da coletânea Declame para Drummond 2012
As cutias da praça da república
não cabem nesse poema.
Acostumadas à presença
do bicho homem
transitam livremente
entre seus olhos sem o cuidado dos roedores
como se fossem os gatos
que ali vivem.
Os gatos da praça da república
também não cabem nesse poema
eles não fazem das cutias
presas à sua fome felina
não exercem sua predileção natural por roedores
As árvores da praça da república
Ah! As árvores da praça da república
estas sim, cabem no poema
Cercadas de cimento vivem sua vocação de árvores
brotam raízes aéreas
que descem até o chão
rompem a dureza asfáltica
penetram a terra cuidadosamente
silenciosamente e esta, a terra
abre suas entranhas se deixando possuir
Até que o homem
(que aliás, não cabe nesse poema)
interrompa o coito sereno
dessas amantes lésbicas
que poetizam a vida urbana
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