Convento da Penha, em Vila Velha, ES.
Pintura de Sérgio Câmara
Pintura de Sérgio Câmara
VITÓRIA - ILHA DA ESPERANÇA
Vejo uma ave.
Gaivota.
E digo - não se vá.
Voa num céu cheio de cor
E penso - o mar está perto.
Vejo folhas caindo inquietas
E imagino - é o verão que se finda.
São tantas e nem sequer se queixam
E peço - não morram.
Há um tempo que foi, é certo
Mas há também, talvez, um amanhã
Porque ontem e hoje é tudo isto,
Este desejo de céu, de sol, de vento,
Este grito rouco cujo eco
Talvez nunca existiu.
Talvez nem mesmo o grito.
É este desejo de ser jovem
Desejo capaz de ser história,
De transportar fora do tempo
A renúncia e o cansaço de meu corpo insone.
É esta ilha -
Azul e branca.
Obstinada ilha
Trajetória de selvagens aves marinheiras,
De barcos que navegam apressados
Rumo ao Sul, ao esquecimento.
É esta ilha assim, rude, que sabe a esperança
Onde há lágrimas secadas pelo vento
E sorrisos,
Alvos sorrisos com sabor de maresia
Terra sofrida cheia de luz e coragem.
Vejo uma ave.
Gaivota.
E digo - volta
E penso - talvez não se vá
Mas sempre se vai
Vôo alongado, solitário,
Sobre a terra, sobre o mar,
Sobre o abismo,
Sobre o planalto distante, infinito,
Sobre o tempo que não acaba de passar...
BUSCA OBSTINADA
Eu sei,
Sei que você existe
Um tanto cansado
Um pouco mais triste.
Sei que você busca,
Sozinho.
Numa solução de vida
A vida que lhe foi negada.
Sei que você procura,
Ainda,
Um rosto que se fez amado
Na antiga solidão povoada,
Eu sei
Que no silêncio você grita
E espera, contrito,
Atento,
Faminto,
A resposta de outro grito.
Não do eco
Que repete,
Que copia,
Que esquece a autenticidade.
Outro grito...
LÁGRIMAS BENDITAS
Ainda é possível chorar -
Eu vejo lágrimas em outras faces.
Não que esta seja a paz que busco
Pois sei que o sofrimento habita os seres
Em cada canto do mundo...
Ainda sorriem as crianças -
O mesmo sorriso ingênuo que nós sorrimos um dia
Quando nossas mãos não conheciam
Senão as outras mãos das rodas e dos folguedos.
Ainda é muito fácil sofrer -
Basta olhar seus olhos puros
Nos quais descubro às vezes
Uma evidência de dor.
Ainda é necessário viver -
Pois que suas mãos, nas quais pressinto ternura
São a prova mais evidente
De que nem todos os caminhos
Foram trilhados como deveriam ser.
Por tudo isto
E porque continuo a crer,
Cansada de chorar, exausta de sofrer
Afirmo que ainda sobram lágrimas
Que turvam olhos puros como os seus;
Ainda existem sorrisos
Como pontos de luz na escuridão total.
Ainda procuro a paz...
ENIGMA OBSCURO
Tentaste decifrar-me
Como a um símbolo perdido
Como se o mistério tão claro
Fosse ainda muito precioso,
Um mistério digno da tua participação.
E parecia um Deus
Frente à obra inacabada de outro Deus
Tuas palavras jogadas como pedras escuras.
Orgulhoso do teu conhecimento das almas alheias
Esqueceu-se da tua condição humana
E da minha condição mortal.
Pois eu não era obra nem mesmo plano:
Tu não eras Deus nem mesmo poderoso
Depois veio a paz difícil,
Pesada de infinito
E a necessidade urgente de libertar-se
Esquecendo as pretéritas covardias.
Falei-te então das folhas caindo no outono
Da poesia que sempe busco
Nos olhos dos outros,
Do nosso grande amor destinado ao
Esquecimento.
De rosas num jardim imenso,
Do rio percorrendo meu passado,
Sorrisos iluminando minha infância,
De horas felizes e perseguidas
E jamais reencontradas.
Tudo foi dito
E esvaiu-se
Então percebi que para ti as flores já
Nada significavam,
Nem o certo, nem o errado e nem sequer percebias
O crepúsculo pesado que te envolvia.
Quando antes muitas sortes habitavam-te
Como lâmpadas acesas.
Agora eu me vou
Levando comigo um pouco de náusea e do espanto
E na certeza cruel que é difícil dar as mãos
A quem não tem mãos de dar.
Eu me vou, eu que vim para ficar em silêncio.
Em silêncio mesmo que isto seja difícil.
Para que sozinho percebesses.
Minha desordem, minha incerteza constante
E o canto rouco do meu viver interior.
Eu não era obra nem mesmo plano,
Tu não eras Deus e nem mesmo poderoso.
SOFRIMENTO INÚTIL
Estou sozinha
inútil falar de rosas
Estou rejeitada
inútil falar de flores e amores,
se amor não há.
Estou cansada:
inútil falar nos destinos dos homens.
Há problemas grandes,
Mas é inútil.
Estou imensamente triste
E amarga em coisas tão pequeninas.
Inútil ler e tratar problemas universais
Se é tão pequeno
E insignificante,
Mas para mim tão importante
Meu sofrimento particular...
CHUVA DE SONHOS
Engraçado!
Uma coisa à toa:
Eu que gosto tanto de chuva,
De andar pela garoa
Recebendo-a nos cabelos, no rosto,
Acho que hoje chove mais triste,
Infinitamente triste...
Parece que a chuva insiste
Em cair macia e com gosto
Nesta rua cheia de ninguém.
E quando ela vem
Chorando sorrisos
Eu, sempre sozinha,
Somos tristezas...
É por isso que hoje
Notei qualquer coisa
Que inconscientemente foge
Às chuvas normais:
Hoje chove sonhos,
E chove muito, muito mais...
MENSAGEM DESESPERADA
Versos foram escritos -
Um pouco rudes, um tanto amargos,
Mensagem de fé desesperada,
Eco perdido de perdidas esperanças.
Tristes versos de quem se aprofunda
E se deixa aprofundar
Sem reclamos, sem lágrimas,
Sem gritos demasiadamente longos.
Amargura velada de quem sente
Sem deixar que a razão adormeça.
Lamentoso canto de quem coloca
Acima de tudo a razão,
Triste e dolorido pranto de quem sabe
Num mundo de lobos ser o cordeiro.
Sabendo embora que isto custa o sangue
E a própria lã que agasalha...
Fonte:
http://www.poetas.capixabas.nom.br/
Vejo uma ave.
Gaivota.
E digo - não se vá.
Voa num céu cheio de cor
E penso - o mar está perto.
Vejo folhas caindo inquietas
E imagino - é o verão que se finda.
São tantas e nem sequer se queixam
E peço - não morram.
Há um tempo que foi, é certo
Mas há também, talvez, um amanhã
Porque ontem e hoje é tudo isto,
Este desejo de céu, de sol, de vento,
Este grito rouco cujo eco
Talvez nunca existiu.
Talvez nem mesmo o grito.
É este desejo de ser jovem
Desejo capaz de ser história,
De transportar fora do tempo
A renúncia e o cansaço de meu corpo insone.
É esta ilha -
Azul e branca.
Obstinada ilha
Trajetória de selvagens aves marinheiras,
De barcos que navegam apressados
Rumo ao Sul, ao esquecimento.
É esta ilha assim, rude, que sabe a esperança
Onde há lágrimas secadas pelo vento
E sorrisos,
Alvos sorrisos com sabor de maresia
Terra sofrida cheia de luz e coragem.
Vejo uma ave.
Gaivota.
E digo - volta
E penso - talvez não se vá
Mas sempre se vai
Vôo alongado, solitário,
Sobre a terra, sobre o mar,
Sobre o abismo,
Sobre o planalto distante, infinito,
Sobre o tempo que não acaba de passar...
BUSCA OBSTINADA
Eu sei,
Sei que você existe
Um tanto cansado
Um pouco mais triste.
Sei que você busca,
Sozinho.
Numa solução de vida
A vida que lhe foi negada.
Sei que você procura,
Ainda,
Um rosto que se fez amado
Na antiga solidão povoada,
Eu sei
Que no silêncio você grita
E espera, contrito,
Atento,
Faminto,
A resposta de outro grito.
Não do eco
Que repete,
Que copia,
Que esquece a autenticidade.
Outro grito...
LÁGRIMAS BENDITAS
Ainda é possível chorar -
Eu vejo lágrimas em outras faces.
Não que esta seja a paz que busco
Pois sei que o sofrimento habita os seres
Em cada canto do mundo...
Ainda sorriem as crianças -
O mesmo sorriso ingênuo que nós sorrimos um dia
Quando nossas mãos não conheciam
Senão as outras mãos das rodas e dos folguedos.
Ainda é muito fácil sofrer -
Basta olhar seus olhos puros
Nos quais descubro às vezes
Uma evidência de dor.
Ainda é necessário viver -
Pois que suas mãos, nas quais pressinto ternura
São a prova mais evidente
De que nem todos os caminhos
Foram trilhados como deveriam ser.
Por tudo isto
E porque continuo a crer,
Cansada de chorar, exausta de sofrer
Afirmo que ainda sobram lágrimas
Que turvam olhos puros como os seus;
Ainda existem sorrisos
Como pontos de luz na escuridão total.
Ainda procuro a paz...
ENIGMA OBSCURO
Tentaste decifrar-me
Como a um símbolo perdido
Como se o mistério tão claro
Fosse ainda muito precioso,
Um mistério digno da tua participação.
E parecia um Deus
Frente à obra inacabada de outro Deus
Tuas palavras jogadas como pedras escuras.
Orgulhoso do teu conhecimento das almas alheias
Esqueceu-se da tua condição humana
E da minha condição mortal.
Pois eu não era obra nem mesmo plano:
Tu não eras Deus nem mesmo poderoso
Depois veio a paz difícil,
Pesada de infinito
E a necessidade urgente de libertar-se
Esquecendo as pretéritas covardias.
Falei-te então das folhas caindo no outono
Da poesia que sempe busco
Nos olhos dos outros,
Do nosso grande amor destinado ao
Esquecimento.
De rosas num jardim imenso,
Do rio percorrendo meu passado,
Sorrisos iluminando minha infância,
De horas felizes e perseguidas
E jamais reencontradas.
Tudo foi dito
E esvaiu-se
Então percebi que para ti as flores já
Nada significavam,
Nem o certo, nem o errado e nem sequer percebias
O crepúsculo pesado que te envolvia.
Quando antes muitas sortes habitavam-te
Como lâmpadas acesas.
Agora eu me vou
Levando comigo um pouco de náusea e do espanto
E na certeza cruel que é difícil dar as mãos
A quem não tem mãos de dar.
Eu me vou, eu que vim para ficar em silêncio.
Em silêncio mesmo que isto seja difícil.
Para que sozinho percebesses.
Minha desordem, minha incerteza constante
E o canto rouco do meu viver interior.
Eu não era obra nem mesmo plano,
Tu não eras Deus e nem mesmo poderoso.
SOFRIMENTO INÚTIL
Estou sozinha
inútil falar de rosas
Estou rejeitada
inútil falar de flores e amores,
se amor não há.
Estou cansada:
inútil falar nos destinos dos homens.
Há problemas grandes,
Mas é inútil.
Estou imensamente triste
E amarga em coisas tão pequeninas.
Inútil ler e tratar problemas universais
Se é tão pequeno
E insignificante,
Mas para mim tão importante
Meu sofrimento particular...
CHUVA DE SONHOS
Engraçado!
Uma coisa à toa:
Eu que gosto tanto de chuva,
De andar pela garoa
Recebendo-a nos cabelos, no rosto,
Acho que hoje chove mais triste,
Infinitamente triste...
Parece que a chuva insiste
Em cair macia e com gosto
Nesta rua cheia de ninguém.
E quando ela vem
Chorando sorrisos
Eu, sempre sozinha,
Somos tristezas...
É por isso que hoje
Notei qualquer coisa
Que inconscientemente foge
Às chuvas normais:
Hoje chove sonhos,
E chove muito, muito mais...
MENSAGEM DESESPERADA
Versos foram escritos -
Um pouco rudes, um tanto amargos,
Mensagem de fé desesperada,
Eco perdido de perdidas esperanças.
Tristes versos de quem se aprofunda
E se deixa aprofundar
Sem reclamos, sem lágrimas,
Sem gritos demasiadamente longos.
Amargura velada de quem sente
Sem deixar que a razão adormeça.
Lamentoso canto de quem coloca
Acima de tudo a razão,
Triste e dolorido pranto de quem sabe
Num mundo de lobos ser o cordeiro.
Sabendo embora que isto custa o sangue
E a própria lã que agasalha...
Fonte:
http://www.poetas.capixabas.nom.br/
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