domingo, 15 de abril de 2018

Barão de Itararé (1895 – 1971)

Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, conhecido por Aporelly e pelo falto título de nobreza de Barão de Itararé, nasceu em Rio Grande, no Rio Grande do Sul, no dia 29 de janeiro de 1895.

Sua mãe, Amélia, teve morte trágica, suicidou-se quando tinha 18 anos e ele 18 meses; seu pai enviou-o a um internato em 1906, no Colégio Nossa Senhora da Conceição, em São Leopoldo-RS, onde faz o seu primeiro jornal manuscrito, intitulado "Capim Seco", com tiragem de um exemplar, em 1909.

Deixa o colégio após cursar o 5o ano ginasial, em 1911. Anos depois, por pressão familiar, matricula-se na Faculdade de Medicina de Porto Alegre/RS.

"Pontas de Cigarros", o primeiro e único livro com seu nome verdadeiro, é publicado em 1916.

Em 1918, durante suas férias, sofre um derrame quando andava a cavalo na fazenda de um tio. Face ao problema surgido, abandona a Faculdade no 4o ano e inicia viagens pelo interior do estado, fazendo conferências sobre diversos assuntos. Publica sonetos e artigos em jornais e revistas, como: "Kodak", "A Máscara" e "Maneca". A partir de então, dedica-se exclusivamente ao jornalismo.  Nessa mesma época funda "A Noite e a Reação", "A Tradição" e " O Chico", seu primeiro jornal de humor. 

Casa-se com Alzira Alves, com quem tem três filhos: Ady, Ary e Arly.

Já separado, em 1925, muda-se para o Rio de Janeiro. Começa a trabalhar no jornal "O Globo" como articulista, tendo como padrinho Irineu Marinho, diretor-proprietário daquele matutino. Com sua morte, naquele mesmo ano, Aparício Torelly  desliga-se do jornal e, a convite de Mário Rodrigues (pai de Nelson Rodrigues), ex-secretário do Correio da Manhã, começa a escrever uma coluna na primeira página da que, no futuro, seria "A Manhã”.

No dia 2 de janeiro de 1926 estréia na "A Manhã” com a coluna intitulada "A manhã tem mais...", assinada sob o pseudônimo de Apporelly. Diante da boa receptividade que obteve, o humorista é levado a criar outra coluna, também na primeira página.

Aproveitando-se da data, em 13 de maio de 1926 abandona o emprego e funda seu próprio jornal, "A Manha", um tablóide de circulação nacional. O jornal é um sucesso completo, superando as fórmulas já velhas conhecidas dos leitores, como "O Malho", "Fon-Fon" e "Careta".

Em 1929 "A Manha" circula como encarte semanal do jornal "O Diário da Noite", por quatro meses. O jornal, de Assis Chateaubriand, na primeira semana dobra a tiragem, vendendo 15.000 exemplares, até atingir a marca de 125.000 exemplares na data da publicação do programa da Aliança Liberal. 

Sempre irreverente, em 1930, com a revolução, em outubro de 1930, Apparício se autodeclarara Duque nas páginas de A Manha: “O Brasil é muito grande para tão poucos duques. Nós temos o quê por aqui? O Duque Amorim, que é o duque dançarino, que dança muito bem mas não briga e o Duque de Caxias que briga muito bem, mas não dança. E agora eu, que brigo e danço conforme a música.” O autor proclama-se Duque de Itararé, herói da batalha que não houve. Semanas depois, rebaixa-se a Barão como prova de modéstia. No dia 02 de setembro de 1932 é preso pela delegacia responsável pela ordem política e social, após "delirante atividade revolucionária" mantida nas páginas da "A Manha" e constantes estocadas contra o governo instalado pela revolução. 

O ano de 1934 marca a abertura do "Jornal do Povo", em outubro, em companhia de Aníbal Machado, Pedro Mota Lima e Osvaldo Costa.  Nos dez dias, o jornal publica em fascículos a história de João Cândido, um dos marinheiros da revolta de 1910. O Barão é seqüestrado e espancado por oficiais da marinha nunca identificados. Depois do atentado retorna à redação e afixa uma placa na porta: "Entre sem bater".

Preso, novamente, em 09 de dezembro de 1935, por ser militante e um dos fundadores da Aliança Nacional Libertadora, permanece preso durante todo o ano de 1936, primeiro a bordo do navio presídio D. Pedro I, depois na Casa de Detenção do Rio de Janeiro; juntamente com Hermes Lima, Eneida de Morais, Nise da Silveira e Graciliano Ramos. 

Dona Zoraide, sua segunda mulher, falece nesse ano.

Graciliano, em "Memórias do Cárcere", referiu-se por diversas vezes  ao Barão, tendo dito: "... Ao fundo, Apporelly arrumava cartas sobre uma pequena mesa redonda, entranhado numa infinita paciência. Avizinhei-me dele, pedi notícias do livro que me anunciara antes: a biografia do Barão de Itararé Como ia esse ilustre fidalgo? A narrativa ainda não começara, as glórias do senhor barão conservavam-se espalhadas no jornal. Ficariam assim, com certeza: o panegirista não se decidia a pôr em ordem os feitos do notável personagem."

Solto em 21 de dezembro de 1936, com outros 100 presos, reabre "A Manha", que só consegue funcionar por um ano, sob severa censura do DIP. Casa-se, pela terceira vez, com D. Juracy, que lhe dá mais um filho, Amy Torelly.

Janeiro de 1938 marca sua volta ao "Diário de Notícias", do Rio de Janeiro, e da coluna "A manhã tem mais...", onde colabora por quase seis anos. 

No dia 27 de janeiro de 1939 épreso novamente por três dias. O fato se repetirá diversas vezes até o fim do Estado Novo. 

D. Juracy, sua esposa, falece em 1940, ao dar à luz àquele que seria seu segundo filho com ela. A criança também falece. Apporelly retira-se para uma chácara em Bangu, no Rio, e ali instala um laboratório onde desenvolve pesquisas sobre a vacina contra a febre aftosa, baseado em teorias de Pasteur.

Sua filha Ady morre em 1943, vítima de complicações pós-operatórias provocadas pela extração do apêndice.

Homenageado com um jantar na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), por amigos e jornalistas, em 1944, pelos seus 25 anos de jornalismo, no ano seguinte o Barão encabeça, no ano seguinte, um abaixo-assinado por liberdades democráticas. Ressurge "A Manha" com enorme sucesso, superando o que havia feito nas décadas de 20 e 30, contando com a colaboração de renomados escritores, tais como: José Lins do Rego, Sérgio Milliet, Rubem Braga, Raimundo Magalhães Jr. e Álvaro Lins. 

Arnon de Melo assume a área comercial do jornal e incentiva o aparecimento da figura do Barão como garoto-propaganda. Participa ativamente da campanha de Yedo Fiuza, candidato oficial do Partido Comunista Brasileiro (PCB) á presidência da República.

Candidata-se à Câmara do Distrito Federal pelo PCB e, provando sua popularidade, é o oitavo mais votado de sua bancada, a qual obtém maioria na Câmara de Vereadores. O slogan da campanha foi: "Mais leite, mais água, mas menos água no leite — Vote no Barão de Itararé Apparício Torelly." A convite de Luiz Carlos Prestes, passa a colaborar com a "Folha do Povo". Faziam parte da equipe Carlos Drummond de Andrade, Di Cavalcanti, Jorge Amado e o jovem Sérgio Porto (posteriormente conhecido como Stanislaw Ponte Preta). No final do ano o registro do PCB é cassado e seus representantes eleitos perdem seus mandatos.

Em virtude de problemas financeiros, "A Manha" deixa de circular, em 1948.

O Barão associa-se a Guevara e lança o primeiro "Almanhaque" ou "Almanaque d' "A Manha" em São Paulo (1949).

Com o sucesso do lançamento, anima-se o Barão e, em 1950 "A Manha" volta a circular, editada em São Paulo, onde o humorista passa a viver por algum tempo, ou seja, até setembro de 1952, quando o jornal deixa de circular, definitivamente.

Em 1955 lança dois "Almanhaques", no 1o e 2o semestres. Colabora com o jornal "Última Hora". Velho e cansado, fixa-se novamente no Rio e casa-se, pela quarta e última vez com Aida Costa, que teve fim trágico anos depois.

Viaja pela China, em 1963, a convite do governo de Pequim, com passagem por Praga e Moscou. 

Nos anos seguintes (1964/1970), foi deixando o humor de lado e passou a se interessar pela ciência, e pelo esoterismo, estudou filosofia hermética, as pirâmides do Antigo Egito e a astrologia, campo no qual desenvolveu o "horóscopo biônico". e "quadrados mágicos". Passa a maior parte do tempo estudando e vive só em um pequeno apartamento em Laranjeiras, bairro do Rio de Janeiro.

Teve dignidade por toda sua vida — respeito por todo mundo e por todas coisas. E teve dignidade ao morrer. Morreu sozinho para não sofrerem por ele enquanto estava morrendo.

No dia 27 de novembro de 1971, faleceu dormindo, em seu apartamento, aos 76 anos de idade.

Em 1985, a Editora Record publica em livro, sob o título de Máximas e Mínimas do Barão de Itararé, uma seleção de textos de humor extraídos de A Manhã, em coletânea organizada por Afonso Félix de Sousa e com prefácio de Jorge Amado. No mesmo ano, Máximas e Mínimas alcançou rapidamente quatro edições.

Em 14 de agosto de 2011, o programa De lá pra cá, da TV Brasil relembrou a vida e a obra do Barão de Itararé.

Há duas escolas com o nome "Barão de Itararé” no Rio de Janeiro: uma em Marechal Hermes e outra em Santa Cruz. Em Japeri, Baixada Fluminense, o CIEP 402 leva o nome de Apparício Torelly.

Livros Publicados:
- Pontas de Cigarros, Apparício Torelly, Rio de Janeiro - 1925
- "O Globo" - Rio de Janeiro - 1925 - artigos
- "A Manhã” - Rio de Janeiro - 1926 - artigos
- "A Manha" - Rio de Janeiro - 1926-1952 - artigos
- "Jornal do Povo" - Rio de Janeiro - 1934 - artigos
- "Avante", "Homem Livre", "O Povo" - RJ - Década de 30 - artigos
- "Diário de Notícias" - Rio de Janeiro - 1938-1942 - artigos
- "Almanhaque" - São Paulo - 1949 - 1. semestre
- "Almanhaque" - São Paulo - 1955 - 1. semestre
- "Almanhaque" - São Paulo - 1955 - 2. semestre
- "Última Hora"  - São Paulo - 1955-1959 - artigos esparsos
- "Almanhaque" - Agência Studioma Editora - São Paulo - 1989 (reedição de 1955)

Fontes: 

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