domingo, 3 de agosto de 2008

Rosangela Aliberti (Pise na Grama)

Qual a cor do teu céu? Como se explica o valor de uma noite de estrelas para quem não quer enxergar o céu...?

Esta é a história de dois velhos amigos, que se conhecem há mais ou menos quarenta anos, destas amizades que são conservadas apesar de novas pessoas dividirem caminhos de estradas.

- Daria tudo para enxergar uma estrela agora, disse o amigo mais velho impossibilitado desde pequeno do recurso do sentido da visão. Gostaria de ver agora o verde de um farol...

- Farol...!?! Retrucou S.

- Sim, do semáforo?

- ...Então vamos seguir em frente juntos...o que consegue perceber deste seu verde... ele te faz lembrar o que?

- Você tocou na palavra a minha ferida...

- Só podemos tocar nas feridas quando alguém se deixa tocar... Fale mais sobre esta sua ferida verde, JJ.

- Minha angústia, é como uma placa no meio do tráfego que diz o seguinte: RETORNO...

- Enquanto seus pensamentos retornam... penso nas placas verdes de retorno na cidade... e na placa SAÍDA...

- Sinto o cheiro tinta verde da tal placa RETORNO e o cheiro de tinta velha nesta parede que acabei de tocar... não encontro uma saída... - Choramingou, JJ.

- Vamos entrar no parque e caminhar... logo, logo poderíamos tirar os sapatos? Sinalizou, S.

- Para quê?

- Para fazer uma estrela com as pernas, descarregar energias, sentir a natureza de pertinho... e fazer algo contrário do que aquela placa diz... ¿ Sorriu S.

- Não tem cabimento eu fazer uma estrela nestas alturas do campeonato estou enferrujado, mas descarregar as energias... escute por aqui não é proibido pisar na grama...?

- Vamos lá se não conseguir fazer a estrela sinta seu corpo como uma estrela CHEIA DE LUZ, pois você ainda não sabe a tonalidade da grama, como eu não percebo muitas coisas ao meu redor, mas estou a fim de pisar nela... e você?

- Quero colocar os pés na grama: AGORA! (meias tiradas) Uauu sinta só os pelinhos da grama, não está seca, S., somos estrelas!!! Não estou sentindo mais o cheiro daquela da tinta na parede... que importa a cor daquela tinta na parede quando se pode sentir algo a mais que as pessoas não dão valor?

- Bingo! Seus pensamentos giram mais do que a roda de colocar os números de um jogo de tômbola... A roleta gira gira gira deságua um número e quando todas as pedras tiverem sido 'cantadas' irão retornar para o seu devido lugar... e um novo jogo será reiniciado... verdinho em folha...

- S. escreva em seu diário um poema verde, para mim... disse JJ.

- Acho que estamos construindo um poema verde em folha juntos... não quero escrever um poema concreto com a frieza dos edifícios com seus elevadores que sobem e descem automaticamente sem nenhum bom dia
do ascensorista por perto...

Bom dia JJ!!! Bom dia JJ!!! É difícil escrever um poema quando sentimos falta do limo nas pedras nos riachos sob os reflexos da lua nos dias quentes de verão... mas temos a grama para se pisar com os pés descalços; não é fácil escrever um poema sem o latido dos cães no velho morro perto de casa que se transformou num arsenal de prédios verticalizados formando um novo condomínio, mas temos agora a cantoria dos sapos na beira do rio no parque... Proponho agora que você me diga qual o seu poema verde...

- Meu poema verde tem o sorriso da alma das flores, S., é o verde do estojo com todos os outros lápis coloridos... Riu, JJ.

- Quem pode sonhar com a alma da flores... seria como poder sentir a alma das pessoas... se você não tem o verde, mas tiver nas mãos as tonalidades do perfume da alma de alguém a partir daquilo que constroem na vida quem precisa do verdadeiro estojo...? O verde relaxa, pessoas verdes estão sempre com seus faróis internos ligados para o verde!

- ...A lembrança do mar, o brilho da palavra esmeralda, o odor adocicado e enjoativo das damas da noites, meu poema verde tem explosões da revoada de borboletas raras, pios dos sábias laranjeiras dividindo os
vôos e os rodop(ios) nas asas das fadas recém-saídas dos livros de contos, gritando em coro: Verde! Verde! Verde... das pequenas tartarugas fora do aquário! O verde das roupas de algodão penduradas no varal
saem dos varais é o verde de uma poesia clara: como o perfume de incenso, o verde esperança do ramalhete de noiva, o verde do novinho em folha... verde broto! Soltou a voz o amigo.

- Seu poema verde tem determinadas coisas que também não posso tocar nem ver... parece que te fez sentir feliz? ...Tome esta folha o que você sente agora? Perguntou, S.

- As nervuras, a textura, a suavidade, uma parte da natureza sem enxergar o brilho: a folha brilha como as esmeraldas que descobri... dentro de mim, como os reflexos da lua que você citou agora... a falta de algo sempre irá existir para você e para mim, não é S.? Acho que podemos agora seguir em frente calçar os sapatos, vou levar está folha e o dia que ela secar, vou procurar pisar na grama aonde estiver escrito não pise na grama... alguém poderá sinalizar para mim: Você me ajudou mas eu te ajudei também, nem sempre aquilo que é proibido faz mal para todo mundo.

- Ok!!! JJ como a 'consulta foi mútua' (sorriso) não vou te o que cobrar nada... o jogo está um a um. Vamos continuar andando... o que você ouve agora?

- Os pássaros... - disse JJ. E se um dia o guarda implicar conosco...

- Acho que continuaria procurando pela grama... (com ou sem placa), garanto que têm muitas pessoas por aqui que estão caminhando no parque e não estão prestando atenção na beleza do canto das aves... Concluiu, S.

- ...E no barulho do balanço das folhas soltando o aroma dos eucaliptos... sigamos em frente sem todas as luzes que gostaríamos porém com o coração e a intenção dos... faróis!
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A Autora por Ela Mesma
Nasci no sítio Bom Refúgio, em Sampa, hoje uma pequena chácara, em uma noite de lua cheia à uma da manhã de 21 de junho no ano da revolução de 64 (sou do século passado, ´pessoas...´) e com muito bom humor! Tenho raízes caboclas da parte materna e salernitana do lado paterno, sou filha de artesãos. Atualmente divorciada, não tenho filhos, sou uma paulistana com o coração paulista nesta selva de pedra... ("va benne sono" italo-brasileira) apaixonada por pessoas, plantas, animais, música e Arte em geral. Trabalhei como Química na área de Metalúrgica, atuo como Psicoterapeuta Floral de Bach e Minas; conclui Especialização em Psicologia em Hospital Geral pelo Hospital das Clínicas em São Paulo. Apesar de escrever desde pequena... a escrita criou para mim um sentido de auto-descoberta em 2001 comecei a tirar os textos das agendas, produzi cerca de mais de 1300 pequenos textos: ´ensaios´ devido o contato os Grupos do yahoo (tendo em mente que quantidade não é sinônimo de qualidade). O que escrevo pode calar mais fundo do que qualquer linha que possa deixar por aqui registrada, por fazer parte de meu autoconhecimento diário. Quem considera os poemas como parte do dia a dia, tem como um dos principais passatempo é escrever... "Viver a Poesia" (estando aberto para a troca de idéias pode ser enriquecedor).

Fontes:
Mulheres Escritoras. In http://www.silvei.blogger.com.br/
http://recantodasletras.uol.com.br/

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