terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Evandro Luiz Mezadri (Livro de Poesias)


Poeta de Votorantim lançou livro de poesias sobre o seu cotidiano

O “Lunático” de Evandro Luis Mezadri foi lançado na sexta-feira (13), contou com a presença de amigos, familiares, amantes da poesia em um evento emocionante na Biblioteca Municipal. Um orgulho para Votorantim, que a cada ano revela mais autores, Evandro é um exemplo, pois começou a escrever aos dezesseis anos, mesmo ano em que começou a ouvir Rock' n' Roll. É sensível aos fatos que o rodeiam, sua primeira obra mostra o paradoxo cotidiano existente dentro de si. Uma linha tênue entre esperanças e desilusões que mesclam todas as vertentes sentimentais como o amor, ódio, opinião social, viagens surreais e experiências pessoais, as quais, fundamentais para a formação do seu universo "Lunático".

O poeta deixa ao leitor um “livro aberto” de sua vida. “Lunático” expõe um pouco de suas vertentes, pois suas influências vão de Rimbaud a Paulo Leminski, passando por Jim Morrison, Baudelaire e Allen Ginsberg, desfilando ecléticas escolas em seu aprendizado poético.

Quem quiser obter o livro deve entrar em contato com o autor pelo email: evandromezadri@yahoo.com.br
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LUNÁTICO

Parte o lunático...
Vestido pela íntima solidão
Duelando com as sombras do passado
Ruas são labirintos de fogo
aquecidas por cobertores de ossos
Árvores são testemunhas
e suas folhas espiãs
brincando entre os galhos da madrugada

Morcegos voam
entre rasantes tentativas de alegria
Cães ladram
a fome angustiada dos mal-nascidos
Gatos esquartejados nas autovias
e seus cérebros pisoteados
pelos carros rumo ao sul

Parte o lunático...
O riso mórbido como guia
Abre-se uma fenda na abóbada
Raios selvagens estupram
as estrelas donzelas
e elas derramam pelas nuvens
lágrimas vermelhas
Como o gozo de um vinho barato
sobre o solo poeirento da cidade

Parte o lunático...
Em sua hipnótica caravela
Velejando pelos prolíferos mares da loucura
A lua a beijá-lo
Uma tempestade de anseios
derramada em pernas e seios
entrelaçando as veias pulsantes dos desejos
Filho do deleite
Em uma colheita
de douradas novidades
Caminhando pelos campos antes inóspitos
A música refletindo
o erótico flerte
da vida com a morte

Espasmo

Açoite

Finda mais uma luxuriosa noite
ao ser atravessada
pela espada flamante
do divino crepúsculo
E o lunático retorna...
ao seu frio reino de tijolos à vista
Pedindo em seus credos de arremedo
para a alma uma benção
e para o corpo um esteio
quando a amante embriaguez se foi
e a esposa ressaca veio!
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Versos Esquecidos

Voltem até mim, versos esquecidos
Estou pronto para recebê-los em meu cérebro desvalido
Peço-lhes perdão pela indiferença na noite passada
O descaso por não anotar-lhes em minha folha amassada

Trêmulo, atiro-me ao âmago do subconsciente
Rastejo pela tênue verve que ainda me resta acesa
Chamo-lhes em insanas regressões pela minha mente
Desregrado e em prantos, ardendo em incontida morbideza

Lembro-me em flashes, de suas doiradas vogais
Entrelaçadas as margens de púrpuras consoantes
Navegavam nos agitados oceanos de meus ideais
E agora, atracadas no fundo de uma memória gélida
e sufocante

Suplico que retornem, ó versos esquecidos
Reconduzam a alegria a este vate que lhes conclama
Embala novamente os papéis outrora esmaecidos
Com a rajada lírica de suas ecléticas chamas
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Vazio

Da vida, sou detento
Caminho sonolento
Guiado por um trevoso vento
Que enregelou meu sentimento
E deixou meu coração poeirento

Sou um sem talento
Sigo trôpego e lento
Escondo um negro sofrimento
Procuro um colorido alento

Sou um animal sarnento
Rastejo em uma selva de desalento
Vítima de um psíquico atormento
Despejo meu lamento

Sigo solitário e desatento
Criatura inerme que só estará a contento
A sete palmos da terra,
dentro de uma gaveta de cimento

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Ode a um amigo
Aperto no peito,
Boca seca apenas umedecida
pela saliva amarga
do crepúsculo final da vida

Pálpebras trêmulas
vertem visões derradeiras

À frente,
paisagens jubilosas
outrora ornando quadros de verdes campos
são substituídas por estéril e negra avenida
infinda e solitária peregrinação
ao reino do supremo supracitado

De joelhos,
tenta com suas imóveis arcadas
rezar orações improvisadas

As mãos querem tocar
a camisola alva
de uma dama imaginária que surge
em erótica leveza incendiária
envolvendo-o em seus seios
carnudos e plácidos

Acariciando em sua face febril
e impaciente
Esperando o enlace matrimonial
em um medo presente
de se entregar em noite de Fevereiro luzente

Não tenha medo!

A senda será transposta à transição final!
As mesquinharias abortadas,
atrasadas prestações,
falsos amigos,
fabris humilhações
Uma floresta é avistada
Corcéis negros, dragões,
gatos, cães,
albatrozes e felinos atrozes
Harmonia perfeita
regendo a celestial seita

Anjos com douradas harpas
sobrevoam um límpido oceano
onde negros e brancos banham-se juntos
esfregando o pútrido preconceito
destilado no outrora habitado planeta profano

Seu corpo apodrece abaixo do cimento
Sua alma rejuvenesce acima do firmamento

A missão foi cumprida,
e a eternidade é o seu legado
Oh! Saudoso dardo jogado
no alvo certeiro
do destino fecundado
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Dor Paternal...

O pai viu o sangue da vida ornando a criança
Pulou sobre nuvens coloridas até ficar farto
Derrubou uma lágrima alegre ao deixar o parto
Embalando-se em sonhos de esperança

Na vermelhidão de uma aurora, após anos vindouros
A criança cresceu, virou homem e irrompeu estradas,
Perpetuou sua independência em loucas jornadas,
Colhendo de experiências bizarras, negros louros

Amou o inferno a que foi acometido,
Duelou em sendas sinistras e perigosas
Viu mares rubros inundando avenidas fogosas
E uma rajada frontal beijar seu coração empedernido

O pai viu o sangue da morte ornando o filho
Pulou sobre o caixão florido até ficar farto
Derrubou uma lágrima triste ao sofrer um enfarto
Embalando sua alma em uma inerte viagem sem brilho!
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Mais um...

Ruminando capins em pastos melancólicos
Aprisionado em focinheiras hierárquicas
Bebendo no cálice dos sacramentos metódicos
Cordeiro desgarrado das criações anárquicas

Olhar parado, fronte amarelada, peito empoeirado
Coberto por um negro véu enlanguescido
Rastejando tal qual mendigo assombrado
Em seu caminho verdugo de mal-nascido

Servo cômodo sem incômodo pela falta de alento
Faz o sinal da cruz agradecendo a estéril chama de luz
Passa dez horas ao dia celebrando o pífio talento
De ser apenas mais um neste orbe que a todos conduz

E ao envelhecer, em prantos, começa a esmorecer
Enxerga pelo espelho d’alma a centelha de sua mocidade
A rotina arquejante que se prestou a obedecer,
Não lhe permitiu nessa única vida, viver de verdade!
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Enluarada Andança

Ébrio viajante, caminha sobre nuvens esparsas,
Tropeçando em devaneios, equilibrando-se em esperança,
Segue em companhia do cântico mavioso das alvas garsas,
Namorando a natureza, em enluarada andança.

Mantém-se calado, imaginando uma valsa jubilosa,
Em busca de um amor verossímil em cálida candura,
Para tomar nos braços uma musa majestosa,
E sair dançando pelo infinito jardim da brandura.
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