O passado e o presente bem próximos: um rápido panorama da poesia maranhense nas últimas décadas. – Há quem diga que a poesia morreu. – Ceticamente falando, não. Não é exagero afirmar que a poesia, como as outras artes, passa por um momento de reformulações e todo processo de mudança é gradual. Vivemos, ainda, os reflexos da década de 60 e para muitos o século 19 ainda é uma grande referência em termos estéticos.
Certo. Porém, a contribuição legada por Sousândrade, Gonçalves Dias, Odylo Costa, filho, Maranhão Sobrinho, Nauro Machado, José Chagas e Ferreira Gullar (falando exclusivamente da poesia maranhense), não é de ficar de longe do que já foi produzido no restante do país e em outros lugares do mundo. O que questionamos é o que está relacionado ao momento no qual estamos inseridos: suas transformações dinâmicas, avanços tecnológicos, o surgimento de uma nova concepção nas formas de pensar e agir. O homem deste século é mais ávido, veloz, mais exigente, tem mais sede por informações, pois já acumula mais de vinte séculos de experiências em todos os campos do conhecimento humano.
Os poetas de hoje têm uma missão muito diferenciada, principalmente os poetas maranhenses, porque a poesia do nosso Estado é referência entre as outras existentes no país. O erro de alguns poetas é justamente quererem quebrar demais ou então serem anarquistas da palavra, estes acrescentam algumas coisas, mas ainda muito frágeis. Os poetas que quiserem ser referência em um futuro serão aqueles que aproveitarem o conhecimento do passado e modificarem aos poucos sua estética. Como já dissemos, toda mudança acontece aos poucos. A ruptura não é repentina.
Ferreira Gullar soube muito bem seguir este caminho de mudança com seus antecessores, tão verdade é essa afirmação que atualmente é o maior poeta em atividade do nosso país. Gullar sempre bebeu nas referências do passado, mas também sempre esteve com os olhos no presente. Nauro Machado e Luís Augusto Cassas são nomes que devem ser levados em consideração e sobre os quais falaremos oportunamente.
A antologia Hora de Guarnicê, dos anos 70, corresponde a uma geração muito boa e que projetou nomes como Chagas Val, Valdelino Cécio, Rossini Corrêa, Raimundo Fontenele e Luís Augusto Cassas.
Ufa! Chegamos à década de 80. O que falar dessa década se até os críticos, professores acadêmicos, literatos fecham os olhos para ela? Nós, não. A poesia das décadas de 80, 90 e início deste século vem com muita felicidade (apesar de todos os contras) honrado, com bastante autoridade, a tradição dos poetas da Cidade de Sousândrade. Sempre quando se trata da poesia dessa época, recai o conceito de poesia marginal, contra o sistema, panfletária. O que não se observa em um primeiro momento é o que de potencial tem esses poetas. Mesmo a “Akademia dos Parias” e suas performances pelos becos do Centro Histórico de São Luís possuiu sua importância nos ditames de nossa literatura.
É bem verdade que desse grupo apenas meia-dúzia escrevia uma poesia de qualidade, séria. Os Parias foi um grupo efêmero e evaporou. Apenas 3 poetas desse grupo sobreviveram – Paulo Melo Souza, Celso Borges e Fernando Abreu. Este último, apesar de 2 livros lançados na praça, não conseguiu empolgar, como no tempo dos Parias, atualmente, faz composições para o cantor Zeca Baleiro. Já Paulo Melo Souza e Celso Borges respiraram outras fontes e levaram a poesia por outras fronteiras. Celso Borges, sempre compromissado com a estética da palavra, em seus poemas parece chegar a gritar com a insatisfação por que passa o momento da poesia produzida no Brasil. Paulo Melo Souza é outro importante poeta dessa época e continua, entre seus poemas, buscando e aprimorando seu estilo, sem se falar que é um combatente exímio contra as politicagens que permeiam nosso Estado. Paulo Melo é um poeta antenado com as modificações do pensamento humano e da literatura.
Os poetas do Safra 90 (nome dado a uma antologia lançada pelo governo local, em 1997, formada por 23 poetas que compunham a cena poética do final do século 20 e início do século 21) poucos, desses poetas que integram esta antologia, ainda demonstram que vieram para ficar. Nomes como Antonio Aílton, Rosemary Rêgo, Hagamenon de Jesus, Bioque Mesito, Dyl Pires, Jorgeane Braga, Eduardo Júlio, Paulinho Dimaré, Marco Pólo Haickel, - estes 3 últimos nomes, apesar de não fazerem parte do Safra 90, comunicam do mesmo momento literário, e todos já possuem importantes premiações locais e nacionais, além de possuírem seus livros lançados. O que demonstra, para os que fazem vista grossa ou que desconhecem, que a produção maranhense continua muito boa e a renovação está acontecendo com qualidade.
Alguns entraves, mas, no final de tudo, a poesia prevalece – Falando, especificamente, do Festival Maranhense de Poesia - evento promovido pela Universidade Federal, juntamente com o seu Departamento de Assuntos Culturais, em suas últimas edições vem perdendo o fôlego. A boa vontade do Diretor do Departamento de Assuntos Culturais, Euclides Barbosa Moreira Neto, é o que ainda impulsiona esse evento. Euclides vem dando chances aos artistas locais com sua política de difusão.
O festival de poesia está repleto de poemas de baixa qualidade. Talvez por falta de uma lista de seleção mais rigorosa e também pelo grande número de concorrentes nas eliminatórias. Com certeza, diminuindo o número de participantes nas eliminatórias, o público ganhará com poesias de melhor qualidade e não o que vem acontecendo – poemas muito fracos, em sua maioria. Compreendemos, Euclides, a política que você realiza. O evento deveria ser realizado em apenas uma semana, com palestras, oficinas e debates sobre a literatura maranhense e brasileira. Assim, o Festival só ganharia e poderia possuir a estirpe do Maracanto e/ou do Guarnicê – Cine/Vídeo, a maior e melhor realização do Departamento de Assuntos Culturais, coordenado por Euclides.
Já em 3 oportunidades fui júri deste festival e recebi inúmeras críticas. Eu sempre as rebatia afirmando que a culpa não está na direção do Festival, nem tampouco no corpo de jurados, mas, sim, em quem está produzindo esses textos e colocando-os para serem julgados. O aspecto interpretativo também é outro ponto que deve ser questionado, pois, grande parte dos atores que interpretam os textos dos poetas sabe muito pouco, quando sabe, do que vem a ser poesia e realizam interpretações, muitas vezes, distantes do que a poesia está realmente falando.
Mesmo assim podemos perceber muitos pontos positivos no Festival Maranhense de Poesia. O festival é um evento que aproxima o público da poesia e também serve de intercâmbio entre os poetas. Este ano o Teatro Arthur Azevedo ficou completamente lotado, o que demonstra o valor desse evento e da poesia maranhense. O festival é um dos poucos que ainda privilegia o talento poético em nosso Estado, somando-se, é claro, ao Concurso Cidade de São Luís, da Fundação Municipal de Cultura.
Em uma cidade que respira poesia e tem uma efervescência poética, ainda é pouco. Temos, por exemplo, uma Academia Maranhense de Letras que passa quase sua totalidade fechada, sem realizar quase nada em prol dos escritores. Academia de Letras que é de suma importância na fomentação da cultura do nosso Estado, mas, que faz muito pouco, além de não socializar a Casa de Antonio Lobo, fechando-a para os intelectuais e o público em geral. A Academia Maranhense de Letras, esperamos, em sua nova administração, que democratize a Casa de Antonio Lobo e abra as portas para projetos práticos, sem o caldo político que era prática comum na gestão anterior.
Sim. Voltando ao Festival Maranhense de Poesia, mais uma vez. Esse festival, ao longo dos anos, serviu para descobrir vários poetas como são os casos de Paulo Melo Souza, Roberto Kenard, Fernando Abreu, Antonio Aílton, Paulinho Dimaré, Rafael Oliveira, Ribamar Feitosa, Rosemary Rêgo, Mauro Ciro, Eduardo Júlio, Maria Aparecida Marconcine, Josoaldo Rêgo, César Borralho, João Almiro Lopes Neto, Francisco Tribuzi, Bioque Mesito, Dyl Pires, Cibele Bittencourt, César William, Junerlei Moraes, Geane Fiddan, Lúcia Santos, Ronnald Kelps, dentre outros.
Fonte:
Suplemento Cultural & Literário Guesa Errante. Ano V. 2006. Edição 145. http://www.guesaerrante.com.br/
Certo. Porém, a contribuição legada por Sousândrade, Gonçalves Dias, Odylo Costa, filho, Maranhão Sobrinho, Nauro Machado, José Chagas e Ferreira Gullar (falando exclusivamente da poesia maranhense), não é de ficar de longe do que já foi produzido no restante do país e em outros lugares do mundo. O que questionamos é o que está relacionado ao momento no qual estamos inseridos: suas transformações dinâmicas, avanços tecnológicos, o surgimento de uma nova concepção nas formas de pensar e agir. O homem deste século é mais ávido, veloz, mais exigente, tem mais sede por informações, pois já acumula mais de vinte séculos de experiências em todos os campos do conhecimento humano.
Os poetas de hoje têm uma missão muito diferenciada, principalmente os poetas maranhenses, porque a poesia do nosso Estado é referência entre as outras existentes no país. O erro de alguns poetas é justamente quererem quebrar demais ou então serem anarquistas da palavra, estes acrescentam algumas coisas, mas ainda muito frágeis. Os poetas que quiserem ser referência em um futuro serão aqueles que aproveitarem o conhecimento do passado e modificarem aos poucos sua estética. Como já dissemos, toda mudança acontece aos poucos. A ruptura não é repentina.
Ferreira Gullar soube muito bem seguir este caminho de mudança com seus antecessores, tão verdade é essa afirmação que atualmente é o maior poeta em atividade do nosso país. Gullar sempre bebeu nas referências do passado, mas também sempre esteve com os olhos no presente. Nauro Machado e Luís Augusto Cassas são nomes que devem ser levados em consideração e sobre os quais falaremos oportunamente.
A antologia Hora de Guarnicê, dos anos 70, corresponde a uma geração muito boa e que projetou nomes como Chagas Val, Valdelino Cécio, Rossini Corrêa, Raimundo Fontenele e Luís Augusto Cassas.
Ufa! Chegamos à década de 80. O que falar dessa década se até os críticos, professores acadêmicos, literatos fecham os olhos para ela? Nós, não. A poesia das décadas de 80, 90 e início deste século vem com muita felicidade (apesar de todos os contras) honrado, com bastante autoridade, a tradição dos poetas da Cidade de Sousândrade. Sempre quando se trata da poesia dessa época, recai o conceito de poesia marginal, contra o sistema, panfletária. O que não se observa em um primeiro momento é o que de potencial tem esses poetas. Mesmo a “Akademia dos Parias” e suas performances pelos becos do Centro Histórico de São Luís possuiu sua importância nos ditames de nossa literatura.
É bem verdade que desse grupo apenas meia-dúzia escrevia uma poesia de qualidade, séria. Os Parias foi um grupo efêmero e evaporou. Apenas 3 poetas desse grupo sobreviveram – Paulo Melo Souza, Celso Borges e Fernando Abreu. Este último, apesar de 2 livros lançados na praça, não conseguiu empolgar, como no tempo dos Parias, atualmente, faz composições para o cantor Zeca Baleiro. Já Paulo Melo Souza e Celso Borges respiraram outras fontes e levaram a poesia por outras fronteiras. Celso Borges, sempre compromissado com a estética da palavra, em seus poemas parece chegar a gritar com a insatisfação por que passa o momento da poesia produzida no Brasil. Paulo Melo Souza é outro importante poeta dessa época e continua, entre seus poemas, buscando e aprimorando seu estilo, sem se falar que é um combatente exímio contra as politicagens que permeiam nosso Estado. Paulo Melo é um poeta antenado com as modificações do pensamento humano e da literatura.
Os poetas do Safra 90 (nome dado a uma antologia lançada pelo governo local, em 1997, formada por 23 poetas que compunham a cena poética do final do século 20 e início do século 21) poucos, desses poetas que integram esta antologia, ainda demonstram que vieram para ficar. Nomes como Antonio Aílton, Rosemary Rêgo, Hagamenon de Jesus, Bioque Mesito, Dyl Pires, Jorgeane Braga, Eduardo Júlio, Paulinho Dimaré, Marco Pólo Haickel, - estes 3 últimos nomes, apesar de não fazerem parte do Safra 90, comunicam do mesmo momento literário, e todos já possuem importantes premiações locais e nacionais, além de possuírem seus livros lançados. O que demonstra, para os que fazem vista grossa ou que desconhecem, que a produção maranhense continua muito boa e a renovação está acontecendo com qualidade.
Alguns entraves, mas, no final de tudo, a poesia prevalece – Falando, especificamente, do Festival Maranhense de Poesia - evento promovido pela Universidade Federal, juntamente com o seu Departamento de Assuntos Culturais, em suas últimas edições vem perdendo o fôlego. A boa vontade do Diretor do Departamento de Assuntos Culturais, Euclides Barbosa Moreira Neto, é o que ainda impulsiona esse evento. Euclides vem dando chances aos artistas locais com sua política de difusão.
O festival de poesia está repleto de poemas de baixa qualidade. Talvez por falta de uma lista de seleção mais rigorosa e também pelo grande número de concorrentes nas eliminatórias. Com certeza, diminuindo o número de participantes nas eliminatórias, o público ganhará com poesias de melhor qualidade e não o que vem acontecendo – poemas muito fracos, em sua maioria. Compreendemos, Euclides, a política que você realiza. O evento deveria ser realizado em apenas uma semana, com palestras, oficinas e debates sobre a literatura maranhense e brasileira. Assim, o Festival só ganharia e poderia possuir a estirpe do Maracanto e/ou do Guarnicê – Cine/Vídeo, a maior e melhor realização do Departamento de Assuntos Culturais, coordenado por Euclides.
Já em 3 oportunidades fui júri deste festival e recebi inúmeras críticas. Eu sempre as rebatia afirmando que a culpa não está na direção do Festival, nem tampouco no corpo de jurados, mas, sim, em quem está produzindo esses textos e colocando-os para serem julgados. O aspecto interpretativo também é outro ponto que deve ser questionado, pois, grande parte dos atores que interpretam os textos dos poetas sabe muito pouco, quando sabe, do que vem a ser poesia e realizam interpretações, muitas vezes, distantes do que a poesia está realmente falando.
Mesmo assim podemos perceber muitos pontos positivos no Festival Maranhense de Poesia. O festival é um evento que aproxima o público da poesia e também serve de intercâmbio entre os poetas. Este ano o Teatro Arthur Azevedo ficou completamente lotado, o que demonstra o valor desse evento e da poesia maranhense. O festival é um dos poucos que ainda privilegia o talento poético em nosso Estado, somando-se, é claro, ao Concurso Cidade de São Luís, da Fundação Municipal de Cultura.
Em uma cidade que respira poesia e tem uma efervescência poética, ainda é pouco. Temos, por exemplo, uma Academia Maranhense de Letras que passa quase sua totalidade fechada, sem realizar quase nada em prol dos escritores. Academia de Letras que é de suma importância na fomentação da cultura do nosso Estado, mas, que faz muito pouco, além de não socializar a Casa de Antonio Lobo, fechando-a para os intelectuais e o público em geral. A Academia Maranhense de Letras, esperamos, em sua nova administração, que democratize a Casa de Antonio Lobo e abra as portas para projetos práticos, sem o caldo político que era prática comum na gestão anterior.
Sim. Voltando ao Festival Maranhense de Poesia, mais uma vez. Esse festival, ao longo dos anos, serviu para descobrir vários poetas como são os casos de Paulo Melo Souza, Roberto Kenard, Fernando Abreu, Antonio Aílton, Paulinho Dimaré, Rafael Oliveira, Ribamar Feitosa, Rosemary Rêgo, Mauro Ciro, Eduardo Júlio, Maria Aparecida Marconcine, Josoaldo Rêgo, César Borralho, João Almiro Lopes Neto, Francisco Tribuzi, Bioque Mesito, Dyl Pires, Cibele Bittencourt, César William, Junerlei Moraes, Geane Fiddan, Lúcia Santos, Ronnald Kelps, dentre outros.
Fonte:
Suplemento Cultural & Literário Guesa Errante. Ano V. 2006. Edição 145. http://www.guesaerrante.com.br/
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