terça-feira, 15 de julho de 2008

Geraldine Brooks (As Memórias do Livro)

Com um título sugestivo, “As Memórias do Livro” parece soar estranho à primeira vista, mas traduz exatamente seu conteúdo: é um livro que conta a história de outro livro.

Este é o quinto livro da autora, a jornalista do Washington Post, Geraldine Brooks e já se tornou um best-seller. A autora usou uma pitada de ficção para relatar os caminhos percorridos por um livro conhecido como a “Hagadá de Sarajevo”, de alguns daqueles que tentaram destruí-la e também de outros que, com sucesso salvaram-na nos últimos séculos.

Quem conta a história é a fictícia personagem Hanna, uma australiana contratada pela ONU para trabalhar na restauração e preparação do livro para ser apresentado ao público. A cada página, a personagem encontra pistas, que posteriormente darão inicio de onde e com quem o manuscrito esteve quando foram parar no livro, relatando todo o percurso, problemas e personagens (alguns deles reais) que colaboraram (ou não) para que o manuscrito chegasse daquela forma ao local onde está.

O ponto mais alto do livro é mostrar um lado talvez esquecido, ou melhor, ignorado, por muitos de nós, fatos que esclarecem o passado e põe à tona verdades um tanto desconhecido pela maioria: a perseguição dos judeus, que começa com a Inquisição feita pela Igreja Católica (bem antes do que muitos se recordam e com conseqüências talvez tão grandes como feitas por Hitler) e chega ao cume com os nazistas. Fala também sobre as questões entre mulçumanos e judeus, que mostrou compaixão e respeito por esse povo no decorrer dos séculos.

“As Memórias do Livro” retrata os momentos delicados no mundo para o povo judeu, colocando em evidência épocas desesperadoras, sem terra, sem país, vivendo em um local onde eram perseguidos por sua crença, considerados “assassinos de Jesus”. Ao mesmo tempo mostra outro lado pouco mencionado, quem estendeu a mão, deu abrigo e liberdade religiosa: os mulçumanos. Esses dos quais são os principais heróis de “As Memórias do Livro”, já que por diversas vezes, encararam o perigo para que a Hagadá de Sarajevo não fosse para a fogueira.

É interessante explicar sobre o manuscrito que deu origem ao livro: Hagadá é um manuscrito judaico que relata a escravidão e a saída dos hebreus do Egito descrita no livro de Êxodo, acrescido de orações e Salmos. É um manuscrito usado nas celebrações da páscoa utilizado por diversas famílias judaicas, para facilitar em uma das leis instituídas por Deus: “E contarás a teu filho, naquele dia, dizendo: por causa do que o Senhor fez por mim, quando saí do Egito” (Êxodo 13:8).

A Hagadá de Sarajevo foi criada para ser um presente de casamento. Foi produzida na Espanha, durante o reino de Aragão, é decorado com ouro e bronze e cores vivas. Tornou-se especial por possuir peculiaridades, dentre elas ilustrações que não são comuns nos livros judaicos, que costumam seguir ao mandamento que proíbe imagens esculturas.

No século XV, a Hagadá sai da Espanha junto com a família que a possuía e que foram expulsos, junto com os demais judeus, pela Inquisição espanhola. Os judeus espanhóis se refugiaram nas áreas do Império turco-otomano dominada pelos mulçumanos. Chegou à cidade de Sarajevo, capital da Bósnia, no século XVI, levada pela família a quem pertencia, os Cohen, que vendeu o manuscrito séculos depois para o Museu Nacional da Bósnia devido a problemas financeiros.

Desde então a Hagadá de Sarajevo passou por guerras e conflitos armados grandes naquela região, como I e II Guerra Mundial e a guerra civil da Iugoslávia, as duas últimas, salvas por mulçumanos, que mostraram assim o respeito que possuem por outras religiões, ação contrária ao que o cristianismo tem mostrado desde sua criação.

Com uma história como essa, o livro de Geraldine Brooks se torna fascinante, nos ensina mais sobre a cultura e história de um povo muito comentado, mas que só conhecemos nos tempos de Moisés e Jesus, mas ainda continua a criar história. De seus ritos e cultura, e principalmente, os motivos de ações e conflitos atuais, são bem diferentes dos que pensamos ser.

Fonte:
http://www.dotgospel.com/blog/as-memorias-do-livro-resenha/

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