Jorge Mateus de Lima (União dos Palmares, 23 de abril de 1893 — Rio de Janeiro, 15 de novembro de 1953) foi político, médico, poeta, romancista, biógrafo, ensaísta, tradutor e pintor brasileiro.
Era filho de um comerciante rico e mudou-se para Maceió em 1902, com a mãe e os irmãos. Em 1909 foi morar em Salvador onde iniciou os estudos de medicina. Concluiu o curso no Rio de Janeiro em 1914, mas foi como poeta que projetou seu nome. Neste mesmo ano publicou o primeiro livro, XIV Alexandrinos.
Voltou para Maceió em 1915 onde se dedicou à medicina, além da literatura e da política. Quando se mudou de Alagoas para o Rio, em 1930, montou um consultório na Cinelândia, transformado também em ateliê de pintura e ponto de encontro de intelectuais. Reunia-se lá gente como Murilo Mendes, Graciliano Ramos e José Lins do Rego. Nesse período publicou aproximadamente dez livros, sendo cinco de poesia. Também exerceu o cargo de deputado estadual, de 1918 a 1922. Com a Revolução de 1930 foi levado a radicar-se definitivamente no Rio de Janeiro.
Em 1939 passou a dedicar-se também às artes plásticas, participando de algumas exposições. Em 1952, publicou seu livro mais importante, o épico Invenção de Orfeu. Em 1953, meses antes de morrer, gravou poemas para o Arquivo da Palavra Falada da Biblioteca do Congresso de Washington, nos Estados Unidos da América.
Entre 1937 e 1945 teve sua candidatura à Academia Brasileira de Letras recusada por seis vezes. Para Ivan Junqueira, a Academia cometeu uma imperdoável injustiça com o autor, cujo trabalho literário foi excepcionalmente bem recebido pela crítica e pelo público. O acadêmico não acredita que o poeta tenha transitado à margem da literatura de seu tempo e, afirma, quando se refere ao maior poema do autor - Invenção de Orfeu, "...até hoje, transcorridos mais de 50 anos de sua publicação, não há poeta brasileiro que dele não se lembre."
Os textos de Jorge de Lima abrigam uma colossal possibilidade de leituras (a convivência entre a tradição e o novo, o vulgar e o sublime, o regional e o universal) refletem um artista em constante mutação, que experimentou estilos diversos como o parnasiano, o o regional o barroco, o religioso. Na sua multiplicidade, Jorge de Lima pertence a todas as épocas, mesmo se reportando a um tema ou uma situação específica, ao tocar em injustiças sociais que mudaram pouco desde o início da civilização e quando escreve sobre as grandes dúvidas de todos nós, "...da miséria humana, da tentativa de superação de nossas amarras e de nossas limitações.", explica o poeta e jornalista Claufe Rodrigues, leitor voraz de Jorge de Lima.
Ítalo Moriconi, poeta e professor de literatura brasileira na Uerj, autor, entre outros, de Como e por que ler a poesia brasileira do século XX, ao analisar a obra de Jorge de Lima (contrariamente à Ivan Junqueira quanto a questão de o poeta não ter alcançado fama por conta de sua obra ser, em parte, muitas vezes hermética e comprometida com o catolicismo), não acredita na hipótese de que a questão religiosa tenha atrapalhado a carreira do poeta: "Como poeta religioso Jorge de Lima nunca produziu nada com a qualidade de um Murilo Mendes em "Poesia liberdade". O lugar canônico de Lima vem dos sonetos, da sua primeira poesia modernista e, sobretudo de Invenção de Orfeu.".
Moriconi afirma que a maioria dos professores de letras não conhece bem nem Murilo Mendes nem Jorge de Lima e toca num ponto fundamental para a pouca visibilidade do poeta: "...como levar um poeta tão complexo a um currículo básico de graduação? "(...)Quem os conhece, mesmo quando os amam, como é o meu caso, hesitam em substituir um daqueles quatro por esses dois.", referindo-se aos poetas Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana e João Cabral de Melo Neto.
A obra de Jorge de Lima apresenta múltiplas facetas. A temática de suas principais obras poéticas pode ser assim resumida:
a) XIV alexandrinos apresenta versos ainda ligados ao Parnasianismo. Nesse livro aparece o poema "O acendedor de Lampiões", de grande aceitação popular.
b) O mundo do menino impossível e Poemas registram recordações da infância ao lado de poemas de cunho regionalista.
c) Novos poemas tem o negro e o folclore como assuntos principais. O poema analisado - "Essa negra Fulô" - está neste livro.
d) Tempo e eternidade, obra em que Jorge de Lima contribuiu com 45 poemas, aponta na religião a solução para uma realidade injusta, conturbada e excessivamente materialista.
e) Poemas negros, de 1947, reúne dezesseis poemas já editados em livros anteriores e 23 novos poemas, estes apresentando, através de deuses africanos, uma espécie de história do negro no Brasil.
f) Invenção de Orfeu é um longo poema que procura interpretar simbolicamente a ligação entre o homem e o universo. Nessa obra o poeta utiliza fragmentos de epopéias clássicas, como a Divina comédia, a Eneida e Os Lusíadas, ou ainda O paraíso perdido e a própria Bíblia. Ligando trechos dessas obras através do processo da colagem, Jorge de Lima produziu um poema de linguagem extremamente complexa, de compreensão difícil para quem não conhece as obras de onde foram extraídos os fragmentos que compõem o poema.
A carreira poética de Jorge de Lima apresenta uma evolução contínua, fazendo que se possa dividi-la em três momentos ou fases. A primeira – e a de menor importância – se estabelece a partir de rígidos princípios parnasianos. A segunda é a fase nordestina por se vincular ao universo regional alagoano. E a terceira é a fase religiosa, já que o autor impregna seus poemas de conteúdos místicos e metafísicos.
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Era filho de um comerciante rico e mudou-se para Maceió em 1902, com a mãe e os irmãos. Em 1909 foi morar em Salvador onde iniciou os estudos de medicina. Concluiu o curso no Rio de Janeiro em 1914, mas foi como poeta que projetou seu nome. Neste mesmo ano publicou o primeiro livro, XIV Alexandrinos.
Voltou para Maceió em 1915 onde se dedicou à medicina, além da literatura e da política. Quando se mudou de Alagoas para o Rio, em 1930, montou um consultório na Cinelândia, transformado também em ateliê de pintura e ponto de encontro de intelectuais. Reunia-se lá gente como Murilo Mendes, Graciliano Ramos e José Lins do Rego. Nesse período publicou aproximadamente dez livros, sendo cinco de poesia. Também exerceu o cargo de deputado estadual, de 1918 a 1922. Com a Revolução de 1930 foi levado a radicar-se definitivamente no Rio de Janeiro.
Em 1939 passou a dedicar-se também às artes plásticas, participando de algumas exposições. Em 1952, publicou seu livro mais importante, o épico Invenção de Orfeu. Em 1953, meses antes de morrer, gravou poemas para o Arquivo da Palavra Falada da Biblioteca do Congresso de Washington, nos Estados Unidos da América.
Entre 1937 e 1945 teve sua candidatura à Academia Brasileira de Letras recusada por seis vezes. Para Ivan Junqueira, a Academia cometeu uma imperdoável injustiça com o autor, cujo trabalho literário foi excepcionalmente bem recebido pela crítica e pelo público. O acadêmico não acredita que o poeta tenha transitado à margem da literatura de seu tempo e, afirma, quando se refere ao maior poema do autor - Invenção de Orfeu, "...até hoje, transcorridos mais de 50 anos de sua publicação, não há poeta brasileiro que dele não se lembre."
Os textos de Jorge de Lima abrigam uma colossal possibilidade de leituras (a convivência entre a tradição e o novo, o vulgar e o sublime, o regional e o universal) refletem um artista em constante mutação, que experimentou estilos diversos como o parnasiano, o o regional o barroco, o religioso. Na sua multiplicidade, Jorge de Lima pertence a todas as épocas, mesmo se reportando a um tema ou uma situação específica, ao tocar em injustiças sociais que mudaram pouco desde o início da civilização e quando escreve sobre as grandes dúvidas de todos nós, "...da miséria humana, da tentativa de superação de nossas amarras e de nossas limitações.", explica o poeta e jornalista Claufe Rodrigues, leitor voraz de Jorge de Lima.
Ítalo Moriconi, poeta e professor de literatura brasileira na Uerj, autor, entre outros, de Como e por que ler a poesia brasileira do século XX, ao analisar a obra de Jorge de Lima (contrariamente à Ivan Junqueira quanto a questão de o poeta não ter alcançado fama por conta de sua obra ser, em parte, muitas vezes hermética e comprometida com o catolicismo), não acredita na hipótese de que a questão religiosa tenha atrapalhado a carreira do poeta: "Como poeta religioso Jorge de Lima nunca produziu nada com a qualidade de um Murilo Mendes em "Poesia liberdade". O lugar canônico de Lima vem dos sonetos, da sua primeira poesia modernista e, sobretudo de Invenção de Orfeu.".
Moriconi afirma que a maioria dos professores de letras não conhece bem nem Murilo Mendes nem Jorge de Lima e toca num ponto fundamental para a pouca visibilidade do poeta: "...como levar um poeta tão complexo a um currículo básico de graduação? "(...)Quem os conhece, mesmo quando os amam, como é o meu caso, hesitam em substituir um daqueles quatro por esses dois.", referindo-se aos poetas Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana e João Cabral de Melo Neto.
A obra de Jorge de Lima apresenta múltiplas facetas. A temática de suas principais obras poéticas pode ser assim resumida:
a) XIV alexandrinos apresenta versos ainda ligados ao Parnasianismo. Nesse livro aparece o poema "O acendedor de Lampiões", de grande aceitação popular.
b) O mundo do menino impossível e Poemas registram recordações da infância ao lado de poemas de cunho regionalista.
c) Novos poemas tem o negro e o folclore como assuntos principais. O poema analisado - "Essa negra Fulô" - está neste livro.
d) Tempo e eternidade, obra em que Jorge de Lima contribuiu com 45 poemas, aponta na religião a solução para uma realidade injusta, conturbada e excessivamente materialista.
e) Poemas negros, de 1947, reúne dezesseis poemas já editados em livros anteriores e 23 novos poemas, estes apresentando, através de deuses africanos, uma espécie de história do negro no Brasil.
f) Invenção de Orfeu é um longo poema que procura interpretar simbolicamente a ligação entre o homem e o universo. Nessa obra o poeta utiliza fragmentos de epopéias clássicas, como a Divina comédia, a Eneida e Os Lusíadas, ou ainda O paraíso perdido e a própria Bíblia. Ligando trechos dessas obras através do processo da colagem, Jorge de Lima produziu um poema de linguagem extremamente complexa, de compreensão difícil para quem não conhece as obras de onde foram extraídos os fragmentos que compõem o poema.
A carreira poética de Jorge de Lima apresenta uma evolução contínua, fazendo que se possa dividi-la em três momentos ou fases. A primeira – e a de menor importância – se estabelece a partir de rígidos princípios parnasianos. A segunda é a fase nordestina por se vincular ao universo regional alagoano. E a terceira é a fase religiosa, já que o autor impregna seus poemas de conteúdos místicos e metafísicos.
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A FASE NORDESTINA
Esta fase resulta, no plano formal, da aproximação de Jorge de Lima das conquistas técnicas dos modernistas paulistas, em especial da adoção do verso livre, o que ocorreu em meados da década de 1920. No plano temático, o poeta entre em sintonia com as proposições do Manifesto regionalista, elaboradas por Gilberto Freyre, que defendia uma arte mais localista, voltada para expressão da velha realidade rural do Nordeste. Assim, os poemas que escreve nesta época tem como assunto nuclear a realidade existencial, cultural e histórica das camadas populares do Nordeste.
O universo popular aparece envolto em certo tom nostálgico, identificado de alguma maneira com o mundo dos engenhos decadentes ao qual o poeta historicamente pertencia. Algo similar ao que ocorreria, alguns anos depois, na ficção memorialista de José Lins do Rego. Em geral, Jorge de Lima registra liricamente o saber, as crenças e os aspectos pitorescos de um universo ainda não homogeneizado pelo avanço da modernização capitalista. Um universo onde ainda há lugar para entidades míticas como se vê no poema Diabo brasileiro:
Enxofre, botija, galinha preta!
Credo em cruz, capeta, pé-de-pato!
Diabo brasileiro, dente-de-ouro, botija, onde está?
Credo, capeta, pé-de-pato!
Diabo brasileiro quero saber quando dá
a dezena do carneiro?
Enxofre, botija, galinha preta!
Credo em cruz, capeta, pé-de-pato!
Capeta, dente-de-ouro, tome galinha preta,
quero dormir com a Zefa!
Capeta, bode preto, quero dormir com a Zefa! (...)
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Esta fase resulta, no plano formal, da aproximação de Jorge de Lima das conquistas técnicas dos modernistas paulistas, em especial da adoção do verso livre, o que ocorreu em meados da década de 1920. No plano temático, o poeta entre em sintonia com as proposições do Manifesto regionalista, elaboradas por Gilberto Freyre, que defendia uma arte mais localista, voltada para expressão da velha realidade rural do Nordeste. Assim, os poemas que escreve nesta época tem como assunto nuclear a realidade existencial, cultural e histórica das camadas populares do Nordeste.
O universo popular aparece envolto em certo tom nostálgico, identificado de alguma maneira com o mundo dos engenhos decadentes ao qual o poeta historicamente pertencia. Algo similar ao que ocorreria, alguns anos depois, na ficção memorialista de José Lins do Rego. Em geral, Jorge de Lima registra liricamente o saber, as crenças e os aspectos pitorescos de um universo ainda não homogeneizado pelo avanço da modernização capitalista. Um universo onde ainda há lugar para entidades míticas como se vê no poema Diabo brasileiro:
Enxofre, botija, galinha preta!
Credo em cruz, capeta, pé-de-pato!
Diabo brasileiro, dente-de-ouro, botija, onde está?
Credo, capeta, pé-de-pato!
Diabo brasileiro quero saber quando dá
a dezena do carneiro?
Enxofre, botija, galinha preta!
Credo em cruz, capeta, pé-de-pato!
Capeta, dente-de-ouro, tome galinha preta,
quero dormir com a Zefa!
Capeta, bode preto, quero dormir com a Zefa! (...)
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Dentro desta fase nordestina pode-se inserir ainda um conjunto de poemas afro-brasileiros em que o poeta celebra a cultura negra, seus ritmos, sua religiosidade, seus costumes e até mesmo sua história através da evocação, por exemplo, de Zumbi dos Palmares: “Aqui não há cangas, nem troncos, nem banzos! / Aqui é Zumbi! / Barriga da África.” Estes motivos associados à poderosa musicalidade e à capacidade de criação de imagens de Jorge de Lima fazem com que tais criações tenham um significativo encanto, ainda que a ótica que embasa os referidos poemas seja sempre a de um homem branco.
Entre todos os textos do autor alagoano há um que se tornou antológico: Essa negra fulô. Mesclando a lembrança dos engenhos com a violência do escravismo e com a sensualidade de algumas escravas, Jorge de Lima produz o retrato (ao mesmo tempo cruel e erótico) de uma época.
Poesias
XIV Alexandrinos (1914)
O Mundo do Menino Impossível (1925)
Poemas (1927)
Novos Poemas (1929)
Tempo e Eternidade (1935)
A Túnica Inconsútil (1938)
Anunciação e encontro de Mira-Celi (1943)
Poemas Negros (1947)
Livro de Sonetos (1949)
Obra Poética (1950)
Invenção de Orfeu (1952)
Romances
O anjo (1934)
Calunga (1935)
A mulher obscura (1939)
Guerra dentro do beco (1950)
Fontes:
http://pt.wikipedia.org
http://www.culturatura.com.br/
http://educaterra.terra.com.br/
Entre todos os textos do autor alagoano há um que se tornou antológico: Essa negra fulô. Mesclando a lembrança dos engenhos com a violência do escravismo e com a sensualidade de algumas escravas, Jorge de Lima produz o retrato (ao mesmo tempo cruel e erótico) de uma época.
Poesias
XIV Alexandrinos (1914)
O Mundo do Menino Impossível (1925)
Poemas (1927)
Novos Poemas (1929)
Tempo e Eternidade (1935)
A Túnica Inconsútil (1938)
Anunciação e encontro de Mira-Celi (1943)
Poemas Negros (1947)
Livro de Sonetos (1949)
Obra Poética (1950)
Invenção de Orfeu (1952)
Romances
O anjo (1934)
Calunga (1935)
A mulher obscura (1939)
Guerra dentro do beco (1950)
Fontes:
http://pt.wikipedia.org
http://www.culturatura.com.br/
http://educaterra.terra.com.br/
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