terça-feira, 14 de setembro de 2010

Vladimir Cunha dos Santos (Poemas Avulsos)


ALMA

Eis uma alma que passa
pela Terra
pelos séculos XX e XXI.

Entristecida
das atitudes dos homens
Sobrecarregada de ilusões
Monologando com a pluralidade
Divergindo com seu tempo
Pendente numa face morena-clara
de olhos cor do mar em ressaca
e na rua, a caminhar,
a ressuscitar seus mortos.

Uma alma serenizada tanto
quanto uma entrada de primavera,

Uma alma insubmissa tanto
quanto um ciclone
em busca
de um lugar
comum.

DESAMOR

Caminhei na escuridão
da imensa sala
prisioneiro
de antiga relação.

O som do cantar dos grilos
sem parar
alimentou minha nova decisão.

Forjar o amor eterno
é paterno demais,
e nem os animais o fazem
por toda a vida.

Separar almas partidas
é a saída
para a nova felicidade,
não importa a idade,
o que vale é a esperança
da liberdade de existir.

Poder agir em paz
com a consciência,
e amar sem parar pra pensar!

Caminhar na escuridão,
espantar a certeza de ser
prisioneiro
de um desamor,
refém do desencanto
visível nos olhos, na alma...

Caminhar em direção absoluta
ao novo desejo impregnado na vida...
este é o dilema,
o caminho
a seguir.

O VELHO GRANDE DO SUL

O velho grande do sul
sangra de emoção
em seu galope silencioso
pelas coxilhas do pampa
-seu habitat natural e eterno-
enquanto o rosto rude
estampa a melancolia
dos homens solitários por natureza.

O velho grande do sul
sem muito sucesso na vida
vira a página todos os dias
sendo protagonista real
de sua história real
sem mística, sem mitos,
com ritos de um cotidiano
que se esvai ano a ano.

O velho grande do sul
resiste ao tempo
e serve de exemplo
para os jovens grandes do sul
que embriagam-se com a modernidade.

E calado,
olhos no horizonte,
reflete a esperança.

OLHAI OS TEMPORAIS

Da sacada da minha casa nova
Eu vejo o prédio da biblioteca pública
Eu vejo o campo de golfe
O aeroporto, as palmeiras gigantes
Eu vejo o casario das vilas ao redor
Eu vejo as ruas da cidade e os ipês.

Da sacada da minha casa nova
Eu assisto ao espetáculo dos temporais
Com suas nuvens negras e carregadas
Seus trovões assustadores
Seus relâmpagos que cortam o céu
E iluminam a escuridão da noite chuvosa.

Da sacada da minha casa-alma
Enxergo as brumas da solidão
Entrando com o ano novo.
Sinto uma sensação coletiva de vazio
Uma esperança relevante de amor
Ao som do vento
e dos pássaros.

(Rosário do Sul, RS, BR, janeiro de 2007.)

NOVOS TEMPOS

Meu som divaga
Nos fluídos dos meus sonhos,
Meus pés resvalam
No subproduto humano
Que nos tornamos
E tudo é natural
No nosso tempo
No nosso modo de ser.

Quero um novo beijo na boca
Uma nova emoção no peito
Uma tarde inteira para amar
Entre as relíquias do meu baú
Entre as meninas da minha escola.

Quero uma sacola
Para ir correndo
Ao supermercado
Do amor.

Fonte:
http://wlady.zip.net/

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