Há tempo vinha lutando contra um bloqueio que o atrapalhava demasiadamente. Queria pôr no papel e publicar algumas idéias que povoavam sua mente, mas tinha escrúpulos. O que pensariam dele os outros, principalmente os conhecidos? E assim os dias iam passando e Vitório não tomava uma atitude a respeito, sofrendo muito com isto. Quantas reminiscências teria para contar ! Quando passeava pelas ruas, em certas ocasiões, encontrava algum amigo que lhe perguntava, após entabularem conversa: - “Continuas escrevendo; como vão as poesias?” Respondia então, quase sempre: - “Atualmente, estou mais lendo, inclusive relendo romances e contos que me parecem esquecidos.”
Realmente, desde a infância gostara muito de ouvir e ler histórias, entretanto, se dedicara mais ao gênero poético. Lembra-se vagamente do que lhe contavam na tenra idade as criadas de sua família, principalmente a que se chamava Virgilina. Tem a impressão de que falava da revolução de 23, quando houve escaramuças pelo Rio Grande do Sul e que ela presenciara nas regiões do Planalto Médio e Alto Uruguai. O assunto tratava de invasões de propriedades para roubo de gado e entreveros. Se tivesse anotado, quantas páginas fantásticas teria para escrever?!
Todavia, tudo se perdeu no mar do olvido e Vitório procura recordar alguma coisa que o possa socorrer neste impasse. Talvez que, varrendo as cinzas do passado, surja alguma brasa para acender-lhe na memória os episódios que escutara na longínqua infância.
Vem-lhe à memória o caso daquele filho de imigrantes que se embrenhara nos matagais a fim de não ser recrutado pelos revolucionários. Ficara vinte e tantos dias desaparecido, alimentando-se de frutas silvestres e bebendo água em vertentes. Emagrecera e voltara barbudo, desconfiando de todos. Quase enlouquecera de tanto pensar que poderia ser encontrado. E daquele outro que se escondera dentro de um poço ao ver se aproximarem os cavaleiros?! “Foram uns tempos brabos” que ficaram remarcados nas tradições gaúchas tão decantadas em prosa e verso pelos nossos historiadores e poetas gauchescos. Alguns desses casos já são considerados lendários, pois como dizem “quem conta um conto, aumenta um ponto”, e pertencem, por assim dizer, ao domínio público.
Assim pensando, caminha pela praça da Alfândega, em Porto Alegre, onde transcorre a 43ª Feira do Livro que tem como patrono o consagrado romancista gaúcho, Dr. Luiz Antonio de Assis Brasil, do qual solicita e obtém um autógrafo no grande pequeno livro “Anais da Província-Boi”, e, após, dirige-se ao Cine Guarany onde assistirá ao filme “Lua de Outubro”, que talvez lhe desperte alguma inspiração, pois foi daquela época que ouviu histórias incríveis.
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Texto enviado pelo autor
Imagem = http://www.paginadogaucho.com.br/cine/lo.htm
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