sábado, 20 de agosto de 2011

Marina Bruna (Livro de Trovas)


Ao tanger minha guitarra,
ser pobre não me importuna.
Tenho o perfil da cigarra
que é feliz sem ter fortuna.

Chega alguém...corro à janela...
mas tenha calma , emoção!
Não confunda os passos dela
com os passos da ilusão!

Depois da tua partida,
na desordem dos meus passos,
o que me prende na vida
é a memória dos teus braços…

Descem do morro, sambando,
o Conde, o Rei e a Princesa.
É o Carnaval mascarando
de sangue azul a pobreza…

Disse um "sábio" picareta
sobre um voo espacial:
- "Pra chegar noutro planeta
é só ter um mapa astral...”

Eu faço um apelo mudo
na velhice que me alcança:
– Destino, tire-me tudo
mas não me roube a esperança!

Fim do amor… mas nosso enredo
restou em minha lembrança,
como ficou em meu dedo
a marca de uma aliança…

Já fui musa no passado
e hoje só, bem que eu queria
os versos de pé quebrado
que eu desprezei certo dia…

Mágico no seu cantar,
o poeta tem na voz
a virtude de criar
mil mundos dentro de nós!

Morrem florestas, açudes
e o mundo, pobre de afeto,
perde os versos e as virtudes:
– vira selva de concreto!

Na história de tua vida
sou apenas, sem escolha,
uma sentença esquecida
no rodapé de uma folha.

Na insânia de uma paixão,
que me pega e não tem cura,
deixo de lado a razão
e dou razão à loucura!

Nas águas turvas dos rios,
os venenos poluidores
nos darão dias sombrios
de primaveras sem flores…

O destino rege as vidas
num balé, cujo andamento
lembra o das folhas caídas
dançando ao sabor do vento…

Quanto sonho se vislumbra
numa esteira, à luz de vela,
quando um amor e a penumbra
se encontram numa favela!

Quem faz poemas alcança
todo o brilho do Universo
pondo estrelas de esperança
nas rimas de cada verso!

Se um dia o céu censurar
o nosso amor, não aceito...
e a teu lado hei de encontrar
um outro céu...mais perfeito!

Sobre seda ou algodão,
na trama dos figurinos,
o Supremo Tecelão
faz desiguais os destinos.

Tem melodia tristonha
minha seresta, sei bem…
pois canto para quem sonha
nos braços de um outro alguém.

Tu chegavas e eu ouvia
o trem, em tons comoventes,
tocar canções de alegria
no teclado dos dormentes…

Vão ficando tão distantes
os carinhos do passado,
que eu nem sei se o que era antes
foi vivido...ou foi sonhado...

Velho bilhete... lembrança
de um amor que não foi meu...
Um pedido de esperança
que a vida não respondeu…

Zéfiro da tarde mansa!
por favor, sopra esta vela
e leva ao mar da esperança
minha triste caravela!

Fonte:
BRUNA, Marina. Cantares: trovas. São Paulo: Ar-Wak, 2010.

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