sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Teatro de Ontem e de Hoje (Lua de Cetim)


Espetáculo baseado em texto de Alcides Nogueira e encenação de Marcio Aurelio, realização bem-sucedida que alia poesia cênica à preocupação sociopolítica. 

O texto ambienta os atos intervalados por década: 1961, 1971 e 1981, flagrando a vida de uma família interiorana. O pai é um pequeno comerciante de tecidos; a mãe, uma modesta dona de casa; o filho aparece na infância e na juventude, transformando-se em estudante universitário e membro da guerrilha urbana, acompanhado da namorada Marisa.

Ao contrário de seus textos anteriores, calcados sobre procedimentos vinculados às vanguardas, Alcides Nogueira faz aqui um exercício de realismo. O enredo privilegia as figuras do pai e da mãe, seus conflitos e felicidades de marido e mulher, esperanças e desassossegos típicos de quem vive tempos atribulados e sempre à beira do precipício. Aproveitando largamente as possibilidades dos papéis, Umberto Magnani e Denise Del Vecchio alcançam grandes interpretações, merecedoras de prêmios e indicações. Elias Andreato e Júlia Pascale encarregam-se dos jovens, bem menos destacados na trama, assim como o garoto Ulisses Bezerra, participante apenas do primeiro ato.

A encenação de Marcio Aurelio é sóbria, discreta, deslocando para os desempenhos do casal central a ênfase da montagem. Sua cenografia é funcional, assim como a iluminação, adequadamente fornecendo os climas requeridos pela ação.

Em seu comentário, o crítico Sábato Magaldi destaca aquilo que lhe parece o melhor da montagem: "A sensibilidade é o traço dominante na encenação de Marcio Aurelio. Ela valoriza a verdade interior, as reações abafadas, os subtendidos sutis. A rigor, ele não soluciona apenas as mudanças de ambiente, que rompem o clima criado. Esse é, aliás, um dos problemas que permanentemente desafiam a imaginação dos diretores. Umberto Magnani aproveita a melhor oportunidade que teve como ator e vive um Guima comovido, mentindo-se no fracasso e bebida, marcado pela tragédia. Denise Del Vecchio apaga a sua juventude para metamorfosear-se em Candelária, incorporando das maneiras ao sotaque interiorano. Elias Andreato (Júnior) faz o estudante sem nenhum cacoete, humanizando o relacionamento com os pais. Júlia Pascale (Marisa) não se perde num papel ingrato".1

Notas

1. MAGALDI, Sábato. Uma visão terna de confronto, cicatrizes e frustrações de uma vida menor. Jornal da Tarde, São Paulo, p. 18, 27 nov. 1981.

Fonte:

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