domingo, 29 de abril de 2018

João Batista Xavier Oliveira (Trovas de Quem Entende de Trovas) IV


1
A fé tem luz invisível
que brilha no coração
iluminando o possível
no caminho da oração.
2
A goteira enciumada
feriu a rosa em botão
porque à chuva misturada
nunca chamou atenção.
3
Caminhando entre a neblina
na esperança da chegada
o andarilho vive a sina
de uma eterna madrugada.
4
Criar filhos... requer sim
muito amor, senão vejamos:
construímos um jardim
mas das flores não cuidamos.
5
Como sou tão distraído!
Após você ir embora
notei quem tinha fugido:
eu de mim... somente agora!
6
Cultiva a paz aí dentro
do teu coração agora.
Sentirás o amor no centro
e a alma brilhar por fora.
7
De tanto pensar em mágoa 
a tristeza perpetua 
alma transbordante em água 
com pedras de qualquer rua.
8
Distância não é medida
se a paixão é verdadeira;
o calor de despedida
não diminui a fogueira.
9
Escrevo agora somente
sabendo estar solitária;
seu antigo remetente
tem outra destinatária.
10
Liberta meu coração
preso ao teu farto ciúme.
Imita a flor em botão
prestes a exalar perfume.
11
Minha luz interior
tomou forma e consistência
quando descobri o amor
na mais singela existência.
12
Na fúria da roda-viva
no constante competir,
é o cansaço que incentiva
a parar... pensar... e agir.
13
No fim do túnel a luz
sinaliza uma esperança.
Quem a seu brilho conduz
a vitória sempre alcança.
14
No silêncio da varanda,
caramanchão ressequido.
Sinais de pés em ciranda
parecem não ter sumido.
15
Nossas almas tão unidas
num mistério sedutor
parecem que de outras vidas
já nutriam grande amor.
16
Nossas peles coloridas 
num mundo tão pequenino 
são luzes que nossas vidas 
acendem mesmo destino.
17
Nuvens brancas, passageiras,
ao vislumbrarem a terra...
com suas plumas ligeiras
fazem carícias na serra.
18
O ipê floresce no inverno; 
chuva esparsa no verão; 
amor e abraço fraterno 
aquecem toda estação.
19
O nosso tempo é tão lento 
e ao mesmo tempo em zás-trás 
leva e traz na voz do vento 
o bem e o mal que se faz.
20
Os meus brinquedos de infância
à lembrança não têm fim
na criança sem distância
a sonhar dentro de mim!
21
O tempo não tem idade 
nas artimanhas da vida: 
revela toda verdade 
onde a mentira é vivida.
22
Paz! Ver o mundo ao redor
com consciência tranquila;
no próximo o bem maior
sem inveja que aniquila.
23
Quando a mente se alvoroça
e vocifera no entulho
arremeda uma carroça:
mais vazia... mais barulho.
24
Quem leva a vida pequena
seu espírito não medra;
a virtude pesa pena
e o defeito pesa pedra.
25
Sei, nem tudo é um mar-de-rosas;
aprendi com teus carinhos;
as paisagens mentirosas
mostram rosas sem espinhos.
26
Sinto até hoje a carência,
em noites tristes de inverno,
o rigor da paciência
no do doce afago materno.
27
Teatral, muito fagueira,
a trova não é pequena:
representa a peça inteira
em uma única cena!
28
Um leve toque em um ombro
com doações de energias
remove dores no escombro
das horas tristes... vazias...
29
Viver hoje intensamente...
futuro sem ansiedade
não há barreira que tente
apagar qualquer verdade.
30
Volto a crer no amor... senti-lo;
bastou o exemplo que ouvi
partindo de um simples grilo
o estridular: CRI ! CRI ! CRI !

Fonte:
Trovas enviadas pelo autor 

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