O Desabrochar do Indivíduo
A Grande Depressão dos anos 1930 tinha literalmente destruído a economia americana. A Segunda Guerra Mundial a recuperou. Os Estados Unidos tornaram-se a principal força no cenário mundial, e os americanos do pós-Segunda Guerra desfrutaram de prosperidade pessoal e liberdade individual sem precedentes.
A expansão do ensino superior e a disseminação da televisão nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial possibilitaram que pessoas comuns obtivessem informações por conta própria e se tornassem mais sofisticadas. Um excesso de comodidades aos consumidores e o acesso a casas grandes e atraentes em áreas residenciais de classe média deram maior autonomia às famílias. As difundidas teorias da psicologia freudiana enfatizaram as origens e a importância da mente individual. A “pílula” anticoncepcional liberou as mulheres da estrita obediência às normas biológicas. Pela primeira vez na história da humanidade, muitas pessoas comuns podiam levar a vida de forma altamente satisfatória e afirmar seu valor pessoal.
A ascensão do individualismo de massa — bem como os movimentos pelos direitos civis e contra a guerra dos anos 1960 — deu mais poder a vozes antes emudecidas. Os escritores revelaram a sua natureza mais íntima, bem como experiências pessoais, e a relevância da experiência individual indicava a importância do grupo ao qual estava ligada. Homossexuais, feministas e outras vozes marginalizadas exaltavam suas histórias. Escritores judeus americanos e negros americanos encontraram grande público por causa de suas variações do sonho ou do pesadelo americano. Escritores de origem protestante, tais como John Cheever e John Updike, discutiram o impacto da cultura do pós-guerra em uma vida como a deles. Alguns escritores modernos e contemporâneos ainda estão ligados a tradições mais antigas, como o realismo. Alguns podem ser descritos como classicistas, outros como experimentais, estilisticamente influenciados pela transitoriedade da cultura de massa ou por filosofias como o existencialismo ou o socialismo. Outros são mais facilmente agrupados por etnia ou região. No entanto, como um todo, os escritores modernos sempre afirmam o valor da identidade individual.
Sylvia Plath (1932-1963)
Sylvia Plath teve uma vida aparentemente exemplar. Freqüentou a Faculdade Smith com bolsa de estudos e se formou como primeira da sua turma. Também ganhou uma bolsa Fulbright para a Universidade de Cambridge na Inglaterra. Foi lá que encontrou seu carismático futuro marido, o poeta Ted Hughes, com quem teve dois filhos e foi morar em uma casa de campo na Inglaterra.
Por trás do sucesso de conto de fadas acumulavam-se os problemas mal resolvidos evocados em seu romance altamente merecedor de ser lido, A Redoma de Vidro (1963). Alguns desses problemas eram pessoais, ao passo que outros eram fruto da identificação de atitudes repressivas com relação à mulher nos anos 1950. Entre elas encontram-se crenças — compartilhadas inclusive por muitas mulheres — de que a mulher não deveria mostrar raiva nem ter ambição de carreira, mas alcançar a realização na tarefa de cuidar do marido e dos filhos. Mulheres profissionalmente bem-sucedidas como Sylvia Plath sentiam que viviam uma contradição.
A vida de Sylvia Plath, que mais parecia ficção, desmoronou quando ela se separou de Hughes e começou a cuidar dos filhos pequenos em um apartamento londrino durante um inverno extremamente frio. Doente, isolada e desesperada, Plath trabalhou contra o tempo para produzir uma série de estonteantes poemas, antes de se suicidar inalando gás de cozinha. Esses poemas foram reunidos na coletânea Ariel (1965), dois anos após sua morte. O poeta Robert Lowell, que escreveu a introdução, ressaltou a rápida evolução de sua arte desde a época em que freqüentava aulas de poesia em 1958.
Os primeiros poemas de Plath eram bem elaborados e tradicionais, mas os da fase final revelam uma bravura desesperada e um grito protofeminista de angústia. Em “O Candidato” (1966), Plath expõe o vazio do atual papel de esposa (que se vê reduzida a uma “coisa” inanimada):
Uma boneca de carne, onde quer que você olhe.
Sabe costurar, sabe cozinhar.
Sabe falar, falar, falar.
(Tradução de Rodrigo Garcia Lopes e Maria Cristina Lenz de Macedo)
Allen Ginsberg (1926-1997)
Os “poetas beat” surgiram nos anos 1950. O termo “beat” sugere vários tempos fortes de uma música, como no jazz; beatitude angelical ou bem-aventurança; e “beat up”, cansado ou batido, surrado, machucado. Os beats (beatniks) tiveram como fonte de inspiração o jazz, a religião oriental e a vida errante. Tudo isso foi descrito no famoso romance de Jack Kerouac On the Road — Pé na Estrada, que foi uma sensação na época de sua publicação em 1957. Relato de uma viagem de carro pelo país em 1947, o romance foi escrito em um rolo de papel contínuo durante três semanas alucinantes, o que Kerouac chamou de “prosa bop espontânea”. O estilo selvagem e aberto a improvisações, personagens que eram ao mesmo tempo antenados e místicos e a rejeição às convenções inflamaram a imaginação dos jovens leitores e ajudaram a abrir a porta para a contracultura independente dos anos 1960.
Os beats mais importantes migraram da Costa Leste dos Estados Unidos para São Francisco, obtendo reconhecimento nacional pela primeira vez na Califórnia. O carismático Allen Ginsberg tornou-se o principal porta-voz do grupo. Filho de um pai poeta e de uma mãe que além de excêntrica era militante comunista, Ginsberg freqüentou a Universidade de Colúmbia, onde logo fez amizade com os colegas Kerouac (1922-1969) e William Burroughs (1914-1997), cujos romances violentos e apavorantes sobre o submundo da dependência química da heroína incluem O Almoço Nu (1959). O trio foi o núcleo do movimento beat.
A poesia beat é oral, repetitiva e produz grande efeito quando lida, principalmente porque surgiu das leituras de poesia em clubes “underground”.Algumas pessoas podem estar corretas ao vê-la como a bisavó do rap, que prevaleceu nos anos 1990. A poesia beat foi a forma literária mais antiestablishment dos Estados Unidos, mas por trás das palavras chocantes existe o amor pelo país. A poesia é um grito de dor e raiva contra o que os poetas vêem como a perda da inocência americana e o trágico desperdício de seus recursos materiais e humanos.
Poemas como Uivo (1956) de Allen Ginsberg revolucionaram a poesia tradicional.
Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela
loucura, morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada
em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
“hipsters” com cabeças de anjo ansiando pelo antigo contato celestial
com o dínamo estrelado na maquinaria da noite...
(Tradução de Claudio Willer)
Tennessee Williams (1911-1983)
Nascido no Mississippi, Tennessee Williams foi um dos indivíduos mais complexos da cena literária americana de meados do século 20. Sua obra enfocou os distúrbios emocionais no seio das famílias — a maioria delas sulistas. Ficou conhecido por suas repetições encantatórias, pela dicção poética peculiar do sul, pelos estranhos cenários góticos e pela exploração freudiana da emoção humana. Um dos primeiros autores americanos a assumir abertamente a sua homossexualidade, Williams explicou que os anseios dos seus atormentados personagens eram expressão da solidão em que viviam. Eles vivem e sofrem intensamente.
Williams escreveu mais de 20 peças de teatro, muitas delas autobiográficas. Atingiu o apogeu relativamente cedo na carreira — nos anos 1940 — com À Margem da Vida (1944) e Um Bonde Chamado Desejo (1949). Nenhuma de suas obras publicadas nas duas décadas seguintes alcançou o nível de sucesso e a riqueza dessas duas peças.
Eudora Welty (1909-2001)
Nascida no estado do Mississippi em uma família abastada, de pais que vieram do norte, Eudora Welty teve como guias os romancistas Robert Penn Warren e Katherine Anne Porter. Na verdade, foi Katherine Porter quem escreveu a introdução da primeira coletânea de contos de Welty, A Curtain of Green [Uma Cortina de Verde] (1941). Em sua obra matizada, Eudora Welty buscou seguir o exemplo de Porter, mas essa mulher mais jovem se sentia de fato mais atraída pelo cômico e grotesco.Como a colega escritora sulista Flannery O’Connor, Welty escolhia geralmente como tema personagens anormais, excêntricos ou excepcionais.
Apesar da presença da violência em sua obra, a engenhosidade de Welty era essencialmente humana e afirmativa. Suas coletâneas de contos incluem The Wide Net [A Grande Rede] (1943), The Golden Apples [As Maçãs Douradas] (1949), The Bride of the Innisfallen [A Noiva de Innisfallen] (1955) e Moon Lake [Lago da Lua] (1980). Welty também escreveu romances como, por exemplo, Casamento no Delta (1946), que tem como tema central uma família rural em tempos modernos e A Filha do Otimista (1972).
Ralph Ellison (1914-1994)
Ralph Ellison era do Centro-Oeste, nascido em Oklahoma. Estudou no Instituto Tuskegee no Sul dos Estados Unidos. Teve uma das carreiras mais estranhas das letras americanas — que consiste de um livro altamente aclamado e pouco mais do que isso.
Seu romance Homem Invisível (1952) é a história de um jovem negro que leva uma vida secreta em um porão profusamente iluminado por energia elétrica roubada de uma prestadora de serviços públicos. O livro narra suas experiências grotescas e frustrantes. Ao ganhar uma bolsa de estudos para uma faculdade exclusivamente para negros, ele é humilhado pelos brancos; ao chegar lá, vê o presidente da escola menosprezar os problemas dos negros americanos. A vida também está corrompida fora da faculdade. Por exemplo, mesmo a religião não serve de consolo: um pregador acaba por se revelar um criminoso. O romance acusa a sociedade de falhar em prover seus cidadãos — negros e brancos — com ideais e instituições capazes de realizá-los. O romance expressa um tema racial forte porque o “homem invisível” não é invisível por si mesmo, mas porque os outros, cegos pelo preconceito, não conseguem vê-lo pelo que é.
Saul Bellow (1915-2005)
Nascido no Canadá e educado em Chicago, Saul Bellow era de família de origem judaica russa. Na faculdade, estudou antropologia e sociologia, e isso teve grande influência em sua produção literária. Certa vez expressou sua profunda gratidão ao romancista realista americano Theodore Dreiser por sua abertura para um amplo leque de experiências e seu envolvimento emocional nisso. Altamente respeitado, Bellow recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1976.
Os primeiros romances existencialistas e algo sombrios de Bellow incluem Por Um Fio (1944), estudo kafkiano de um homem esperando o alistamento no exército, e A Vítima (1947), sobre as relações entre judeus e gentios. Nos anos 1950, sua visão ganhou uma conotação mais cômica: usou diversos narradores ativos e ousados em primeira pessoa em As Aventuras de Augie March (1953) — o estudo de um empresário urbano do tipo “Huck Finn” que se torna comerciante no mercado negro da Europa — e em Henderson, o Rei da Chuva (1959), romance sério-cômico brilhante e exuberante sobre um milionário de meia-idade cujas ambições irrealizadas o encaminham para a África.
As obras posteriores de Bellow incluem Herzog (1964), sobre a vida agitada de um professor de inglês neurótico que se especializa no ideal do eu romântico; O Planeta do Sr. Sammler (1970); O Legado de Humboldt (1975); e o autobiográfico Dezembro Fatal (1982). Agarre a Vida (1956) é uma novela centrada em um homem de negócios fracassado, Tommy Wilhelm, que é de tal forma consumido por sentimentos de insuficiência que acaba por se tornar totalmente inadequado — um fracasso com as mulheres, nas tarefas, com as máquinas e no mercado de commodities, onde perde todo o seu dinheiro. Wilhelm é um exemplo do schlemiel (indivíduo sem sorte, pessoa azarada) do folclore judaico — a quem sempre acontecem coisas infelizes.
John Cheever (1915-2005)
John Cheever tem sido chamado com freqüência de “romancista de costumes”. É também conhecido por seus contos elegantes e sugestivos, que examinam minuciosamente o mundo dos negócios de Nova York por meio de seus efeitos sobre os empresários, suas mulheres, seus filhos e amigos.
Uma melancolia mordaz e o desejo de paixão — ou certeza metafísica — nunca totalmente mitigado, mas aparentemente sem esperança, espreitam nas sombras dos contos de Cheever, delicadamente elaborados em um estilo tchekoviano e reunidos em The Way Some People Live [A Forma Como Algumas Pessoas Vivem] (1943), The Housebreaker of Shady Hill [O Arrombador de Shady Hill] (1958), Some People, Places, and Things That Will Not Appear in My Next Novel [Algumas Pessoas, Lugares e Coisas que Não Aparecerão no Meu Próximo Romance] (1961), The Brigadier and the Golf Widow [O Brigadeiro e a Viúva do Golfe] (1964) e O Mundo das Maçãs (1973). Seus títulos revelam sua característica indiferença, jocosidade e irreverência e fazem alusão ao assunto tratado.
Cheever também publicou vários romances — O Escândalo dos Wapshot (1964), Acerto de Contas (1969) e Sobrevivendo na Prisão (1977) — o último do qual é largamente autobiográfico.
John Updike (1932-2009)
John Updike, como Cheever, também é considerado escritor de costumes com suas narrativas ambientadas nos bairros de classe média, assuntos domésticos, reflexões sobre o tédio e a melancolia e, em especial, seus locais ficcionais no litoral leste dos Estados Unidos, em Massachusetts e na Pensilvânia.
É mais conhecido por seus cinco livros do Coelho, descrições da vida de um homem — Harry “Coelho” Angstrom — por meio dos altos e baixos de sua existência ao longo de quatro décadas de história social e política dos EUA. Coelho Corre (1960) é um reflexo dos anos 1950, apresentando Angstrom como um jovem marido descontente e sem rumo. Coelho em Crise (1971) — destacando a contracultura dos anos 1960 — encontra Angstrom ainda sem objetivos e propósitos definidos ou sem uma alternativa viável para escapar do banal. Em O Coelho Está Rico (1981), Harry torna-se um empresário próspero na década de 1970, enquanto a era do Vietnã começava a sair de cena. O romance final, Coelho Cai (1990), vislumbra a reconciliação de Angstrom com a vida antes de morrer vítima de um ataque cardíaco, tendo como pano de fundo os anos 1980.
Updike é atualmente o escritor de estilo mais brilhante entre todos os outros, e seus contos oferecem exemplos cintilantes de sua abrangência e inventividade.
Norman Mailer (1923-2007)
Norman Mailer se transformou no romancista de maior visibilidade dos anos 1960 e 1970. Co-fundador do The Village Voice, jornal semanal antiestablishment da cidade de Nova York, Mailer promoveu ao mesmo tempo a si mesmo e suas opiniões políticas. Em sua ânsia por experiência, estilo vigoroso e persona pública surpreendente, Mailer segue a tradição de Ernest Hemingway. Para conseguir uma posição estratégica na cobertura do assassinato do presidente John F. Kennedy, dos protestos contra a Guerra do Vietnã, da libertação negra e do movimento de mulheres, encarnou diferentes personas, apresentando-se como alguém por dentro da moda, existencialista e o macho por excelência (em seu livro Política Sexual, Kate Millett identificou Mailer como machista arquetípico). O irreprimível Mailer não só casou seis vezes como se candidatou a prefeito de Nova York.
A partir de exercícios ao estilo do Novo Jornalismo como Miami e o Cerco de Chicago (1968), análise das convenções presidenciais americanas de 1968, e o instigante estudo sobre a execução de um criminoso condenado, A Canção do Carrasco (1979), Mailer passou a escrever romances ambiciosos, embora cheios de falhas, como Noites Antigas (1983), ambientado no antigo Egito, e o Fantasma da Prostituta (1991), que gira em torno da Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA).
Toni Morrison (1931- )
A romancista afro-americana Toni Morrison nasceu no estado de Ohio em uma família de formação espiritual. Estudou na Universidade de Howard em Washington, D.C., onde tem trabalhado como editora sênior de uma grande editora e professora ilustre em várias universidades.
A ficção altamente elaborada de Toni Morrison ganhou reconhecimento internacional. Em romances fascinantes e cheios de vigor, ela trata da complexidade da identidade negra de forma universal. Em sua obra inicial, O Olho Mais Azul (1970), uma jovem negra de personalidade forte conta a história de Pecola Breedlove, que é levada à loucura por um pai agressor. Pecola acredita que seus olhos escuros tornaram-se azuis por um passe de mágica e que eles a farão uma pessoa adorável. Morrison tem afirmado que criou seu próprio sentido de identidade como escritora por meio desse romance: “Eu era a Pecola, a Claudia, todo mundo.”
Sula (1973) descreve a forte amizade entre duas mulheres. Morrison pinta as mulheres afro-americanas como personagens únicos, totalmente individualizados, não estereotipados. Seu romance A Canção de Solomon (1977) ganhou vários prêmios. O livro segue a trajetória de um negro, Milkman Dead, e suas complexas relações com a família e a comunidade. Amada (1987) é a perturbadora história de uma mulher que prefere assassinar seus filhos a deixá-los viver como escravos. Nesse romance emprega técnicas oníricas do realismo mágico ao descrever a misteriosa figura de Amada, que volta a viver com a mãe que havia cortado sua garganta. Jazz (1992), ambientado no Harlem dos anos 1920, é uma história de amor e assassinato. Em 1993, Morrison ganhou o Prêmio Nobel de Literatura.
Literatura contemporânea
No final do século 20 e início do século 21, a mobilidade social e geográfica das massas, a internet, a imigração e a globalização apenas enfatizaram a voz subjetiva em um contexto de fragmentação cultural. Alguns escritores contemporâneos refletem uma inclinação em direção a vozes mais calmas e acessíveis. Para muitos autores de prosa, a região, em vez da nação, é a geografia que importa.
Louise Glück (1943- )
Uma das mais impressionantes poetas contemporâneas é Louise Glück. Nascida na cidade de Nova York, Glück, poeta americana premiada em 2003 e 2004, cresceu com permanente sentimento de culpa devido à morte de uma irmã nascida antes dela. Na Faculdade Sarah Lawrence e na Universidade de Colúmbia, estudou com os poetas Leonie Adams e Stanley Kunitz. Grande parte de sua poesia fala de perdas trágicas. Cada livro de Glück é um experimento de novas técnicas, tornando difícil uma síntese de sua obra.
Em seu memorável A Íris Selvagem (1992), diferentes tipos de flores pronunciam pequenos monólogos metafísicos. O poema que dá título ao livro, uma exploração da ressurreição, poderia ser uma epígrafe para o conjunto de sua obra. A íris selvagem, uma flor linda de cor azul profundo que ao brotar de um botão que ficou adormecido durante todo o inverno, diz: “É terrível sobreviver / como consciência / enterrada na terra escura.”
Do centro da minha vida brotou
uma grande fonte, sombras de cor
azul profundo sobre o azul-celeste da água do mar.
Billy Collins (1941- )
A poesia de Billy Collins é original e estimulante. Collins usa a linguagem corrente para registrar milhares de detalhes da vida diária, combinando livremente os eventos do cotidiano (comer, realizar tarefas, escrever) com referências culturais. Seu humor e originalidade fizeram com que ele atraísse o grande público. Embora alguns tenham acusado Collins de ser acessível demais, seus imprevisíveis vôos de imaginação mergulham no mistério.
A obra de Collins é uma forma domesticada de surrealismo. Seus melhores poemas catapultam de imediato a imaginação para uma série de situações cada vez mais surrealistas, propiciando no final uma aterrissagem emocional, uma disposição de ânimo na qual podemos nos apoiar. O pequeno poema “The Dead” [O Morto], tirado de Sailing Alone Around the Room: New and Selected Poems [Velejando Sozinho em Volta do Quarto: Novos Poemas Selecionados] (2001), dá uma idéia do vôo imaginativo e do suave aterrizar de Collins, como o de uma ave em busca de repouso.
Os mortos estão sempre a nos desdenhar, segundo dizem,
enquanto calçamos nossos sapatos ou preparamos um sanduiche,
eles nos olham com desdém de seus barcos de fundo de vidro, lá no céu
em seu lento remar pela eternidade.
Annie Proulx (1935- )
A surpreendente escritora Annie Proulx cria histórias sobre os batalhadores habitantes do norte da Nova Inglaterra em Canções do Coração (1988). Seu melhor romance, Chegadas e Partidas (1993), é ambientado mais para o norte, em Newfoundland, Canadá. Proulx também passou anos no Oeste, e um de seus contos originou o filme “O Segredo de Brokeback Mountain”, em 2006.
Richard Ford (1944- )
Oriundo do Mississippi, Richard Ford começou a escrever no estilo faulkneriano, porém, é mais conhecido por seu romance sutil ambientado em Nova Jersey, O Cronista Esportivo (1986), e sua continuação, Independência (1995). Esse romance é sobre Frank Bascombe, um vagabundo sonhador, ambíguo, que perde todas as coisas que dão sentido à sua vida — um filho, seu sonho de escrever ficção, seu casamento, amantes, amigos e emprego. Bascombe é sensível e inteligente — suas escolhas, diz ele, são feitas “para desviar a dor do arrependimento terrível” — e seu vazio, junto com os anônimos shopping centers e novos empreendimentos imobiliários áridos, os quais ele continuamente percorre em silêncio para comprovar a visão de Ford de uma doença nacional.
Amy Tan (1952- )
O norte da Califórnia abriga uma rica tradição literária ásio-americana, cujos temas característicos incluem família e papéis dos gêneros, conflito entre gerações e busca de identidade. Uma escritora ásio-americana da Califórnia é a romancista Amy Tan, cujo best-seller Clube da Felicidade e da Sorte tornou-se filme de sucesso em 1993. Seus capítulos interligados como contos delineiam os diferentes destinos de quatro pares de mãe e filha. Entre os romances de Amy Tan que abarcam a China histórica e os Estados Unidos da atualidade, encontram-se Os Cem Sentidos Secretos (1995), sobre meias-irmãs, e A Filha do Restaurador de Ossos (2001), sobre os cuidados de uma filha com sua mãe.
Sherman Alexie (1966- )
Sherman Alexie, índio criado na reserva de Spokane, da tribo Coeur d’Alene, é o mais jovem romancista indígena a alcançar fama nacional. Alexie faz relatos humorísticos e pouco românticos da vida dos índios abordando misturas incoerentes de tradição e cultura popular. Fazem parte de seus ciclos de contos Reservation Blues [O Blues da Reserva] (1995) e The Lone Ranger and Tonto Fistfight in Heaven [A Luta de Zorro e Tonto no Céu] (1993), que inspirou o ótimo filme sobre a vida nas reservas Sinais de Fumaça (1998), com roteiro do próprio Alexie. A coletânea recente de contos de Alexei é The Toughest Indian in the World [O Índio Mais Forte do Mundo] (2000).
Fonte:
http://embaixadaamericana.org.br/HTML/literatureinbrief/chapter03.htm
A Grande Depressão dos anos 1930 tinha literalmente destruído a economia americana. A Segunda Guerra Mundial a recuperou. Os Estados Unidos tornaram-se a principal força no cenário mundial, e os americanos do pós-Segunda Guerra desfrutaram de prosperidade pessoal e liberdade individual sem precedentes.
A expansão do ensino superior e a disseminação da televisão nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial possibilitaram que pessoas comuns obtivessem informações por conta própria e se tornassem mais sofisticadas. Um excesso de comodidades aos consumidores e o acesso a casas grandes e atraentes em áreas residenciais de classe média deram maior autonomia às famílias. As difundidas teorias da psicologia freudiana enfatizaram as origens e a importância da mente individual. A “pílula” anticoncepcional liberou as mulheres da estrita obediência às normas biológicas. Pela primeira vez na história da humanidade, muitas pessoas comuns podiam levar a vida de forma altamente satisfatória e afirmar seu valor pessoal.
A ascensão do individualismo de massa — bem como os movimentos pelos direitos civis e contra a guerra dos anos 1960 — deu mais poder a vozes antes emudecidas. Os escritores revelaram a sua natureza mais íntima, bem como experiências pessoais, e a relevância da experiência individual indicava a importância do grupo ao qual estava ligada. Homossexuais, feministas e outras vozes marginalizadas exaltavam suas histórias. Escritores judeus americanos e negros americanos encontraram grande público por causa de suas variações do sonho ou do pesadelo americano. Escritores de origem protestante, tais como John Cheever e John Updike, discutiram o impacto da cultura do pós-guerra em uma vida como a deles. Alguns escritores modernos e contemporâneos ainda estão ligados a tradições mais antigas, como o realismo. Alguns podem ser descritos como classicistas, outros como experimentais, estilisticamente influenciados pela transitoriedade da cultura de massa ou por filosofias como o existencialismo ou o socialismo. Outros são mais facilmente agrupados por etnia ou região. No entanto, como um todo, os escritores modernos sempre afirmam o valor da identidade individual.
Sylvia Plath (1932-1963)
Sylvia Plath teve uma vida aparentemente exemplar. Freqüentou a Faculdade Smith com bolsa de estudos e se formou como primeira da sua turma. Também ganhou uma bolsa Fulbright para a Universidade de Cambridge na Inglaterra. Foi lá que encontrou seu carismático futuro marido, o poeta Ted Hughes, com quem teve dois filhos e foi morar em uma casa de campo na Inglaterra.
Por trás do sucesso de conto de fadas acumulavam-se os problemas mal resolvidos evocados em seu romance altamente merecedor de ser lido, A Redoma de Vidro (1963). Alguns desses problemas eram pessoais, ao passo que outros eram fruto da identificação de atitudes repressivas com relação à mulher nos anos 1950. Entre elas encontram-se crenças — compartilhadas inclusive por muitas mulheres — de que a mulher não deveria mostrar raiva nem ter ambição de carreira, mas alcançar a realização na tarefa de cuidar do marido e dos filhos. Mulheres profissionalmente bem-sucedidas como Sylvia Plath sentiam que viviam uma contradição.
A vida de Sylvia Plath, que mais parecia ficção, desmoronou quando ela se separou de Hughes e começou a cuidar dos filhos pequenos em um apartamento londrino durante um inverno extremamente frio. Doente, isolada e desesperada, Plath trabalhou contra o tempo para produzir uma série de estonteantes poemas, antes de se suicidar inalando gás de cozinha. Esses poemas foram reunidos na coletânea Ariel (1965), dois anos após sua morte. O poeta Robert Lowell, que escreveu a introdução, ressaltou a rápida evolução de sua arte desde a época em que freqüentava aulas de poesia em 1958.
Os primeiros poemas de Plath eram bem elaborados e tradicionais, mas os da fase final revelam uma bravura desesperada e um grito protofeminista de angústia. Em “O Candidato” (1966), Plath expõe o vazio do atual papel de esposa (que se vê reduzida a uma “coisa” inanimada):
Uma boneca de carne, onde quer que você olhe.
Sabe costurar, sabe cozinhar.
Sabe falar, falar, falar.
(Tradução de Rodrigo Garcia Lopes e Maria Cristina Lenz de Macedo)
Allen Ginsberg (1926-1997)
Os “poetas beat” surgiram nos anos 1950. O termo “beat” sugere vários tempos fortes de uma música, como no jazz; beatitude angelical ou bem-aventurança; e “beat up”, cansado ou batido, surrado, machucado. Os beats (beatniks) tiveram como fonte de inspiração o jazz, a religião oriental e a vida errante. Tudo isso foi descrito no famoso romance de Jack Kerouac On the Road — Pé na Estrada, que foi uma sensação na época de sua publicação em 1957. Relato de uma viagem de carro pelo país em 1947, o romance foi escrito em um rolo de papel contínuo durante três semanas alucinantes, o que Kerouac chamou de “prosa bop espontânea”. O estilo selvagem e aberto a improvisações, personagens que eram ao mesmo tempo antenados e místicos e a rejeição às convenções inflamaram a imaginação dos jovens leitores e ajudaram a abrir a porta para a contracultura independente dos anos 1960.
Os beats mais importantes migraram da Costa Leste dos Estados Unidos para São Francisco, obtendo reconhecimento nacional pela primeira vez na Califórnia. O carismático Allen Ginsberg tornou-se o principal porta-voz do grupo. Filho de um pai poeta e de uma mãe que além de excêntrica era militante comunista, Ginsberg freqüentou a Universidade de Colúmbia, onde logo fez amizade com os colegas Kerouac (1922-1969) e William Burroughs (1914-1997), cujos romances violentos e apavorantes sobre o submundo da dependência química da heroína incluem O Almoço Nu (1959). O trio foi o núcleo do movimento beat.
A poesia beat é oral, repetitiva e produz grande efeito quando lida, principalmente porque surgiu das leituras de poesia em clubes “underground”.Algumas pessoas podem estar corretas ao vê-la como a bisavó do rap, que prevaleceu nos anos 1990. A poesia beat foi a forma literária mais antiestablishment dos Estados Unidos, mas por trás das palavras chocantes existe o amor pelo país. A poesia é um grito de dor e raiva contra o que os poetas vêem como a perda da inocência americana e o trágico desperdício de seus recursos materiais e humanos.
Poemas como Uivo (1956) de Allen Ginsberg revolucionaram a poesia tradicional.
Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela
loucura, morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada
em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
“hipsters” com cabeças de anjo ansiando pelo antigo contato celestial
com o dínamo estrelado na maquinaria da noite...
(Tradução de Claudio Willer)
Tennessee Williams (1911-1983)
Nascido no Mississippi, Tennessee Williams foi um dos indivíduos mais complexos da cena literária americana de meados do século 20. Sua obra enfocou os distúrbios emocionais no seio das famílias — a maioria delas sulistas. Ficou conhecido por suas repetições encantatórias, pela dicção poética peculiar do sul, pelos estranhos cenários góticos e pela exploração freudiana da emoção humana. Um dos primeiros autores americanos a assumir abertamente a sua homossexualidade, Williams explicou que os anseios dos seus atormentados personagens eram expressão da solidão em que viviam. Eles vivem e sofrem intensamente.
Williams escreveu mais de 20 peças de teatro, muitas delas autobiográficas. Atingiu o apogeu relativamente cedo na carreira — nos anos 1940 — com À Margem da Vida (1944) e Um Bonde Chamado Desejo (1949). Nenhuma de suas obras publicadas nas duas décadas seguintes alcançou o nível de sucesso e a riqueza dessas duas peças.
Eudora Welty (1909-2001)
Nascida no estado do Mississippi em uma família abastada, de pais que vieram do norte, Eudora Welty teve como guias os romancistas Robert Penn Warren e Katherine Anne Porter. Na verdade, foi Katherine Porter quem escreveu a introdução da primeira coletânea de contos de Welty, A Curtain of Green [Uma Cortina de Verde] (1941). Em sua obra matizada, Eudora Welty buscou seguir o exemplo de Porter, mas essa mulher mais jovem se sentia de fato mais atraída pelo cômico e grotesco.Como a colega escritora sulista Flannery O’Connor, Welty escolhia geralmente como tema personagens anormais, excêntricos ou excepcionais.
Apesar da presença da violência em sua obra, a engenhosidade de Welty era essencialmente humana e afirmativa. Suas coletâneas de contos incluem The Wide Net [A Grande Rede] (1943), The Golden Apples [As Maçãs Douradas] (1949), The Bride of the Innisfallen [A Noiva de Innisfallen] (1955) e Moon Lake [Lago da Lua] (1980). Welty também escreveu romances como, por exemplo, Casamento no Delta (1946), que tem como tema central uma família rural em tempos modernos e A Filha do Otimista (1972).
Ralph Ellison (1914-1994)
Ralph Ellison era do Centro-Oeste, nascido em Oklahoma. Estudou no Instituto Tuskegee no Sul dos Estados Unidos. Teve uma das carreiras mais estranhas das letras americanas — que consiste de um livro altamente aclamado e pouco mais do que isso.
Seu romance Homem Invisível (1952) é a história de um jovem negro que leva uma vida secreta em um porão profusamente iluminado por energia elétrica roubada de uma prestadora de serviços públicos. O livro narra suas experiências grotescas e frustrantes. Ao ganhar uma bolsa de estudos para uma faculdade exclusivamente para negros, ele é humilhado pelos brancos; ao chegar lá, vê o presidente da escola menosprezar os problemas dos negros americanos. A vida também está corrompida fora da faculdade. Por exemplo, mesmo a religião não serve de consolo: um pregador acaba por se revelar um criminoso. O romance acusa a sociedade de falhar em prover seus cidadãos — negros e brancos — com ideais e instituições capazes de realizá-los. O romance expressa um tema racial forte porque o “homem invisível” não é invisível por si mesmo, mas porque os outros, cegos pelo preconceito, não conseguem vê-lo pelo que é.
Saul Bellow (1915-2005)
Nascido no Canadá e educado em Chicago, Saul Bellow era de família de origem judaica russa. Na faculdade, estudou antropologia e sociologia, e isso teve grande influência em sua produção literária. Certa vez expressou sua profunda gratidão ao romancista realista americano Theodore Dreiser por sua abertura para um amplo leque de experiências e seu envolvimento emocional nisso. Altamente respeitado, Bellow recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1976.
Os primeiros romances existencialistas e algo sombrios de Bellow incluem Por Um Fio (1944), estudo kafkiano de um homem esperando o alistamento no exército, e A Vítima (1947), sobre as relações entre judeus e gentios. Nos anos 1950, sua visão ganhou uma conotação mais cômica: usou diversos narradores ativos e ousados em primeira pessoa em As Aventuras de Augie March (1953) — o estudo de um empresário urbano do tipo “Huck Finn” que se torna comerciante no mercado negro da Europa — e em Henderson, o Rei da Chuva (1959), romance sério-cômico brilhante e exuberante sobre um milionário de meia-idade cujas ambições irrealizadas o encaminham para a África.
As obras posteriores de Bellow incluem Herzog (1964), sobre a vida agitada de um professor de inglês neurótico que se especializa no ideal do eu romântico; O Planeta do Sr. Sammler (1970); O Legado de Humboldt (1975); e o autobiográfico Dezembro Fatal (1982). Agarre a Vida (1956) é uma novela centrada em um homem de negócios fracassado, Tommy Wilhelm, que é de tal forma consumido por sentimentos de insuficiência que acaba por se tornar totalmente inadequado — um fracasso com as mulheres, nas tarefas, com as máquinas e no mercado de commodities, onde perde todo o seu dinheiro. Wilhelm é um exemplo do schlemiel (indivíduo sem sorte, pessoa azarada) do folclore judaico — a quem sempre acontecem coisas infelizes.
John Cheever (1915-2005)
John Cheever tem sido chamado com freqüência de “romancista de costumes”. É também conhecido por seus contos elegantes e sugestivos, que examinam minuciosamente o mundo dos negócios de Nova York por meio de seus efeitos sobre os empresários, suas mulheres, seus filhos e amigos.
Uma melancolia mordaz e o desejo de paixão — ou certeza metafísica — nunca totalmente mitigado, mas aparentemente sem esperança, espreitam nas sombras dos contos de Cheever, delicadamente elaborados em um estilo tchekoviano e reunidos em The Way Some People Live [A Forma Como Algumas Pessoas Vivem] (1943), The Housebreaker of Shady Hill [O Arrombador de Shady Hill] (1958), Some People, Places, and Things That Will Not Appear in My Next Novel [Algumas Pessoas, Lugares e Coisas que Não Aparecerão no Meu Próximo Romance] (1961), The Brigadier and the Golf Widow [O Brigadeiro e a Viúva do Golfe] (1964) e O Mundo das Maçãs (1973). Seus títulos revelam sua característica indiferença, jocosidade e irreverência e fazem alusão ao assunto tratado.
Cheever também publicou vários romances — O Escândalo dos Wapshot (1964), Acerto de Contas (1969) e Sobrevivendo na Prisão (1977) — o último do qual é largamente autobiográfico.
John Updike (1932-2009)
John Updike, como Cheever, também é considerado escritor de costumes com suas narrativas ambientadas nos bairros de classe média, assuntos domésticos, reflexões sobre o tédio e a melancolia e, em especial, seus locais ficcionais no litoral leste dos Estados Unidos, em Massachusetts e na Pensilvânia.
É mais conhecido por seus cinco livros do Coelho, descrições da vida de um homem — Harry “Coelho” Angstrom — por meio dos altos e baixos de sua existência ao longo de quatro décadas de história social e política dos EUA. Coelho Corre (1960) é um reflexo dos anos 1950, apresentando Angstrom como um jovem marido descontente e sem rumo. Coelho em Crise (1971) — destacando a contracultura dos anos 1960 — encontra Angstrom ainda sem objetivos e propósitos definidos ou sem uma alternativa viável para escapar do banal. Em O Coelho Está Rico (1981), Harry torna-se um empresário próspero na década de 1970, enquanto a era do Vietnã começava a sair de cena. O romance final, Coelho Cai (1990), vislumbra a reconciliação de Angstrom com a vida antes de morrer vítima de um ataque cardíaco, tendo como pano de fundo os anos 1980.
Updike é atualmente o escritor de estilo mais brilhante entre todos os outros, e seus contos oferecem exemplos cintilantes de sua abrangência e inventividade.
Norman Mailer (1923-2007)
Norman Mailer se transformou no romancista de maior visibilidade dos anos 1960 e 1970. Co-fundador do The Village Voice, jornal semanal antiestablishment da cidade de Nova York, Mailer promoveu ao mesmo tempo a si mesmo e suas opiniões políticas. Em sua ânsia por experiência, estilo vigoroso e persona pública surpreendente, Mailer segue a tradição de Ernest Hemingway. Para conseguir uma posição estratégica na cobertura do assassinato do presidente John F. Kennedy, dos protestos contra a Guerra do Vietnã, da libertação negra e do movimento de mulheres, encarnou diferentes personas, apresentando-se como alguém por dentro da moda, existencialista e o macho por excelência (em seu livro Política Sexual, Kate Millett identificou Mailer como machista arquetípico). O irreprimível Mailer não só casou seis vezes como se candidatou a prefeito de Nova York.
A partir de exercícios ao estilo do Novo Jornalismo como Miami e o Cerco de Chicago (1968), análise das convenções presidenciais americanas de 1968, e o instigante estudo sobre a execução de um criminoso condenado, A Canção do Carrasco (1979), Mailer passou a escrever romances ambiciosos, embora cheios de falhas, como Noites Antigas (1983), ambientado no antigo Egito, e o Fantasma da Prostituta (1991), que gira em torno da Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA).
Toni Morrison (1931- )
A romancista afro-americana Toni Morrison nasceu no estado de Ohio em uma família de formação espiritual. Estudou na Universidade de Howard em Washington, D.C., onde tem trabalhado como editora sênior de uma grande editora e professora ilustre em várias universidades.
A ficção altamente elaborada de Toni Morrison ganhou reconhecimento internacional. Em romances fascinantes e cheios de vigor, ela trata da complexidade da identidade negra de forma universal. Em sua obra inicial, O Olho Mais Azul (1970), uma jovem negra de personalidade forte conta a história de Pecola Breedlove, que é levada à loucura por um pai agressor. Pecola acredita que seus olhos escuros tornaram-se azuis por um passe de mágica e que eles a farão uma pessoa adorável. Morrison tem afirmado que criou seu próprio sentido de identidade como escritora por meio desse romance: “Eu era a Pecola, a Claudia, todo mundo.”
Sula (1973) descreve a forte amizade entre duas mulheres. Morrison pinta as mulheres afro-americanas como personagens únicos, totalmente individualizados, não estereotipados. Seu romance A Canção de Solomon (1977) ganhou vários prêmios. O livro segue a trajetória de um negro, Milkman Dead, e suas complexas relações com a família e a comunidade. Amada (1987) é a perturbadora história de uma mulher que prefere assassinar seus filhos a deixá-los viver como escravos. Nesse romance emprega técnicas oníricas do realismo mágico ao descrever a misteriosa figura de Amada, que volta a viver com a mãe que havia cortado sua garganta. Jazz (1992), ambientado no Harlem dos anos 1920, é uma história de amor e assassinato. Em 1993, Morrison ganhou o Prêmio Nobel de Literatura.
Literatura contemporânea
No final do século 20 e início do século 21, a mobilidade social e geográfica das massas, a internet, a imigração e a globalização apenas enfatizaram a voz subjetiva em um contexto de fragmentação cultural. Alguns escritores contemporâneos refletem uma inclinação em direção a vozes mais calmas e acessíveis. Para muitos autores de prosa, a região, em vez da nação, é a geografia que importa.
Louise Glück (1943- )
Uma das mais impressionantes poetas contemporâneas é Louise Glück. Nascida na cidade de Nova York, Glück, poeta americana premiada em 2003 e 2004, cresceu com permanente sentimento de culpa devido à morte de uma irmã nascida antes dela. Na Faculdade Sarah Lawrence e na Universidade de Colúmbia, estudou com os poetas Leonie Adams e Stanley Kunitz. Grande parte de sua poesia fala de perdas trágicas. Cada livro de Glück é um experimento de novas técnicas, tornando difícil uma síntese de sua obra.
Em seu memorável A Íris Selvagem (1992), diferentes tipos de flores pronunciam pequenos monólogos metafísicos. O poema que dá título ao livro, uma exploração da ressurreição, poderia ser uma epígrafe para o conjunto de sua obra. A íris selvagem, uma flor linda de cor azul profundo que ao brotar de um botão que ficou adormecido durante todo o inverno, diz: “É terrível sobreviver / como consciência / enterrada na terra escura.”
Do centro da minha vida brotou
uma grande fonte, sombras de cor
azul profundo sobre o azul-celeste da água do mar.
Billy Collins (1941- )
A poesia de Billy Collins é original e estimulante. Collins usa a linguagem corrente para registrar milhares de detalhes da vida diária, combinando livremente os eventos do cotidiano (comer, realizar tarefas, escrever) com referências culturais. Seu humor e originalidade fizeram com que ele atraísse o grande público. Embora alguns tenham acusado Collins de ser acessível demais, seus imprevisíveis vôos de imaginação mergulham no mistério.
A obra de Collins é uma forma domesticada de surrealismo. Seus melhores poemas catapultam de imediato a imaginação para uma série de situações cada vez mais surrealistas, propiciando no final uma aterrissagem emocional, uma disposição de ânimo na qual podemos nos apoiar. O pequeno poema “The Dead” [O Morto], tirado de Sailing Alone Around the Room: New and Selected Poems [Velejando Sozinho em Volta do Quarto: Novos Poemas Selecionados] (2001), dá uma idéia do vôo imaginativo e do suave aterrizar de Collins, como o de uma ave em busca de repouso.
Os mortos estão sempre a nos desdenhar, segundo dizem,
enquanto calçamos nossos sapatos ou preparamos um sanduiche,
eles nos olham com desdém de seus barcos de fundo de vidro, lá no céu
em seu lento remar pela eternidade.
Annie Proulx (1935- )
A surpreendente escritora Annie Proulx cria histórias sobre os batalhadores habitantes do norte da Nova Inglaterra em Canções do Coração (1988). Seu melhor romance, Chegadas e Partidas (1993), é ambientado mais para o norte, em Newfoundland, Canadá. Proulx também passou anos no Oeste, e um de seus contos originou o filme “O Segredo de Brokeback Mountain”, em 2006.
Richard Ford (1944- )
Oriundo do Mississippi, Richard Ford começou a escrever no estilo faulkneriano, porém, é mais conhecido por seu romance sutil ambientado em Nova Jersey, O Cronista Esportivo (1986), e sua continuação, Independência (1995). Esse romance é sobre Frank Bascombe, um vagabundo sonhador, ambíguo, que perde todas as coisas que dão sentido à sua vida — um filho, seu sonho de escrever ficção, seu casamento, amantes, amigos e emprego. Bascombe é sensível e inteligente — suas escolhas, diz ele, são feitas “para desviar a dor do arrependimento terrível” — e seu vazio, junto com os anônimos shopping centers e novos empreendimentos imobiliários áridos, os quais ele continuamente percorre em silêncio para comprovar a visão de Ford de uma doença nacional.
Amy Tan (1952- )
O norte da Califórnia abriga uma rica tradição literária ásio-americana, cujos temas característicos incluem família e papéis dos gêneros, conflito entre gerações e busca de identidade. Uma escritora ásio-americana da Califórnia é a romancista Amy Tan, cujo best-seller Clube da Felicidade e da Sorte tornou-se filme de sucesso em 1993. Seus capítulos interligados como contos delineiam os diferentes destinos de quatro pares de mãe e filha. Entre os romances de Amy Tan que abarcam a China histórica e os Estados Unidos da atualidade, encontram-se Os Cem Sentidos Secretos (1995), sobre meias-irmãs, e A Filha do Restaurador de Ossos (2001), sobre os cuidados de uma filha com sua mãe.
Sherman Alexie (1966- )
Sherman Alexie, índio criado na reserva de Spokane, da tribo Coeur d’Alene, é o mais jovem romancista indígena a alcançar fama nacional. Alexie faz relatos humorísticos e pouco românticos da vida dos índios abordando misturas incoerentes de tradição e cultura popular. Fazem parte de seus ciclos de contos Reservation Blues [O Blues da Reserva] (1995) e The Lone Ranger and Tonto Fistfight in Heaven [A Luta de Zorro e Tonto no Céu] (1993), que inspirou o ótimo filme sobre a vida nas reservas Sinais de Fumaça (1998), com roteiro do próprio Alexie. A coletânea recente de contos de Alexei é The Toughest Indian in the World [O Índio Mais Forte do Mundo] (2000).
Fonte:
http://embaixadaamericana.org.br/HTML/literatureinbrief/chapter03.htm
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