Este DICIONÁRIO DE FOLCLORE PARA ESTUDANTES foi uma idéia da professora Rúbia Lóssio, estagiária na Coordenadoria de Estudos Folclóricos, do Instituto de Pesquisas Sociais, da Fundação Joaquim Nabuco.
A professora Rúbia Lóssio, no exercício de sua profissão, sempre constatou a existência de dificuldades, da parte de seus alunos, que não dispunham de um dicionário de folclore, que usasse uma linguagem mais acessível, e no qual as manifestações folclóricas fossem verbeteadas com simplicidade e clareza.
Achei a idéia interessante e, de parceria, começamos a elaborar este dicionário, procurando não confundir o aluno com teorias, divergências de pontos de vista entre os autores, procurando sempre descomplicar os assuntos, omitindo a paternidade autoral, sem confundir, procurando eliminar dúvidas.
Trabalho feito a quatro mãos, este dicionário, gerado na Fundação Joaquim Nabuco, como não poderia deixar de acontecer, terá seus possíveis desacertos, que serão corrigidos nas próximas edições, quando apontados pelos estudiosos no assunto.
Como todo mundo sabe, não existe nada completo, nada perfeito e, assim sendo, este dicionário não poderia ser a exceção de uma regra universal.
Assim, esperamos nós, seus autores, que este DICIONÁRIO DE FOLCLORE PARA ESTUDANTES tenha o mérito de ser pioneiro na sua especialidade e que seja compreendido o nosso esforço, esforço este que consumiu bastante tempo, com a finalidade de ser preenchida uma lacuna e de havermos feito um trabalho à altura da necessidade existente.
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ABC. São quadras ou sextilhas que começam com cada uma das letras do alfabeto. Os ABCs são muito antigos no mundo todo. Usados na literatura popular em versos, também conhecida como literatura de cordel (veja LITERATURA DE CORDEL), os ABCs contam a vida de heróis populares, estórias de cangaceiros valentes, de santos, de estadistas famosos.
ABACAXI. É uma fruta muito saborosa e seu nome também é dado às pessoas que não sabem dançar e pisam os pés do parceiro. É como também se nomeiam os problemas de difícil solução.
ABAFA-BANANA. Quando as bananas estão ficando amarelas são colhidas, amontoadas e cobertas com as folhas secas da bananeira, para que fiquem bem madurinhas. Essa é a razão pela qual abafa-banana é o nome que se dá às roupas masculinas (os ternos) feitas de tecidos grossos, quentes, pesados como a casemira, impróprios para nosso clima tropical, mas que eram usados nas décadas de 30 a 50, aqui, no Nordeste.
ABAFO. É o frevo-de-rua, conhecido por frevo-de-encontro, no qual os trombones predominam. É chamado de abafo porque abafa o som da orquestra de outro clube de frevo que se encontre nas imediações.
ABOIO. É um canto triste, geralmente com poucas e alguns até sem palavras, entoado pelos vaqueiros quando conduzem a boiada. Alguns vaqueiros, entretanto, improvisam versos como no aboio cantado: "- Ei, boi!./ Ei, vaca malhadinha!..."
ABRE-ALAS. 1. É o carro alegórico que simboliza a escola de samba e, no desfile, vem em seguida à Comissão-de-Frente; 2. O Abre-Alas, de Chiquinha Gonzaga, foi a primeira canção do carnaval carioca (1899).
ABRIDEIRA. É o começo de tudo: a primeira dança, o primeiro copo de bebida, o primeiro prato do almoço ou do jantar. E saideira é o último copo, a última rodada, quando a reunião vai terminar.
ABUSÃO. É a superstição que o povo tem de fazer ou não alguma coisa. Por exemplo: a) deixar o chinelo emborcado, a mãe pode morrer; b) passar por baixo de uma escada não é bom, podem acontecer desgraças na vida da pessoa; c) abrir-a-boca (bocejar) e não fazer o sinal da cruz, o diabo pode entrar.
ACADEMIA. 1. É um jogo ginástico infantil, muito antigo, no qual a criança pula com um pé só, para apanhar a pedrinha que jogou do primeiro até o último quadrado. Em outras partes do país o jogo também é conhecido como amarelinha, cademia. 2. Nome que se dá ao coro masculino de uma escola de samba.
ACALANTOS. Os acalantos são cantados pelas mães do mundo todo para adormecer seus filhos: 1. "Boi, boi, boi/Boi da cara preta/Vem pegar este menino/Que tem medo de careta"; 2. "Xô, xô, pavão/Sai de cima do telhado/Deixe meu filho dormir/Seu soninho sossegado"; 3. "Nanai, meu menino/Nanai meu amor/A faca que corta/Dá talho sem dor". O mesmo que cantiga-de-ninar, berceuse, cantiga-pra-botar-menino-pra-dormir.
ACARAJÉ. É um bolo de feijão–fradinho com molho de pimenta-malagueta, cebola, camarão. Muito vendido em tabuleiros e barracas de Salvador, é considerado um prato da culinária baiana.
ADÁGIO. O adágio é uma das fórmulas clássicas da sabedoria popular. Tem forma rítmica, com sete sílabas. Os brasileiros não fazem diferença entre adágio, anexim, rifão, máxima, ditado, dito, e não obedecem ao número de sílabas. Exemplos: Pimenta nos olhos dos outros é refresco, Filho de burro um dia dá coice, Pé de galinha não mata pinto, Quem anda na garupa não pega as rédeas, Sombra de pau não mata cobra, Mulher de janela, nem costura nem panela.
ADIVINHAÇÃO. A adivinhação é universal. Pode ser em prosa, como: "O que é, o que é? Cai em pé e morre deitado? (chuva)"; "O que é, o que é? Tem quatro pés, mas não anda? (mesa)"; "O que é, o que é? Nasce grande e morre pequeno? (vela, lápis)"; "O que é, o que é? De dia está no céu (da boca) e de noite está na água (no copo)? (dentadura)". A adivinhação pode ser em verso, como a do vinho e do vinagre: "Somos iguais no nome,/ Desiguais no parecer;/ Meu irmão não vai à missa,/ E eu não posso perder,/ Entre bailes e partidas,/ Todas lá me encomendarão;/ Nos trabalhos de cozinha/ Isso é lá com meu irmão".
ADIVINHANDO–CHUVA. Quando um menino está trelando muito, ou um adulto apronta alguma arte, diz-se que estão adivinhando chuva.
ADUFE. É um pandeiro quadrado, oco, feito de madeira leve, coberto com dois pergaminhos delgados, tocado com todos os dedos, menos o polegar que serve para sustentá-lo.
AFOXÉ. Cordão carnavalesco de negros na Bahia, trajando roupas principescas de fazendas brilhantes, entoando canções de candomblé na língua nagô ou ioruba.
AGOGÔ. É um instrumento musical de origem africana, usado nos candomblés. É uma dupla campânula de ferro na qual se bate com uma varinha de metal, cada campânula produzindo um som diferente. Também é usado nas orquestras de carnaval, principalmente quando estão tocando o maracatu pernambucano.
AGOURO. Veja ABUSÃO
AGOSTO. É o oitavo mês do ano. No mundo todo agosto é conhecido como o mês da desgraça, da infelicidade, quando coisas horríveis acontecem com as pessoas. Não é bom casar, viajar, fazer negócios, mudar de casa, durante o mês de agosto, porque nada dá certo.
AGUARDENTE. Bebida de alto teor alcoólico, obtida pela destilação de frutos, cereais, raízes, sementes, etc. A mais conhecida é a aguardente feita de cana-de-açúcar.
AIPIM. É o nome que se dá à macaxeira, mandioca doce. No Nordeste, o aipim é mais conhecido como macaxeira. Os índios faziam vinho de aipim, muito bom para o fígado, servido nas festas dos indígenas brasileiros. No Nordeste, quando um homem conduz uma mulher e consente que ela caminhe pela extremidade da calçada, é chamado de macaxeira. A mulher deve ficar sempre à direita de quem vem e à esquerda de quem vai.
AJUDAR-A-MORRER. No sertão nordestino quando alguém está sofrendo muito, custando a morrer, sua família chama o ajudador, uma pessoa que, conforme o nome está dizendo, ajuda o doente a morrer mais depressa, cantando incelença, rezando. Veja INCELENÇA.
ALAMOA. A alamoa aparece na Ilha de Fernando de Noronha. É uma mulher de cor branca, de longos cabelos louros, nua, para tentar os pescadores. Os homens vêem a alamoa, ficam apaixonados por sua beleza e, de repente, ela se transforma num esqueleto horrível, perseguindo quem foge dela. A alamoa mora no Pico, uma elevação rochosa situada no Arquipélago. Toda sexta-feira a Pedra do Pico se abre e, na chamada ponta do Pico, aparece uma luz que atrai as mariposas e os homens que se encontram nas imediações.
ALCEU MAYNARD ARAÚJO nasceu no dia 21 de dezembro de 1913, na cidade de Piracicaba, SP. Formou-se professor em 1930 e veio para São Paulo, ingressando no Curso Colegial e Científico do Colégio Ipiranga. Em 1944 bacharelou-se na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, depois do que exerceu diversas funções e pertenceu a diversas entidades. Na área do Folclore publicou: Cururu (1948), Danças e ritos populares de Taubaté (1948), Folia de Reis de Cunha (1949), Rondas infantis de Cananéia (1952), Literatura de cordel (1955), Ciclo agrícola, calendário religioso e magias ligadas às plantações (1957), Poranduba paulista (1958), Folclore do mar (1958), Medicina rústica (1961), Novo dicionário brasileiro – verbetes de folclore (1962), Folclore nacional (1964), Pentateuco nordestino (1971), além de muitos ensaios e artigos na imprensa brasileira e revistas especializadas. Já é falecido.
ALECRIM. É uma planta usada na medicina popular para curar tosse, rouquidão, falta de ar. Combate o mau-olhado.
ALFAZEMA. É uma planta com a qual se faz um perfume tradicional e é usada, também, para que o enxoval dos recém–nascidos fique cheiroso. No quarto da parturiente, a tradição manda queimar alfazema. Também é usada nos banhos de cheiro.
ALFELÔ. É um dos doces dos mais antigos trazidos pelos árabes para a Espanha e Portugal. Os colonizadores portugueses trouxeram o alfelô para o Brasil. É ainda vendido em algumas cidades do Nordeste. É uma pasta de mel em ponto grosso, "puxado" até clarear; depois se fazem colunas finas, embrulhadas em papel colorido. Quando o alfelô é feito com mel de engenho passa a ser chamado de puxa–puxa. É uma delícia.
ALFENIM. É um doce popular, feito de massa de açúcar muito branquinha, em forma de flor, sapato, cachimbo, peixe, etc. Foi trazido pelos árabes para Portugal e Espanha. Os colonizadores portugueses trouxeram o alfenim para o Brasil.
ALFINETE. O alfinete está ligado a muitas superstições, dentre as quais, as seguintes: alfinete apanhado no chão, dá felicidade no dia em que é apanhado; alfinete que foi usado em vestido de noiva deve ter a ponta cortada e ser atirado fora para não ser utilizado por outra pessoa, para não diminuir a felicidade da noiva. Alfinetes também são o dinheirinho que os maridos dão às esposas para as suas pequenas despesas. Dois alfinetes amarrados em cruz, com linha preta, trazem a desgraça para a casa onde forem escondidos. Para acabar com o feitiço é bom, a pessoa que achou, urinar neles.
ALHO. O alho combate a tosse em forma de chá ou lambedor, e a dor de dente quando colocado na cavidade do dente. O cheiro do alho afasta todas as feitiçarias e onde houver alho não haverá bruxaria por perto. Os lobisomens e as mulas sem cabeça fogem do alho como o Diabo da cruz.
ALPARCATA. É uma sandália de couro presa aos pés por meio de uma correia. No Nordeste sertanejo a alparcata geralmente é leve, de couro cru, chamada de alparcata de rabicho. Os frades costumam usar alparcatas que são os sapatos mais baratos. Na linguagem popular essa sandália também é conhecida como alpargata, alpercata, alpregata, pregata, pracata.
ALPARGATA. Veja ALPARCATA
ALPERCATA. Veja. ALPARCATA
ALPREGATA. Veja ALPARCATA
ALTIMAR PIMENTEL nasceu no dia 30 de outubro de 1936, na cidade de Maceió, AL, havendo exercido as seguintes funções: diretor do Teatro Santa Rosa (João Pessoa), diretor do Departamento de Extensão Cultural da Paraíba, coordenador do Núcleo de Pesquisa e Documentação de Cultura Popular da Paraíba, diretor da Rádio Correio da Paraíba, assessor cultural do Instituto Nacional do Livro (Rio de Janeiro), assessor cultural da Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários da UFPB (1977-1979), assessor administrativo da Câmara dos Deputados (Brasília, 1980), membro do Conselho Estadual de Cultural da Paraíba (1963), secretário do Conselho Consultivo de Alto Nível do Instituto Nacional do Livro (Rio de Janeiro, 1969), redator da Coordenação do Ministério da Agricultura (Brasília, 1974), assessor de imprensa do Ministério da Agricultura (Brasília, 1975), assessor de divulgação de Imprensa e relações públicas da Câmara dos Deputados (Brasília, 1975), do jornal Correio Braziliense (Brasília, 1976), da Agência de Notícias dos Diários Associados (Brasília, 1976), do Jornal e da Rádio Correio da Paraíba (João Pessoa, 1970/76). Publicou, na área do Folclore, O coco praieiro (1968), O Diabo e outras entidades míticas no conto popular (1969), O mundo mágico de João Redondo (1971), Estórias da boca da noite (1976), Saruã, lenda de árvores e plantas do Brasil (1977), Barca da Paraíba (1978), Catálogo prévio do conto popular da Paraíba (1982), Estórias de Cabedelo (1990), Estórias de São João do Sabugi (1990), Incantion (Flórida, USA, 1990), Estórias do Diabo (1995), Estórias de Luzia Tereza (1995), Contos populares brasileiros – Paraíba (1996), Contos populares de Brasília (1998), Como nasce um cabra da peste (adaptação teatral do livro de igual título, de Mário Souto Maior, 1997). Autor de várias peças teatrais, Altimar Pimentel também publicou muitos ensaios e artigos na imprensa brasileira.
ALUÁ. É uma bebida de milho ou de abacaxi, depois de fermentados. Usa-se, também, principalmente em Pernambuco, o aluá feito com arroz. No Ceará, o aluá é feito com milho torrado, fermentado com água e rapadura que, em Pernambuco, recebe o nome de quimbembé.
ALVÍSSARAS. Recompensa que se dá à pessoa que traz boas notícias ou que entrega coisas perdidas.
AMADEU AMARAL nasceu no dia 6 de novembro de 1875, em Monte-Mor, SP. Fez o curso primário em Capivari. Com onze anos de idade, em 1888, foi para São Paulo trabalhar como menino de recados na firma Lion & Cia. Sabe-se que freqüentou o curso anexo da Faculdade de Direito, trocando-o pelo de Jornalismo que trazia nas veias como herança de seu pai, João de Arruda Leite Penteado, fundador da Gazeta de Capivari (1885). Foi auto-didata. Começou a trabalhar no Correio Paulistano e, em seguida, em O Estado de São Paulo, foi oficial de gabinete do Chefe de Polícia, trabalhou na Secretaria de Justiça de São Paulo. Em 1922, mudou-se para o Rio de Janeiro, secretariando a Gazeta de Notícias, foi Diretor do Imposto de Renda e, transferido para Belo Horizonte ou Porto Alegre, resolveu pedir demissão. Retornou a São Paulo, nomeado diretor do Ginásio Moura Santos (1927/8). Foi membro da Academia Brasileira de Letras, na vaga de Olavo Bilac (1919) e da Academia Paulistana de Letras. Jornalista, poeta, novelista, conferencista, folclorista, Amadeu Amaral publicou vários livros. Na área de Folclore, são de sua autoria, O dialeto caipira (1920), A poesia da viola (1921) e Tradições populares (obra póstuma, 1948). Faleceu em São Paulo, no dia 24 de outubro de 1929.
AMARELINHA. Veja ACADEMIA.
AMAZONAS. São mulheres indígenas, guerreiras, exímias cavaleiras, sem marido, que amputavam um dos seios para melhor empunharem seus arcos e flechas. Foram avistadas, pela primeira vez, em 24 de junho de 1541, por Frei Gaspar de Carvajal, na foz do Rio Jamundá, na Amazônia.
AMENDOIM. Também conhecido por mendobi, mandubi, amendoí, menduí, manobi, midubim, o amendoim, assado ou cozinhado, com sal, é consumido no mundo inteiro também como tira-gosto nos cock-tails. Conta a tradição que o amendoim só deve ser plantado por mulheres. Plantado por homem, ele não nasce.
AMIGA. É um prato feito com o caldo do feijão, engrossado com farinha, temperado com pimenta, cebola, a gosto da pessoa. Também tem o nome de remate e, no Recife, é conhecido como apito.
AMULETO. É toda medalha, inscrição, bentinho, venera, figa, figura ou qualquer objeto que se traz pendurado no pescoço ou na roupa, com um broche, para prevenir as doenças, curá-las, destruir os malefícios e desviar as calamidades. É usado por todos os povos desde o começo do mundo.
ANDAR. Tem menino que custa a andar. Para que ele comece a andar é bom fazê-lo caminhar em volta de sua casa nas três primeiras sextas-feiras durante três meses seguidos. Ou segura-se a criança pelas mãos, dizendo-se, três vezes: - "Vamos para a missa, menino!"
ANEL. Feito de metal, de madeira, de osso, de plástico ou de vidro, o anel é usado há séculos como adorno ou com um significado especial por todos os povos. A aliança é usada pelos noivos no dedo anular da mão direita e, pelos casados, no da mão esquerda. As viúvas passam a usar as duas alianças no mesmo dedo. Na linguagem infantil, os dedos têm outros nomes: o polegar é o cata-piolho, o indicador é o fura-bolo, o médio é o maior de todos, o anular é o senhor vizinho, o mínimo é o mindinho. Os meninos costumam brincar de anel. Faz-se uma roda de meninos e meninas e um deles, com um anel entre as mãos, vai passando pelas mãos dos outros e, entre as mãos da pessoa de sua preferência, namorado ou namorada quase sempre, deixa o anel. Depois um deles é argüido: "- Onde é que está o anel?". Se o indagado disser com quem está o anel, ele continuará a brincadeira, passando o anel. Se errar, sai da brincadeira, leva um bolo ou outro castigo.
ANEXIM. Veja ADÁGIO.
ANGU. É uma papa mole de fubá de milho ou de farinha de mandioca, feita com água e sal, ou com leite, ou caldo de peixe, de carne ou de camarão para se comer com guisado ou carne assada. Também se faz o angu, no Nordeste, de outra maneira: somente à base de milho, do xerém (angu doce, na ceia, e salgado, para ser comido com carne).
ANJINHOS. São anéis de ferro, com parafusos, presos a uma tábua, para apertar os polegares dos criminosos e fazê-los confessar seus crimes. Também foram usados no tempo da escravidão.
ANJO. Diz-se das criancinhas quando morrem. Como não chegaram a pecar, vão para o céu e são anjos.
ANJO DA GUARDA. É o anjo que Deus dá a cada pessoa quando nasce, para protegê-la, defendê-la, mostrando sempre o caminho do bem. Antes de dormirem, as mães costumam rezar, com seus filhos, a oração do anjo da guarda: "Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, que a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, guarde e governe e ilumine. Amém". Ou "Amigo bom, Anjo de Deus, vinde guiar os passos meus. Fazei-me uma boa criança".
ANO-NOVO. Celebrado com muita festa, muita comida, muita bebida e dança, a festa do Ano-Novo é comemorada no primeiro dia do ano que começa, representado por uma criança recém-nascida, enquanto que o ano velho, o que passou, é representado por um velho de longas barbas e de andar trôpego, apoiado num bastão. O povo criou uma série enorme de crendices e superstições ligadas à entrada do Ano-Novo. No primeiro minuto do Ano- Novo, a pessoa deve estar com uma cédula de maior valor na mão direita ou no sapato do pé direito para dar o primeiro passo para ser feliz e nunca lhe faltar dinheiro. Deve estar vestida de branco (influência dos cultos afro-brasileiros) ou de amarelo, que é a cor do ouro. Rompido o Ano-Novo, a pessoa deve dar o primeiro passo com o pé direito. Também é bom fazer o seguinte: 1. Comer sete caroços de romã e guardar as sementes na carteira para garantir um ano sem aperto; 2. Usar roupas novas, inclusive as íntimas; 3. Comer carne de porco, porque o porco fuça para frente, evitando carne de peru, que cisca para trás; 4. Guardar a rolha da garrafa de champanhe num lugar que ninguém possa descobrir; 5. Trocar toda a roupa da cama; 6. Fazer muito barulho, gritar, quando romper o ano, que é para afugentar os maus espíritos; 7. Jogar moedas da calçada para dentro de casa, para atrair dinheiro; 8. Livrar-se de tudo quanto for velho, quebrado, imprestável; 9. Acender todas as luzes da casa para receber um Ano-Novo cheio de luz e de alegria.
ANTÔNIO, Santo. Fernando de Bulhões nasceu em Lisboa, Portugal, no dia 15 de agosto de 1195. Ingressou na Ordem de São Francisco em 1220 e, como frade, recebeu o nome de Antônio. Faleceu no dia 13 de junho de 1231, em Arcela, perto de Pádua, na Itália. É um dos santos mais populares não somente em Portugal como também no Brasil. É considerado como santo casamenteiro. Quando as moças não encontram rapazes para casar fazem promessas a Santo Antônio e muitas delas conseguem um marido. Santo Antônio também ajuda a encontrar as coisas perdidas. Os escravos africanos pintaram de preto uma imagem de Santo Antônio que passou a ser conhecido como Santo Antônio dos Pretos.
ANTÔNIO SILVINO. Era este o nome de guerra de Manuel Batista de Moraes, nascido em Afogados da Ingazeira, PE, em 1875. Como o assassino de seu pai não foi preso, Antônio Silvino procurou fazer justiça com as próprias mãos, à sua maneira. Durante quatorze anos foi o governador do Sertão. Era um cangaceiro que respeitava as mulheres, distribuía dinheiro, tomado dos ricos (as moedas), com os pobres. Vivia sempre perseguido pelas forças policiais de vários estados do Nordeste. Foi ferido em combate em Taquaritinga, PE, no dia 28 de novembro de 1914 e preso. Depois de cumprir quase toda a pena a que fora condenado, Antônio Silvino morreu em Campina Grande, PB, em agosto de 1944. Muitos folhetos de feira foram escritos pelos poetas populares sobre sua valentia, seus combates, sua vida.
APARTAÇÃO. No sertão, o gado é criado solto. As vacas e os bois são ferrados com a marca do dono. E, depois do inverno, o gado é reunido pelos vaqueiros das fazendas para ser entregue aos seus donos. É a apartação, uma das melhores festas do sertão, com muita comida, baile, reunindo vaqueiros e fazendeiros. Acontece, então, a vaquejada. Veja VAQUEJADA.
APITO. É um pequeno instrumento de sopro, usado pelo regente de uma orquestra, para avisar o início do toque de um frevo e, também, pelo mestre da bateria das escolas de samba. Veja AMIGA.
ARANHA. Diz o povo que quando Nossa Senhora, com São José e o Menino Jesus iam fugindo para o Egito, perseguidos pelos soldados de Herodes, esconderam-se em uma gruta e uma aranha teceu uma teia na entrada e os soldados não acharam os fugitivos, razão pela qual Nosso Senhor abençoou a aranha e sua teia. Não é bom desmanchar uma teia de aranha porque ela traz felicidade. Botando uma aranha num saquinho de pano e pendurando esse saquinho no pescoço de uma pessoa que sofra de algum mal na garganta, essa pessoa ficará curada.
ARARA. É uma dança engraçada. Todos os pares estão dançando, menos um rapaz que, em determinado momento, grita: Arara! Todos os rapazes trocam suas damas e quem ficar sem dama para dançar é o novo arara.
ARCO-ÍRIS. Também conhecido como arco, arco celeste, arco-da-chuva, olho de boi, arco-da-velha, o arco-íris não é muito amigo dos agricultores porque ele bebe a água dos rios, dos açudes, das lagoas. Para acabar com o arco-íris costumam fazer filas de pedrinhas, de gravetos, pauzinhos e ele vai embora porque não gosta de linhas retas.
ARENGA-DE-MULHER. Diz-se, no Nordeste, da chuva fraca, fina, insistente, que não pára.
ARGUEIRO. Para retirar um argueiro do olho nada como esfregar a pálpebra e dizer: "Vai-te argueiro, pro olho do companheiro"! Ou então botar uma semente de alfavaca na pálpebra e esfregá-la.
ARIANO SUASSUNA nasceu no dia 16 de junho de 1927, na cidade de João Pessoa, PB. Fez o primário em Taperoá, PB. Concluiu o curso de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife (PE), em 1946. Professor de Estética e Teoria do Teatro na Universidade Federal de Pernambuco, foi poeta e, quando ainda era estudante de Direito, fundou, com Hermilo Borba Filho e outros, o Teatro do Estudante de Pernambuco. Renomado teatrólogo, romancista, foi membro fundador do Conselho Federal de Cultura e, em 1969, Diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco. Levando a literatura popular em verso para suas peças teatrais, Ariano Suassuna, na área de Folclore, publicou A poesia clássica do sertão nordestino (1949), Coletânea da poesia popular nordestina: romances do heróico (1962), Coletânea da poesia popular nordestina: romances do ciclo heróico – conclusão (1964).
ARRASTA-PÉ. Baile popular. O mesmo que bate-chinela, forró.
ARRASTAR-A-MALA. Diz-se de quem deu uma viagem perdida, isto é, de quem foi procurar uma pessoa e não a encontrou, por exemplo.
ARRIBAÇÃ. Também conhecida como ribaçã, rebaçã, avoante, avoete, é uma ave de imigração que aparece no sertão nordestino. A arribação chega no fim do inverno, em bandos, nas caatingas, passando nos lugares onde encontram o capim-milhão, que é a alimentação que prefere. Os caçadores entram em ação e abatem uma quantidade enorme de arribaçãs que são vendidas nas feiras.
ARRUDA. Amuleto contra o mau-olhado. A casa que tiver um pé de arruda plantado no jardim as forças contrárias desaparecem. É uma planta muito usada nas macumbas, nos candomblés, nos catimbós. Na medicina popular a planta funciona como fortificante do sistema nervoso, como sudorífico e também como aperitivo. Suas sementes, secas e queimadas, combatem os insetos.
ASCENSO FERREIRA nasceu em 1895, na cidade de Palmares, PE, onde passou sua infância e adolescência, tendo sua mãe como professora. Aos treze anos foi obrigado a trabalhar na loja de um tio para ajudar no orçamento doméstico. Com alguns amigos fundou, em 1917, a sociedade literária Hora Literária de Palmares, com reuniões dominicais, quando os sócios liam e discutiam suas produções intelectuais. No mesmo ano estreou como poeta, publicando Pro Pace, soneto dedicado a Oliveira Lima, no Jornal do Recife. Participou do movimento modernista (Mário de Andrade foi seu hóspede, certa vez) e colaborou nos jornais e revistas da época, percorrendo os grandes centros literários do país lendo seus famosos poemas. Publicou: Catimbó (1927), Cana Caiana (1939), Xehenhem (1951), 64 poemas e 3 historietas populares (livros e discos) (1958), Catimbó e outros poemas (1939). Na área de Folclore escreveu Maracatu, Presépios e Pastoris, O bumba-meu-boi, na revista Arquivos, da Prefeitura do Recife, 1942-1944. Faleceu em 1965.
ASSOMBRAÇÃO. É o aparecimento de barulhos, de vozes, de correntes arrastadas, de gemidos, de sons misteriosos, de luzes em casas mal-assombradas.
ASSUSTADO. Existente até hoje, o assustado é a maneira de se comemorar o aniversário de uma pessoa amiga, sem que ela saiba. Juntam-se os amigos, compram-se os comes e bebes, contrata-se uma pequena orquestra e, de surpresa, aparecem todos na casa do aniversariante, onde dançam, comem, bebem e conversam até tarde da noite.
ATABAQUES. São tambores feitos com peles de animais, espichadas sobre a abertura de um pau oco e que servem para marcar o ritmo de danças religiosas nos clubes afro-brasileiros e foram trazidos pelos escravos africanos.
ATIRADEIRA. É o mesmo que tiradeira, estilingue, funda, setra, baladeira, badoque ou bodoque. São duas tiras de borracha de câmara de ar de automóvel amarradas nas extremidades de uma pequena forquilha e que vão ser fixadas num pequeno pedaço de couro onde é colocada uma pedrinha. Pegando-as a forquilha com a mão esquerda e, com a mão direita, esticando-se as tiras de borracha, a pedrinha é arremessada até certa distância. A baladeira serve para caçar passarinhos.
AVIÃO. Veja ACADEMIA.
AVOANTE. Veja ARRIBAÇÃ.
AVOETE. Veja ARRIBAÇÃ.
AXÉS. É a mistura do sangue dos animais sacrificados nos cultos afro-brasileiros.
AZIA. Calor de estômago, azedume. Para melhorar é bom dizer três vezes: "Azia, ave-maria".
AZUL e ENCARNADO. São as cores dos dois cordões dos pastoris. Há uma explicação católica sobre a cor dos cordões dos pastoris: o encarnado representa o manto de Jesus Cristo e o azul representa o manto de Nossa Senhora. Veja PASTORIL.
Fonte:
LÓSSIO, Rúbia. Dicionário de Folclore para Estudantes. Ed. Fundação Joaquim Nabuco
A professora Rúbia Lóssio, no exercício de sua profissão, sempre constatou a existência de dificuldades, da parte de seus alunos, que não dispunham de um dicionário de folclore, que usasse uma linguagem mais acessível, e no qual as manifestações folclóricas fossem verbeteadas com simplicidade e clareza.
Achei a idéia interessante e, de parceria, começamos a elaborar este dicionário, procurando não confundir o aluno com teorias, divergências de pontos de vista entre os autores, procurando sempre descomplicar os assuntos, omitindo a paternidade autoral, sem confundir, procurando eliminar dúvidas.
Trabalho feito a quatro mãos, este dicionário, gerado na Fundação Joaquim Nabuco, como não poderia deixar de acontecer, terá seus possíveis desacertos, que serão corrigidos nas próximas edições, quando apontados pelos estudiosos no assunto.
Como todo mundo sabe, não existe nada completo, nada perfeito e, assim sendo, este dicionário não poderia ser a exceção de uma regra universal.
Assim, esperamos nós, seus autores, que este DICIONÁRIO DE FOLCLORE PARA ESTUDANTES tenha o mérito de ser pioneiro na sua especialidade e que seja compreendido o nosso esforço, esforço este que consumiu bastante tempo, com a finalidade de ser preenchida uma lacuna e de havermos feito um trabalho à altura da necessidade existente.
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ABC. São quadras ou sextilhas que começam com cada uma das letras do alfabeto. Os ABCs são muito antigos no mundo todo. Usados na literatura popular em versos, também conhecida como literatura de cordel (veja LITERATURA DE CORDEL), os ABCs contam a vida de heróis populares, estórias de cangaceiros valentes, de santos, de estadistas famosos.
ABACAXI. É uma fruta muito saborosa e seu nome também é dado às pessoas que não sabem dançar e pisam os pés do parceiro. É como também se nomeiam os problemas de difícil solução.
ABAFA-BANANA. Quando as bananas estão ficando amarelas são colhidas, amontoadas e cobertas com as folhas secas da bananeira, para que fiquem bem madurinhas. Essa é a razão pela qual abafa-banana é o nome que se dá às roupas masculinas (os ternos) feitas de tecidos grossos, quentes, pesados como a casemira, impróprios para nosso clima tropical, mas que eram usados nas décadas de 30 a 50, aqui, no Nordeste.
ABAFO. É o frevo-de-rua, conhecido por frevo-de-encontro, no qual os trombones predominam. É chamado de abafo porque abafa o som da orquestra de outro clube de frevo que se encontre nas imediações.
ABOIO. É um canto triste, geralmente com poucas e alguns até sem palavras, entoado pelos vaqueiros quando conduzem a boiada. Alguns vaqueiros, entretanto, improvisam versos como no aboio cantado: "- Ei, boi!./ Ei, vaca malhadinha!..."
ABRE-ALAS. 1. É o carro alegórico que simboliza a escola de samba e, no desfile, vem em seguida à Comissão-de-Frente; 2. O Abre-Alas, de Chiquinha Gonzaga, foi a primeira canção do carnaval carioca (1899).
ABRIDEIRA. É o começo de tudo: a primeira dança, o primeiro copo de bebida, o primeiro prato do almoço ou do jantar. E saideira é o último copo, a última rodada, quando a reunião vai terminar.
ABUSÃO. É a superstição que o povo tem de fazer ou não alguma coisa. Por exemplo: a) deixar o chinelo emborcado, a mãe pode morrer; b) passar por baixo de uma escada não é bom, podem acontecer desgraças na vida da pessoa; c) abrir-a-boca (bocejar) e não fazer o sinal da cruz, o diabo pode entrar.
ACADEMIA. 1. É um jogo ginástico infantil, muito antigo, no qual a criança pula com um pé só, para apanhar a pedrinha que jogou do primeiro até o último quadrado. Em outras partes do país o jogo também é conhecido como amarelinha, cademia. 2. Nome que se dá ao coro masculino de uma escola de samba.
ACALANTOS. Os acalantos são cantados pelas mães do mundo todo para adormecer seus filhos: 1. "Boi, boi, boi/Boi da cara preta/Vem pegar este menino/Que tem medo de careta"; 2. "Xô, xô, pavão/Sai de cima do telhado/Deixe meu filho dormir/Seu soninho sossegado"; 3. "Nanai, meu menino/Nanai meu amor/A faca que corta/Dá talho sem dor". O mesmo que cantiga-de-ninar, berceuse, cantiga-pra-botar-menino-pra-dormir.
ACARAJÉ. É um bolo de feijão–fradinho com molho de pimenta-malagueta, cebola, camarão. Muito vendido em tabuleiros e barracas de Salvador, é considerado um prato da culinária baiana.
ADÁGIO. O adágio é uma das fórmulas clássicas da sabedoria popular. Tem forma rítmica, com sete sílabas. Os brasileiros não fazem diferença entre adágio, anexim, rifão, máxima, ditado, dito, e não obedecem ao número de sílabas. Exemplos: Pimenta nos olhos dos outros é refresco, Filho de burro um dia dá coice, Pé de galinha não mata pinto, Quem anda na garupa não pega as rédeas, Sombra de pau não mata cobra, Mulher de janela, nem costura nem panela.
ADIVINHAÇÃO. A adivinhação é universal. Pode ser em prosa, como: "O que é, o que é? Cai em pé e morre deitado? (chuva)"; "O que é, o que é? Tem quatro pés, mas não anda? (mesa)"; "O que é, o que é? Nasce grande e morre pequeno? (vela, lápis)"; "O que é, o que é? De dia está no céu (da boca) e de noite está na água (no copo)? (dentadura)". A adivinhação pode ser em verso, como a do vinho e do vinagre: "Somos iguais no nome,/ Desiguais no parecer;/ Meu irmão não vai à missa,/ E eu não posso perder,/ Entre bailes e partidas,/ Todas lá me encomendarão;/ Nos trabalhos de cozinha/ Isso é lá com meu irmão".
ADIVINHANDO–CHUVA. Quando um menino está trelando muito, ou um adulto apronta alguma arte, diz-se que estão adivinhando chuva.
ADUFE. É um pandeiro quadrado, oco, feito de madeira leve, coberto com dois pergaminhos delgados, tocado com todos os dedos, menos o polegar que serve para sustentá-lo.
AFOXÉ. Cordão carnavalesco de negros na Bahia, trajando roupas principescas de fazendas brilhantes, entoando canções de candomblé na língua nagô ou ioruba.
AGOGÔ. É um instrumento musical de origem africana, usado nos candomblés. É uma dupla campânula de ferro na qual se bate com uma varinha de metal, cada campânula produzindo um som diferente. Também é usado nas orquestras de carnaval, principalmente quando estão tocando o maracatu pernambucano.
AGOURO. Veja ABUSÃO
AGOSTO. É o oitavo mês do ano. No mundo todo agosto é conhecido como o mês da desgraça, da infelicidade, quando coisas horríveis acontecem com as pessoas. Não é bom casar, viajar, fazer negócios, mudar de casa, durante o mês de agosto, porque nada dá certo.
AGUARDENTE. Bebida de alto teor alcoólico, obtida pela destilação de frutos, cereais, raízes, sementes, etc. A mais conhecida é a aguardente feita de cana-de-açúcar.
AIPIM. É o nome que se dá à macaxeira, mandioca doce. No Nordeste, o aipim é mais conhecido como macaxeira. Os índios faziam vinho de aipim, muito bom para o fígado, servido nas festas dos indígenas brasileiros. No Nordeste, quando um homem conduz uma mulher e consente que ela caminhe pela extremidade da calçada, é chamado de macaxeira. A mulher deve ficar sempre à direita de quem vem e à esquerda de quem vai.
AJUDAR-A-MORRER. No sertão nordestino quando alguém está sofrendo muito, custando a morrer, sua família chama o ajudador, uma pessoa que, conforme o nome está dizendo, ajuda o doente a morrer mais depressa, cantando incelença, rezando. Veja INCELENÇA.
ALAMOA. A alamoa aparece na Ilha de Fernando de Noronha. É uma mulher de cor branca, de longos cabelos louros, nua, para tentar os pescadores. Os homens vêem a alamoa, ficam apaixonados por sua beleza e, de repente, ela se transforma num esqueleto horrível, perseguindo quem foge dela. A alamoa mora no Pico, uma elevação rochosa situada no Arquipélago. Toda sexta-feira a Pedra do Pico se abre e, na chamada ponta do Pico, aparece uma luz que atrai as mariposas e os homens que se encontram nas imediações.
ALCEU MAYNARD ARAÚJO nasceu no dia 21 de dezembro de 1913, na cidade de Piracicaba, SP. Formou-se professor em 1930 e veio para São Paulo, ingressando no Curso Colegial e Científico do Colégio Ipiranga. Em 1944 bacharelou-se na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, depois do que exerceu diversas funções e pertenceu a diversas entidades. Na área do Folclore publicou: Cururu (1948), Danças e ritos populares de Taubaté (1948), Folia de Reis de Cunha (1949), Rondas infantis de Cananéia (1952), Literatura de cordel (1955), Ciclo agrícola, calendário religioso e magias ligadas às plantações (1957), Poranduba paulista (1958), Folclore do mar (1958), Medicina rústica (1961), Novo dicionário brasileiro – verbetes de folclore (1962), Folclore nacional (1964), Pentateuco nordestino (1971), além de muitos ensaios e artigos na imprensa brasileira e revistas especializadas. Já é falecido.
ALECRIM. É uma planta usada na medicina popular para curar tosse, rouquidão, falta de ar. Combate o mau-olhado.
ALFAZEMA. É uma planta com a qual se faz um perfume tradicional e é usada, também, para que o enxoval dos recém–nascidos fique cheiroso. No quarto da parturiente, a tradição manda queimar alfazema. Também é usada nos banhos de cheiro.
ALFELÔ. É um dos doces dos mais antigos trazidos pelos árabes para a Espanha e Portugal. Os colonizadores portugueses trouxeram o alfelô para o Brasil. É ainda vendido em algumas cidades do Nordeste. É uma pasta de mel em ponto grosso, "puxado" até clarear; depois se fazem colunas finas, embrulhadas em papel colorido. Quando o alfelô é feito com mel de engenho passa a ser chamado de puxa–puxa. É uma delícia.
ALFENIM. É um doce popular, feito de massa de açúcar muito branquinha, em forma de flor, sapato, cachimbo, peixe, etc. Foi trazido pelos árabes para Portugal e Espanha. Os colonizadores portugueses trouxeram o alfenim para o Brasil.
ALFINETE. O alfinete está ligado a muitas superstições, dentre as quais, as seguintes: alfinete apanhado no chão, dá felicidade no dia em que é apanhado; alfinete que foi usado em vestido de noiva deve ter a ponta cortada e ser atirado fora para não ser utilizado por outra pessoa, para não diminuir a felicidade da noiva. Alfinetes também são o dinheirinho que os maridos dão às esposas para as suas pequenas despesas. Dois alfinetes amarrados em cruz, com linha preta, trazem a desgraça para a casa onde forem escondidos. Para acabar com o feitiço é bom, a pessoa que achou, urinar neles.
ALHO. O alho combate a tosse em forma de chá ou lambedor, e a dor de dente quando colocado na cavidade do dente. O cheiro do alho afasta todas as feitiçarias e onde houver alho não haverá bruxaria por perto. Os lobisomens e as mulas sem cabeça fogem do alho como o Diabo da cruz.
ALPARCATA. É uma sandália de couro presa aos pés por meio de uma correia. No Nordeste sertanejo a alparcata geralmente é leve, de couro cru, chamada de alparcata de rabicho. Os frades costumam usar alparcatas que são os sapatos mais baratos. Na linguagem popular essa sandália também é conhecida como alpargata, alpercata, alpregata, pregata, pracata.
ALPARGATA. Veja ALPARCATA
ALPERCATA. Veja. ALPARCATA
ALPREGATA. Veja ALPARCATA
ALTIMAR PIMENTEL nasceu no dia 30 de outubro de 1936, na cidade de Maceió, AL, havendo exercido as seguintes funções: diretor do Teatro Santa Rosa (João Pessoa), diretor do Departamento de Extensão Cultural da Paraíba, coordenador do Núcleo de Pesquisa e Documentação de Cultura Popular da Paraíba, diretor da Rádio Correio da Paraíba, assessor cultural do Instituto Nacional do Livro (Rio de Janeiro), assessor cultural da Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários da UFPB (1977-1979), assessor administrativo da Câmara dos Deputados (Brasília, 1980), membro do Conselho Estadual de Cultural da Paraíba (1963), secretário do Conselho Consultivo de Alto Nível do Instituto Nacional do Livro (Rio de Janeiro, 1969), redator da Coordenação do Ministério da Agricultura (Brasília, 1974), assessor de imprensa do Ministério da Agricultura (Brasília, 1975), assessor de divulgação de Imprensa e relações públicas da Câmara dos Deputados (Brasília, 1975), do jornal Correio Braziliense (Brasília, 1976), da Agência de Notícias dos Diários Associados (Brasília, 1976), do Jornal e da Rádio Correio da Paraíba (João Pessoa, 1970/76). Publicou, na área do Folclore, O coco praieiro (1968), O Diabo e outras entidades míticas no conto popular (1969), O mundo mágico de João Redondo (1971), Estórias da boca da noite (1976), Saruã, lenda de árvores e plantas do Brasil (1977), Barca da Paraíba (1978), Catálogo prévio do conto popular da Paraíba (1982), Estórias de Cabedelo (1990), Estórias de São João do Sabugi (1990), Incantion (Flórida, USA, 1990), Estórias do Diabo (1995), Estórias de Luzia Tereza (1995), Contos populares brasileiros – Paraíba (1996), Contos populares de Brasília (1998), Como nasce um cabra da peste (adaptação teatral do livro de igual título, de Mário Souto Maior, 1997). Autor de várias peças teatrais, Altimar Pimentel também publicou muitos ensaios e artigos na imprensa brasileira.
ALUÁ. É uma bebida de milho ou de abacaxi, depois de fermentados. Usa-se, também, principalmente em Pernambuco, o aluá feito com arroz. No Ceará, o aluá é feito com milho torrado, fermentado com água e rapadura que, em Pernambuco, recebe o nome de quimbembé.
ALVÍSSARAS. Recompensa que se dá à pessoa que traz boas notícias ou que entrega coisas perdidas.
AMADEU AMARAL nasceu no dia 6 de novembro de 1875, em Monte-Mor, SP. Fez o curso primário em Capivari. Com onze anos de idade, em 1888, foi para São Paulo trabalhar como menino de recados na firma Lion & Cia. Sabe-se que freqüentou o curso anexo da Faculdade de Direito, trocando-o pelo de Jornalismo que trazia nas veias como herança de seu pai, João de Arruda Leite Penteado, fundador da Gazeta de Capivari (1885). Foi auto-didata. Começou a trabalhar no Correio Paulistano e, em seguida, em O Estado de São Paulo, foi oficial de gabinete do Chefe de Polícia, trabalhou na Secretaria de Justiça de São Paulo. Em 1922, mudou-se para o Rio de Janeiro, secretariando a Gazeta de Notícias, foi Diretor do Imposto de Renda e, transferido para Belo Horizonte ou Porto Alegre, resolveu pedir demissão. Retornou a São Paulo, nomeado diretor do Ginásio Moura Santos (1927/8). Foi membro da Academia Brasileira de Letras, na vaga de Olavo Bilac (1919) e da Academia Paulistana de Letras. Jornalista, poeta, novelista, conferencista, folclorista, Amadeu Amaral publicou vários livros. Na área de Folclore, são de sua autoria, O dialeto caipira (1920), A poesia da viola (1921) e Tradições populares (obra póstuma, 1948). Faleceu em São Paulo, no dia 24 de outubro de 1929.
AMARELINHA. Veja ACADEMIA.
AMAZONAS. São mulheres indígenas, guerreiras, exímias cavaleiras, sem marido, que amputavam um dos seios para melhor empunharem seus arcos e flechas. Foram avistadas, pela primeira vez, em 24 de junho de 1541, por Frei Gaspar de Carvajal, na foz do Rio Jamundá, na Amazônia.
AMENDOIM. Também conhecido por mendobi, mandubi, amendoí, menduí, manobi, midubim, o amendoim, assado ou cozinhado, com sal, é consumido no mundo inteiro também como tira-gosto nos cock-tails. Conta a tradição que o amendoim só deve ser plantado por mulheres. Plantado por homem, ele não nasce.
AMIGA. É um prato feito com o caldo do feijão, engrossado com farinha, temperado com pimenta, cebola, a gosto da pessoa. Também tem o nome de remate e, no Recife, é conhecido como apito.
AMULETO. É toda medalha, inscrição, bentinho, venera, figa, figura ou qualquer objeto que se traz pendurado no pescoço ou na roupa, com um broche, para prevenir as doenças, curá-las, destruir os malefícios e desviar as calamidades. É usado por todos os povos desde o começo do mundo.
ANDAR. Tem menino que custa a andar. Para que ele comece a andar é bom fazê-lo caminhar em volta de sua casa nas três primeiras sextas-feiras durante três meses seguidos. Ou segura-se a criança pelas mãos, dizendo-se, três vezes: - "Vamos para a missa, menino!"
ANEL. Feito de metal, de madeira, de osso, de plástico ou de vidro, o anel é usado há séculos como adorno ou com um significado especial por todos os povos. A aliança é usada pelos noivos no dedo anular da mão direita e, pelos casados, no da mão esquerda. As viúvas passam a usar as duas alianças no mesmo dedo. Na linguagem infantil, os dedos têm outros nomes: o polegar é o cata-piolho, o indicador é o fura-bolo, o médio é o maior de todos, o anular é o senhor vizinho, o mínimo é o mindinho. Os meninos costumam brincar de anel. Faz-se uma roda de meninos e meninas e um deles, com um anel entre as mãos, vai passando pelas mãos dos outros e, entre as mãos da pessoa de sua preferência, namorado ou namorada quase sempre, deixa o anel. Depois um deles é argüido: "- Onde é que está o anel?". Se o indagado disser com quem está o anel, ele continuará a brincadeira, passando o anel. Se errar, sai da brincadeira, leva um bolo ou outro castigo.
ANEXIM. Veja ADÁGIO.
ANGU. É uma papa mole de fubá de milho ou de farinha de mandioca, feita com água e sal, ou com leite, ou caldo de peixe, de carne ou de camarão para se comer com guisado ou carne assada. Também se faz o angu, no Nordeste, de outra maneira: somente à base de milho, do xerém (angu doce, na ceia, e salgado, para ser comido com carne).
ANJINHOS. São anéis de ferro, com parafusos, presos a uma tábua, para apertar os polegares dos criminosos e fazê-los confessar seus crimes. Também foram usados no tempo da escravidão.
ANJO. Diz-se das criancinhas quando morrem. Como não chegaram a pecar, vão para o céu e são anjos.
ANJO DA GUARDA. É o anjo que Deus dá a cada pessoa quando nasce, para protegê-la, defendê-la, mostrando sempre o caminho do bem. Antes de dormirem, as mães costumam rezar, com seus filhos, a oração do anjo da guarda: "Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, que a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, guarde e governe e ilumine. Amém". Ou "Amigo bom, Anjo de Deus, vinde guiar os passos meus. Fazei-me uma boa criança".
ANO-NOVO. Celebrado com muita festa, muita comida, muita bebida e dança, a festa do Ano-Novo é comemorada no primeiro dia do ano que começa, representado por uma criança recém-nascida, enquanto que o ano velho, o que passou, é representado por um velho de longas barbas e de andar trôpego, apoiado num bastão. O povo criou uma série enorme de crendices e superstições ligadas à entrada do Ano-Novo. No primeiro minuto do Ano- Novo, a pessoa deve estar com uma cédula de maior valor na mão direita ou no sapato do pé direito para dar o primeiro passo para ser feliz e nunca lhe faltar dinheiro. Deve estar vestida de branco (influência dos cultos afro-brasileiros) ou de amarelo, que é a cor do ouro. Rompido o Ano-Novo, a pessoa deve dar o primeiro passo com o pé direito. Também é bom fazer o seguinte: 1. Comer sete caroços de romã e guardar as sementes na carteira para garantir um ano sem aperto; 2. Usar roupas novas, inclusive as íntimas; 3. Comer carne de porco, porque o porco fuça para frente, evitando carne de peru, que cisca para trás; 4. Guardar a rolha da garrafa de champanhe num lugar que ninguém possa descobrir; 5. Trocar toda a roupa da cama; 6. Fazer muito barulho, gritar, quando romper o ano, que é para afugentar os maus espíritos; 7. Jogar moedas da calçada para dentro de casa, para atrair dinheiro; 8. Livrar-se de tudo quanto for velho, quebrado, imprestável; 9. Acender todas as luzes da casa para receber um Ano-Novo cheio de luz e de alegria.
ANTÔNIO, Santo. Fernando de Bulhões nasceu em Lisboa, Portugal, no dia 15 de agosto de 1195. Ingressou na Ordem de São Francisco em 1220 e, como frade, recebeu o nome de Antônio. Faleceu no dia 13 de junho de 1231, em Arcela, perto de Pádua, na Itália. É um dos santos mais populares não somente em Portugal como também no Brasil. É considerado como santo casamenteiro. Quando as moças não encontram rapazes para casar fazem promessas a Santo Antônio e muitas delas conseguem um marido. Santo Antônio também ajuda a encontrar as coisas perdidas. Os escravos africanos pintaram de preto uma imagem de Santo Antônio que passou a ser conhecido como Santo Antônio dos Pretos.
ANTÔNIO SILVINO. Era este o nome de guerra de Manuel Batista de Moraes, nascido em Afogados da Ingazeira, PE, em 1875. Como o assassino de seu pai não foi preso, Antônio Silvino procurou fazer justiça com as próprias mãos, à sua maneira. Durante quatorze anos foi o governador do Sertão. Era um cangaceiro que respeitava as mulheres, distribuía dinheiro, tomado dos ricos (as moedas), com os pobres. Vivia sempre perseguido pelas forças policiais de vários estados do Nordeste. Foi ferido em combate em Taquaritinga, PE, no dia 28 de novembro de 1914 e preso. Depois de cumprir quase toda a pena a que fora condenado, Antônio Silvino morreu em Campina Grande, PB, em agosto de 1944. Muitos folhetos de feira foram escritos pelos poetas populares sobre sua valentia, seus combates, sua vida.
APARTAÇÃO. No sertão, o gado é criado solto. As vacas e os bois são ferrados com a marca do dono. E, depois do inverno, o gado é reunido pelos vaqueiros das fazendas para ser entregue aos seus donos. É a apartação, uma das melhores festas do sertão, com muita comida, baile, reunindo vaqueiros e fazendeiros. Acontece, então, a vaquejada. Veja VAQUEJADA.
APITO. É um pequeno instrumento de sopro, usado pelo regente de uma orquestra, para avisar o início do toque de um frevo e, também, pelo mestre da bateria das escolas de samba. Veja AMIGA.
ARANHA. Diz o povo que quando Nossa Senhora, com São José e o Menino Jesus iam fugindo para o Egito, perseguidos pelos soldados de Herodes, esconderam-se em uma gruta e uma aranha teceu uma teia na entrada e os soldados não acharam os fugitivos, razão pela qual Nosso Senhor abençoou a aranha e sua teia. Não é bom desmanchar uma teia de aranha porque ela traz felicidade. Botando uma aranha num saquinho de pano e pendurando esse saquinho no pescoço de uma pessoa que sofra de algum mal na garganta, essa pessoa ficará curada.
ARARA. É uma dança engraçada. Todos os pares estão dançando, menos um rapaz que, em determinado momento, grita: Arara! Todos os rapazes trocam suas damas e quem ficar sem dama para dançar é o novo arara.
ARCO-ÍRIS. Também conhecido como arco, arco celeste, arco-da-chuva, olho de boi, arco-da-velha, o arco-íris não é muito amigo dos agricultores porque ele bebe a água dos rios, dos açudes, das lagoas. Para acabar com o arco-íris costumam fazer filas de pedrinhas, de gravetos, pauzinhos e ele vai embora porque não gosta de linhas retas.
ARENGA-DE-MULHER. Diz-se, no Nordeste, da chuva fraca, fina, insistente, que não pára.
ARGUEIRO. Para retirar um argueiro do olho nada como esfregar a pálpebra e dizer: "Vai-te argueiro, pro olho do companheiro"! Ou então botar uma semente de alfavaca na pálpebra e esfregá-la.
ARIANO SUASSUNA nasceu no dia 16 de junho de 1927, na cidade de João Pessoa, PB. Fez o primário em Taperoá, PB. Concluiu o curso de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife (PE), em 1946. Professor de Estética e Teoria do Teatro na Universidade Federal de Pernambuco, foi poeta e, quando ainda era estudante de Direito, fundou, com Hermilo Borba Filho e outros, o Teatro do Estudante de Pernambuco. Renomado teatrólogo, romancista, foi membro fundador do Conselho Federal de Cultura e, em 1969, Diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco. Levando a literatura popular em verso para suas peças teatrais, Ariano Suassuna, na área de Folclore, publicou A poesia clássica do sertão nordestino (1949), Coletânea da poesia popular nordestina: romances do heróico (1962), Coletânea da poesia popular nordestina: romances do ciclo heróico – conclusão (1964).
ARRASTA-PÉ. Baile popular. O mesmo que bate-chinela, forró.
ARRASTAR-A-MALA. Diz-se de quem deu uma viagem perdida, isto é, de quem foi procurar uma pessoa e não a encontrou, por exemplo.
ARRIBAÇÃ. Também conhecida como ribaçã, rebaçã, avoante, avoete, é uma ave de imigração que aparece no sertão nordestino. A arribação chega no fim do inverno, em bandos, nas caatingas, passando nos lugares onde encontram o capim-milhão, que é a alimentação que prefere. Os caçadores entram em ação e abatem uma quantidade enorme de arribaçãs que são vendidas nas feiras.
ARRUDA. Amuleto contra o mau-olhado. A casa que tiver um pé de arruda plantado no jardim as forças contrárias desaparecem. É uma planta muito usada nas macumbas, nos candomblés, nos catimbós. Na medicina popular a planta funciona como fortificante do sistema nervoso, como sudorífico e também como aperitivo. Suas sementes, secas e queimadas, combatem os insetos.
ASCENSO FERREIRA nasceu em 1895, na cidade de Palmares, PE, onde passou sua infância e adolescência, tendo sua mãe como professora. Aos treze anos foi obrigado a trabalhar na loja de um tio para ajudar no orçamento doméstico. Com alguns amigos fundou, em 1917, a sociedade literária Hora Literária de Palmares, com reuniões dominicais, quando os sócios liam e discutiam suas produções intelectuais. No mesmo ano estreou como poeta, publicando Pro Pace, soneto dedicado a Oliveira Lima, no Jornal do Recife. Participou do movimento modernista (Mário de Andrade foi seu hóspede, certa vez) e colaborou nos jornais e revistas da época, percorrendo os grandes centros literários do país lendo seus famosos poemas. Publicou: Catimbó (1927), Cana Caiana (1939), Xehenhem (1951), 64 poemas e 3 historietas populares (livros e discos) (1958), Catimbó e outros poemas (1939). Na área de Folclore escreveu Maracatu, Presépios e Pastoris, O bumba-meu-boi, na revista Arquivos, da Prefeitura do Recife, 1942-1944. Faleceu em 1965.
ASSOMBRAÇÃO. É o aparecimento de barulhos, de vozes, de correntes arrastadas, de gemidos, de sons misteriosos, de luzes em casas mal-assombradas.
ASSUSTADO. Existente até hoje, o assustado é a maneira de se comemorar o aniversário de uma pessoa amiga, sem que ela saiba. Juntam-se os amigos, compram-se os comes e bebes, contrata-se uma pequena orquestra e, de surpresa, aparecem todos na casa do aniversariante, onde dançam, comem, bebem e conversam até tarde da noite.
ATABAQUES. São tambores feitos com peles de animais, espichadas sobre a abertura de um pau oco e que servem para marcar o ritmo de danças religiosas nos clubes afro-brasileiros e foram trazidos pelos escravos africanos.
ATIRADEIRA. É o mesmo que tiradeira, estilingue, funda, setra, baladeira, badoque ou bodoque. São duas tiras de borracha de câmara de ar de automóvel amarradas nas extremidades de uma pequena forquilha e que vão ser fixadas num pequeno pedaço de couro onde é colocada uma pedrinha. Pegando-as a forquilha com a mão esquerda e, com a mão direita, esticando-se as tiras de borracha, a pedrinha é arremessada até certa distância. A baladeira serve para caçar passarinhos.
AVIÃO. Veja ACADEMIA.
AVOANTE. Veja ARRIBAÇÃ.
AVOETE. Veja ARRIBAÇÃ.
AXÉS. É a mistura do sangue dos animais sacrificados nos cultos afro-brasileiros.
AZIA. Calor de estômago, azedume. Para melhorar é bom dizer três vezes: "Azia, ave-maria".
AZUL e ENCARNADO. São as cores dos dois cordões dos pastoris. Há uma explicação católica sobre a cor dos cordões dos pastoris: o encarnado representa o manto de Jesus Cristo e o azul representa o manto de Nossa Senhora. Veja PASTORIL.
Fonte:
LÓSSIO, Rúbia. Dicionário de Folclore para Estudantes. Ed. Fundação Joaquim Nabuco
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