segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Lilia Diniz / DF (Do que Cabe no Poema)


da coletânea Declame para Drummond 2012

As cutias da praça da república 
não cabem nesse poema. 
Acostumadas à presença 
do bicho homem 
transitam livremente 
entre seus olhos sem o cuidado dos roedores 
como se fossem os gatos 
que ali vivem. 
Os gatos da praça da república 
também não cabem nesse poema 
eles não fazem das cutias 
presas à sua fome felina 
não exercem sua predileção natural por roedores 
As árvores da praça da república 
Ah! As árvores da praça da república 
estas sim, cabem no poema 
Cercadas de cimento vivem sua vocação de árvores 
brotam raízes aéreas 
que descem até o chão 
rompem a dureza asfáltica 
penetram a terra cuidadosamente 
silenciosamente e esta, a terra 
abre suas entranhas se deixando possuir 
Até que o homem 
(que aliás, não cabe nesse poema) 
interrompa o coito sereno 
dessas amantes lésbicas 
que poetizam a vida urbana 

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