).

Crônicas
* O Aprendiz de Feiticeiro (1971, 1979).

Antologia
* Poesias (1945-1960) (1962);
* Trabalho Poético (1976; 2003).

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/
http://cvc.instituto-camoes.pt/literatura/carlosoliveira.htm
http://www.cm-cantanhede.pt/biblioteca/personagens_co.asp

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