Areílico é morto pelo filho de Menetes
Areílico é morto pelo filho de Menetes
com a longa haste de bronze cravada na coxa
Menelau percebe o peito nu de Toante
aí o fere cobrindo seus olhos de treva
Ânflico mata Filido destroçando seus ossos
Nestórida derruba Antímnio, que irrita o irmão
e este, Máris, é morto também pela mesma lança
Peneleu, num golpe, de Lico tira a cabeça
Cleóbulo baixou os olhos frente a Ajax
Piracme cai na poeira fixo à lança de Pátroclo
Meríones atinge Acamante com a espada no ombro
Abre-se o fosso no caminho do Hades
um a um os heróis se retiram às sombras
onde não tardarão a encontrar a nova luta
no primoroso verso de um poeta brônzeo
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Amanhece junto aos rumores dos pássaros
amanhece junto aos rumores dos pássaros
o campo aberto está à espera dos filhos
prendo às pernas minha sandália de couro
com o elmo de bronze expondo seu brilho
última olhada a este espelho turvo
lâmina fria em um lago escuro
preparo punhal espada e escudo
expectativa das dores de um golpe duro
ouvi no sonho a voz da justiça
mas ela não tinha mãos corpo ou face
talvez fosse meu medo pedindo socorro
alimentando de vida o que só é disfarce
meus irmãos chamam, e vamos juntos
aos que sobrarem da luta, cobrir de glória
aos outros, descer aos campos do Hades
que a tudo engole e aos sonhos devora
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Três cavaleiros viajam em um campo de areia e pedra
três cavaleiros viajam em um campo de areia e pedra
em direção à tenda de Aquiles pedir-lhe favores
dentro da noite sobre os cavalos não se falam
é a ânsia da chegada, a surpresa e os temores
à tarde canta Aquiles intrigante música
mergulhado em si próprio e na escura dor
ver que o herói é sempre só é uma estátua
o bronze é sua roupa o sangue seu amor
desfeita a carne sobre o fogo do banquete
bebem os cavaleiros um vinho doce no silêncio
composto aos poucos pelos galos montanheses
e a densa nuvem da fumaça dos incensos
" - estende tua mão e tua bravura sobre o povo
mostra ao destino que teu desejo é tua espada"
" - guerreiros valorosos, minha resposta é não
o limite desta tenda é minha glória conquistada
o navio negro exposto ao frio e ao bravo mar
é meu retiro e junto a Pátroclo farei reino
combinando esquecimento e ardor, fracasso e luta
na insegura espera do prazer que nunca tenho"
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Amo sobretudo as batalhas
amo sobretudo as batalhas
seus longos preparativos
e a chance de olhar nos olhos
um inimigo que é amigo
contemplar o vermelho da tarde
abraçado aos desfalecidos
contar entre nós os que sobraram
honrar em lágrimas os desaparecidos
amo sobretudo esta rotina
fazer dia a dia o que é devido
no campo entre homens valorosos
brigar e sofrer sem um grito
longe das mulheres e das intrigas
longe do amor do corpo e do seu ritmo
afiando facas, carregando pedras
entre homens desfiamos nosso íntimo
amo sobretudo a disciplina
a construir este muro infinito
dentro estamos a sós e no silêncio
marchando firmes num labirinto
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Os primeiros vapores da manhã estendem-se na baía
Os primeiros vapores da manhã estendem-se na baía
longe os primeiros pios, devagar se contorce a água
em crespas ondas de um profundo mito atrás.
Aqueles que me contaram, e os que contaram a eles
uns sobre os outros em sucessivos gestos rituais
a história deste fogo, também minha e também sua.
Preso em sua própria tenda, leves panos estendidos
armações rústicas e frágeis sobre o exército
este guerreiro persegue os sinais de sua luta.
Rede tecida no contorcer das decisões e palavras
pouco a pouco, apesar do empenho em desfazer
cada gole amargo e cada curva estranha.
Armam-se os escudos, brilham as espadas matinais
protetores de couro, detalhes de bronze sobre os olhos
não há lágrimas, a festa é feita de louvor
A romper esta espera feita no silêncio
abatem-se os primeiros combatentes gloriosos
deixando atrás o nome a ser escrito em ouro
Horas, sol de inverno, rolam as cabeças
olhos nos olhos, corpo a corpo, sangue
leio em mais um dia o retorno eterno.
A esperança da vitória, fé no inalcançável
buscando no braço forte que levanta o golpe
um dia esquecido onde isto está escrito
Tarde, os que voltam abraçados se recomporão
novas tiras de couro, está aceso o fogo
músculos e olhos cansados se aconchegam
Este guerreiro tenso porém não findou o dia
e a cela à qual está preso não fraquejou
tendo se armado como um monstro surdo
Vindo do tempo vazio, pêndulo na escuridão
não há resposta, porém pergunta, guerreiro doce
os pêlos do braço voejam na brisa triste
Claro como os exaustos companheiros adormecidos
estende-se o passar das horas sobre eles
cantam pelo campo os insetos passageiros
Venham a ouvir este canto incerto
foi inscrito em tua fronte de guerreiro
que em ti se cantarão os dias da glória
Bem como os do começo da pergunta
os dias do amor e da música
também os do pêndulo, da dor e do escuro.
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Primeiro vieram e arrancaram sua casa
primeiro vieram e arrancaram sua casa
depois impuseram o dia sobre o dia
fizeram com que a paz fosse sonho
que o fato novo da manhã um amargo
lançaram sobre ele o fogo e o ferro
também o desprezo do inimigo no campo
os sons da noite o sino badalando
o vão o fútil o só e o volúvel
desde seu ponto perdido na terra
procurou o que explica o sentido da luta
seu gesto inglório e a esperança inútil
a razão de si em seu momento de luto
ajoelhado frente ao deus dos homens
pediu e suplicou e acreditou na fé
que do nada se reerguesse sua casa
e que seu nome se transformasse em pó
Fonte:
FACCIONI FILHO, Mário. Helenos. Letras Contemporâneas, 1998.
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