Bragança Paulista, por Nestor Silveira
ESTRELA CARENTE
Encaracolados e tintos de amarelo,
secos cabelos; maus dentes, mãos sem cadernos,
cresci num cortiço de Santos, sem anelo,
com muita gente... e ausência de gestos ternos.
Golas de marinheiros jogadas ao chão,
a mãe-mulher gargalhando na grande cama,
brinquedo quebrado..., feia boneca... são
as solenes recordações que a infância clama.
Aos doze anos, uso saia curta e justa,
possuo seios lindos que eu exibo agora,
esmalte roxo e batom que pouco me custa.
O sonho de encontrar amor já está bem morto...
Espalho um brilho opaco pela noite afora
como nova prostituta do cais do porto!
A ÁRVORE DO ESQUECIMENTO
Talvez fosse um jequitibá, não sei...
porém, entrou na história brasileira
não pela imponência, mas pela lei
que vigorava dentro da fronteira:
aportando aqui, negros africanos
arrancados dos seios das famílias,
estampavam no rosto, muitos danos;
no corpo, vestes mais que maltrapilhas.
Obrigavam-nos a dar muitas voltas
em torno do velho jequitibá
até que “esquecessem” sob os agravos,
as origens e as emoções revoltas...
Após a ronda da mentira má,
ficavam livres... pra serem escravos...
UMA FLOR PARA UM MORTO
Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura!
A mão piedosa te coloca em mim
nesse dia em que desço à sepultura
na quietude, sem toque de clarim.
És aquela tristeza perfumada
que murchará em minha companhia.
Tanta beleza vai, desperdiçada,
desfalecer nessa cova sombria!
Mas és cativa de meu coração
e nos amando, vamos descer juntos,
pois no amor há luz, nunca escuridão.
Se a Deus chegarmos, nós dois defuntos,
dirá minha alma, tirando a mortalha:
-Perde-se a vida, ganha-se a batalha!
MINUTO DE SILÊNCIO
-AO FILHO PEDRO-
Ele esquentava as mãos nos bolsos do agasalho
pois fazia frio. Estava bem cansado
do muito esforço para encerrar um trabalho
e entregá-lo, perfeito, em tempo aprazado.
De vez em quando, apertava os olhos felizes
como a apagar tantas imagens e sons,
porém, a ânsia de criar vinha em reprises,
transbordando do grande acúmulo de dons.
Convidou-me: - Mãe, quer comigo concorrer
ao prêmio de vídeo que dure um minuto
sobre o amor, em especial, o materno?
-Sim, meu filho, quero! Tal amor é eterno!
Mas... Pedro, de tanto viver, ia morrer...
Naquela noite, começaria meu luto!
FALSO AMIGO
Ele é brutamontes, um troglodita,
vem com a noite em montaria sinistra,
é apocalíptico, força inaudita,
surge do todo mal que o administra.
Na feiúra desse ser reversível,
na gulodice de sempre faminto,
chega de improviso, ininteligível,
perscruta minha alma, invade o recinto.
Quem é ele, quem a me assustar tanto
a ponto de eu tremer de calafrio,
a ponto de me estrangular de espanto?
Essa visita com que me constranjo
e me dá semblante de desvario,
é o pecado, trazido por mau anjo.
Encaracolados e tintos de amarelo,
secos cabelos; maus dentes, mãos sem cadernos,
cresci num cortiço de Santos, sem anelo,
com muita gente... e ausência de gestos ternos.
Golas de marinheiros jogadas ao chão,
a mãe-mulher gargalhando na grande cama,
brinquedo quebrado..., feia boneca... são
as solenes recordações que a infância clama.
Aos doze anos, uso saia curta e justa,
possuo seios lindos que eu exibo agora,
esmalte roxo e batom que pouco me custa.
O sonho de encontrar amor já está bem morto...
Espalho um brilho opaco pela noite afora
como nova prostituta do cais do porto!
A ÁRVORE DO ESQUECIMENTO
Talvez fosse um jequitibá, não sei...
porém, entrou na história brasileira
não pela imponência, mas pela lei
que vigorava dentro da fronteira:
aportando aqui, negros africanos
arrancados dos seios das famílias,
estampavam no rosto, muitos danos;
no corpo, vestes mais que maltrapilhas.
Obrigavam-nos a dar muitas voltas
em torno do velho jequitibá
até que “esquecessem” sob os agravos,
as origens e as emoções revoltas...
Após a ronda da mentira má,
ficavam livres... pra serem escravos...
UMA FLOR PARA UM MORTO
Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura!
A mão piedosa te coloca em mim
nesse dia em que desço à sepultura
na quietude, sem toque de clarim.
És aquela tristeza perfumada
que murchará em minha companhia.
Tanta beleza vai, desperdiçada,
desfalecer nessa cova sombria!
Mas és cativa de meu coração
e nos amando, vamos descer juntos,
pois no amor há luz, nunca escuridão.
Se a Deus chegarmos, nós dois defuntos,
dirá minha alma, tirando a mortalha:
-Perde-se a vida, ganha-se a batalha!
MINUTO DE SILÊNCIO
-AO FILHO PEDRO-
Ele esquentava as mãos nos bolsos do agasalho
pois fazia frio. Estava bem cansado
do muito esforço para encerrar um trabalho
e entregá-lo, perfeito, em tempo aprazado.
De vez em quando, apertava os olhos felizes
como a apagar tantas imagens e sons,
porém, a ânsia de criar vinha em reprises,
transbordando do grande acúmulo de dons.
Convidou-me: - Mãe, quer comigo concorrer
ao prêmio de vídeo que dure um minuto
sobre o amor, em especial, o materno?
-Sim, meu filho, quero! Tal amor é eterno!
Mas... Pedro, de tanto viver, ia morrer...
Naquela noite, começaria meu luto!
FALSO AMIGO
Ele é brutamontes, um troglodita,
vem com a noite em montaria sinistra,
é apocalíptico, força inaudita,
surge do todo mal que o administra.
Na feiúra desse ser reversível,
na gulodice de sempre faminto,
chega de improviso, ininteligível,
perscruta minha alma, invade o recinto.
Quem é ele, quem a me assustar tanto
a ponto de eu tremer de calafrio,
a ponto de me estrangular de espanto?
Essa visita com que me constranjo
e me dá semblante de desvario,
é o pecado, trazido por mau anjo.
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