3. Mil anos de português
Recapitulando: os romanos chegaram à península Ibérica (onde estão hoje Espanha e Portugal) no século 3o a.C. Na época, a região era habitada pelos celtiberos, comunidade formada pela fusão dos celtas, vindos da Europa central, e iberos, provavelmente originários do norte da África. O latim vulgar, trazido pelos soldados romanos, foi imposto como língua oficial, porém acabou assimilando parte do vocabulário e acentuadas marcas do sotaque e da sintaxe dos povos colonizados. Com o passar dos séculos, foram-se formando os dialetos regionais. Finalmente, consolidou-se como língua geral da península o espanhol, que adotou como padrão o dialeto de Castela e por isso ficou também conhecido como castelhano.
Por volta do ano 1000, ninguém mais falava a antiga língua de Roma, a partir de então mantida apenas em documentos científicos e nos cantos e orações da Igreja. Há quem diga que o latim morreu de parto, no momento em que dele nascia a filha caçula, a língua portuguesa – “última flor do Lácio”.
Na costa ocidental da península Ibérica, ouvindo o murmurar do Atlântico, desenvolvia-se uma bonita região conhecida como Lusitânia – a que Camões chamou de “o mais belo jardim da Europa à beira-mar plantado”. Falava-se ali, no alvorecer do segundo milênio (portanto há mil anos), o que hoje denominamos português proto-histórico – formado a partir do antigo dialeto galaico-português. Em 1095, Afonso VI, rei de Leão e Castela, instituiu na Lusitânia o Condado Portucalense. Sensibilizado pela colaboração que vinha então recebendo do nobre francês Henrique de Borgonha na luta contra os mouros, deu-lhe o rei por prêmio a mão de sua filha Dona Teresa, e com a noiva o governo do Condado. Em 1139, Dom Afonso Henriques, filho e sucessor de Henrique de Borgonha, proclamou a independência do Condado, e sagrou-se primeiro rei de Portugal.
A essa altura já se falava, e começava a aparecer escrito, o português arcaico, assim considerado desde o século 12 até o início do século 16. Dessa época se guardam documentos de precioso valor histórico, tais como as cantigas dos trovadores, novelas de cavalaria, as crônicas de Fernão Lopes e o teatro de Gil Vicente. Mas foi somente a partir de Luís de Camões que a língua assumiu suas características definitivas. Com Os lusíadas inaugurou-se o português moderno. Daí por diante, lendo Vieira, Camilo, Eça, Machado, Pessoa, Bandeira, Drummond, nós lusófonos (Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Goa, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor Leste, São Tomé e Príncipe – cerca de 220 milhões de falantes) tivemos apenas de acompanhar a evolução natural do idioma até alcançar a forma atual. Enquanto Seu Lobo não completa a globalização, continuaremos gostosamente a dar o nosso recado em português...
Fonte:
A. A. de Assis. A Língua da Gente. Maringá: Edição do Autor, 2010
Recapitulando: os romanos chegaram à península Ibérica (onde estão hoje Espanha e Portugal) no século 3o a.C. Na época, a região era habitada pelos celtiberos, comunidade formada pela fusão dos celtas, vindos da Europa central, e iberos, provavelmente originários do norte da África. O latim vulgar, trazido pelos soldados romanos, foi imposto como língua oficial, porém acabou assimilando parte do vocabulário e acentuadas marcas do sotaque e da sintaxe dos povos colonizados. Com o passar dos séculos, foram-se formando os dialetos regionais. Finalmente, consolidou-se como língua geral da península o espanhol, que adotou como padrão o dialeto de Castela e por isso ficou também conhecido como castelhano.
Por volta do ano 1000, ninguém mais falava a antiga língua de Roma, a partir de então mantida apenas em documentos científicos e nos cantos e orações da Igreja. Há quem diga que o latim morreu de parto, no momento em que dele nascia a filha caçula, a língua portuguesa – “última flor do Lácio”.
Na costa ocidental da península Ibérica, ouvindo o murmurar do Atlântico, desenvolvia-se uma bonita região conhecida como Lusitânia – a que Camões chamou de “o mais belo jardim da Europa à beira-mar plantado”. Falava-se ali, no alvorecer do segundo milênio (portanto há mil anos), o que hoje denominamos português proto-histórico – formado a partir do antigo dialeto galaico-português. Em 1095, Afonso VI, rei de Leão e Castela, instituiu na Lusitânia o Condado Portucalense. Sensibilizado pela colaboração que vinha então recebendo do nobre francês Henrique de Borgonha na luta contra os mouros, deu-lhe o rei por prêmio a mão de sua filha Dona Teresa, e com a noiva o governo do Condado. Em 1139, Dom Afonso Henriques, filho e sucessor de Henrique de Borgonha, proclamou a independência do Condado, e sagrou-se primeiro rei de Portugal.
A essa altura já se falava, e começava a aparecer escrito, o português arcaico, assim considerado desde o século 12 até o início do século 16. Dessa época se guardam documentos de precioso valor histórico, tais como as cantigas dos trovadores, novelas de cavalaria, as crônicas de Fernão Lopes e o teatro de Gil Vicente. Mas foi somente a partir de Luís de Camões que a língua assumiu suas características definitivas. Com Os lusíadas inaugurou-se o português moderno. Daí por diante, lendo Vieira, Camilo, Eça, Machado, Pessoa, Bandeira, Drummond, nós lusófonos (Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Goa, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor Leste, São Tomé e Príncipe – cerca de 220 milhões de falantes) tivemos apenas de acompanhar a evolução natural do idioma até alcançar a forma atual. Enquanto Seu Lobo não completa a globalização, continuaremos gostosamente a dar o nosso recado em português...
Fonte:
A. A. de Assis. A Língua da Gente. Maringá: Edição do Autor, 2010
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