segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Nicanor Filadelfo Pereira (Porque escrevo)


Aqui estou confortavelmente acomodado nesta poltrona giratória. À minha frente, uma pequena tela a reverberar luz no seu mais intrigante tom de cinza. Meus dedos repousam suaves sobre pequenos objetos quadriláteros. Intuitivamente os dedilho e me pergunto: por que escrevo? Minha alma, instigada, começa a percorrer o etéreo... Diáfanas imagens iniciam o seu pairar dolente que, pouco a pouco, começam fluir palavras, palavras e verbos, verbos e conjunções. - Mas o verbo é a palavra! - E palavras não são verbos e verbos não são palavras? As conjunções vão unindo palavras e os verbos juntam-se às palavras. As conjunções não conjugam os verbos. As palavras levam os verbos a se conjugarem conjuntamente, em extrema simbiose e cumplicidade.

E nessa conjunção de alma e de imagens e divagações e sonhos, eis que surge o texto, e do texto surgem idéias que se entretecem, entrelaçando-se num fluir gostoso, inebriante, como o voar da borboleta azul, num florido jardim em manhã primaveril. A minha alma entra em devaneio... Ao devanear, entro no êxtase de imagens e de palavras e as conjugo como se a voar estivesse sobre o etéreo das imagens, sobre o etéreo das palavras, e as tomo como asas. Voando, vou ao mais profundo dos sentimentos e percorro a alma. Esquadrinho-a, constato, então, que amo. E, amando, descubro que amar é verbo, verbo que tem o condão da vida e que a vida necessita do verbo, do verbo que dá vida à palavra. Daí porque escrevo: porque amo e, ao amar, eu escrevo e, se escrevo, é porque amo a palavra. Amando vou escrevendo, escrevendo vou amando, amando o que escrevo.

Fonte
Cenario Cultural. http://www.cintianmoraes.com.br/colaboradores/nicanor.html

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