sábado, 26 de junho de 2010

Amaury Nicolini (Poemas Avulsos)


O FIM DO VERSO

Eu sei que, no futuro, estas poesias
ficarão abandonadas numa estante,
retratos do passado, de outros dias
de quem a vida fez sofrer bastante.

Serão somente papéis amarelados,
histórias a que o tempo trouxe fim,
talvez por consideração guardados
de uma maneira displicente assim.

A ninguém vai importar o conteúdo,
saber quem um dia amou alguém
ou o desfecho que teve essa paixão.

Será nada o que um dia já foi tudo,
e os versos que pensavam ir além
só estarão vivos num velho coração.
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ARQUIVO DO CORAÇÃO

O meu arquivo é bem organizado,
dividido por assuntos, por setores.
Por exemplo: esta pasta é do passado,
e esta outra aqui, dos meus amores.

Aqui eu guardo os sonhos de criança,
mais adiante as ilusões perdidas;
esta gaveta é cheia de esperança
e na de cima sobram despedidas.

Esta organização, que eu admiro
não impede, no entanto, que o arquivo
tenha um papel que a mim é negativo.

Não importa qual a pasta que retiro
porque em todas, ou seja, de A a Z,
tem sempre uma saudade de você.
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O REFÚGIO DO SONHO

Quando o sono vencer a ansiedade,
adormece também os teus segredos
e verás como se sonha de verdade
ao fechares os olhos aos teus medos.

Quando o sono chegar devagarinho,
deixa que voe a mente assim liberta,
e pensamentos vaguem no caminho
sem a angústia que te prende alerta.

Quando o sono, enfim, for benfazejo
e servir como intervalo para as dores
que te ferem e te tornam amargurado,

da vontade de sonhar faz teu desejo
porque sonhando lembrarás amores
que foram os teus sonhos no passado.
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O NASCER DO LIVRO

Quando o livro vai tomando forma,
a qualquer hora, e do próprio punho,
o escritor debruça-se e transforma
muitas de suas idéias no rascunho.

Às vezes são até os personagens
que mudam, se revezam em vai e vem,
buscando o equilíbrio das imagens
que ao correr da história lhes convem.

É uma verdadeira arquitetura,
que torne interessante a leitura
e momentos de lazer proporcione.

E para isso o escritor não pára;
lapida a pedra até torná-la rara
porque é um filho que lhe leva o nome.
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SEM PALAVRAS

Há muito tempo eu não lhe encontrava,
apesar de ainda manter minha rotina
indo aos lugares que a gente frequentava
sempre esperando a entrada repentina

daquela que marcou tanto a minha vida
qual tatuagem indelével no meu peito,
tatuagem que eu queria removida
mas que, pelo que parece, não tem jeito.

Só que agora você entrou aqui na sala
e à sua simples visão minha alma cala
me reduzindo a um nada, um moribundo.

E eu chego então à triste conclusão
de que todas as fugas foram em vão:
eu só vou lhe esquecer no fim do mundo.

Fonte:
Recanto de Letras.

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