Amosse Mucavelle pertence ao Movimento Literário Khupaluxa, em Moçambique.
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A poesia é o sol da imaginação que ilumina o nosso mundo real; um sol que já há séculos vêm queimando o iceberg dos sentimentos do poeta vs leitor.
Mas este aquecimento da poesia, diga-se, Global, sente-se no árduo trabalho de limar a matéria-prima que fabrica o poema, e esta está ao alcance de todos seres viventes, vividos e ente-viventes.
António Carlos Cortez diz o seguinte: “ Ao fabricar um poema há ainda uma sensação de que a escrita se autonomiza, não para se tornar nossa por separação do autor, mas para se tornar um corpo orgânico que vive por si só”.
Cabe a nós leitores “atentos” da nossa realidade, seja ela tangível ou intangível, aperfeiçoar a técnica do saber: “ ver o que está à frente dos nossos olhos” pois “exige uma luta constante”
George Orwell subscreve a ideia da “luta constante” sem tréguas com a realidade que nos circunda; uma vez que a produção poética tem como seu paraíso um mar de águas profundas, onde a sensibilidade das geografias imaginárias e a insensibilidade das geometrias reais fazem o cerco ao mar que encarcera o poeta. E é neste cárcere que o poeta sente-se livre como um pássaro no chão do seu vertiginoso voo, onde antes da partida o mesmo acaricia os 4 ventos das grades que o prendem.
Dentro das grades o poeta cria uma pluralidade de espaços, de convívios, de interrogações, e afectos que desaguam na singularidade da poesia detentora de um “Estatuto Topológico (um lugar onde e donde) ” (COELHO, 1972. pag 299.)
“Um lugar onde” “a linguagem poética se fala e se escreve”( BLANCHOT,97,pag 47); ”um lugar donde” a imaginação resplandece e espalha-se no reino da realidade.
Segundo Leyla Perrone Moisés, “A poesia não pretende mais a primazia entre os discursos; assume-se como linguagem à parte não comunicativa, hermética, passando a ter um valor em si mesma, torna-se núcleo irradiador de sentidos infinitos, desafiando o leitor a dar prosseguimento ao acto criativo.” (2000,pag 27 in A inutil Poesia de Mallarmé)
ILUSÃO
O espelho não reflecte os medos que encharcam o meu silêncio. Muito menos as alegrias que degolam o meu sorriso.
As Vezes
O espelho mente a dizer verdades na inocência das incertezas que se amotinam na vista alegre das minhas angústias.
A tocar flautas. Ao som do triste olhar da lupa
A atirar pedras. Para os olhos que se olham a procura da verdade das certezas pintadas a vermelho dos semáforos.
Paragem! Miragem?
As 4 rodas roncam (a morte, a angústia, o silêncio, a memória) na abstracta estrada da ilusão, onde
Flores apodrecem no verão esburacado da objectiva da maquina fotográfica. Múltipla visão (ordem e caos, verdades e mentiras) de olhos bem abertos na fechadura da alma amedrontada pela doce aparição do labirinto.
As flores atravessam a primavera (que a muito clama por elas) com sapatos de neve (cuidado o Verão e eterno) chutam o silêncio que habita a escuridão. e lá lá e lá .
E lá do outro lado da margem, em pleno suar do inverno uma flor (esta) sem arvores nega de dar a voz as pedras.
Insiste. Persiste em aprender a ética da memória das flores que se escondem na estacão última do tempo (o sono) com amarguras de alegrias e angústias. Deitadas no prato hasteado nas lágrimas da bandeira do futuro.
E no presente? Vejo a minha face multiplicada por 2 no quadro dos olhos deste Deus da Carnificina chamado espelho.
Assim sendo este poema toma de forma subjectiva uma realidade tangível a poesia que se instala nos olhos do leitor faz nos crer que a mesma é feita de inutilidades que no decorrer da sua digressão nas mãos do leitor a tornam útil para humanidade.
É neste prisma que apraz me dizer o seguinte: escrever poesia é colher perigos no covil do leão, onde parte-se com o conhecimento de causa dos dois destinos predefinidos
1º Assumir esta “morte vil” viagem sem volta, internacionalizar as duvidas, e procurar o suicídio desta voz rizomatica no rugir do leão.
2º procurar (sobre) na eternidade desta perigosa realidade, e afirmar a coragem de que é possível plantar sonhos nas garras do leão.
Há aqui indubitavelmente no poema acima lido uma paixão, uma sensibilidade supra sensível, com as coisas que a priori do ponto vista de um cidadão comum não tem nenhuma missão neste universo, e este poema vem mais uma vez mostrar, dar a conhecer os sentimentos do silêncio, as lágrimas das pedras, os sonhos das flores, os labirintos da memória e o tropel que a morte provoca.
Por exemplo: quando uma pedra estatela-se na poltrona da sua arca e um homem a pisa ou a chuta e em seguida o mesmo fica a contorcer-se de dores, com a pedra acontece o contrário ela fica alegre pois conseguiu mostrar ao homem a sua grandeza, a sua capacidade de o fazer chorar, e a sua forca aglutinadora, consequentemente fê-lo ouvir a sua voz e dentro dela diz - eu sou capaz.
Estas coisas sem vida, mas com vida, convidam e transportam todas as musas para o infindável teorema da poesia. Um espaço impar onde a inutilidade das coisas e a utilidade dos sonhos reais procuram o aconchego para as suas vozes; vozes de medo, vozes de solidão, vozes de alegria cavalgam em constante mutação para o silencio onde de forma (in)consciente tomam de assalto a folha em branco:
As abelhas fabricam o seu zumbido ao anoitecer dos dias
E ao clarear da noite vendem a dor na matriz do mel amargo que as nossas bocas chupam
O zumbido das abelhas é multiritmico como a marrabenta.
Doce como os desenhos afiados da navalha em linhas horizontais que a cada tracejado a vida calha e a morte não falha.
Mais uma vez assistimos um dialogo entre o zumbido da abelha e a malevolência da navalha e assim sendo surge a seguinte questão:
Como é que estas duas vozes que falam silêncios podem apagar a ternura da folha em branco?
Cesariny responde –“ pela saturação duma personalidade a disparar em todas as direcções, e não só nos textos”
Quando fala-se de todas as direcções refere-se a sensibilidade do poeta, a super realidade que vem de dentro (a transpiração) e a realidade que nos circunda (a inspiração).
Fonte:
Texto enviado pelo autor
Estas coisas sem vida, mas com vida, convidam e transportam todas as musas para o infindável teorema da poesia. Um espaço impar onde a inutilidade das coisas e a utilidade dos sonhos reais procuram o aconchego para as suas vozes; vozes de medo, vozes de solidão, vozes de alegria cavalgam em constante mutação para o silencio onde de forma (in)consciente tomam de assalto a folha em branco:
As abelhas fabricam o seu zumbido ao anoitecer dos dias
E ao clarear da noite vendem a dor na matriz do mel amargo que as nossas bocas chupam
O zumbido das abelhas é multiritmico como a marrabenta.
Doce como os desenhos afiados da navalha em linhas horizontais que a cada tracejado a vida calha e a morte não falha.
Mais uma vez assistimos um dialogo entre o zumbido da abelha e a malevolência da navalha e assim sendo surge a seguinte questão:
Como é que estas duas vozes que falam silêncios podem apagar a ternura da folha em branco?
Cesariny responde –“ pela saturação duma personalidade a disparar em todas as direcções, e não só nos textos”
Quando fala-se de todas as direcções refere-se a sensibilidade do poeta, a super realidade que vem de dentro (a transpiração) e a realidade que nos circunda (a inspiração).
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Texto enviado pelo autor
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