sábado, 4 de setembro de 2010

Lourdes Strozzi (Paraná em Trovas)


A chuva, sem cerimônia,
sem respeito, nem piedade,
banha-me o corpo de insônia,
de desejo e de saudade…

Bem sei, a ti não importando
que eu sofra a mesma agonia
do cão arranhando a porta
de uma palhoça vazia.

Ele respeitoso, eu fria,
naquele encontro fortuito;
ninguém, ao ver-nos, diria
que um dia amamo-nos muito…

É na tarde que desmaia,
é numa canção dolente
que a saudade se atocaia
para apunhalar a gente.

Este amor pecaminoso,
obstinado e cruel,
é um composto perigoso,
feito de veneno e mel.

Lamentando meus fracassos
choro a prisão em segredo;
não tenho algemas nos braços,
apenas uma... no dedo.

Lealdade é uma utopia,
neste mundo mercenário,
somente achada, hoje em dia,
no cão e no dicionário.

Nem mesmo o inverno mais triste,
dentro da noite enfadonha,
tira a distância que existe
entre a minha e a tua fronha.

O pranto, na mocidade,
qualquer brisa põe em fuga;
e o que restar de umidade
o toque de um beijo enxuga.

Que tempo bom era aquele
que no tempo se perdeu;
quando meu sonho era dele
e o sonho dele era meu!

Renúncia, medida extrema
que tomamos certo dia...
Hoje a saudade blasfema
contra a nossa covardia!

Vence esse orgulho, castigo
que te aniquila e devora;
encosta-te a um ombro amigo,
tira essa máscara… e chora…

Fonte:
– Vasco José Taborda e Orlando Woczikosky (organizadores). Antologia de Trovadores do Paraná. Curitiba: O Formigueiro, 1984.

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