terça-feira, 18 de maio de 2010

Sérgio Valério (A Barba)


Valdemar não tirava a sua barba e o seu bigode há 30 anos.

Naquela manhã, ele estava sozinho em casa.

Resolveu mostrar a cara. Pegou o aparelho de barba da mulher e tirou tudo.

De cara limpa, Valdemar foi se vestir.

Colocou o seu terno azul-marinho, a gravata vermelha e olhou-se no espelho. Parecia outro homem. Muito mais moço.

Abriu a porta de casa e deu de cara com a vizinha.

Ela olhou pra Valdemar e é claro não o reconheceu.

Valdemar arriscou um "bom-dia", mas a mulher virou a cara e deu um sorrisinho de lado.

Valdemar pôde ler nos olhos da mulher:

-Coitado do Valdemar. A mulher dele traindo na própria casa.

Valdemar sentiu o rosto ficar vermelho de raiva e de ciúme de si mesmo, mas foi em frente.

Tirou o carro da garagem e enfim, chegou ao trabalho.

Foi entrando no prédio, quando o porteiro falou:

-Você vai aonde moço?

Foi um trabalho danado. Valdemar teve que se identificar.

No escritório, também foi um sufoco aguentar as brincadeiras dos colegas.

No final do dia chegou em casa. Queria ver a cara da mulher quando o visse assim, de cara nova.
Entrou de mansinho. Cláudia estava na cozinha.

Chegou por trás e abraçou-a, em silêncio.

De costas ainda, Cláudia passou a mão em seu rosto e disse:

- Você é louco! Tá na hora do Valdemar chegar, Amauri!

Fontes:
VALÉRIO, Sérgio. O colecionador de histórias. São Paulo: Panorama, 1998.
- Desenho = http://denilsodelima.blogspot.com/

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