sábado, 8 de maio de 2010

Carlos Leite Ribeiro (O Avô Guido - Parte 3) Novela em 4 partes


Poucos segundos depois, dava entrada na sala de jantar, uma nova personagem…

- Clara: - Boas noites a todos! Fizeram muito bem em sentarem-se à mesa sem esperar por mim. A culpa do meu atraso foi, a maldita modista. Olá "maridinho", meu querido Nandinho!...Olá "filhinho " querido, luz dos meus olhos! Olá Avôzinho, um beijo muito grande; Vá lá, outro beijinho querido avozinho! Quantos desejos tinha em conhecê-lo, mas finalmente hoje, é o grande momento! O Fernando estava sempre a falar-me de si. Até começava a sentir ciúmes do Avôzinho…
- Avô Guido: - Mas quem é esta menina, Fernando?
- Fernando : - É...é...é... anda querida, apresenta-a tu…
- Margarida: - Eu?!...eeeuuuu?!...
- Augusto: - Ponho outro talher para a "irmã da senhora"?...
- Fernando: - Sim, sim...pois claro... Avô, apresento-te a minha cunhadinha. Vive aqui conosco…
- Margarida: - É minha irmã, a minha irmã Clara! Ela desejava muito conhecer o avô....senta-te, querida, pois, estás muito cansadinha. Trabalhas demasiado...
- Clara: - Não estou a perceber nada disto… O criado só sabe falar por meio de sinais, será que seja mudo?
- Augusto - A menina Clara, por acaso não quer tirar o casaco?...
- Avô Guido: - Tua cunhada, Fernando?! Então ela não tinha morrido de uma pneumonia?....
- Clara: - Não diga isso! Lagarto, lagarto, lagarto! Morrido, eu..., belisquem-me por favor, para ter a certeza de estar vivinha!
- Avô Guido: - Mas lembro-me que tu escreveste a dizer-me que ela tinha morrido, há cerca de três anos. Até me lembro que te enviei, mil e quinhentos euros para pagares o hospital e despesas com o enterro. A carta em que nos descrevias os seus últimos angustiosos momentos fez-nos chorar a mim e ao Augusto. Não é assim, Augusto?
- Augusto: - É verdade, senhor Guido. Mas tratava-se da morte da irmã mais nova da senhora. Esta é a irmã mais "velha"…
- Margarida: - Sim, é isso tudo, a Clarita é a mais velha de todas. Foi a nossa mãezinha, conseguiu livrar-nos da miséria, com o seu trabalho, quando ficámos órfãs. É uma mulher exemplar...
- Fernando: - Um autêntico anjo de bondade…
- Avô Guido: - Tudo isso a honra muito. E em que trabalhas, minha filha?...
- Clara: - Eu?! Eu... sou Corista e Bailarina…
- Avô Guido: - Corista?... Em que coro, minha filha?
- Margarida: - Sabe avô, a Clara tem boa voz (e também dança muito bem), é vocalista do...do...do Coro Universal para Ajudar Pessoas Carenciadas. É isso…
- Avô Guido: - Então, esse meritório trabalho dá-lhe muitas horas de ocupação?
- Clara: - Nem imagina! Todo o dia a cantar e a dançar. Então, hoje, foi demais. Por isso é que cheguei tão atrasada!
- Fernando: - Pobrezinha! Essas danças cansam-te tanto...
- Clara: - Lá isso é verdade...maldito número desta revista…
- Sandro: - Mamã, mamã, espero que "esta"não coma agora os pudins todos!
- Margarida: - Não querido “filho”, bem sabes que a tia Clara, não gosta nem pode comer doces...
- Avô Guido: - Pois estou muito impressionada consigo, Clara. Mas diga-me, em que consiste esse grupo "Universal para Ajudar Pessoas Carenciadas"?
- Clara: - Ah...dão festas...cantam...dançam...
- Fernando: - Em benefício, principalmente, das crianças pobres...
- Avô Guido: - Sinto muito que a minha surdez não me permita apreciar o seu timbre de voz, mas gostava de a ver dançar...
- Clara: - Se tem muito empenho disso, dançarei.
- Sandro : - Dance...dance...Farça a vontade ao « meu » avô !
- Fernando: - Basta, querida, não te canses mais. O avô já apreciou tua arte.
- Sandro: – Continue, continue, "tiazinha", que essa dança é muito gira!
- Margarida: - Não, não. A tia Clara está fatigadíssima e, além disso, é muito tarde para o avô. Não é verdade, Augusto?...
- Augusto: - Tem razão, o senhor já devia de estar a descansar. Precisamos de voltar para o hotel, senhor Gildo...
- Avô Guido: - Estás sempre a enfastiar-me, maçador... Parece que sou um menino irrequieto. Estava agora a divertir-me bastante... em outro dia dançará mais para mim, filhinha. Hás-de ir a Trás-os-Montes, quando os meus pequenos forem. Tive muito prazer em conhecer-te. Continua a trabalhar. Consentes que te entregue um donativozinho para esse Grupo, a que pertences?
- Clara: - Aceito e com muito prazer!
- Avô Guido: - Augusto, dá duzentos euros a esta menina. O Augusto é quem traz sempre a minha carteira, pois, estou muito velho, e perco tudo…
- Augusto: - Tome lá, menina Clara...
- Clara: - Mas estão aqui só cento e cinquenta “amigo”, e o avô disse para me dar duzentos. Caridade é caridade...
- Augusto: - Tem razão, desculpe e tome lá o resto.
- Avô Guido: - Não me vem acompanhar, Márcia?
- Margarida: - Eu?! Sim, sim vou. Preciso certificar-me de que o senhor vai para a sua caminha. Não lhe permito que vá para a pândega, para a farra!
- Avô Guido: - És muito querida, filhinha!
- Fernando: - Fica tu com o Sandro, Clarinha. Voltaremos rapidamente... onde se meteu o avô?
- Margarida: - Ele já vem, espere um pouco.
- Fernando: - Sinto que se incomode, acompanhando-nos. Ou prefere que a desculpe junto ao avô, dizendo que tem de deitar o Sandrito?
- Margarida: - Não, obrigado mas irei com ele até ao hotel. Pobre velhote! Cumprirei até ao fim a minha missão.
- Fernando: - Você é a pessoa mais encantadora que...
- Margarida: - Basta, por favor. Deixe os cumprimentos para quando tiver findado a comédia que, por sorte, só tem um acto. Caso contrário, o desastre seria inevitável. As minhas aptidões dramáticas, não chegariam para mais!

- Fernando: - Neste caso, todo o êxito se deve à primeira actriz...

O ar fresco da noite, aliviou-lhe os nervos, postos rudemente à prova. Suspiraram ambos depois de terem deixado o avô, instalado nos seus aposentos, entregues aos cuidados do Augusto.

- Margarida: - Até que enfim que acabou esta comédia (suspirou profundamente)

As despedidas tinham-se realizado sem contratempo algum, e o ancião contava com a promessa de que iriam visitá-lo nas próximas férias. Até lá. Josué, teria tempo de inventar um pretexto qualquer, isto, no caso da abalada saúde do velho, se manter incólume. Mas, Josué tinha poucas ilusões, pois, a vida do avô Guido, parecia uma chama prestes a apagar-se.

- Fernando: - Margarida, está contente por tudo ter findado?
- Margarida: - Estou. E felizmente com êxito. Mas, quer crer que me comoveu a despedida do avozinho?
- Fernando: - Acredito que sim. Nunca mais voltarei a pôr em dúvida a bondade do seu coraçãozinho. Você é a mais adorável criatura que... Bom, não sei que dizer-lhe... estou completamente desconcertado, além de comovido.
- Margarida: - Porquê?
- Fernando: - Como poderei agradecer-lhe quanto fez por mim?
- Margarida: - Não seja presunçoso...
- Fernando: - Porquê presunçoso?...
- Margarida: - O que eu fiz, foi por causa do avô. Os velhinhos enternecem-me... adoro-os...
- Fernando: - Felizes os que têm a barba branca...mas enfim, seja como for, muito obrigado. Você tirou-me de uma grande dificuldade e, quisera que houvesse algum meio humano de lhe manifestar a minha gratidão. Mas não... não cometerei a tolice de lhe enviar um ramo de flores ou uma caixa de bombons. A única coisa que posso lhe oferecer, é a minha incondicional amizade...
- Margarida: - Bom, aprecio-o pelo que vale. Mas não se mortifique mais. Deixemos de lado as difíceis manifestações de agradecimentos. E agora, adeus e passe muito bem.
- Fernando: - Como?! Não a quer que a leve a casa de carro a casa?
- Margarida: - Não é necessário. Fica perto e, um passeio a pé, aliviar-me á a cabeça ...
-Fernando: - Você é que sabe…
- Margarida: - Por outro lado, o Josué tem os minutos contados, pois, ainda terá que ir a casa vestir o trajo de cerimónia, antes de começar o concerto…
- Fernando: - Você revoluciona todas as minhas anteriores opiniões a respeito das mulheres. Jamais, conheci outra que fosse tão razoável. Mas, de qualquer modo, não julgue que a deixarei ir sozinha. Vá...suba para o meu carro...
- Margarida: - Você, ignora que eu sou a teimosia personalizada. Não perca mais tempo...Adeus, diremos que, foi o fim da Comédia!
- Fernando: - Será capaz de afastar-se sem ao menos me dizer o seu verdadeiro nome?
- Margarida: - Para quê?... Agrada-me isto de desaparecer da sua vida, tal como nela me introduzi: repentinamente!
- Fernando: - Mas é que, não posso permitir…
- Margarida: - O que não é que pode permitir?...
- Fernando: - Disse há pouco que aceitava a minha amizade, e, agora, pretende deixar-me sem a esperança de tornar a vê-la. Não seja assim...
- Margarida: - É melhor assim. Pela terceira vez, adeus, senhor Josué Teixeira. Desejo-lhe um grande êxito esta noite.
- Fernando: - Escute, porque não vem ao meu concerto? …estou certo de que me traria sorte.
- Margarida: - Agradeço-lhe, mas não é possível. Lembre-se de que cheguei de Lisboa ainda há poucas horas. Devo de ir dormir, pois, amanhã espera-me um dia de grandes comoções...
-Fernando: - Que espécie de comoções?
- Margarida: - É assunto privado…
-Fernando: - Perdão, já sei que não tenho o direito de dirigir-lhe perguntas. Bem...apesar de tudo, não lhe digo adeus, mas sim até à vista. Encontrar-nos-emos muito em breve, asseguro-lhe…
- Margarida: - Quem sabe?... A vida é uma surpresa contínua...
- Fernando: - Boas noites, desconhecida "esposa". Que Deus a abençoe pelo bem que me fez...
- Margarida: - Boas noites “esposo". Que as Musas o coroem de louros!...

Ao afastar-se, Margarida começou a trautear, em voz baixa, uma canção e tratou de apagar do pensamento a imagem de Josué Teixeira, como quem passa uma esponja pelo quadro preto de uma sala de aula. Contudo, ao entrar de novo na confortável casa de Isabel, a imagem voltou a sair-lhe ao caminho. Mais precisa e insistente do que nunca...

- Clara: - Já de volta?! Não a ouvi entrar...
- Margarida: - Ah, é você... Não toquei a campainha, porque a Isabel emprestou-me uma chave. Já deixámos o avô no hotel...
- Clara: - E o Josué Teixeira?
- Margarida: - Seguiu a toda a pressa para o seu concerto...
- Clara: - É verdade, já nem me lembrava. Bom, você quer explicar-me o que aconteceu.?!... Suponho que, por ter chegado um pouco tarde, não vai reclamar os quinhentos euros?...
- Margarida: - Os quinhentos euros?...oh, não. Não de preocupe, pois, procedi desinteressadamente...
- Clara: - Agradeço-lhe muito que não peça o dinheiro. Não pode imaginar quanto preciso dele. Trabalho numa companhia de Teatro. Calcule a minha aflição, ao ver que se fazia tarde...
- Margarida: - A sua “entrada”, é que ia estragando tudo!
- Clara: - Compreendo que a minha "entrada"foi bastante inoportuna. Desculpe...
- Margarida: - Não tenha nada a desculpar...
- Clara: - Por sorte, o velho deu-me mais duzentos euros!
- Margarida: - O avô gostou de si.
- Clara: - Esse pobre avô é uma calamidade! sentia pena ao enganá-lo. Porque fará Josué Teixeira, isso ao velhote, será por causa da herança?
- Margarida: - Por causa da herança?... Não! Bem, lamento deixá-la sozinha, mas vou deitar-me, pois, tenho de me levantar cedo.
- Clara: - Ouça, ouça, não se vá ainda...que vamos fazer com o "demônio”?
- Margarida: - Com o "Demônio"?
- Clara: - Sim, esse endemoninhado rapaz...
- Margarida: - O Paulo (ou o Sandro)?... É verdade. Tinha-me esquecido dele. Onde é que ele está?
- Clara: - Na cozinha. Estragou o aparelho da televisão, e, agora procura fazer o mesmo ao frigorífico. Não consigo que ele me obedeça…
- Margarida: - Vamos ver o que o "demônio", como você diz, está a fazer?...
- Sandro: - Já chegou?... Que há?... Não olhe assim para mim que me põe nervoso…
- Margarida: - Nada...larga já esses bolos, e, Também não me olhes com essa cara!
- Sandro: - Que tem a minha cara, que é tão lindinha? Além disso não tenho outra.
- Margarida: - O que é uma pena…
- Sandro: - Que rica "mamã", que você me saiu!
- Margarida: - Manchaste-me a bata. Está cheia de nódoas. És um verdadeiro"demónio"!
- Sandro: - Melhor para mim, eu até me considero um “demônio”!
- Margarida: - Parece-me que vou dar-te uma bofetada…
- Sandro: - Se me bater, mordo-te toda...Toda… Toda… Todinha!
- Margarida: - Você, Clara, devia levá-lo a casa. É filho da empregada do Josué…
- Clara: - E aonde mora o Josué Teixeira?
- Margarida: - Não sei!
- Clara: - Também não sei. Onde moras tu, Paulo?
- Sandro: - Não te digo. Não vou sair daqui sem ordem do senhor Josué…
- Margarida: - O senhor Josué, não virá esta noite…
- Sandro: - Nesse caso, ficarei aqui até ele aparecer. Ainda há muitos doces!
- Margarida: - Desinteresso-me deste assunto. Você é que ganhou o dinheiro, portanto, tome conta deste "anjinho". Boas noites.
- Clara: - Está bem, deixe-o comigo. Esta noite não tenho espetáculo. Se este "demônio"se tornar demasiadamente intratável, meto-o no frigorífico, ou mesmo na arca frigorífica!
- Margarida: - E guarde-me o que restar da minha bata!

Ao entrar no quarto que a sua amiga lhe tinha emprestado, Margarida, lembrou-se que se encontrava na cidade de Leiria, não em viagem de recreio, mas sim com uma missão da agência de que era funcionária.

A sua missão era acompanhar um casal de americanos, que desejavam passar férias na Rota do Sol. Ligou então para o Hotel do Parque, e de lá lhe disseram que o avião em que viajava o casal americano, ainda não tinha aterrado em Monte Real.

Ainda tinha umas horas de descanso, que as ia aproveitar…

Foi quando a campainha do telefone tocou, e, do outro lado do fio, apareceu-lhe a voz aflita do Augusto, o criado do avô Guido...
- Augusto: - Ah, é a menina, ainda bem. O menino Josué, por acaso por está aí?
- Margarida: - Não, não está, Augusto. O senhor Josué Teixeira, ainda deve de estar no Conserto. Mas o que se passa, Augusto?... Passa-se alguma coisa com o avô Guido?
- Augusto: - Pois é, o senhor Guido quer regressar a esta hora, a casa em Trás-os-Montes. Já tentei telefonar para o teatro, onde está a actuar o menino Josué, mas ninguém atende o telefone...Se a menina pudesse vir cá ter connosco…
- Margarida: - Mas o avô, a mim, não deve atender. Sabe...
- Augusto: - Por aquilo que conheço do senhor Guido, estou convencido que a ia atender muito bem, pois, pois ele gostou muito, mas muito da menina.
- Margarida: - Então, vou tentar ir para aí...o mais rápido possível...
- Augusto: - Muito obrigado...!!!... Sabia que podia contar consigo...

Voltou a vestir-se, lançando um triste olhar para a cama...

Guardou, precipitadamente as suas coisas, e, fechou a mala de viagem. Na cozinha encontrou o Sandro (o terrível Paulo) a dormir de bruços sobre a mesa, enquanto a Clara saboreava, entusiasmada, o resto dos bolos. Esbugalhou os grandes olhos pintados, e...

- Clara: - Vai-se já embora?!
- Margarida: - Não tenho outro remédio. Acabam de avisar-me pelo telefone, que o avô Guido não está a passar muito bem…
- Clara: - Mas...mas vai deixar-me aqui sozinha com esta "fera"?
- Margarida: - Mas que posso eu fazer? Procure não o contrariar. Se ele voltar a portar-se mal, telefone para o senhor Josué Teixeira, para o teatro. Ele dar-lhe-á instruções. Eu vou a São Pedro de Moel, ter com o avô Guido. Boa Noite!

Sem esperar pelo ascensorista, desceu a dois a dois os degraus da escada. Viu-se outra vez junto do portão, e, daí chamou um táxi.

- Margarida: - Hotel São Pedro de Moel…
- Margarida: - Como?... Mas o avô não está doente?
- Avô Guido: - Olá, minha querida filha, que faz você aqui a estas horas?... Augusto, estão a tocar novamente à campainha, vai abrir…
- Augusto: - É o menino Fernando!
- Fernando: - O avô, Augusto?... Que se passa, Augusto?!...
- Avô Guido: - Tu também vieste, meu filho?!
- Fernando: - Naturalmente que vim logo que pude, logo que terminei o Conserto. O Augusto telefonou-me, a dizer que…
- Margarida: - A mim também me telefonou a dizer que o avô estava doente…
- Avô Guido: - Com que então, doente?! Isto é tudo obra deste desmiolado Augusto, que está sempre com as suas manias... Eu, doente?... Lá por eu ter adormecido numa cadeira, já imaginava que tinha perdido os sentidos. Não velho impertinente, ainda não te darei o prazer de morrer, pois, tu hás-de morrer primeiro. És capaz de alarmar toda a gente, sem o menor motivo. Mas, eu não estou doente…
- Augusto: - Acalme-se, senhor Guido, não se excite.
- Avô Guido: - Estou nervoso, porque não posso dormir nesta maldita cama de hotel. Dei mil voltas e, tive que me levantar, cheio de dores nos rins. Porque motivo hei-de ser obrigado a passar a noite em claro, em vez de ir para casa, dormir na minha cama?!
- Fernando: - Mas é só esta noite, avô. Amanhã já vai para sua casa.
- Avô Guido: - Há mais de quinze anos seguidos, que durmo na mesma cama, e, não posso descansar noutra. Vou, vou agora mesmo para a minha casa, e está tudo dito!
- Fernando: - Mas, avô, não podemos permitir que vás por essas estradas fora, a estas horas da noite!
- Avô Guido: - Permitir-me?! Julgas que vou te pedir autorização para voltar para minha casa?... Já sou de maioridade e, posso dispor de mim, como melhor me parecer!
- Margarida: - Mas isso seria um verdadeiro disparate. Daqui até a Trás-os-Montes, são mais de três horas de caminho...
- Avô Guido: - E isso que tem?... Se ficar aqui, não passarei apenas um par de horas mal, mas muitas mais. Augusto, vai buscar o automóvel a fim de partirmos.
- Fernando: - Se persistes em te ires nessa louca aventura, acompanhar-te-ei. Não ficarei tranquilo de outra maneira.
- Avô Guido: - Não é preciso que te incomodes, meu filho. As estradas estão boas e, o Augusto conduz muito bem. É das poucas coisas que ele sabe fazer (mais ou menos) bem…
- Fernando: - É inútil teimares, avô. Irei contigo.
- Avô Guido: - Muito bem, faz como quiseres. E tu vens também, Márcia?
- Margarida: - Não…Não me é possível acompanhar o avô...Sabe, tenho que ficar com o Sandrito…
- Fernando: - Levá-la-ei a casa em cinco minutos e, voltarei para te acompanhar, avô. Espera-me, está bem?...
- Avô Guido: - está bem, está bem... tu já viste o que fizeste, Augusto? Hás-de ser sempre um mexeriqueiro. Que necessidade tinhas tu de incomodá-los a estas horas?!... Adeus, Márcia, gostei muito de ti; hás-de ir visitar-me, o mais breve possível, sim? Muito em breve, não te esqueças!
- Margarida: - Assim que for possível, irei logo ter com o avô. Não me esquecerei, não.
- Avô Guido: - Não te demores, Fernando... Estou ansioso de me ver na minha cama, com os meus três colchões e almofadas de penas. Vão indo, vão indo...o Augusto acompanhar-vos-á à porta...vão indo...
- Margarida: - Que estranho o avô querer ir a estas hora da noite para Trás-os-Montes!
- Fernando: - Caprichos de velho. Acompanhá-la-ei até à casa da Georgina... Mas, olhe quem está aqui?!... Que fazes tu aqui Paulo (Sandro) à porta do hotel, não me dizes?...
- Margarida: - Como é que viste para São Pedro de Moel?
- Sandro: - Olá,"mamã"!...Olá,"papá"! Estou aqui!... Esperava-os ansiosamente.
- Fernando: - E quem te autorizou a vires aqui!
- Sandro. - A “querida tia Teresa” trouxe-me de táxi e, depois foi-se embora…
- Fernando: - Foi-se embora?! Isso não, não é possível!
- Margarida: - E olha lá Sandro, o que é que tu lhe fizeste, para ela se zangar tanto contigo?
- Sandro: - Ela excedeu-se, e eu tive que me defender!
- Margarida: - Vamos, Paulo (Sandro), conta toda a verdade: que lhe fizeste?
- Sandro: - Não lhe fiz nada de especial. Foi ela que me bateu...e eu...então mordi-lhe num braço…
- Fernando: - E o que lhe fizeste para ela te bater?
- Sandro: - Nada... Ela é uma estúpida…
- Fernando: - Que maneira é essa de falares da tua "tia"? Parece-te bem o que fizeste ao mordê-la?
- Margarida: - Com que então "mordeste"à tia Clara e, ela foi-se embora. Bonito rapaz.
- Sandro: - Pois mordi! Ela ficou tão furiosa que, até disse que nem por outros quinhentos euros, me aturaria nem mais um minuto sequer.
- Fernando: - E porque não foste para tua casa? A tua mãe está à tua espera.
- Sandro: - Porque me dói muito a barriga. Os doces fizeram-me muito mal.
- Margarida: - Eu bem te avisei…
- Sandro: - E a "tia"Clara, ia fazer queixa à minha mãe…
- Margarida: - O que seria muito bem feito!
- Sandro: - Além disso, o "papá" ainda não deu cá ao "filhinho",o dinheiro que prometeu. Não se esqueceu, pois não?...
- Margarida: - Pobre pequeno, na verdade, e bem no fundo, até é engraçado...
- Fernando: - Sim, é muito divertido, mas este diabo está sempre a arranjar-me sarilhos.
- Sandro: - Que vamos fazer agora? Para onde vamos?...

(continua...)

Fonte:
Colaboração do autor.

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