terça-feira, 15 de julho de 2008

Sylvia Plath (1932 - 1963)

Como ocorre freqüentemente com artistas, o trabalho da poeta americana Sylvia Plath (1932-1963) só se tornou conhecido após sua morte. Sylvia suicidou-se, depois de abandonada pelo marido, o também poeta Ted Hughes. Muitos apontaram Hughes como o principal motivo do suicídio da ex-esposa. O certo é que Sylvia era uma alma atormentada e já havia feito três tentativas de suicídio antes da separação. A história tornou-se até roteiro de cinema, para o filme Sylvia (2003), dirigido por Christine Jeffs, com Gwyneth Paltrow e Daniel Craig, nos papéis da personagem-título e do marido.

O primeiro livro de Sylvia Plath foi publicado em 1960. Era a coletânea The Colossus. Nessa obra, o talento dela já se mostrava, mas a autora ainda estava amarrada a padrões convencionais. Somente nos poemas póstumos — Ariel (1965); Crossing The Water (1971); Winter Trees (1972); e The Collected Poems (1981) — é que se revelaram sua criatividade, técnica e força emocional.

A riqueza da poesia de Sylvia, combinada com as circunstâncias trágicas de sua morte, transformou a escritora num verdadeiro ícone de admiração internacional. Se você for hoje ao Google e digitar o nome dela, vai encontrar nada menos que 144.000 referências. Trata-se de um resultado incrível para um poeta. Apenas a título de comparação: as referências ao roqueiro Mick Jagger, ligado à indústria do entretenimento há mais de 40 anos, não são terrivelmente superiores, como se poderia esperar: 251.000.

Sylvia também escreveu ficção e alguns de seus livros nesse gênero estão disponíveis no Brasil. O único de poesia é uma coletânea bilíngüe, traduzida por Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça (Poemas, Ed. Iluminuras, 1994).

Para ter acesso a toda a poesia de Sylvia Plath no original, visite o site http://PlathOnline . A página oferece os poemas listados por título e permite a busca por palavras ou expressões no conjunto dos textos.

Além da óbvia importância de sua poesia — à publicação, em 2004, do livro Ariel: The Restored Edition, prefaciado por Frieda Hughes, filha de Sylvia Plath. Ariel é um volume póstumo, dado a público originalmente em 1965 pelo poeta inglês Ted Hughes (1930-1998), viúvo de Sylvia e pai de Frieda.

Nessa edição, Hughes alterou o conteúdo do livro, concluído por Sylvia poucos meses antes de cometer suicídio, com apenas 30 anos. Sob o argumento de que pretendia defender a memória da mãe de seus filhos (Frieda tem um irmão mais novo, Nick), respeitar pessoas vivas e preservar sua própria reputação, Hughes subtraiu e adicionou poemas ao volume. Além disso, ele também eliminou poemas por considerá-los fracos.

Somente 41 anos após a morte trágica de Sylvia — e também com Hughes já desaparecido — é que veio à luz a "edição restaurada", trazida por Frieda Hughes. Trata-se, portanto, do Ariel tal como a autora o concebeu. Há cerca de um mês, a Verus Editora, de Campinas (SP), publicou uma versão brasileira da obra, traduzida por Rodrigo Garcia Lopes e Maria Cristina Lenz de Macedo.

Bilíngüe, essa edição traz a reprodução fac-similar das páginas datilografadas e muitas vezes corrigidas à mão pela autora. Garcia Lopes dedica-se à tradução de Sylvia Plath há bastante tempo. Também é dele (em parceria com Maurício Arruda Mendonça) o livro Poemas (Ed. Iluminuras, 1994), que serviu de base para o primeiro boletim com a poeta americana.

Como se sabe, Hughes e Sylvia haviam se separado e ele mantinha um caso com outra mulher. Feministas e admiradores de Sylvia consideravam o marido responsável pela sua morte. Acusavam-no de tê-la abandonado num momento em que ela se encontrava emocionalmente instável. Esse mesmo viés é abraçado pelo filme Sylvia, de 2003, dirigido por Christine Jeffs, com Gwyneth Paltrow e Daniel Craig nos papéis da personagem-título e do marido.

No prefácio do Ariel restaurado, Frieda Hughes, também poeta, explica em detalhes os motivos do pai. Defende-o, falando sobre a profunda angústia da mãe, seu "temperamento feroz e caráter ciumento" e sobre as calúnias que se abateram sobre o pai. "A crítica a meu pai foi feita até mesmo em relação à posse dos direitos autorais de minha mãe, que couberam a ele na morte dela e que ele usou para beneficiar diretamente a mim e a meu irmão", relata ela.

O que parece não deixar espaço para dúvida é a "grande confusão emocional" (palavras de Frieda) vivida por Sylvia Plath nos meses que antecederam seu suicídio. Poesia e tragédia deram a ela, post mortem, uma popularidade inusitada. Aparentemente, em "Lady Lazarus", a poeta diz que, aos 30 anos, tem nove vidas, como um gato. "Esta é Número Três". Naquele momento, 1962, ela já havia feito três tentativas de suicídio. "Um ano em cada dez / Eu dou um jeito", escreve, com um toque de humor angustiado.

Os dois poemas: "Ariel" e "Lady Lazarus" são exemplos do talento de Sylvia Plath, que combina um ritmo forte com imagens inusitadas. "Orvalho que voa / Suicida, e de uma vez avança / Contra o olho / Vermelho, caldeirão da manhã", escreve ela, no final de "Ariel".

Fonte:
Carlos Machado. Poesianet. in http://www.algumapoesia.com.br

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