domingo, 17 de maio de 2009

Alfonso Reyes (Poesias Avulsas)


SOL DE MONTERREY

Não há dúvida: em menino
o sol me perseguia
andava atrás de mim
como cãozinho dengoso;
despenteado e doce,
claro e amarelo:
esse sol dorminhoco
que segue os meninos.
(O fogo de maio
me armou cavaleiro
eu era o Menino Andante
e o sol, meu escudeiro.)

Todo céu era de anil,
toda casa, de ouro.
Quanto sol entrava
nos meus olhos!
Mar adentro pela frente,
aonde quer que eu vá,
ainda que haja nuvens fechadas,
oh quanto pesa o sol!
Oh quanto dentro me dói,
essa cisterna de sol
que viaja comigo!
Eu não conheci na minha infância
sombra, somente assoalho. -
Cada janela era sol,
cada quarto eram janelas.
Os corredores retesavam
arcos de luz pela casa.
Nas árvores ardiam
as brasas das laranjas
e a horta em lume vivo
se dourava.

Os pavões reais eram
parentes do sol. A garça
começava a arder
a cada passo que dava.
E a mim o sol me despia
para grudar-se comigo,
despenteado e doce,
claro e amarelo
esse sol dorminhoco
que segue os meninos.

Quando saí de casa
de bengala e de terno,
disse a meu coração:
- Já levas o sol no momento! -
É tesouro - e não se acaba:
não se me acaba - e o gasto.
Trago dentro tanto sol
que já tanto sol me cansa. -
Eu não conheci na minha infância
sombra, somente assoalho.
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A.

Tardes assim, já as respirei acaso?
Cabelos soltos, úmidos do banho:
Cheiro de granja, frescor de garganta,
Primavera toda ela flor e água.

Abriu-se a reixa e fomos a cavalo.
O céu era canção, carícia o campo,
E a promessa de chuva andava viva
E alegremente pelos altos cumes.

Tremia cada folha e era bem minha,
E tu também, de medo sacudida
Entre pressentimentos e relâmpagos.

Pulsavam entre nuvens as estrelas,
E o palpitar da terra nos chegava
Pelo tranco ligeiro do cavalo.
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Fontes:

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