(Nilto Maciel)
NEM SEI DOMAR MEUS PRÓPRIOS CÃES
Para imitar o imortal Camões,
precisaria ser, meus cidadãos,
mil seres juntos, ter mil corações,
hidra gentil – cabeça, tronco e mãos.
Porém sou pobre, sem nenhuns tostões,
vivo perdido em devaneios vãos,
e sem botinas, becas e botões,
como esses loucos que se creem sãos.
E velho estou, cabeça toda em cãs,
como meus pais, avós, as minhas mães,
as utopias, ancestrais e vãs.
Talvez pudesse ser padeiro – pães –,
tecer mortalhar – panos – doutras lãs,
porém domar nem sei meus próprios cães.
(Pedro Ernesto)
O POETA INSONE
Sou apenas um poeta
Que não dorme
Pois o sono lhe somente
Que não respira
Pois o ar se retirados
Que não bebe
Pois a água se esvai
Que não tem visão
Pois seus olhos se cansam
Que não escuta as palavras
Pois elas se emudecem
Que não sente o cheiro
Pois o perfume se extingue
Sou apenas um poeta
Sem nome, sem sono
Sem fome, sem dono
Sem pranto, sem canto
Sem mim, não sou nada
Comigo, sou menos
Não sou da manada
Nem sou tão pequeno
Sou forte, valente
Escrevo – sou gente
Escravo – contente
Das palavras amenas
E dos doces poemas.
(Antonio Ximenes)
DOMINGOS RETIRANTES
Eu estava perdido antes
Antes da primeira colheita
Durante a minha guerra
Depois da minha morte sugerida.
Dividi meu prato com todos
Na manhã do café com leite
Pão com manteiga e desenho animado
Na tarde preguiçosa dos rádios AM
Filmes antigos e sucos em pó
Eu estava bêbado antes
Antes de acordar naufragado
Isolado no sofá da sala
Derrotado e cabisbaixo
Destruí minha vida e meu fígado
Digo adeus ao meu copo de alumínio
Com meu nome gravado em baixo relevo
Nas madrugadas de Lucélia Santos nua
No alvorecer das minhas andanças
Na eternidade de minhas esperas sem, sentido
Eu estava sozinho antes
Antes da última ceia desesperada
Amargurado de pão e lágrima
Fadigado de mentiras e cream-crackers
Empanzinei-me de rum e solidão.
Termino aqui o meu recomeço
Acuado num curral de analgésicos
Na ressaca de mil domingos retirantes
Aprisionado neste mundo hermético
Eu queria ter sabido de tudo isso…antes.
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NEM SEI DOMAR MEUS PRÓPRIOS CÃES
Para imitar o imortal Camões,
precisaria ser, meus cidadãos,
mil seres juntos, ter mil corações,
hidra gentil – cabeça, tronco e mãos.
Porém sou pobre, sem nenhuns tostões,
vivo perdido em devaneios vãos,
e sem botinas, becas e botões,
como esses loucos que se creem sãos.
E velho estou, cabeça toda em cãs,
como meus pais, avós, as minhas mães,
as utopias, ancestrais e vãs.
Talvez pudesse ser padeiro – pães –,
tecer mortalhar – panos – doutras lãs,
porém domar nem sei meus próprios cães.
(Pedro Ernesto)
O POETA INSONE
Sou apenas um poeta
Que não dorme
Pois o sono lhe somente
Que não respira
Pois o ar se retirados
Que não bebe
Pois a água se esvai
Que não tem visão
Pois seus olhos se cansam
Que não escuta as palavras
Pois elas se emudecem
Que não sente o cheiro
Pois o perfume se extingue
Sou apenas um poeta
Sem nome, sem sono
Sem fome, sem dono
Sem pranto, sem canto
Sem mim, não sou nada
Comigo, sou menos
Não sou da manada
Nem sou tão pequeno
Sou forte, valente
Escrevo – sou gente
Escravo – contente
Das palavras amenas
E dos doces poemas.
(Antonio Ximenes)
DOMINGOS RETIRANTES
Eu estava perdido antes
Antes da primeira colheita
Durante a minha guerra
Depois da minha morte sugerida.
Dividi meu prato com todos
Na manhã do café com leite
Pão com manteiga e desenho animado
Na tarde preguiçosa dos rádios AM
Filmes antigos e sucos em pó
Eu estava bêbado antes
Antes de acordar naufragado
Isolado no sofá da sala
Derrotado e cabisbaixo
Destruí minha vida e meu fígado
Digo adeus ao meu copo de alumínio
Com meu nome gravado em baixo relevo
Nas madrugadas de Lucélia Santos nua
No alvorecer das minhas andanças
Na eternidade de minhas esperas sem, sentido
Eu estava sozinho antes
Antes da última ceia desesperada
Amargurado de pão e lágrima
Fadigado de mentiras e cream-crackers
Empanzinei-me de rum e solidão.
Termino aqui o meu recomeço
Acuado num curral de analgésicos
Na ressaca de mil domingos retirantes
Aprisionado neste mundo hermético
Eu queria ter sabido de tudo isso…antes.
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Fonte:
Colaboração de Nilto Maciel com doação do Periódico Bimestral
V.O.L.A.N.T.E. (Veiculo Original Litero Alternativo Nascido Totalmente Emancipado)
Ano 1 – n.5 . Fortaleza/CE. Setembro-outubro 2009.
Colaboração de Nilto Maciel com doação do Periódico Bimestral
V.O.L.A.N.T.E. (Veiculo Original Litero Alternativo Nascido Totalmente Emancipado)
Ano 1 – n.5 . Fortaleza/CE. Setembro-outubro 2009.
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