Impr. Nacional-Casa da Moeda, 2010
Em A Génese do Português de Moçambique, Perpétua Gonçalves descreve o atual processo de nativização do português moçambicano, em estreito contato com as línguas bantas. O enquadramento geral é o da investigação sobre a relação da mudança linguística com a aquisição da linguagem, associada à discussão da emergência das variantes não nativas das línguas coloniais.
Constituída por oito capítulos, a obra foca três áreas de mudança que definem tendências de diferenciação da variedade moçambicana em relação às outras variedades do português: a realização do argumento beneficiário, na qual se neutraliza o contraste entre objeto direto e objeto indireto — «os pais escondem os filhos a verdade», «Tiram aquele dinheiro entregam dono», «Despedimos ao professor fomos nas nossas casas», «Começou a me bater enquanto não lhe provoquei», «Eu expliquei o diretor nacional», «Ordenou os seus soldados para que fossem lá», «Os pais já não prendem tanto aos filhos», «É triste ver-lhe andar pelas ruas»—; os argumentos locativos e direcionais — «Já saiu na escola, ir lutar», «Vai lá em casa tirar os cabritos», «Disseram levar a criança para no hospital», «Nós corremos, fomos jardim», «Cheguei aqui Maputo», «Está a sair no estúdio», «Eu não paro nenhum sítio», «Vinham carros lá na escola» —; e os conetores de subordinação — em orações completivas como «Viram de que afinal o coelho é mais esperto», «Perguntou que lhes conhecia o nome dela» e em orações adverbiais do tipo «Descansaram até chegou um leão», «Embora que sou mais novo mas sou diferente», «Mal que me viu fugiu».
Em síntese, trata-se de um livro destinado a um público universitário, cuja clareza de exposição permite, no entanto, que também o público interessado possa distinguir o perfil da língua portuguesa falada pelos moçambicanos da contemporaneidade.
Fonte:
http://www.ciberduvidas.com/montra.php
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