Quem sabe do que vivemos?
Sabemos nós, que vivemos.
Quem sabe do sofrimento?
Sabemos nós, que sofremos.
Conheces os lobisomens?
Conhecemos mais que tu.
Falas como te falamos nós?
Achas que falas, maninho.
Tiveste fome em pequeno?
Tivemos nós, ó maninha.
Sabes tu como é meu nome?
Já tiveste em tua vida
Inteira desesperança,
Já sentiste que tua pança
É coisa mais que imoral?
Nunca soubeste ou sentiste,
Sempre pensaste e falaste
E para ti em minha caixa
Trago guardados, maninho,
Remédios feitos de ódio.
Sabes tu como é o meu nome?
Nunca soubeste, irmãozinho.
O meu nome é Meia-Lua
E te quero mal, maninho.
Porque, por ser estrangeiro,
Teu falar não é bem-vindo.
Antes morra eu na terra
Que tu viveres no céu.
Queremos tua mulher
Olhar como as nossas olhas.
Queremos interromper
Teu descanso imerecido.
Se antes tua visita
Era a visita da morte,
Tua jornada hoje é
Tua jornada ao inferno.
Não comas minha comida,
Não arranques minhas plantas,
Não me pegues, não me toques,
Espera que te perdoe
Por seres meu inimigo
E somente te perdôo
Por seres meu inimigo.
Por seres meu inimigo,
Despacho tua alma ao céu.
Por seres meu inimigo,
Quero que tu sejas santo.
Assim, quando tu chegares,
Te beijo e te tiro as tripas,
Te abraço e te assassino.
Mostro como te perdôo,
Te enfiando esta faca.
Mostro que te quero bem
Te humilhando também.
Verás que tenho paixão,
Ao furar teu coração.
Ganharás esta batalha
E tantas outras tu querias,
Tantas quanto teu dinheiro
Possa comprar no mercado.
Mas lembra que o Conselheiro
Não morreu ontem nem hoje,
Nem morreu sua consciência.
Inimigo muito feio,
Feio, feio inimigo,
Por que és tão feio assim?
João Ubaldo Ribeiro em seu livro "Vila Real", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1979, aborda a problemática central do homem nordestino (e que hoje é a de muitos outros de quase todas as regiões do país): aquele que por força do sistema de propriedade da terra é obrigado a perambular de um lado para o outro.
Sabemos nós, que vivemos.
Quem sabe do sofrimento?
Sabemos nós, que sofremos.
Conheces os lobisomens?
Conhecemos mais que tu.
Falas como te falamos nós?
Achas que falas, maninho.
Tiveste fome em pequeno?
Tivemos nós, ó maninha.
Sabes tu como é meu nome?
Já tiveste em tua vida
Inteira desesperança,
Já sentiste que tua pança
É coisa mais que imoral?
Nunca soubeste ou sentiste,
Sempre pensaste e falaste
E para ti em minha caixa
Trago guardados, maninho,
Remédios feitos de ódio.
Sabes tu como é o meu nome?
Nunca soubeste, irmãozinho.
O meu nome é Meia-Lua
E te quero mal, maninho.
Porque, por ser estrangeiro,
Teu falar não é bem-vindo.
Antes morra eu na terra
Que tu viveres no céu.
Queremos tua mulher
Olhar como as nossas olhas.
Queremos interromper
Teu descanso imerecido.
Se antes tua visita
Era a visita da morte,
Tua jornada hoje é
Tua jornada ao inferno.
Não comas minha comida,
Não arranques minhas plantas,
Não me pegues, não me toques,
Espera que te perdoe
Por seres meu inimigo
E somente te perdôo
Por seres meu inimigo.
Por seres meu inimigo,
Despacho tua alma ao céu.
Por seres meu inimigo,
Quero que tu sejas santo.
Assim, quando tu chegares,
Te beijo e te tiro as tripas,
Te abraço e te assassino.
Mostro como te perdôo,
Te enfiando esta faca.
Mostro que te quero bem
Te humilhando também.
Verás que tenho paixão,
Ao furar teu coração.
Ganharás esta batalha
E tantas outras tu querias,
Tantas quanto teu dinheiro
Possa comprar no mercado.
Mas lembra que o Conselheiro
Não morreu ontem nem hoje,
Nem morreu sua consciência.
Inimigo muito feio,
Feio, feio inimigo,
Por que és tão feio assim?
João Ubaldo Ribeiro em seu livro "Vila Real", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1979, aborda a problemática central do homem nordestino (e que hoje é a de muitos outros de quase todas as regiões do país): aquele que por força do sistema de propriedade da terra é obrigado a perambular de um lado para o outro.
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