Pescador de Sonhos
Ante o fluxo e o refluxo desta vida,
jogo a rede buscando uma esperança.
A vida é mar revolto que intimida,
mas, recompensa a quem jamais se cansa.
Pude provar, em minha intensa lida,
que nem sempre é melhor a maré mansa.
E que a onda bravia, impressentida,
pode levar à areia, que descansa.
O poeta é um pescador sempre à procura
de pérolas, no mar da vida, esparsas…
Se a rede não vem cheia e a noite é escura,
o poeta-pescador, mesmo tristonho,
abre as asas liberto como as garças
e alegra-se ao pescar um simples sonho!
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Um dia..
a um falso amigo
Não importa buscares, por despeito,
cobrir a luz, envolto pela sombra!
Que importa apagues todo o bem que é feito,
dando ênfase à mentira e ao mal que assombra!
O que importam malícias e trapaças,
perfídias que a calúnia hoje divulga,
se um dia tudo acaba… e também passas…
e Deus, então, há de julgar quem julga!
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Orquídea
Presa ao tronco, sob alta ramaria,
Fidalga, a orquídea viça. Ao seu encanto,
pasmam os colibris e se extasia
a noite que a abrilhanta com seu pranto!
Espiritual, ao solo repudia
ansiando pelo espaço, no mais santo
desejo de ser pura. A fantasia
lhe esmera a forma e lhe colore o manto.
Flor sonhadora, em busca do infinito,
reclusa em seu páramo selvagem,
guarda o fascínio e a sedução de um mito!
E em sua altiva solidão de asceta,
retrata a orquídea a mais perfeita imagem
da alma utópica e lírica do poeta!
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O Inventor
Desde cedo, sonhara ser, um dia,
um inventor famoso de verdade!
E alimentava a doce fantasia,
no enlevo de servir à humanidade!
Cresceu ao acalanto da poesia.
E ao vê-la sucumbir à realidade,
sentiu que a fibra, aos poucos, lhe fugia,
dando morada aos sonhos e à saudade.
Velho e cansado, em fuga da amargura,
acomodou-se a conquistar afetos
e a descobrir tesouros da ternura!
E na humilde renúncia às próprias glórias,
rodeado de filhos e netos,
nada mais foi que um inventor de histórias!…
Fonte:
RAMOS, Carolina. Destino: poesias.
São Paulo: EditorAção, 2011
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