sábado, 3 de maio de 2008

Revolução dos Cravos (25 de Abril)

A sala virtual 'Lira dos Poetas', de portugueses e brasileiros, juntou-se às comemorações do 25 de abril, com muita poesia, música e comentários dos participantes, festejando mais um aniversário (34º) da 'Revolução dos Cravos'

25 de abril: cravos, música e poesia.

Emociona-me constatar que nessa Revolução contra a ditadura do Salazar, o povo e os militares usaram muito mais a força da poesia, da música e das flores do que a força das armas.

Como narra a história, um grupo de militares, comandados por Otelo Saraiva de Carvalho, no dia 24 de abril de 1974, instalou, secretamente, o posto de comando do movimento golpista no quartel da Pontinha, em Lisboa.

Nesse mesmo dia, às 22 horas e 55 minutos, pelos Emissores Associados de Lisboa, emitida por Luis Felipe Costa, foi transmitida a canção E depois do adeus (letra de José Niza e música de José Calvário, na voz de Paulo de Carvalho). Este foi um dos sinais previamente combinados pelos golpistas e que desencadeou a tomada de posições da primeira fase do golpe de Estado.

Diz a poesia da canção: 'Quis saber quem sou/ o que faço aqui/ quem me abandonou/ de quem me esqueci/ perguntei por mim/ quis saber de nós/ mas o mar não me traz tua voz.../' Etc...

Aos vinte minutos do dia seguinte (25 de abril), foi dada a senha definitiva, quando foi transmitida a gravação da primeira estrofe da canção 'Grândola vila morena', ( 'Grândola, vila morena/ Terra da fraternidade/ o povo é quem mais ordena/ dentro de ti, ó cidade'), letra e música de José Afonso. Depois da gravação, foi transmitida, integralmente, a canção e a repetição da quadra inicial, no programa independente 'Limite', da Radio Renascença, confirmando, assim, o golpe e marcando o início das operações, em todo País, com o avanço das forças sobre seus objetivos.

Em seguida foram lidos dois poemas do jornalista Carlos Albino ('Geografia' e Revolução Solar'), um dos responsáveis pelo programa juntamente com Manuel Tomás e o poeta moçambicano Leite de Vasconcelos, que era, normalmente, quem gravava as poesias. E para finalizar, foi tocada a canção 'Coro da Primavera'.

No norte, uma força do CICA 1 (Centro de Instrução e Condução Auto 1), liderada pelo Tenente-Coronel Carlos Azeredo tomou o Quartel-General da Região Militar do Porto.

A Escola Prática de Cavalaria, comandada pelo então Capitão Salgueiro Maia, coube o papel mais importante: a ocupação do Terreiro do Paço. De todo movimento que foi a Revolução dos Cravos, destaca-se sem duvida alguma, o seu heroísmo, ao sair de Santarém, rumo a Lisboa, comandando uma coluna de carros blindados e forçando a rendição de Marcelo Caetano. Era o principio do fim da ditadura.

O cravo tornou-se símbolo da Revolução e existem várias versões sobre como eles apareceram. Uma delas conta que uma florista contratada para levar cravos para a abertura de um hotel, foi vista por um soldado que pôs um cravo na espingarda e, em seguida, todos os outros fizeram o mesmo.

Entretanto, para alguns portugueses, como o Coronel Joaquim Evónio, poeta e escritor, que foi preso por delito de opinião, junto com mais 180 militares:

'O 25 de Abril de 74, tecnicamente, não foi revolução. Foi um golpe de estado a que se seguiu uma revolução que os militares do MFA não controlaram, o que era previsível quando se colaram aos partidos, sem conseguir ou querer manter a Unidade.

O 25 de Novembro foi uma vitória da maçonaria sobre o PCP, com a ajuda dos Comandos bem-intencionados. Ainda não houve a vitória do Povo sobre todos os nepotismos, clientelismos, corrupção e 'obediências'. Parece que todos se esqueceram de tudo, mas sem instaurar um clima de real amnistia que continua ausente e a propiciar a escalada dos que nada se interessam que Portugal exista ou acabe. E pode muito bem acabar: é um país exíguo...

Portugal ainda não foi libertado. A Pátria continua à espera.'

No Brasil, naquela época, também vivíamos sob a ditadura militar e a repressão era muito grande. A Revolução Portuguesa ganhou logo a atenção do governo, dos intelectuais e da opinião pública. Os opositores da ditadura festejaram, como se a vitória fosse nossa. Glauber Rocha, cineasta, dirigiu um documentário, Sebastião Salgado fez fotos, tanto da Revolução como da guerra civil na África, mas foi, talvez, a partir das músicas de Chico Buarque de Holanda que, para nós, o Portugal pós 25 de abril ficou mais conhecido.

'Fado tropical', escrita em parceria com Rui Guerra, um pouco antes da queda do Salazarismo, foi proibida no Brasil, porque os militares acharam a letra provocativa à ditadura: 'Oh musa do meu fado/ oh minha mãe gentil,/ te deixo consternado/ no primeiro abril/ mas não sê tão ingrata/ não esquece quem te amou/ e em tua densa mata/ se perdeu e se encontrou/ ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal/ ainda vai tornar-se um imenso Portugal/'.

A música 'Tanto mar', composta intencionalmente para a Revolução dos cravos, logo proibida pela censura da ditadura, fez com que o entusiasmo e a adesão dos brasileiros ficassem mais evidentes: '... Sei que há léguas a nos separar/ tanto mar, tanto mar/ sei também quanto é preciso, pá/ navegar, navegar/'.

O Brasil tomou uma posição em relação à Revolução Portuguesa que não era o que se esperava: em 27 de abril reconheceu, formalmente, o novo regime português e foi o 1º País a fazê-lo, oferecendo asilo político ao Presidente da República Américo Tomáz e ao Presidente do Conselho de Ministros Marcello Caetano, que veio a falecer no Brasil, seis anos depois.

Fontes
Colaboração de Douglas Lara, In
http://www.sorocaba.com.br/acontece
http://desabafus.blogs.sapo.pt (imagem)

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